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Brasil, Em duas rodas

Uma chácara (do jockey) no meio do caminho

11 de maio de 2016

Faz uns dez dias que inauguraram um parque aqui do lado de casa. O Parque da Chácara do Jockey é um espaço mais do que necessário na região, por uma série de fatores óbvios: um espaço de lazer público e gratuito, um ambiente natural, uma área para desenvolvimento esportivo e cultural (existem instalações temporárias para esse fim), enfim… tudo aquilo que um parque precisa ter. A gente ficou mais do que feliz, afinal de contas além de ter tudo isso por perto, ganhamos em segurança ao cortar caminho por dentro do parque até a ciclovia mais próxima.

Parece besteira, mas faz toda a diferença. Encarar um segmento do trajeto em que é necessário dividir espaço com ônibus e carros numa área não delimitada dá um tremendo cagaço, além de ser naturalmente perigoso. Some-se a isso pessoas com pouca ou nenhuma experiência em trânsito, bicicleta ou ambos e um possível novo hábito acaba indo pro espaço pelo contexto ambiental nada favorável.

Um dos belos prédios do parque...

Um dos belos prédios do parque…

...e uma lagoa que sequer sabíamos que existia.

…e uma lagoa que sequer sabíamos que existia.

E reafirmamos: a estrutura de hoje é amplamente favorável. Nas andanças que fizemos por outros pedacinhos de mundo, vimos todo tipo de situação e estrutura (ou falta dela). Porém, o hábito do ciclismo é algo consolidado em outras cidades que não São Paulo, que ainda está engatinhando nesse processo. Ainda nos falta o hábito de entender o espaço do ciclista, de vê-lo como participante no trânsito e respeitá-lo como ser humano – sim, porque “a fragilidade do transporte” não significa que seja dele a responsabilidade de se adaptar às barbaridades que a gente vê por aí. Com a estrutura que hoje existe em várias partes da cidade – e nesse caso, da Avenida Eliseu de Almeida -, transformar vontade em ação quanto à prática de exercícios é algo muito possível. Com um parque do lado, a coisa toda fica ainda mais robusta.

Olhando pro gramado do vizinho, vimos ciclovias bacaníssimas e super bem estruturadas, localizadas entre a rua e as casas e protegidas por canteiros e jardins; também encontramos estruturas bastante semelhantes à encontrada hoje em São Paulo, que são um mix de novas instalações com estruturas adaptadas, com ciclofaixas pintadas na rua ou em calçadas; e vimos também algumas situações bastante inusitadas, onde o espaço da bicicleta ladeava ou dividia terreno com ônibus, bondes e carros. Algo passível de xingamento aos mais exaltados, mas que se a gente pára pra pensar e imagina aquela situação sem vícios de momento, enxerga que sim: o espaço é o mesmo para todos porque… tem que ser assim. O que muda é o casco: são pessoas em movimento, e respeito é essencial em qualquer circunstância.

Uma ciclovia ideal em Bucareste.

Uma ciclovia ideal em Bucareste.

Uma ciclofaixa temerosa na Bratislava.

Uma ciclofaixa temerosa na Bratislava.

Por isso mesmo, estamos comemorando esse novo espaço – que sim, é uma dica turística em São Paulo, por que não? Uma área gigante (e ainda na laje, é bom que se diga que possivelmente haverá um maior paisagismo com o tempo – porém o nome “chácara” faz todo o sentido nesse momento), com amplo espaço verde, uma lagoa que nem sabíamos que existia, as cocheiras que estão se transformando em salas administrativas, e sim: uma ligação verde entre duas enormes avenidas. Recomendamos, adoramos e frequentamos.

