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Martillo: a ilha dos pinguins

17 de março de 2016

Uma das atrações mais populares do “fim do mundo” é sem dúvida a ilha dos pinguins. Fim do mundo, afinal Ushuaia é a cidade mais austral do planeta, e se o mundo está acabando, nada melhor do que estar em companhia de um dos bichinhos mais simpáticos dessa vida.

Compramos nosso passeio no quiosque da Piratour logo pela manhã. Estimado em aproximadamente seis horas, o passeio inclui o traslado do centro de Ushuaia até a Estância Harberton (que fica a aproximadamente 80 km de distância), e o deslocamento de barco da Estância até a Isla Martillo (ou ilha dos pinguins), num trajeto de mais ou menos 15 minutos. Já com um pequeno grupo reunido, recebemos o voucher mais estranho e precário de nossas vidas, e alguns minutos depois nosso guia chegou. O tour estava começando.

Se por algum momento você achou precário o ingresso do barquinho no post anterior...

Se por algum momento você achou precário o ingresso do barquinho no post anterior…

Com instruções em inglês e espanhol, o rapaz se desdobrava. Longe de parecer um esforço, as informações gerais foram passadas tanto na van como no barco: a chegada à ilha seria feita de forma tranquila e ordenada; o grupo deveria seguir a trilha delimitada no chão, caminhando de forma tranquila, lenta e compacta; os pinguins se aproximariam, e toda e qualquer iniciativa de contato deveria ser deles, e nunca nossa; em hipótese alguma tentar acariciar os bichinhos, que naturalmente revidariam, e não havia nenhum hospital ou posto médico próximos à ilha; nada de alimentar os pinguins, entre outros procedimentos que todos sabemos existir quando do contato com a vida selvagem do planeta.

Durante o trajeto de van, uma rápida parada na estrada para fotografar as árvores que crescem sob o vento mais que forte da Terra do Fogo. Um lugar belíssimo, que merecia de fato uns minutinhos de registro.

Pense num lugar bonito...

Pense num lugar bonito…

...e gelado!

…e gelado!

O vale é essa coisa linda e verde.

O vale é essa coisa linda e verde.

Mas as árvores que nascem "de cara pro vento" crescem desse jeito. Não é exagero dizer que o vento patagônico é capaz de derrubar (ou nesse caso, entortar).

Mas as árvores que nascem “de cara pro vento” crescem desse jeito. Não é exagero dizer que o vento patagônico é capaz de derrubar (ou nesse caso, entortar).

Assim que chegamos à Estância Harberton, o barco já estava atracado. Uma parada rápida praquele xixi amigo (sim, outra instrução: a ilha não tem banheiro, então trate de se aliviar ou antes ou depois) e embarcamos.

Tudo bonito demais a caminho da ilha dos pinguins.

Tudo bonito demais a caminho da ilha dos pinguins.

Alguns minutos de passeio, e pouco depois chegávamos à Isla Martillo. Desembarcando um a um, o cenário que surgia era coisa inexplicável de tão… fofinha.

Sabemos que uma imagem vale mais do que mil palavras, e as nossas são deliciosas. Deixaremos a descrição do passeio a cargo delas, e vamos enumerar algumas coisas que possivelmente vocês não vão encontrar em outro texto sobre a ilha:

  • Primeira coisa: o cheiro de peixe. Se você é daquelas pessoas que passa mal com a barraca de peixe da feira, o passeio pode não funcionar pra você. A gente tem aquela imagem idealizada de fofura dos pinguins e esquece que os bichinhos são selvagens e fedidinhos;
  • Se você assistiu “Os Pássaros“, pode rolar um certo pânico também;
  • O terreno é bastante lamacento – o que é ótimo pra eles. Por isso mesmo, a escolha de roupas mais acertada consiste em uma bota confortável e bacana, calças jeans (ou de qualquer tecido grosso, veja o vídeo mais abaixo pra entender o porquê) e um casaco corta-vento. Além do cuidado com os pinguins, vale um cuidado com a própria ilha – que escorrega bastante. Cair nunca é legal. Cair em cima de um pinguim, menos ainda;
  • Apesar da quantidade abissal de pinguins, eles não se aproximam tão descaradamente como pode parecer (a lente da Dé era maior do que o normal). Então, muita calma e paciência pra fotografar e filmar os danados.  Mesmo assim, dá pra ver de perto e a experiência continua sensacional;
  • Leve bateria e cartão de memória sobressalentes. É tanto pinguim que você vai querer fotografar um por um;
  • As diferentes espécies de pinguins convivem numa boa;
  • Os pinguins peludinhos são os filhotes. Com o tempo, essa pelugem marrom vai caindo, e eles vão ficando com aquela cara que a gente conhece.
Quando chegamos, fomos recebidos...

