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Perrengues

Fazendo as malas, Hospedagem, Ir e vir, Perrengues

Maldito mês de dezembro (?)

7 de dezembro de 2015

Foi-se a primeira semana de dezembro. O período de Festas é um dos momentos do ano em que a grande maioria das pessoas resolve botar o pé na estrada: férias escolares e/ou coletivas, é uma oportunidade de enfim juntar a família e fazer alguma coisa diferente da vida. Não por acaso, é justamente entre dezembro e janeiro em que essa alegria pode ser trocada por ódio mortal e absoluto se você não souber jogar direitinho com essas datas. Botar as malas no carro pode significar horas e horas de congestionamentos, competição por comida e abrigo com outros turistas, dores de cabeças inimagináveis e absurdas… enfim, a coisa toda pode virar um inferno.

Que o humor da Dé no trânsito seja igual ao seu durante esse final de ano.

Que o humor da Dé no trânsito seja igual ao seu durante esse final de ano.

Sendo assim, a gente vem passar umas dicas e conselhos aos que se aventuram nesse período, e que normalmente soltam fumaça só de pensar nesse “maldito mês de dezembro”. Vamos lá:

1) Sim, é mais caro – conforme-se ou não vá

O final de ano obviamente não é a melhor época pra viajar se você está apertado de grana. Períodos que coincidem com férias escolares/coletivas têm um aumento descomunal de preços em praticamente tudo: hospedagem, comércio local, lazer e abastecimento vão arrancar uma grana do seu bolso SIM – e não adianta ficar ranhetando na fila da vendinha ou pro tio do picolé. Se não tiver essa grana extra disponível, capriche na seleção de filmes do Netflix e fique em casa – seus meses de janeiro e fevereiro agradecerão, acredite.

2) Procedência

Na praia, na montanha, no interior ou exterior, com desconhecidos, amigos ou família: verifique a procedência da sua hospedagem (cuja reserva – espero – já tenha sido feita há dois ou três meses). Chuveiros que não esquentam, geladeiras que não fecham, ventiladores quebrados ou ar condicionado barulhento são coisas que sempre deixam a gente soltando fumaça. Tem cobertor? Cama suficiente? Pernilongo? A casa é ventilada? E a água? Precisa levar alguma coisa? Tem wi-fi? A internet é boa? É camping mesmo ou é um quintal adaptado? Não se acanhe em perguntar e pesquisar: mais vale apertar o espaço no carro e levar um ventilador de casa (desde que a voltagem bata – sim, não esqueça desse detalhe) do que passar duas semanas suando que nem um porco madrugada adentro.

Este é o Amadeu - o cara que você NÃO quer encontrar este mês.

Este é o Amadeu – o cara que você NÃO quer encontrar este mês.

3) Kit de escoteiro

Vale pra qualquer viagem, mas simbora relembrar: farmacinha (remédio pra dor de cabeça/muscular, band-aid, cotonete, gase, esparadrapo, pomada pra coceira, repelente se for o caso, protetor solar, creme dental e escova de dentes são o kit básico). Se usar algum medicamento específico, leve de casa. “Ah Marcelo, mas onde eu vou tem farmácia“. Sim, tem. E se não tiver o que você precisa (ou custar o triplo do que você normalmente paga) você vai se sentir culpado por não ter seguido essa dica. Uma bolsinha que cabe no porta-luvas ou no bolsinho da mochila pode te poupar a dor de cabeça de sair correndo no aperto, e uma graninha razoável.

Dinheiro em viagem é pra diversão, e não pra apagar incêndio.

Além da farmacinha, outros ítens legais de se ter na bagagem:

  • adaptador elétrico/benjamim (imagina que legal ter que desligar o ventilador pra deixar o celular carregando?);
  • se for tirar muitas fotos, lembre-se: descarregá-las pode ser necessário se você não tiver cartões de memória suficientes. Aí um hd externo ou uma boa conexão (para backup em nuvem) podem ser necessários. Ajuste expectativa e realidade, e seja feliz.
  • prepare-se pro melhor e pro pior: se mesmo com previsão de sol existir alguma possibilidade de fazer frio, não seja a anta que só levou bermuda e biquini. Às vezes sua praia pode acabar virando um Banco Imobiliário, e se isso acontecer, esteja quentinho, faça uma pipoca e divirta-se da mesma forma.
Nunca subestime a capacidade de diversão de um jogo de tabuleiro em dias de chuva.

Nunca subestime a capacidade de diversão de um jogo de tabuleiro em dias de chuva.

4) Tenha alternativas

Viaje com antecedência, e se possível faça o mesmo pra voltar. Horários bizarros são bem-vindos, desde que não coloquem em risco sua saúde e segurança (se for o caso, junte-se ao exército de turistas e escolha uma boa trilha sonora). Quando em seu destino, lembre-se que os programas mais populares serão inevitavelmente os mais abarrotados de gente. Procure alternativas menos conhecidas, ou mude os horários (não tenha medo de acordar cedo, almoçar mais tarde ou mesmo jantar no final da tarde – você está descansando, e sair da rotina inclui experimentar novos hábitos). Se a multidão for inevitável, não seja o cara que fica reclamando da demora, da fila ou do atendimento ruim (as pessoas da cidade que você está visitando também precisam se adaptar à demanda, e não é coisa simples).