Quer conhecer o casal Faniquito? Aos finais de semana de tempo limpo, aqui pertinho de casa :)

Quer conhecer o casal Faniquito? Aos finais de semana de tempo limpo, aqui pertinho de casa 🙂

Brasil

São Paulo: um longo caminho

2 de fevereiro de 2016

Durante o penúltimo final de semana de janeiro aconteceram os festejos de aniversário de São Paulo. Uma daquelas oportunidades em que aproveitar a cidade é quase uma obrigação, tamanho o número de eventos gratuitos, diversos e simultâneos que se espalham por aqui. A gente escolheu uma das atrações – um passeio de trólebus pelo centro velho – e resolveu encarar um feriado de sol escaldante pra passear por aqui.

Aos fatos:

Pegamos um ônibus perto de casa, que nos deixou na Estação República do Metrô. Nesse dia, o bilhete único valia 8 horas, e isso já era um baita incentivo pra, mais uma vez, deixar o carro em casa (porém, o bilhete da Dé deu pau e cobrou ambas viagens, de ida e volta). Alguns passos adiante, e duas tendas para o evento orientavam os turistas, e organizavam um walking tour pela região. Seguimos até o Pateo do Collegio, que era o ponto de partida do trólebus: saía em intervalos de 3 a 4 minutos, com todos os passageiros sentados, num tour gratuito e guiado. Porém, a fila de espera para o ônibus era dantesca, e abandonamos imediatamente a ideia do tour.

Sugestão:

Por que não distribuir os pontos de saída de um passeio circular por 3 ou 4 pontos do trajeto? As filas ficariam diluídas, não desanimariam quem chega, e possivelmente teriam maior adesão…

Mudança de planos imediata, voltamos à Prefeitura para pegar o próximo walking tour, que sairia às 11h30. No horário marcado, nossa guia reuniu o pequeno grupo (que não somava mais de 10 pessoas), iniciando ali mesmo as explicações. Uma coisa que a gente notou foi um certo descuido com alguns detalhes (como por exemplo, o microfone, que mesmo em grupos pequenos precisa estar ligado o tempo todo – no caso desse passeio, durou pouco menos de 15 minutos). Seriam mais ou menos duas horas e meia de caminhada. Partimos.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM - Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM – Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo...

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo…

...bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima - depois de descer a história é outra e todos nós sabemos...).

…bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima – depois de descer a história é outra e todos nós sabemos…).

Prefeitura, Secretaria de Segurança, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Catedral da Sé, Praça João Mendes, Tribunal de Justiça, Solar da Marquesa de Santos, Pateo do Collegio, Centro Cultural Banco do Brasil, Rua do Comércio, uma subida no Edifício Martinelli, Anhangabaú e Theatro Municipal. Um belo roteiro, que vamos resumir em observações positivas e negativas.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

O "primeiro caixa eletrônico" da cidade ainda existe.

O “primeiro caixa eletrônico” da cidade ainda existe.

As coisas bacanas:

Começando pelo óbvio, é de fato um tour muito bonito e recheado de história. Alguns dos edifícios são belíssimos, e os detalhes de outros tantos são exaltados pela guia durante o trajeto, que teve como ponto alto (sem trocadilhos) a visita ao topo do Martinelli. Eu nunca tinha subido lá, e dá pra chamar sim de obrigação – tanto para quem mora como para quem visita a cidade. Mesmo em duas horas e meia, é um passeio bastante tranquilo, que pode ser feito em qualquer dia da semana, de tão simples.

A fachada do Martinelli continua impressionante...

A fachada do Martinelli continua impressionante…

...mas a visão lá de cima é ainda mais.

…mas a visão lá de cima é ainda mais.

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível...

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível…

...é possível observar também o cimento original e importado para sua construção - que sim, é rosa.

…é possível observar também o cimento original e importado para sua construção – que sim, é rosa.

As coisas não tão bacanas:

Em relação ao tour, falta preparo e uma certa estrutura ao sistema de passeio guiado. Não foram poucas as explicações imprecisas, e uma certa confusão com as informações – pra algo desse contexto, não dá pra ser “mais ou menos”. Além disso, alguns lugares como a Catedral da Sé e o Pateo do Collegio mereciam algo melhor do que apresentações de fachada – uma entrada rápida ou uma explicação mais detalhada impressionariam muito mais aos que não conhecem esse roteiro.