Quando chegamos, fomos recebidos…

...de braços abertos.

…de braços abertos.

Que praia sensacional e lotada, essa.

Que praia sensacional e lotada, essa.

Uma daquelas fotos com sorriso mais que sincero, que você vai guardar pro resto da vida.

Uma daquelas fotos com sorriso mais que sincero, que você vai guardar pro resto da vida.

"E aí pinguim, rola uma selfie?"

“E aí pinguim, rola uma selfie?”

O passeio é sossegadíssimo. Pessoas de todas as idades podem fazê-lo tranquilamente, e a diversão é mais que garantida. É impossível não se encantar com a doçura dos bichinhos, e passar a identificar um ou outro (o mais saidinho, o cantor, a mãezona, o sem-vergonha, o tímido, as crianças, etc.). O mais legal: não tem nada de artificial na ilha. É habitat deles, e a gente que está no papel de visita. Nada de cercas, divisórias ou adestramentos, e é maravilhoso.

No meio do caminho, um casal de pinguins imperadores, que estava de passagem pela ilha.

No meio do caminho, um casal de pinguins imperadores, que estava de passagem pela ilha.

Claro que nem tudo é pinguim...

Claro que nem tudo é pinguim…

...mas a maioria é.

…mas a maioria é.

Um deles resolveu se amigar com esse cara.

Um deles resolveu se amigar com esse cara.

E até posou pra foto, enquanto a gente filmava.

E até posou pra foto, enquanto a gente filmava.

Pinguins enquanto crianças, e seus casaquinhos...

Pinguins enquanto crianças, e seus casaquinhos…

...que, com o tempo, vão dando lugar ao "pinguim com cara de pinguim".

…que, com o tempo, vão dando lugar ao “pinguim com cara de pinguim”.

E antes de ir embora, que tal uma cantoria?

E antes de ir embora, que tal uma cantoria?

Que passeio di-ver-ti-do!

Que passeio di-ver-ti-do!

Pouco antes de ir embora, uma última visita. O Museu Acatushún pertence à Estância Harberton, e nele temos mais uma aula rápida sobre a vida marinha da região.

Afinal de contas, um pouquinho a mais de conhecimento não faz mal a ninguém.

Afinal de contas, um pouquinho a mais de conhecimento não faz mal a ninguém.

Serve como fechamento perfeito pra uma manhã tão diferente, e a gente sai de lá se sentindo mais rico, feliz e de coração quente – apesar do vento patagônico, que é sempre gelado. Mais do que recomendado, é um passeio obrigatório pra quem chega ao fim do mundo 🙂

Argentina, Estive lá

Você precisa conhecer o El Ateneo?

10 de março de 2016

Um dos pontos turísticos mais famosos de Buenos Aires, a livraria El Ateneo faz jus à fama. Porém, esqueça suas filiais. Estamos falando daquele prédio lindo e famoso, localizado na Avenida Santa Fé: o El Ateneo Grand Splendid.

Inaugurado como teatro em 1919, o prédio funcionou como casa de tango, estação de rádio e cinema antes de se tornar a livraria que é hoje. Obviamente seu acervo é notável – pela quantidade e qualidade, sendo comparável a qualquer megalivraria no mundo. Nela você encontra livros, discos, dvd’s e blu-rays a preços quase sempre justos. Mas não é essa variedade que a destaca das demais – porque sim, a gente sabe que pela internet você é capaz de comprar qualquer coisa sem sair de casa. Não sair de casa vai contra tudo o que o Faniquito propõe, por isso mesmo viemos aqui indicar um destino 🙂

A visão do primeiro andar é acachapante.

A visão do primeiro andar é acachapante.