Insira um milhão de turistas nessa foto e vislumbre seu futuro.

Insira um milhão de turistas nessa foto e vislumbre seu futuro.

5) Aproveite e mude seu jeito

É final de ano, e todo mundo quer festejar. Faça parte das lembranças boas das pessoas, sendo aquele que faz a diferença pro bem. Lave aquela louça que você não lavou o ano todo, divida as despesas e as dores de cabeça com quem estiver contigo, e faça parte do grupo. Se você não tiver grupo, é uma ótima época pra fazer amizades. Procure manter um sorriso na cara, e respire fundo nas dificuldades antes de responder com uma patada. Suas férias podem te ajudar a cumprir aquelas eternas promessas jamais cumpridas, se sua atitude começar a mudar antes mesmo da contagem regressiva.

São nossas dicas (mas ainda não é nosso último texto do ano) 😉

Brasil, Faniquito, Perrengues

A primeira vez

10 de agosto de 2015

Acordamos e decidimos abrir o guia, numa página aleatória. Seria aquele nosso destino do dia – dependendo, do final de semana. Minha mãe mandou bater… Cunha. Pronto, temos pra onde ir. Onde fica Cunha? Não faço a menor ideia…! Vamos levar o guia pra padaria e descobrir enquanto a gente toma café? Vamos.

E assim nasceu nossa primeira viagem (já resumida em um parágrafo aqui mesmo, certa vez).

Café tomado, uma mochilinha com troca de roupa. Pegamos o carro e a estrada. Cunha é uma cidadezinha paulista (bem conhecida, diga-se – a gente é que nunca tinha ouvido falar mesmo), localizada quase na divisa com o Rio de Janeiro. Pelo caminho fomos descobrindo que é também a capital nacional do Fusca, entre outras curiosidades que nosso guia nos proporcionava. Mas não estamos aqui pra falar de Cunha – por mais que devêssemos. A história vale um texto porque nos propusemos a meter as caras num lugar novo de uma hora pra outra, e assim fizemos.

Das melhores sensações.

Das melhores sensações.

Apesar da carta de motorista desde os 21, seria minha primeira estrada na vida (uma vez que comprei meu carro só 2008 – ano em que reaprendi na marra a dirigir). Seguimos do final da manhã até a metade da tarde um caminho gostoso, com calma e uma certa ansiedade de quem está “fazendo acontecer” pela primeira vez na vida. Assim que chegamos, encostamos o carro num canto e fomos aproveitar o sossego do lugar. Tudo novo, tudo acontecendo pela primera vez – a gente inclusive, como casal novo e com a massa fresca, de quem ainda não sabia se teria futuro. Um passeio pelo centrinho, algumas fotos do fim de tarde, era hora de procurar algum lugar para passar a noite.

Um pouco de sossego, um novo amigo...

Um pouco de sossego, um novo amigo…

...um fim de tarde e uma boa história pra contar.

…um fim de tarde e uma boa história pra contar.

Rodamos a cidade inteira, literalmente (parece exagero, mas a cidade inteira é rodável, acreditem). Nenhuma vaga, em lugar algum. Recomendaram que fôssemos pra Parati. Longe demais pra risco semelhante, acabamos indo pra Guaratinguetá – igualmente sem vagas. Eis que num acaso bizarro, perguntamos no meio da estrada pra um motoqueiro se ele sabia de algum lugar, e ele nos sugeriu um motelzinho em Lorena. Agradecemos, mas não sabíamos sequer como chegar.

Eu levo vocês lá – ele disse. E a gente seguiu o motoqueiro. Até O MOTEL – que era um pulgueiro, mas tinha vaga, um chuveiro e uma cama. Nos bastava.

Com tudo absolutamente do avesso ao que havíamos imaginado, resolvemos seguir para Ubatuba no dia seguinte. Tentaria salvar aquela primeira viagenzinha indo até Itamambuca, mas chegando no entroncamento para as praias, o caminho estava totalmente entupido de gente. Nos conformamos em ficar por ali mesmo, numa praia mais central (e cuja qual obviamente não lembro o nome), que seria nosso destino para o almoço.

Que foi sensacional, e disso me lembro bem.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

Paulistas que somos, botar o pé na areia já valeria pelo final de semana. Mas naquele momento a Dé sugeriu irmos atrás de um lugar chamado “cachoeira do macaco”, que ela havia lido (no guia ou numa placa, também não lembro). Procuramos incessantemente, até sermos guiados por um frentista, e darmos de cara com uma caixa d’água da Sabesp. Mais algumas voltas, e terminamos num lugarzinho mais gostoso, que compensou aquela volta toda.

A água que queríamos não estava numa caixa...