Quanto à cidade, é uma pena que tenhamos que evitar a Praça da Sé “devido ao perigo” da região. Apesar de algumas ações que já acontecem, há muito a ser feito quanto à política social e de inclusão na cidade. Por diversas vezes o grupo “foi desviado”, para evitar contato com as pessoas que vivem nas ruas da cidade. Há também a degradação arquitetônica, e um descaso gigante com o patrimônio histórico e cultural do qual esses prédios fazem parte.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

A conclusão do nosso passeio:

São Paulo é incrível e por muitas vezes inacreditável, mas precisa desenvolver bastante seu lado turístico, pois mesmo com essas iniciativas, aquilo que temos é incompatível com o tamanho e complexiade da cidade. Existem possibilidades infinitas e óbvias, que podem ser implementadas muito rapidamente a custo muito baixo, mas o que a gente vê por aí ainda é muito pouco. Os programas gratuitos – como os que foram oferecidos durante o aniversário da cidade – são louváveis, mas dá pra ir além. MUITO além. Da mesma forma, o turismo interno que a gente (não) faz é esclarecedor em trocentos aspectos: da nossa total falta de conhecimento da própria história, à situação real das pessoas – pro bem ou pro mal.

O dia foi delicioso (e cansativo pelo calor), e devemos repetir a dose ano que vem. Quem sabe, sentados dentro do trólebus, ou num walking tour diferente. Mesmo com um longo caminho pela frente, a semente foi plantada, e comemoramos o aniversário da cidade da forma que ela merece. Que venham outras festas, ainda melhores.

Brasil

Das nuvens

26 de janeiro de 2016

Por Carol Andrade


“Marquei seu salto pra 10:30 com o Lu”

O whatsapp me entregava essa mensagem da Alice quando eu já estava na Casa do Alemão com Débora tomando café, a caminho de Resende. Tinha acordado com medo: eita caramba, é hoje que eu vou saltar de paraquedas.

Nunca tive essa vontade antes, a ideia de pular de um avião no ar e apreciar o caminho vertical para o chão não me apetecia – até que, quando fui a Penedo na semana retrasada, essa ideia surgiu em forma de desejo, desejo-quase-necessidade.

Estava precisando sentir algo que me sacodisse de uma forma diferente de todas as minhas referências e nada melhor do que conversar com o Sombra, amigo querido e marido de Alice, uma das primeiras amigas da minha vida. Com anos de estrada e forte reconhecimento no paraquedismo, esse cara que já dobrou paraquedas do príncipe de Dubai por alguns anos, precisou ouvir todos os tipos de pergunta: as pessoas se mijam? Pode ter crise de pânico lá em cima? Tem algo que eu precise fazer para que a coisa dê certo? Eu que abro o paraquedas? Ele vai abrir?

Pasmem, mas ele respondeu a todas essas perguntas, ao longo de uma semana, entre um cigarro e um café, entre uma cerveja e um bolo de cenoura na enchente. Alice e Angela (mãe da Alice, professora querida e ex-colega de trabalho – vejam como essa família é um poço de referências de carinho na minha vida) empolgadíssimas com meus planos, davam força para que eu não desistisse.

Eu esperei o sábado e o sol, mas o segundo resolveu que daria lugar a nuvens carregadas e chuva contínua. Voltei para o Rio frustrada, mas na promessa de voltar, assim que o astro rei permitisse que eu passeasse no céu.

Enfim, essa semana, lá estava ele, nos devolvendo um pouco do calor infernal e dando dias mais bonitos.

“Alice, como está o tempo aí?”

“Está lindo.”

Eu entendi que era a hora.