Com quase um século de existência, o prédio exala história. Aos que nunca visitaram Buenos Aires, dou meu depoimento pessoal: a ideia que eu tinha na cabeça antes de conhecer a cidade, naquilo que se presta a identificar sua História e tradições, é facilmente reconhecido tanto no exterior quanto no interior da El Ateneo. Poucos são os lugares cuja arquitetura é tão destacada e preservada (nesse caso, restaurada) quanto na livraria. Os camarotes e bancadas laterais possuem diversas poltronas, e não se permitir alguns minutos de leitura e/ou contemplação num ambiente tão especial beira ao sacrilégio. Os acessos aos andares superiores é feito de escada – o que novamente respeita a arquitetura original, enquanto o acesso ao piso inferior é feito por escadas rolantes. Mas o prédio é acessível, e existe um elevador para esse propósito. Esqueça a pressa em casa.

A visão lateral dos dois andares da casa...

A visão lateral dos dois andares da casa…

...e o detalhe dos camarotes, onde sentar um pouquinho vira quase uma necessidade.

…e o detalhe dos camarotes, onde sentar um pouquinho vira quase uma necessidade.

Falando em detalhes: os cuidados e afrescos são de babar.

Falando em detalhes: os cuidados e afrescos são de babar.

A beleza da casa inclusive facilita o consumo – uma péssima notícia pra você que tem uma ratoeira no bolso. Afinal, existe lugar mais legal pra se levar um souvenir do que uma loja linda dessas? Não quer ler em espanhol? Não tá acostumado aos maravilhoso hábito da leitura? Nem eu, que acabei trazendo pra casa um livrão do Quino, um do Langer e um almanaque do Boca Juniors. A Dé trouxe alguns ótimos livros de fotografia de artistas locais. Tem pra todo mundo, e suas desculpas correm o risco de não funcionarem. Portanto, além do espaço reservado aos alfajores, guarde outro para uns livros na sua mala.

Muito melhor que qualquer chaveiro.

Muito melhor que qualquer chaveiro.

O espaço antes reservado ao palco do teatro é hoje destinado a um café. Assim como os cafés de livrarias do Brasil, esse é caro de fazer sangrar os olhos. Experimente por conta e risco, mas gastronomicamente não é mais especial do que nenhuma outra loja próxima (e muito mais barata). Vale pela experiência de tomar um café na livraria, mas não muda a vida de ninguém.

Aqueles 5 minutinhos em que você pára pra dar uma lida, aproveita a beleza do lugar e não esquece nunca mais.

Aqueles 5 minutinhos em que você pára pra dar uma lida, aproveita a beleza do lugar e não esquece nunca mais.

Destaque para a pintura do teto, de autoria do ítalo-argentino Nazareno Orlandi...

Destaque para a pintura do teto, de autoria do ítalo-argentino Nazareno Orlandi…

Sua outra metade...

Sua outra metade…

E por fim, o conjunto completo - que é maravilhoso.

E por fim, o conjunto completo – que é maravilhoso.

Portanto, quando estiver conhecendo a capital dos hermanos, não discrimine os pontos turísticos básicos. Certamente a El Ateneo estará entre eles, e além do ar condiconado mais que bem vindo pra combater o calor portenho, é um dos melhores lugares pra fazer uma pausa nas inevitáveis caminhadas. Estar lá dentro garante um dos melhores sabores argentinos.

 

Argentina, Causos

Chillhouse/Chill out

21 de janeiro de 2016

É um texto rápido esse, pra data não passar em branco. Rápido como nossa passagem no Chillhouse – que serve de gancho pra contar um causo.

Há 3 anos (e um dia) a gente desembarcava na Argentina pela segunda vez, naquela que seria nossa viagem pela Patagônia. Uma viagem planejada durante um mês, em caráter de improviso (e com uma boa dose de mau humor no início, uma vez que nosso destino planejado era pra cima, e não pra baixo do continente). Porém, antes de chegarmos à região patagônica, passaríamos um dia em Buenos Aires.