A água que queríamos não estava numa caixa…

E a soma de tudo deu... nisso :)

E a soma de tudo deu… nisso 🙂

Deu tudo errado, e nada saiu como planejado. Não importa. A primeira vez é inesquecível (pro bem ou pro mal, sabemos todos disso), e dali em diante começaríamos a ganhar experiência nessa coisa de viajar.

Tudo isso pra dizer e insistir: bote o pé na estrada. Sim, a situação econômica está terrível pra todo mundo. Mas assim mesmo, com um mínimo (às vezes, um tanque de gasolina, dinheiro pro pedágio e uns sanduíches na sacola térmica) a gente aumenta nosso mundo pessoal. Pode dar tudo errado: você pode dormir num pulgueiro, levar multa, pegar estrada no breu, dar de cara com uma linda e frondosa caixa d’água. Ainda assim será uma história a ser contada lá na frente. E toda história, quando bem contada, é muito boa. Saber rir da própria desgraça, mais ainda. Então, meta as caras. E não poupe seu dedo de fazer o trabalho do cérebro quando o assunto for escolher um destino, quando este insistir em te podar desses momentos.

Estados Unidos, Perrengues

A viagem romântica que virou excursão familiar

6 de agosto de 2015

No segundo semestre de 2014 eu e m*eu marido planejamos uma viagem para Nova York. Seria nossa segunda vez na cidade e nossos planos eram desbravar ainda mais aquela grande metrópole.

O que não esperávamos é que na bagagem também iriam minha mãe, minha irmã, minha sogra e uma amiga de minha sogra. Sim, a viagem começou a tomar uma proporção que não estava em nossos planos e toda vez que minha mãe comentava com alguém sobre a viagem, convidava também para ir junto! Tivemos que conversar com ela e pedir para não fazer mais isso.

Ok, percebemos que não teríamos como fugir dos “programas turistões” que já havíamos feito, pois teríamos que levá-las, montamos o roteiro e incluímos nossos programas também. Fizemos algumas reuniões em casa antes da viagem, e explicamos mais ou menos como seria. Todos concordando com tudo. Estávamos felizes da vida #sqn.

No dia do embarque, a tal amiga da sogra esqueceu de levar o passaporte com o visto americano. SIM, ELA ACHOU QUE DEVERIA LEVAR APENAS O PASSAPORTE VÁLIDO! Era mais de 1 da manhã, enfiamos as malas em um táxi e ela foi buscar o tal passaporte. Chegou ao aeroporto a 10 minutos de encerrar o check-in… Ufa!

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Nosso hotel em NY não era bem “o hotel” que elas imaginavam. Sempre que viajamos, procuramos a melhor localização e o melhor preço. Ficamos hospedados na Times Square, e o hotel era daqueles que as avaliações de viajantes não eram as melhores… era nossa segunda vez ali, e ok para quem não espera passar muito tempo no quarto. As reclamações vinham de todos os lados: poeira, barata, toalhas, banheiro apertado, porta que não fecha, etc, etc e etc.

Não preciso falar que tudo era na base da conversa e negociação. Explicávamos pela manhã como seria o dia, avisávamos qual era o programa e que iríamos andar muito, mas não adiantava. Ninguém queira ficar sozinho fazendo seu próprio programa. Em um determinado dia, minha irmã foi encontrar uma amiga. Minha mãe e a amiga da sogra foram a uma loja. Meu marido e minha sogra em outra loja, pegando encomenda pra cunhada. E eu estava sozinha, na esquina da 5ª avenida com a 42. Eu estava muito irritada – queria ir ao Metropolitan nesse dia, e já eram mais de 3 da tarde.

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Preciso descrever como era ir aos museus? Como eram as negociações para jantarmos? Jantar em algum restaurante que deveríamos pegar metrô? Não conseguimos nenhuma vez. Tinha também aquelas malditas lojas de departamento no caminho, onde elas insistiam em entrar. Com isso, perdemos o horário de visitar a biblioteca e quase perdemos o espetáculo da Broadway. Central Parque? Nem passamos perto, e no meu roteiro tinha um dia destinado apenas para ele.

Sim pessoal… realmente foi difícil a viagem. Voltei mais cansada do que quando fui. Minha irmã tentava nos ajudar a todo instante. Quando ficamos somente os três sozinhos numa tarde foi um alívio. Às vezes fico me culpando por ter achado tão terrível a viagem… minha mãe achou tudo maravilhoso! Era a primeira vez fora do Brasil e ela estava muito feliz. Minha sogra também gostou, mas nunca conversamos sobre a viagem e a tal amiga dela, a qual nunca mais tive notícias.

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Vamos fazer outra viagem no ano que vem, mas já avisamos que desta vez seremos só nós dois.

Pelo menos, ficamos em quartos separados!

*Por motivos óbvios, a autora do texto permanece anônima 🙂

Perrengues

Perrengues de viagem: quem nunca?