Débora topou o passeio, vai que também decidia saltar…

Sete da manhã, pontualíssima, minha amiga há tantos anos passou para me buscar e fomos rumo a algo que eu não fazia ideia do que esperar. Ao longo do caminho ela me tranquilizou: eu não era obrigada a saltar, se chegasse lá e desse medo. Eu pensei que isso não poderia acontecer. E ainda bem que não aconteceu.

Após uma leve perdida na cidade, chegamos ao Aeroporto de Resende, Hangar 4. Alice era so sorriso. Débora registrava meus passos importantes com sua câmera. Eu estava na sétima decolagem. Macacão azul, por favor. Rosa não. Assina o termo. Débora, vou ler essa porra não, vou só preencher e assinar, fotografa pra eu ler depois em casa. Instruções do Luciano, simulando a saída do avião e a postura da queda. No carrinho do galpão e no skate, tudo parecia tranquilo. Prende o macaquinho no macacão. Vai ficar apertado, mas se incomodar avisa. Você segura aqui, abre o braço quando eu avisar. Cuidado com a cabeça, ao embarcar no avião. Vamos lá?

De repente eu estava num campo, concentrada com alguns caras de macacão, exceto um, de bermuda e camiseta que parecia bem tranquilo. O responsável pela filmagem externa me avisou: no ar, pode ser que eu segure a sua mão. Deixe apenas estendida, mas não segure a minha, ok? Ok. O instrutor disse que tudo o que eu precisava fazer era sorrir, ação que parecia impossível quando o avião chegou. Todos subiram, eu fui por último (mal sabia eu que essa ordem significava ser eu a primeira a saltar).

E aí começou.

O avião começa a andar com a porta aberta e de repente ele sobe e tudo vai diminuindo de tamanho do lado de fora, enquanto do lado de dentro, a sensação é de que há algo que não caberá mais em mim. “Não tem mais volta!”, brincou o instrutor. Mal sabia ele que essa irreversibilidade existia desde a semana que passei em Penedo.

Em poucos segundos, eu estava presa ao instrutor pela estrutura do macaquinho e em menos segundos ainda, o avião fez a reta do salto. Um alarme tocou e o avião diminuiu a velocidade. Chegou a hora, me pareceu. Abriram a porta do avião. Eu só conseguia dizer “Caralho”. Eu ia cair no google maps visualização satélite, aqueles pequenos quadrados que são o chão, aquele barulho ensurdecedor do avião, do céu, da minha cabeça, o frio na barriga, o instrutor me posicionando na porta do avião, os outros paraquedistas sorrindo, se despedindo, dando boa sorte, eu sentei com os pés para fora do avião e caralho eu to com os pés pra fora do avião, a janela que eu tanto gosto de olhar nas viagens não era mais uma janela; era o lugar onde eu estava com o corpo, eu ia cair ali, no céu, na cidade de Resende e tudo isso deve ter durado um segundo ou menos e de repente eu estava caindo e um medo absurdo apareceu e sumiu, pois magicamente eu entendi que não tinha dado merda. Tudo estava sob controle. E eu abri os olhos.

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Não sei dizer o que eu senti exatamente, eu olhava em volta e só conseguia chorar, a emoção era física e tudo o que eu queria era olhar o máximo possível, olhar para cima, olhar para baixo, registrar todas as sensações de se estar no céu. O paraquedas abriu e a coisa só ficou mais suave. Era voar de avião sem avião, era olhar tudo muito pequeno lá embaixo, sentir o corpo navegar sem chão. Não conseguia gritar urru, nem dizer o quão incrível aquilo estava sendo. Era tudo inacreditável. Não tinha angústia, não tinha tristeza, não tinha medo, não tinha fracasso, não tinha dúvidas. Todos os meus canais de perceber o mundo foram tomados por aquele momento de estar ali, depois de ter saído de um avião no ar. Pensei que meditar deve ser isso, estar consciente de uma presença grande, uma plenitude de aqui-agora, de infinito.