Por ser uma pausa rápida, topamos um albergue com quarto compartilhado. Fizemos a reserva no Chillhouse, que vinha muito bem recomendado em nossas pesquisas. Porém, assim que chegamos, fomos surpreendidos com uma reserva equivocada, que nos colocou em quartos coletivos SEPARADOS. Não sei mensurar o grau do meu emputecimento, já imaginando que uma “viagem de improviso” que começava daquele jeito podia desandar pra coisa muito pior. Em situação bizarra, nos separamos, e eu dividi o quarto com mais uma menina e três caras (sendo que um deles, OBVIAMENTE, roncava mais que uma motoserra. Amaldiçoava cada segundo naquele lugar até a manhã seguinte, quando pegamos nossas coisas e seguimos viagem.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Mesmo com esse início tétrico, a viagem foi incrível.

Voltaríamos pro Chillhouse ao final da viagem, e eu imaginava uma nova sessão de terror caso fizessem uma nova cagada com nossas reservas. Porém, a Dé havia se precavido, e pela primeira vez teríamos em um albergue um quarto exclusivo, em nossas (até então) quatro viagens acumuladas. Contra toda a desconfiança acumulada, recebemos uma suíte necessária e providencial após dias extremamente cansativos: ventilador, televisão, e um banheiro no quarto que tinha até banheira. Foi a analogia perfeita com o início e fim do planejamento daquela viagem: começou nas trevas, terminou no céu.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

É bom saber que a noite de 20 de janeiro de 2013 não deu o tom de uma viagem tão urgentemente planejada. Bom saber que a gente às vezes se engana nas primeiras impressões sobre determinadas coisas ou lugares. E bom saber que depois de três anos, dá pra gente comemorar uma data que hoje é tão importante na nossa vida, mesmo que naquela noite tenha sido vivida em camas separadas, e com companhias bizarras.

Afinal, ronco bom é aquele que a gente CONCORDA em dividir 😉

Argentina, Gastronomia

As ovelhinhas

12 de novembro de 2015

Se você está de dieta, este texto não é pra você*.

Um dos produtos de maior destaque na culinária argentina é seu sorvete – fama justificada e merecida, que se diga. Não faz muito tempo que qualquer pessoa que viajasse pra lá tinha quase que por obrigação experimentar os sorvetes do Freddo, marca que possui uma infinidade de lojas em Buenos Aires (e que desembarcou no Brasil já há alguns anos). Experimentar um Freddo no Brasil – lamento informar – não é a mesma coisa do que fazê-lo em seu país de origem: com uma quantidade muito maior de sabores, até mesmo a textura do sorvete varia. Continua sendo um programão, que a gente sempre que pode usufrui.

Respeita o Safadão.

Respeita o Safadão.

Mas não viemos aqui falar do Freddo.

Com apenas duas lojas, sendo uma em cada cidade – Ushuaia e El Calafate – a Ovejitas de la Patagonia** (http://www.ovejitasdelapatagonia.com/) é a principal loja de sorvetes da Patagônia Argentina. Com uma simpática (e óbvia) ovelhinha como mascote, suas vitrines atraem qualquer pessoa que goste de chocolate e sorvete: ou seja, quase todo ser humano vivo e com um mínimo de prazer por comida gostosa.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Deixamos para conhecer a loja somente em Calafate (burrice, com o passar dos anos a gente aprende a não adiar certos prazeres). O menuzão na parede destaca quem realmente importa – nada de Flocos e Creme (por sinal, quem inventou essas duas porcarias)? Entre frutas e doces que de fato merecem uma versão gelada, qual não foi nossa surpresa quando demos de cara com um sabor descrito como CHOCOLATE SUPER DELICIOSO? Essa coisa meio Willy Wonka mexe com a cabeça de qualquer pessoa, e foi o primeiro de nossos diversos pedidos. Bem, um sorvete de chocolate ARGENTINO misturado com pedaços de doce de leite ARGENTINO… a gente acaba perdendo a cabeça mesmo.

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente...

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente…

...o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

…o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

Ostentação e amor.

Ostentação e amor.

Além do sorvete, diversos chocolatinhos, doces e outras coisas coloridas fazem parte do universo ovelhístico. É tudo tão bonitinho (e deve ser tão gostoso) que seu orçamento pode ir pro espaço se você acabar se deixando levar pela emoção. Em Calafate está também a fábrica do sorvete, a qual tentamos visitar sem sucesso (acho que demos azar e a dita estava fechada quando aparecemos por lá). Sem problemas: o que importa é a loja, e seu cardápio que acaba virando um desafio pessoal a ser vencido.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Sim, a Patagônia é um lugar gelado. Tomar sorvete no frio? É uma das coisas que mais fazem sentido nessa vida – e sorvete bom… meu amigo, isso não tem clima que te desanime! E quem é capaz de falar não para ovelhinhas tão simpáticas?