2 de julho de 2015

Por Daniela Beneti


Oi gente, voltei! Hoje vou falar um pouco de perrengues de viagem. Porque a gente sempre fala de roteiros maravilhosos, paisagens incríveis e fotos sensacionais. Mas e os imprevistos? Numa viagem de verdade não sai tudo perfeito, isso é coisa de turista, não de viajante.

Eu, particularmente, acho que os perrengues são o tempero da história, a prova que você viveu o lugar. Como no meu primeiro mochilão, com a minha amiga Camila. Quando decidimos fazer essa viagem, procuramos uma agência que oferecia um “pacote mochilão”: eles fechavam a hospedagem econômica, as passagens de trem e/ ou avião e você se virava por lá. Um ótimo negócio, certo?.

É, só que não #sqn. A pessoa que fez nossas reservas devia estar com aquela vontade Primeiro, porque tínhamos um traslado programado para o dia da nossa chegada na Europa e descobrimos o quê ? Que o traslado havia comparecido no dia anterior, quando nem havíamos saído do Brasil. A sorte foi chegarmos por Lisboa, o que deixou bem mais fácil descobrir como chegar no hostel de transporte público mesmo. Uma lição pra vida de “do it yourself”. Acredite, você consegue se virar e não vai se perder só por circular com transporte público de outro país.

Pegue seu pastelzinho e relaxe. Os perrengues apenas começaram.

Pegue seu pastelzinho e relaxe. Os perrengues apenas começaram.

Mas calma, que está apenas começando. Depois de 3 dias em Lisboa, íamos para Salamanca, na Espanha. Ao chegar na segunda cidade, depois de 6 horas de trem, descobrimos que a nossa reserva do hotel estava errada, era só pro dia seguinte. Isso à meia-noite de um sábado. Não tem problema, arrumaremos outro lugar pra dormir, certo?

A recepcionista riu na nossa cara. Salamanca é uma cidade universitária, o que significa que ela BOMBA de festas e baladas no final de semana. Não tinha um único quarto disponível na cidade. Acredite, nós procuramos.

Tirando foto na praça central de Salamanca pra esquecer que a gente não tinha onde dormir.

Tirando foto na praça central de Salamanca pra esquecer que a gente não tinha onde dormir.

Claro que pensamos: já que não tem jeito, vamos pra balada. Mas estávamos a cara da derrota depois de uma viagem longa, sem lugar pra se trocar. Voltamos pro hotel e ficamos na recepção, o que resultou em 5 vídeos hilários de madrugada, a Camila quase voando no pescoço da recepcionista de manhã e muita música de elevador na recepção.

Depois disso, passamos por mais duas cidades na Espanha, nos dirigimos para a França, onde visitamos Paris e Nice, na Corte d’Azur. Na França, para nossa surpresa, foi quase tudo perfeito. As pessoas, ao contrário do que nos disseram, eram super simpáticas e solícitas. A comida não era absurdamente cara e os lugares maravilhosos. Até que decidimos conhecer a Torre Eiffel. Vou resumir pra vocês: a melhor coisa da Torre é ficar fora dela.

Não me levem a mal: a vista é maravilhosa, a experiência é única. Mas julho é um calor desgraçado e, por ser o auge do verão e das férias por lá, incrivelmente cheio. Foram 5 horas de fila pra chegar no topo, espremidas por gente de todo lado. E nem pense em bancar o esperto e comprar pra ir de escada e tentar pegar o elevador no segundo andar. Eu vi muita gente quase morrendo de cansaço, já que o primeiro andar equivale a uns 4 ou cinco lances de escadas e o elevador é vigiado o tempo todo por um segurança. Deixe isso de lado, fique na grama em volta da Torre e faça um piquenique. Tem show por lá, carruagens com turistas, tudo de graça e sem stress.

Dica: nós amamos Paris e a Torre Eiffel, mas a melhor coisa é vê-la de fora. Ficamos 5 horas na fila pra subir. Compre sua baguete e faça um piquenique embaixo dela que é bem mais legal.

Dica: nós amamos Paris e a Torre Eiffel, mas a melhor coisa é vê-la de fora. Ficamos 5 horas na fila pra subir. Compre sua baguete e faça um piquenique embaixo dela que é bem mais legal.

Depois de Paris, conhecemos Nice e seus arredores (Eze, Mônaco, MonteCarlo) estávamos loucas para ir para a praia já que, em Barcelona, pegamos uma frente fria e a água gelada. Bem, nos orientaram para pegar o trem e ir para VilleFranche-sur-Mer, a praia favorita dos moradores. Sabe porque eles preferem essa do que a de Nice? As pedras. As praias de lá não tem areia e a praia de Nice é linda, mas puro pedregulho. Em VilleFranche elas eram pequenas, mas difíceis de caminhar no sol.

Não que isso tenha estragado o passeio, foi apenas um perrengue menor e engraçado. Porque a nossa capacidade de improvisação seria testada mesmo saindo de lá para a próxima cidade, Veneza.

Devíamos ter desconfiado quando a moça nos avisou, ainda no Brasil, que não havia trem direto. Segundo ela, teríamos que descer em Gênova e comprar a passagem para continuar. Fizemos exatamente como ela disse: saímos de Nice com o trem e descemos em Gênova para comprar os bilhetes para Veneza.