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Chegar no chão foi divertidíssimo – segui as instruções do Luciano e tudo acabou com um tobogã na grama com o paraquedas caindo atrás da gente. A primeira pessoa que eu vi foi Alice, feliz demais correndo em minha direção de braços abertos. Que inacreditável.

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Ao longo do dia eu fiquei tomada por um estado zen de espírito, uma tranquilidade, um sorriso calmo. Na cabeça, somente aquela imagem google maps visualização satélite, aqueles quadradinhos que tomavam forma de casas, de cidade, de pessoas jogando futebol, aquele gelado no corpo de saltar de um avião a 4 km do chão, aquele choro descarreguento, aquela emoção da ilusão de voar. Aquele carinho das amigas que estavam ali comigo, do Sombra que não estava lá, mas garantiu que estará na próxima – a próxima que eu espero acontecer o quanto antes.

Que bem maravilhoso que toda essa conjuntura me permitiu.

Voemos.


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

Argentina, Áustria, Brasil, Estive lá

A vez das pessoas

27 de agosto de 2015

Experimentamos durante o último final de semana a sensação de, pela (nossa) primeira vez, circular à pé no asfalto da maior avenida da maior cidade da América do Sul. Não é qualquer coisa restringir o acesso da Avenida Paulista a pedestres e ciclistas, e é uma das várias atitudes que nosso atual prefeito vem tomando para humanizar um pouco mais a metrópole virulenta que vivemos. As atitudes de Fernando Haddad têm sido polêmicas, muito mais pela cultura de ódio permeada atualmente na população brasileira, do que pelas ações em si.

A utilização de espaços públicos é coisa a qual não estamos acostumados, ainda mais quando ela acontece de graça e com fácil acesso. O paulista orgulha-se em ter o Ibirapuera como parque, mas sabe o quão difícil é seu acesso, e a quantidade de pessoas que o frequenta (principalmente nos finais de semana) afugenta os que procuram um pouco de paz e tranquilidade, ou mesmo outras alternativas de espaço – com comércio, restaurantes, espetáculos ou qualquer outro tipo de lazer. São Paulo é estigmatizada por carimbar com filas e/ou preços proibitivos suas principais atrações (temos o ótimo Sinta-se Paulistano satirizando essa imagem mais do que merecida que a cidade tem). E isso mina o ânimo de quem busca um pouco de sossego, ou ainda quem não tem dinheiro pra prestigiar tais atrações, afinal de contas, já temos filas, stress e preços altos suficientes durante a semana. Prorrogar essas dores cotidianas para nossos dias de folga é coisa a ser considerada. Sempre.

Longe de São Paulo vivemos dois momentos muito marcantes da chamada “vida ao ar livre” antes de presenciarmos o acontecimento do último domingo, e vamos contá-los rapidamente por aqui:

Começando por nossos vizinhos, e sua notória simpatia por espaços públicos. Tivemos a melhor das impressões em nossa primeira viagem ao notar que não era somente nos grandes parques (como o Rosedal, na foto) que os argentinos se esparramavam, com suas cuias de mate, livros, radinho, bola e toalha. Grandes ou pequenas, em Buenos Aires ou Ushuaia, eles têm por hábito curtir as praças, calçadões e ruas com sua família e amigos. Esses espaços se fundem com a cidade num convívio dos mais harmoniosos possíveis. De fácil acesso e espalhados pela cidade, perto ou longe do metrô, dia ou noite, de bicicleta ou à pé, as praças e parques argentinos estão sempre cheios de gente, todos os dias da semana.

Parques, praças e muita, muita gente.

Parques, praças e muita, muita gente.