* Por sinal, nenhum texto do Faniquito é. Acostume-se, ou procure um site de viagens diet.

** Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Gastronomia

Quem tem boca…

20 de outubro de 2015

O princípio fundamental de qualquer viagem é experimentar. É fato: estando fora de casa, queremos fazer, experimentar ou viver algo diferente. Mesmo as viagens mais cômodas e sossegadas pedem por esse ar de “coisa nova”, seja ela uma bebida, um prato, um banheiro, uma cama, ou mesmo um horário diferente do que nos acostumamos a acordar todos os dias. Pra fazer o de sempre, melhor ficar em casa… certo?

Eu e a Dé nunca cozinhamos nos albergues em que nos hospedamos. Nada pessoal, muito menos preconceito, mas das nossas necessidades (de casal, e mesmo pessoais) experimentar a comida local é tão importante quanto conhecer um novo lugar – e disso a gente não abre mão. Respeitamos e admiramos aquela galera que passa toda uma viagem na base do pão Pullmann e miojo, mas nas contas que fazemos antes de viajar, poder comer sem se preocupar é uma de nossas diversões. E pra que possamos fazer isso da forma mais bacana, preferimos experimentar o que estiver na frente. Nem sempre a gente se deu bem fazendo isso, mas temos boas histórias pra contar:

Ovos romenos

Estávamos no Caru’ cu bere – um dos restaurantes mais antigos e tradicionais de Bucareste (e que será tema de texto mais pra frente). Chegamos cedo, querendo tomar um café da manhã antes de sair pra conhecer a cidade. Sendo um verdadeiro ponto turístico, todos os funcionários falam inglês. Pedimos o cardápio, e ele veio – todo bilíngue, exceto nos pratos do café da manhã. Podíamos perguntar para a garçonete, mas preferimos valer o risco e pedir pela beleza estética das palavras em romeno. A Dé ganhou dois ovos. Eu, um omelete com chá. Eu não como ovo, então a Dé acabou comendo omelete com ovos, e eu fiquei só no chá (minha hora do almoço foi, por consequência, selvagem).

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Poderia ter sido uma baita decepção, mas a pequena gostou do prato duplo dela, e eu tomei o melhor chá da minha vida – sem hipocrisia, tava tão bom que eu tive que procurar sabor semelhante no Brasil (e o que mais se aproximou foi o vermelhinho da Twinings).

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia :)

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia 🙂

Trocando em miúdos

Em nossa primeira viagem à Argentina, abrimos mão de experimentar a parrillada por pura falta de dinheiro/estômago. E se você não sabe o que é parrillada, a gente explica:

“A parrillada permite provar diferentes partes da vaca. Esta refeição geralmente começa com uma salsicha e chouriço, antes da chegada da carne principal. Ela também pode ser acompanhada de rins, pâncreas, fígado e tripas de gado. Frango e porco esporadicamente também estão inclusos.”

Quando voltamos pra lá, virou dívida pessoal. Acabamos nos metendo numa Parrilla (um restaurante especializado em parrillada) na cidade de Ushuaia. Um baita frio, uma baita fome, respiramos fundo e pedimos a criança. O restaurante estava lotado, e havíamos tido uma breve aula sobre o que viria naquele prato com meu sogro.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Com a parrillada na mesa, o caminho era sem volta: experimentamos um a um aqueles cortes bizarros de carne, com consistências e cores estranhas. Não dá pra dizer que detestamos, muito menos que amamos – apenas riscamos uma pendência da nossa lista pessoal, e sobrevivemos sem grandes dores àquele jantar esquisito.

Aaaaaaah…alpaca!