Tudo lindo, tudo maravilhoso na Côte d’Azur. Até que descobrimos que a praia era de “pedrinhas”. Nada de areia, pedra quente.

Tudo lindo, tudo maravilhoso na Côte d’Azur. Até que descobrimos que a praia era de “pedrinhas”. Nada de areia, pedra quente.

Como já passara metade da viagem, nossos mochilões tinham crescido consideravelmente, ainda mais quando minha amiga descobriu que, mesmo em Euros, o xBox era mais barato lá. Ela resolveu comprar o maior kit que encontrou na FNAC e, claro, precisou de uma mala só pro infeliz. Logo, tínhamos 2 mochilões de 90 litros e uma mala com um xBox.

Isso significa que, ao descer, uma de nós tinha que ficar imóvel com a mala e a outra procurar as passagens, porque andar na estação com aquilo era inviável. Quem ficou? Exato, eu. Não deu 5 minutos para minha amiga voltar furiosa: “Sabe porque ela não conseguiu comprar o bilhete? PORQUE ESSE TREM NÃO EXISTE!”. É amigos, o trem em que estávamos IA DIRETO de Nice para Veneza e nós descemos do último trem do dia.

Fumegando de ódio, Camila saiu pela estação à procura de uma forma para chegarmos até Veneza e me deixou novamente com as malas. Foi aí que, de repente, escuto uma gritaria e todo mundo saiu correndo do hall da estação. Menos eu, que não conseguia me mexer com todas aquelas malas.

Agora, imaginem a cena: você, paralisado no meio de uma estação e eis que passa um homem, correndo e xingando em italiano, PERSEGUIDO por dois pit bulls enormes e um outro homem, gritando palavrões em italiano e “Cannes Periculoso”. Logo vem a polícia correndo no sentido contrário. Confusão, briga. Os caras são presos e os cachorros vão junto.

Depois de uns 20 minutos, minha amiga volta sorrindo triunfante, ao lado de um funcionário da estação e pergunta: “ué, por quê você está tão pálida?”. Minha resposta foi apenas “não importa o que você resolveu,eu topo qualquer coisa desde que eu NÃO DURMA AQUI”.

Bem, ela havia descoberto um jeito de chegar em Veneza, se entendendo de alguma forma com o funcionário que só falava italiano. Sim, havia uma forma. Mas seria preciso trocar de trem 4 vezes durante a noite, para chegar à Veneza às 6 da manhã. O que significava não dormir. De novo.

Viajamos com trens noturnos por cidadezinhas minúsculas. Não havia nenhum aviso sobre qual estação era aquela: tínhamos que correr pra porta para tentar descobrir onde estávamos e trocar de trem. Claro, os trens estavam vazios a não ser por uns poucos indivíduos suspeitos. E quando eu digo suspeitos, quero dizer ter que inventar nomes pra fugir de conversas estranhas e dar desculpas mil para não irritar ninguém e não ser seguidas. Isso e ficar às 3h30 numa estação com a placa enferrujada, sem viva alma, rezando para o trem passar. Até promessa eu fiz, acredite (imprimi mil santinhos quando voltei).

Mas o trem passou. E quando achamos que íamos dormir no último, numa cabine só nossa, três mulheres entram e começam animadamente a tagarelar com a gente. Eram professoras do Cazaquistão (juro por tudo que é mais sagrado), que estavam fugindo de um congresso sei-lá-onde no interior da Itália para passar o dia em Veneza. A grande aventura da vida delas, mas eu mal conseguia manter os olhos abertos. Quando elas descobriram que éramos brasileiras, festa: “we love Isaura”. Sim, a Escrava Isaura, a novela original, passou no Cazaquistão e era sucesso. Vai entender.

Foto bonita né? É que você não sabe o que passamos pra chegar aqui. E é claro, nos perdemos dentro de Veneza também, mas quem não se perde lá?

Foto bonita né? É que você não sabe o que passamos pra chegar aqui. E é claro, nos perdemos dentro de Veneza também, mas quem não se perde lá?

Chegamos exaustas em Veneza. Entramos no hotel às 7 da manhã, mas vocês sabem, check-in é só depois do meio-dia, com sorte. A maneira com que o recepcionista nos olhou entregava que estávamos péssimas. Ele então indicou uma sala em reforma, onde poderíamos deixar as malas.

Esse santo homem ficou com dó e foi nos chamar às 10h, pois conseguira adiantar um quarto. Nos encontrou dormindo no chão, abraçadas com a bagagem.

Esse nem foi nosso pior perrengue. Um dia conto da história de um feriado em Camboriú e como um cubo de frango quase virou um soco no meu baço. Mas essa fica pra outra hora.

Me arrependo? Claro que não. Aprendi muito e hoje me viro muito melhor em qualquer viagem. Perrengues são aprendizado valioso para se virar e também para forçar você a interagir com o mundo, com as pessoas do local e com qualidades suas que você desconhecia. E você, tem algum perrengue de viagem para contar? Compartilhe com o Faniquito!