Atravessamos o oceano e chegamos até Viena (que foi tema de nosso texto anterior) – uma cidade notoriamente cara, todos sabemos ou fazemos ideia. Mas com algumas características que valem MUITO destaque: a começar pela semelhança com as cidades argentinas no que se diz respeito aos parques e praças. Gente de todas as idades se espalha pelos gramados e alamedas da cidade, dia e noite.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Mas o que mais nos tocou foi um acontecimento em particular: acabamos não assistindo a nenhuma ópera na cidade, e isso poderia ser uma lacuna em nossa viagem. Mas ao passarmos em frente ao Wiener Staatsoper (a Ópera de Viena), um imenso telão na sua lateral transmitia ao vivo e com um som muito bacana o espetáculo que acontecia lá dentro – e cujos preços são condizentes a uma ópera. Em Viena. Na Ópera de Viena. Uma multidão de pessoas assistia ao espetáculo sentada na calçada, no chão ou em cadeirinhas e banquinhos trazidos de casa, comendo uma pizza e tomando um vinho. Diversão, música e cultura –  de graça. Fizemos o mesmo, e ficamos por alguns minutos ali, curtindo não só a ópera, mas as pessoas. Era dia de semana – se não me engano, uma quinta-feira. Um momento que a gente certamente não esquecerá.

Ópera na rua. Quem diria?

Ópera na rua. Quem diria?

Voltemos à Paulista, que experimentamos ao lado de um casal de amigos cariocas no último domingo. Diversos comerciantes sabiamente abriram suas lojas. Outras tantas pessoas levaram seus carrinhos (de comida, de bugigangas, de serviços) pra calçada, e juntaram-se às tradicionais feirinhas do MASP e do Trianon. Vimos grupos de teatro, bandas tocando, gente fotografando, fazendo piquenique, lendo livro na calçada. Pais e filhos à pé ou de bicicleta, num clima tão bom que nos sentimos… turistas. Existe sensação melhor que essa?

Em São Paulo, o Minhocão já tem o trânsito de veículos restrito há tempos durante os finais de semana. Algumas avenidas da cidade (principalmente as atendidas por metrô e trem) como a Paulista, a Faria Lima e a Sumaré são sim ótimas opções para o passeio livre em dias de descanso. Temos as Viradas Culturais, onde a cidade toda vira um imenso palco dia e noite (e cuja qualidade e organização vêm melhorando com o passar do tempo). Com a possibilidade de utilização desses espaços, podemos sair de casa. Conhecer pessoas, reencontrar amigos. Nos divertir sem gastar tubos. Fazer nosso piquenique. Desafogar o Ibirapuera e outros parques. Termos uma vida mais saudável, sem enterrar nossas finanças numa academia. Enfim, aproveitar uma cidade que se orgulha tanto do tamanho que tem, mas que tem se mostrado dia-a-dia uma metrópole de gente egoísta e intolerante.

Talvez nos falte educação, ou estejamos saturados. Mas nenhuma justificativa explica o fato nos afastarmos cada vez mais daquilo que o ser humano tem de mais precioso – a possibilidade de conviver em harmonia com pessoas de diferentes origens, características e gostos. Ninguém que está feliz julga alguém que também está sorrindo – seja pelo motivo que for, é um fato. E nos propiciar alguns momentos de felicidade em lugares que estamos acostumados a correr e xingar é uma iniciativa que nós apoiamos e prestigiamos irrestritamente.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Brasil, Faniquito, Perrengues

A primeira vez

10 de agosto de 2015

Acordamos e decidimos abrir o guia, numa página aleatória. Seria aquele nosso destino do dia – dependendo, do final de semana. Minha mãe mandou bater… Cunha. Pronto, temos pra onde ir. Onde fica Cunha? Não faço a menor ideia…! Vamos levar o guia pra padaria e descobrir enquanto a gente toma café? Vamos.

E assim nasceu nossa primeira viagem (já resumida em um parágrafo aqui mesmo, certa vez).

Café tomado, uma mochilinha com troca de roupa. Pegamos o carro e a estrada. Cunha é uma cidadezinha paulista (bem conhecida, diga-se – a gente é que nunca tinha ouvido falar mesmo), localizada quase na divisa com o Rio de Janeiro. Pelo caminho fomos descobrindo que é também a capital nacional do Fusca, entre outras curiosidades que nosso guia nos proporcionava. Mas não estamos aqui pra falar de Cunha – por mais que devêssemos. A história vale um texto porque nos propusemos a meter as caras num lugar novo de uma hora pra outra, e assim fizemos.

