Faniquito, Fofuras

Quando o importante não é o destino

30 de março de 2015

Nossa primeira viagem não foi exatamente uma viagem. Ainda namorando, fomos tomar café da manhã num sábado qualquer. Estávamos com um guia (acho, realmente não lembro bem), e enquanto dividíamos um suco de laranja, resolvemos sortear um lugar naquelas páginas: sairíamos da padaria, pegaríamos o carro, uma troca de roupa e iríamos para… Cunha. Eu nunca tinha pego estrada na vida, mal sabia onde ficava Cunha, o que tinha por lá, se tinha algo pra fazer. Não importava: eu iria com a Dé.

Foi uma baita de uma viagem – apesar da multa por excesso de velocidade, da busca incessante por um lugar pra dormir (e o resultado dessa busca), da ida à cachoeira do macaco. A estrada por um bem comum: alguém que a gente quer por perto. A cara de bobos felizes está ali em cima, ilustrando o texto de hoje.

Pois bem. Fizemos um bate-volta nesse final de semana até Joinville.

Aniversário de família – mais especificamente, da minha mãe. Uma festa-surpresa. Mas esse texto não é para contar como foi, e sim sobre a ação em si: viajar por uma pessoa, não por um lugar. Ação que eu e a Dé conhecemos muito bem, pois ambos já namoramos pessoas distantes o suficiente pra não chamarmos nossas visitas de “coisa corriqueira” – 500 quilômetros de distância não são exatamente “um pulo ali na esquina”.

A gente tava cansado e gripado em Joinville, mas nem parece.

A gente tava cansado e gripado em Joinville, mas nem parece.

Porém certas circunstâncias pedem por esse esforço. A saudade é mais intensa, e toda ocasião torna-se especial. Se uma viagem de dez, quinze, trinta dias já passa rápido, o que dizer de um final de semana? Um feriado? Aeroporto, estrada, pedágios, check-ins, esperas… não é mole, pois a dor de cabeça do ir e vir que você passa em qualquer viagem mais longa (mas que acaba diluída em dias de sossego e diversão) compete com o pouco tempo que a gente tem com quem encontra do outro lado. E fica a pergunta: vale a pena esse esforço?

– Vale.

Às vezes a distância é bem curtinha. Mas o fator surpresa fica.

Às vezes a distância é bem curtinha. Mas o fator surpresa fica.

Fora nossos namoros, temos algumas poucas ocorrências desse tipo de situação. Algumas pessoas que vêm REALMENTE de longe (outro país, outros estados), algumas de cidades próximas daqui de São Paulo, além de nossas próprias idas, como a desse final de semana. Lembro exatamente de todas as reações: de quem recebe, e de quem é recebido. Sempre um baque gostoso, de “cacete, o que você tá fazendo aqui?”. Os abraços são mais longos, os sorrisos mais largos. Uma surpresa boa nunca machuca – apesar de sempre parecer letal, pois quem é surpreendido tem sinais de tremedeira, descontrole emocional e falta de chão em trocentos porcento dos encontros.

Quando 3 cariocas invadiram São Paulo...

Quando 3 cariocas invadiram São Paulo…

...pra que alguns meses depois, dois paulistas invadissem o Rio.

…pra que alguns meses depois, dois paulistas invadissem o Rio.

Esse breve, cansado, atrasado e sincero textinho de hoje é um incentivo ao turismo emocional. Sim, esse que não tem preferência por destino, mas por pessoas. Ele pode ser simples (como visitar aquela pessoa que mora a dez minutos da sua casa) ou bem mais complicado, com horas dentro de um carro. ônibus ou avião. Pode precisar de balsa. De reserva. De algum dinheiro a mais. Ser recebido ou receber alguém que é capaz de encarar distâncias, alguns obstáculos, e esse monstro medonho chamado preguiça é uma sensação que abrilhanta qualquer vida. Afinal de contas, a gente só é feliz perto de quem ama. E quando estar perto equivale à distância de um abraço, tudo vale a pena.

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