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

Fofuras, Perrengues

Perrengue não significa Fim

19 de fevereiro de 2015

Por Fernanda Seiffert


Enquanto viajante mais ou menos rodada (ui!), posso afirmar categoricamente que existem duas coisas que ficam pra sempre na lembrança de qualquer um: o perrengue e a fofura sem precedentes.

Graças a todas as forças boas do universo, tenho orgulho de dizer que já encarei os dois, sendo que, pra cada perrengue, encontrei uma fofura de intensidade, no mínimo, igual. Posso garantir, também, que ambos podem acontecer em qualquer parte do mundo, com qualquer viajante e qualquer povo do planeta.

É chegada a hora dos temidos perrengues, moçadinha!


1) Desci na parada errada do ônibus

Estava eu sozinha, com bagagem suficiente para passar um mês na Europa e era, apenas, minha terceira parada: Varsóvia. Ao contrário de Cracóvia, muito preparada para receber o turista de braços abertos, os poloneses da capital também se mostraram simpáticos e solícitos, mas não conheciam muitos idiomas além do polaco de raiz. Situação de muitos anos atrás, rezo para que seja situação mudada.

Em mal traçadas linhas, eu sabia que tinha de descer do ônibus que peguei no aeroporto em uma avenida cujo nome era muito semelhante ao meu esquisito sobrenome. Dei o sinal e desci. Claro, era a avenida errada. Não haveria problemas se estivesse com uma boa grana na carteira e fosse fluente em polonês. Certeza de que eu teria conseguido pegar um táxi e seguir, fina, até o hostel. No entanto, minha realidade era completamente oposta e o pobre conhecimento em inglês que eu carregava na mala parecia fluência absoluta perto do conhecimento dos meus primos. Sim, eles só falavam polonês. Não entendiam uma palavra em inglês. Embora a vontade fosse de sentar e chorar ao me ver perdida na capital do país dos meus bisavós, ergui meu mapa em punho e comecei a comparar as letrinhas de placas indecifráveis. Depois de caminhar duas horas, consegui chegar ao hostel.

Ali eu aprendia uma lição importante: não se deixe enganar pelos nomes parecidos. Quanto se está na Europa Oriental, a enormidade de nomes com CZK é absurda!

2) Reservei um hostel fantasma

Do alto de minha inocência em turismo, entrei num link que nem lembro qual era. Reservei um hostel que parecia bacana e… lá estava eu de malas em punho e em frente a uma enorme construção. Desci do táxi meio assustada e abordei uma mocinha simpaticíssima que passeava com seu poodle. Perguntei sobre o tal albergue que eu havia reservado e a resposta “nossa… nunca ouvi falar! E olha que moro ali naquele prédio há anos!”. O prédio dela era vizinho à obra onde eu deveria pernoitar. O táxi já tinha ido embora, era início de madrugada e eu estava perdida. Novamente, a vontade de chorar. Avistei um letreiro em neon e pensei “Obrigada, Senhor, aquilo é um hotel”. Não, não era. Deus estava rindo da minha cara ao mostrar o neon de uma funerária. Por um instante, o cansaço já era tão grande que eu cogitei, de verdade, a possibilidade de dormir em um caixão. Ou na escadaria da funerária. Onde fosse mais confortável e seguro.

Continuei a caminhar. Entrei em diversas lojinhas 24 horas que estavam a cada esquina e saía com a mesma resposta: não há hotéis. Até que veio a lojinha menorzinha, mais feia e mais suja em que um paquistanês apontou umas três ruelas à esquerda e disse que ali havia um bom hotel. Eu só enxergava escuridão. Ainda assim, confiei e fui. Achei uma portinha mequetrefe e nela entrei. Sim, era um hotel de verdade e aquela era a entrada de serviço. Era um hotel 4 estrelas, bem mais caro do que eu tinha planejado pagar, mas era o que tinha no momento. Quando entrei no quarto, uma cama king size que eu não alcançava pra sentar, de tão alta que era. Aproveitei, tomei distância, corri e saltei sobre a cama. Do jeito que caí, fiquei. Eu merecia aquela noite de sono.

Lição aprendida: desconfiar de preço muito baixo.