Das melhores sensações.

Das melhores sensações.

Apesar da carta de motorista desde os 21, seria minha primeira estrada na vida (uma vez que comprei meu carro só 2008 – ano em que reaprendi na marra a dirigir). Seguimos do final da manhã até a metade da tarde um caminho gostoso, com calma e uma certa ansiedade de quem está “fazendo acontecer” pela primeira vez na vida. Assim que chegamos, encostamos o carro num canto e fomos aproveitar o sossego do lugar. Tudo novo, tudo acontecendo pela primera vez – a gente inclusive, como casal novo e com a massa fresca, de quem ainda não sabia se teria futuro. Um passeio pelo centrinho, algumas fotos do fim de tarde, era hora de procurar algum lugar para passar a noite.

Um pouco de sossego, um novo amigo...

Um pouco de sossego, um novo amigo…

...um fim de tarde e uma boa história pra contar.

…um fim de tarde e uma boa história pra contar.

Rodamos a cidade inteira, literalmente (parece exagero, mas a cidade inteira é rodável, acreditem). Nenhuma vaga, em lugar algum. Recomendaram que fôssemos pra Parati. Longe demais pra risco semelhante, acabamos indo pra Guaratinguetá – igualmente sem vagas. Eis que num acaso bizarro, perguntamos no meio da estrada pra um motoqueiro se ele sabia de algum lugar, e ele nos sugeriu um motelzinho em Lorena. Agradecemos, mas não sabíamos sequer como chegar.

Eu levo vocês lá – ele disse. E a gente seguiu o motoqueiro. Até O MOTEL – que era um pulgueiro, mas tinha vaga, um chuveiro e uma cama. Nos bastava.

Com tudo absolutamente do avesso ao que havíamos imaginado, resolvemos seguir para Ubatuba no dia seguinte. Tentaria salvar aquela primeira viagenzinha indo até Itamambuca, mas chegando no entroncamento para as praias, o caminho estava totalmente entupido de gente. Nos conformamos em ficar por ali mesmo, numa praia mais central (e cuja qual obviamente não lembro o nome), que seria nosso destino para o almoço.

Que foi sensacional, e disso me lembro bem.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

Paulistas que somos, botar o pé na areia já valeria pelo final de semana. Mas naquele momento a Dé sugeriu irmos atrás de um lugar chamado “cachoeira do macaco”, que ela havia lido (no guia ou numa placa, também não lembro). Procuramos incessantemente, até sermos guiados por um frentista, e darmos de cara com uma caixa d’água da Sabesp. Mais algumas voltas, e terminamos num lugarzinho mais gostoso, que compensou aquela volta toda.

A água que queríamos não estava numa caixa...

A água que queríamos não estava numa caixa…

E a soma de tudo deu... nisso :)

E a soma de tudo deu… nisso 🙂

Deu tudo errado, e nada saiu como planejado. Não importa. A primeira vez é inesquecível (pro bem ou pro mal, sabemos todos disso), e dali em diante começaríamos a ganhar experiência nessa coisa de viajar.

Tudo isso pra dizer e insistir: bote o pé na estrada. Sim, a situação econômica está terrível pra todo mundo. Mas assim mesmo, com um mínimo (às vezes, um tanque de gasolina, dinheiro pro pedágio e uns sanduíches na sacola térmica) a gente aumenta nosso mundo pessoal. Pode dar tudo errado: você pode dormir num pulgueiro, levar multa, pegar estrada no breu, dar de cara com uma linda e frondosa caixa d’água. Ainda assim será uma história a ser contada lá na frente. E toda história, quando bem contada, é muito boa. Saber rir da própria desgraça, mais ainda. Então, meta as caras. E não poupe seu dedo de fazer o trabalho do cérebro quando o assunto for escolher um destino, quando este insistir em te podar desses momentos.