Havíamos terminado nosso primeiro dia de passeio em Machu Picchu. Descemos até a cidade, e entramos no primeiro restaurante que vimos na frente (e que nos pareceu entrável – não dá pra deixar o estômago falar na frente do cérebro sob hipótese alguma). Das opções do cardápio, nos chamou a atenção a carne de alpaca – e acabamos pedindo os quatro pratos iguais. Um prato que chegou lindo como esse da foto, e gostoso de um jeito muito difícil de se imaginar. Fomos embora de bucho cheio, e morrendo de saudade dessa carninha. Quando eu e a Dé voltamos pro Perú – em Lima – pedimos alpaca novamente, e ficamos sabendo que só servem a coitada em Cusco e arredores. Ou seja, foi realmente um prato típico e muito difícil de se encontrar em outro lugar. Ah… você não sabe o que é alpaca?

Alpaca: sua gostosa.

Alpaca: sua gostosa.

É esse bichinho simpático da foto lá do topo, que abre nosso texto de hoje. Pois é: por mais fofo que seja, na hora da fome a gente quer mesmo é dentar uma coisa suculenta. Dessa coisinha bonitinha comemos esse medalhão, espetinho e até pizza. Alpaca: experimente.

O desafio da arepa

O café da manhã na Venezuela era um verdadeiro desafio: Santa Elena de Uairén sofria com o desabastecimento (assim como ocorre com todo o país), e queríamos porque queríamos experimentar a tal arepa, que é um prato bem comum e típico do país. Fomos a um restaurante chamado La Arepera, crentes que conseguiríamos degustar o tal quitute. Porém, o garçom era mais atrapalhado que qualquer outra coisa, e depois de pedirmos duas arepas e dois sucos de laranja, recebemos dois tostex e duas Coca-Colas. Essa foi a reação da Dé ao ocorrido:

Arepa e suco? Não... tostex e Coca-Cola.

Arepa e suco? Não… tostex e Coca-Cola.

La Embajada: quem vê cara...

La Embajada: quem vê cara…

...não vê coração. Nem arepa :)

…não vê coração. Nem arepa 🙂

Foi num cantinho chamado La Embajada que encontramos nossa arepa… e que troço bom a tal massinha de polenta frita com recheios variados (no caso, nem tão variados, mas muito gostosos). Nossos cafés da manhã na cidade consistiam de arepas e sucos enquanto estivessem disponíveis (e mesmo comendo como se fosse um almoço, o valor nunca ultrapassava dez Reais PARA AMBOS). Ganhou um lugar especial no nosso coração.

Traumas ou delícias: tudo vira história. Então deixe seu medo em casa, e vá experimentar os sabores do mundo sem medo 🙂

Argentina, Áustria, Brasil, Estive lá

A vez das pessoas

27 de agosto de 2015

Experimentamos durante o último final de semana a sensação de, pela (nossa) primeira vez, circular à pé no asfalto da maior avenida da maior cidade da América do Sul. Não é qualquer coisa restringir o acesso da Avenida Paulista a pedestres e ciclistas, e é uma das várias atitudes que nosso atual prefeito vem tomando para humanizar um pouco mais a metrópole virulenta que vivemos. As atitudes de Fernando Haddad têm sido polêmicas, muito mais pela cultura de ódio permeada atualmente na população brasileira, do que pelas ações em si.

A utilização de espaços públicos é coisa a qual não estamos acostumados, ainda mais quando ela acontece de graça e com fácil acesso. O paulista orgulha-se em ter o Ibirapuera como parque, mas sabe o quão difícil é seu acesso, e a quantidade de pessoas que o frequenta (principalmente nos finais de semana) afugenta os que procuram um pouco de paz e tranquilidade, ou mesmo outras alternativas de espaço – com comércio, restaurantes, espetáculos ou qualquer outro tipo de lazer. São Paulo é estigmatizada por carimbar com filas e/ou preços proibitivos suas principais atrações (temos o ótimo Sinta-se Paulistano satirizando essa imagem mais do que merecida que a cidade tem). E isso mina o ânimo de quem busca um pouco de sossego, ou ainda quem não tem dinheiro pra prestigiar tais atrações, afinal de contas, já temos filas, stress e preços altos suficientes durante a semana. Prorrogar essas dores cotidianas para nossos dias de folga é coisa a ser considerada. Sempre.