3) Chegar a uma micro-cidade sem reservar hotel

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Sempre invejei quem conseguia curtir uma viagem sem programar 100% o que faria, onde ficaria, etc. Apostei na vida loka e decidi que viajaria de uma micro-cidade a outra de trem e pegaria o primeiro hotel que aparecesse. Parece razoável quando se está nos Estados Unidos, no Brasil ou na Alemanha. Mas na Grécia… Não é. Joguei as minhas fichas na ideia básica de que sempre haverá hotéis no entorno de estações de trem, rodoviárias e aeroportos. Apostei e perdi. Peguei um ônibus na cidade de Delfos para depois pegar um trem por algumas horas para finalmente chegar em Kalambaka, cidade que dá acesso aos monastérios de Meteora. O ônibus que eu peguei teve problemas na estrada, o que atrasou a chegada à linha de trem. Ao chegar ao trem, uma manutenção na linha fez com que o trem não chegasse até Kalambaka. E todas informações soavam grego aos meus ouvidos (não só literalmente). Uma lotação levou todos nós, passageiros derrotados, ao destino final, fazendo com que uma viagem curta durasse mais de 9 horas de solavancos e remelexos. Olhei ao redor da estação de trem e… NADA. Não parecia nem haver vida. A regra dos hotéis no entorno falhou. Mais uma vez eu quis sentar e chorar. Depois de rodar a cidade inteira, encontrar um cassino clandestino, uns 14 bêbados, um Hotel 200 estrelas que eu não tinha dinheiro pra pagar, um ou outro transeunte, cheguei a um hotel acessível. Desta vez, eu não passei vontade. Eu chorei. Muito. De cansaço, de alívio por ter encontrado algo. E este é o link para a primeira fofura sem precedentes…

Lição aprendida: nem todas as regras se aplicam a todos os lugares do mundo.

E agora elas, as fofuras…

1) Reação inesperada

Ao me ver chorar sem parar enquanto tentava apenas dizer I’m so tired para a recepcionista, ela saiu no balcão e me abraçou pra dizer que estava tudo bem. Ela me disse que ali eu estava segura, que havia pessoas que me amavam e que um banho curaria minha dor. Surgiu um outro rapaz que carregou minha mochila e os dois me conduziram até o meu quarto. Tomei aquele banho maravilhoso e dormi o sono dos justos. No dia seguinte, de alma lavada, passei pela recepção e me deu um estalo. Eu não lembrava de ter feito check in. Fui conversar com a mesma moça que ainda estava lá. Ela confirmou que eu não havia feito mesmo o check in e explicou “você parecia tão cansada que o check in podia esperar”.

2) Ajuda do além

Estávamos viajando eu, minha mãe e duas malas grandes. Fomos do aeroporto ao hotel usando trem e metrô… no horário de rush. Ao chegarmos na estação em que deveríamos descer, desembarcamos com o mesmo fluxo de pessoas que faz a baldeação na Sé aqui em São Paulo. Eu tinha de carregar as duas malas e cuidar pra não perder minha mãe. Foi quando demos de cara com a escada… que não era rolante. Deixamos todo o povo passar, peguei uma mala, subi as escadas e, antes que pudesse voltar pra buscar a outra, passou um rapaz correndo, provavelmente atrasado, e pegou a mala da minha mãe. Ela quase gritou que estava sendo roubada! No entanto, ele pegou a mala, subiu as escadas correndo, deixou a mala perto de mim e balbuciou um discreto au revoir, sem que eu conseguisse enxergar seu rosto. Sim, ele percebeu a nossa dificuldade e ajudou apenas porque sim. Porque pareceu certo a ele. Num mundo em que estamos acostumados às pessoas pegarem nossas coisas para subtraí-las de nós, encontrar alguém que fez isso para nos ajudar chegou a assustar. Mas foi uma fofura e tanto.

3) Ensinando a rezar

Sempre passamos por situações que chegam a nos emocionar pela fofura, ainda mais quando se apresenta numa cultura tão diferente da nossa. Lá estavam eu olhando o grande templo e sem saber o que fazer direito. Tinha uma corda com um sino, um negócio que parecia um rolo e outro negócio que parecia uma grelha de churrasco. A única coisa que eu consegui entender que precisava fazer era tirar os sapatos. Fora isso… Nada. Eis que surgiu uma velhinha, muito velhinha mesmo, toda arcadinha que me puxou pela mão.

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A ordem das coisas, infelizmente, eu já não me lembro mais. Mas lembro daquela mãozinha enrugada me segurando e tentando explicar, sem usar palavras, já que uma não falava o idioma da outra, que eu deveria fazer um pedido, jogar uma moeda naquela pseudo-grelha, tocar o sino, girar o rolo e agradecer. Fiz o ritual junto com ela e com toda a paciência que ela demonstrava. Quando eu consegui fazer todo o ritual e repetir algumas palavras que ela pediu que eu dissesse, ela sorriu com muito orgulho, com aqueles olhinhos brilhantes. Muito discreta, me disse um arigatô e foi embora, provavelmente fazer o restante de suas tarefas diárias.

E são as fofuras que me fazem acreditar que a humanidade é, sim, boa e que podemos, sim, ser felizes. Seja aqui, seja ali, seja acolá. Então eu recomendo a qualquer pessoa que tenha tudo preparado, sempre, para qualquer viagem que possa surgir. Para gostar, basta começar.


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*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Brasil, Perrengues, Venezuela

Eu e o Roraima, o Roraima e eu

2 de fevereiro de 2015

A viagem que fizemos para o Monte Roraima não foi a melhor, nem a mais divertida, mas com certeza foi a mais marcante.