Brasil, Gastronomia

Babem, gringos

20 de julho de 2015

Com o termo sendo utilizado de forma totalmente pejorativa nos últimos tempos, o Faniquito de hoje vem exaltar (e indicar*) dois lugares pra você se deleitar com aquela iguaria maravilhosa e tipicamente brasileira, chamada coxinha.

Só dois? Sim, só dois. São os que a gente ama, que têm um preço bacana, uma coxinha “tamanho gordinho” e cujo passeio (afinal, estamos num site de viagens) é bem bacana.

Porém, contamos com a colaboração dos nossos amigos e leitores para aumentarmos o número de indicações. Sem melhores ou piore, a ideia é somente indicar lugares em que a gente vai pra comer, e sai sorrindo. Às indicações, portanto:

Praça Cheese Lanchonete

Isso é uma foto de celular, sem Photoshop.

Isso é uma foto de celular, sem Photoshop.

Em frente à FNAC Pinheiros, um bar com mesas na calçada (aprovamos) pode passar em branco aos mais apressados. Recomendação? Esqueçam a pressa. O atendimento é bacana, a cerveja é gelada, com uma boa variedade de rótulos e sem frescuras gourmet, graças a Deus e à Sil – a dona do bar e sua futura amiga, caso você tenha 5 minutos pra um bom papo. E sim, ela lembra do seu nome depois de 3 ou 4 visitas.

Mas o papo é coxinha, e a de lá é referência na região – sendo inclusive indicada por hotéis e albergues próximos à gringaiada que procura pelo quitute nacional. É uma das histórias que a Sil mais conta, sempre com novos fatos, como bilhetinhos desajeitados de gente que vem de todo canto do mundo.

A coxinha não decepciona nem um pouquinho, sendo muito bem servida, e atendendo àquelas coisas que a gente procura no salgadinho ideal – sequinha, bem recheada e crocante. E no conjunto da obra, o bar – que não é badalado como o Frangó, o Veloso ou outros lugares de São Paulo – deixa saudade. Mas como fica do lado do metrô Faria Lima, dá pra voltar sempre – pra mais uma coxinha e um papo na calçada.

Praça Cheese Lanchonete
R. Álvaro Anes, 25 – Pinheiros – São Paulo/SP

Padaria Real

O triângulo de queijo cobriu um pouco a foto. Desculpem.

O triângulo de queijo cobriu um pouco a foto. Desculpem.

Quer pegar uma estrada no fim de semana? Sorocaba é um ótimo destino pra quem ama o salgadinho. “Mas você vai pegar estrada e pagar pedágio pra comer coxinha?” – SIM, meus amigos. E não é exagero. Assim que você chega à cidade, escolha uma das (agora quatro) lojas da cidade. São enormes, e a marca da padaria traz a data de sua fundação: um lugar que foi fundado em 1957 e está aberto e imponente até hoje não é pouca coisa.

Mesmo com o tamanho das padarias – muito semelhante às grandes padarias que a gente conhece por aí – o que mais impressiona é a frequência das fornadas de coxinha, necessária à demanda dos clientes locais e forasteiros, que vêm aos montes experimentar a iguaria.

Obviamente que não é só coxinha que a padaria vende (e o triângulo de queijo se tornou outra necessidade deste que vos escreve sempre que visita  a dita cuja). Mas sem dúvida, é a grande estrela da casa, inclusive com algumas variações interessantes – já pensou numa coxinha de bacalhau? Pois bem, eles têm. Mas fique com a tradicional. Coma quantas aguentar, e não tenha vergonha de levar pra viagem. É inevitável.

Padaria Real
R. da Penha, 1.373 – Centro – Sorocaba/SP

E você, onde levaria seu amigo gringo pra apresentar esse quitute sensacional? Indique suas preferências pra gente 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.