Longe de São Paulo vivemos dois momentos muito marcantes da chamada “vida ao ar livre” antes de presenciarmos o acontecimento do último domingo, e vamos contá-los rapidamente por aqui:

Começando por nossos vizinhos, e sua notória simpatia por espaços públicos. Tivemos a melhor das impressões em nossa primeira viagem ao notar que não era somente nos grandes parques (como o Rosedal, na foto) que os argentinos se esparramavam, com suas cuias de mate, livros, radinho, bola e toalha. Grandes ou pequenas, em Buenos Aires ou Ushuaia, eles têm por hábito curtir as praças, calçadões e ruas com sua família e amigos. Esses espaços se fundem com a cidade num convívio dos mais harmoniosos possíveis. De fácil acesso e espalhados pela cidade, perto ou longe do metrô, dia ou noite, de bicicleta ou à pé, as praças e parques argentinos estão sempre cheios de gente, todos os dias da semana.

Parques, praças e muita, muita gente.

Parques, praças e muita, muita gente.

Atravessamos o oceano e chegamos até Viena (que foi tema de nosso texto anterior) – uma cidade notoriamente cara, todos sabemos ou fazemos ideia. Mas com algumas características que valem MUITO destaque: a começar pela semelhança com as cidades argentinas no que se diz respeito aos parques e praças. Gente de todas as idades se espalha pelos gramados e alamedas da cidade, dia e noite.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Mas o que mais nos tocou foi um acontecimento em particular: acabamos não assistindo a nenhuma ópera na cidade, e isso poderia ser uma lacuna em nossa viagem. Mas ao passarmos em frente ao Wiener Staatsoper (a Ópera de Viena), um imenso telão na sua lateral transmitia ao vivo e com um som muito bacana o espetáculo que acontecia lá dentro – e cujos preços são condizentes a uma ópera. Em Viena. Na Ópera de Viena. Uma multidão de pessoas assistia ao espetáculo sentada na calçada, no chão ou em cadeirinhas e banquinhos trazidos de casa, comendo uma pizza e tomando um vinho. Diversão, música e cultura –  de graça. Fizemos o mesmo, e ficamos por alguns minutos ali, curtindo não só a ópera, mas as pessoas. Era dia de semana – se não me engano, uma quinta-feira. Um momento que a gente certamente não esquecerá.

Ópera na rua. Quem diria?

Ópera na rua. Quem diria?

Voltemos à Paulista, que experimentamos ao lado de um casal de amigos cariocas no último domingo. Diversos comerciantes sabiamente abriram suas lojas. Outras tantas pessoas levaram seus carrinhos (de comida, de bugigangas, de serviços) pra calçada, e juntaram-se às tradicionais feirinhas do MASP e do Trianon. Vimos grupos de teatro, bandas tocando, gente fotografando, fazendo piquenique, lendo livro na calçada. Pais e filhos à pé ou de bicicleta, num clima tão bom que nos sentimos… turistas. Existe sensação melhor que essa?

Em São Paulo, o Minhocão já tem o trânsito de veículos restrito há tempos durante os finais de semana. Algumas avenidas da cidade (principalmente as atendidas por metrô e trem) como a Paulista, a Faria Lima e a Sumaré são sim ótimas opções para o passeio livre em dias de descanso. Temos as Viradas Culturais, onde a cidade toda vira um imenso palco dia e noite (e cuja qualidade e organização vêm melhorando com o passar do tempo). Com a possibilidade de utilização desses espaços, podemos sair de casa. Conhecer pessoas, reencontrar amigos. Nos divertir sem gastar tubos. Fazer nosso piquenique. Desafogar o Ibirapuera e outros parques. Termos uma vida mais saudável, sem enterrar nossas finanças numa academia. Enfim, aproveitar uma cidade que se orgulha tanto do tamanho que tem, mas que tem se mostrado dia-a-dia uma metrópole de gente egoísta e intolerante.

Talvez nos falte educação, ou estejamos saturados. Mas nenhuma justificativa explica o fato nos afastarmos cada vez mais daquilo que o ser humano tem de mais precioso – a possibilidade de conviver em harmonia com pessoas de diferentes origens, características e gostos. Ninguém que está feliz julga alguém que também está sorrindo – seja pelo motivo que for, é um fato. E nos propiciar alguns momentos de felicidade em lugares que estamos acostumados a correr e xingar é uma iniciativa que nós apoiamos e prestigiamos irrestritamente.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.