Durante as minhas pesquisas, acho milhares de lugares que vão entrando na lista de lugares que quero conhecer. A chance de conhecer alguns desses lugares, mesmo estando lá, é mínima. Talvez pela distância, por serem de difícil acesso, ou então por ser um lugar mais caro… mas nada disso diminui minha vontade de realmente conhecê-los.

O Monte Roraima era uma dessas viagens. Da primeira vez que li a respeito já pensei em fazer essa loucura, mas depois acabei deixando a ideia um pouco de lado: é uma viagem difícil, requer um preparo físico que nós definitivamente não temos e (convenhamos, gordinhos que somos) não teríamos num futuro muito próximo.

Você não é nada perto do Roraima.

Você não é nada perto do Roraima.

Aí lançaram UP… e eu, sendo essa pessoa completamente influenciável, me pus a pensar no Roraima de novo. O filme é maravilhoso, mas o que realmente me impressionou foi a parte do DVD que mostra a viagem que os desenhistas fizeram pra lá, pra conhecer e criar o universo do filme com mais propriedade.

Sempre vemos fotos do Roraima e principalmente do topo. Claro, as fotos são incríveis… mas fotos são fotos, e aquele documentário mostrou um mundo simplesmente diferente de qualquer outro lugar que eu já tenha visto.

Bom, desconsiderei o fato de que os desenhistas foram até uma parte do caminho de helicóptero, resolvi não esquentar a cabeça com detalhes bobos como “preparo físico”. Usei todo meu poder de persuasão para convencer o Masili, e decidi que sim: subiríamos o Roraima. Vale dizer que nossas duas únicas experiências anteriores com trekking haviam sido: uma mini-trilha, e outra mais longa e relativamente fácil – ambas na Patagônia. Mas isso foi só mais um detalhe que eu resolvi ignorar. Então lá fomos nós, ingenuamente ansiosos.

Essa parrede é 3 vezes maior do que parece na foto.

Essa parede é 3 vezes maior do que parece na foto.

Fechamos a nossa ida ao Roraima com a Backpacker-Tours, e no dia anterior à subida tivemos uma reunião com o guia, que serviu basicamente para nos dar alguns avisos importantes, como “quanto custa um resgate de helicóptero”, ou ainda um breve relato do trecho mais difícil e perigoso da descida, o funcionamento geral da viagem, logística, etc. Saímos de lá com um “medo saudável”, aquele medinho controlável que te impulsiona rumo a uma nova aventura, ao desconhecido, mas que deixa sempre uma pulguinha atrás da orelha…

Os próximos 6 dias foram extremos em relação ao esforço físico. Senti músculos da cintura pra baixo que eu nunca imaginei ter. Andei mais durante aqueles dias do que ando normalmente durante um ou dois meses. Durante a noite, dormíamos em uma barraca – uma mesma barraca por 5 noites, diária e estrategicamente montada em cima de pedrinhas (que durante a noite pareciam verdadeiros pedregulhos). A descida da volta me proporcionou bolhas no pé que eu nunca desejarei ao meu pior inimigo. A experiência toda deveria ter sido detestável, mas não foi. Muito pelo contrário, foi emocionante. O Masili demorou alguns meses para começar a ter carinho pela viagem, mas mesmo com dores e pensando que eu realmente havia dado um passo maior que a perna, achei aquilo tudo maravilhoso.

O único lugar onde você é recebido por uma tartaruga de pedra...

O único lugar onde você é recebido por uma tartaruga de pedra…

...por um sapinho minúsculo que não pula...

…por um sapinho minúsculo que não pula…

...e é cercado por pedras que não fazem o menor sentido.

…e é cercado por pedras que não fazem o menor sentido.

Confesso que passar por essa provação toda fez com que eu me sentisse muito bem comigo mesma – quase uma vencedora, mesmo sendo sempre a última a chegar no nosso grupo, a mais devagar, e a que notoriamente estava mais cansada. Mas diferente da maioria das pessoas que nos acompanhou, eu não fui por causa do trekking: meu objetivo lá era muito claro. Eu queria chegar no topo, queria estar dentro daquele mundo tão diferente e tão bonito que eu tinha visto por fotos e pelo documentário, queria ver de perto aquelas rochas em formatos bizarros, encontrar algumas plantas que só crescem ali, conhecer o sapinho minúsculo preto que não pula, presenciar o clima instável, ficar no meio das nuvenzinhas passando frio pra logo depois sentir calor, ver o mundo de cima daquele monte sem cume.

Cheguei lá. Sem casa, cachorro, nem amiguinho escoteiro.

Cheguei lá. Sem casa, cachorro, balão colorido ou amiguinho escoteiro.

Apesar do sofrimento, de todas as dores, e até um mergulho acidental em uma piscina de lodo, eu consegui exatamente o que queria ao subir o Roraima: me senti em outro planeta andando pelo topo, numa paisagem inigualável. Aliás, meu sucesso foi tão grande que estou pensando seriamente em desconsiderar detalhes bobos como todos os perrengues que passamos e começar a sonhar com, talvez… o Kilimanjaro!