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Patagônia

Causos, Faniquito

Janela ou corredor?

3 de maio de 2016

– Vocês já conhecem a cidade?
– Não, é nossa primeira vez.
– Então troquem de lugar comigo.

E dessa maneira ganhamos a janela de presente na chegada ao Aeroporto Internacional Malvinas Argentinas. Janela. Um lugar onde eu me acostumei a não sentar desde que casei, por puro e simples cavalheirismo. É de lá que a Dé tira as primeiras fotos de qualquer viagem que a gente faça, e as últimas também. Fotos essas que não costumam figurar em nossos álbuns com grande destaque: reflexos, sujeira, falta de foco e mais um punhado de péssimas condições que não fazem desses registros motivo de orgulho.

Se algum morador ou conhecedor da cidade/destino te oferecer a janelinha...

Se algum morador ou conhecedor da cidade/destino te oferecer a janelinha…

...aceite sem pestanejar.

…aceite sem pestanejar.

Mas é da janela que o gatilho é apertado. Quando o avião acelera na pista, sabemos que começou. A imagem de deixar para trás por alguns instantes tudo e todos que conhecemos para mergulhar numa nova realidade é um dos significados mais verdadeiros do faniquito. Quem está no corredor olha pro lado. Quem está na janela volta a ter 8 anos e passa a procurar predinhos, identificar carrinhos, pessoinhas e tudo o que ficou lá embaixo enquanto o avião decola.

É da janela que a gente enxerga o horizonte ficar levemente torto. Entende a geografia dos rios. Reencontra cartões postais. Se diverte na fofura inacreditável e infinita das nuvens. Deixa para trás chuva e neblina, enquanto mergulha num azul perfeito. E é dela também que temos as primeiras e distantes impressões de nosso destino, quando ele deixa de ser vontade pra se tornar realidade.

De zero a dez, sua vontade de rolar em cima dessas nuvens é...

De zero a dez, sua vontade de rolar em cima dessas nuvens é…

A janela do avião é a moldura desajeitada de muitas imagens que quase sempre guardamos pra gente, e pra mais ninguém. Impressões lindas como a chegada àquele primeiro aeroporto citado no início desse texto, a saída assustadora de um corredor de prédios quando decolamos de Congonhas, o tapa na cara que é a chegada ou a saída do Santos Dumont – possivelmente um dos visuais mais avassaladores do mundo, sem exageros.

A bela.

A bela.

A fera.

A fera.

E mesmo quando dela nada se vê, com exceção das luzes da cidade que se aproxima, o ar automaticamente se renova e, por alguns instantes, é possível deixar pra trás tudo o que até aquele momento pesava nas costas. Novos dias num novo lugar – inédito ou não, que não faz parte da sua rotina, e por consequência ainda tem aquele sabor de presente de Natal.

É a única janela da qual vale a pena ver o mundo. Mas não por acaso, quando as portas são abertas, a vontade de conhecer o que está lá fora ultrapassa qualquer belo horizonte – registrado ou não – que possa ser vislumbrado por aquele quadradinho (que nem é tão quadrado assim).

Argentina

Martillo: a ilha dos pinguins

17 de março de 2016

Uma das atrações mais populares do “fim do mundo” é sem dúvida a ilha dos pinguins. Fim do mundo, afinal Ushuaia é a cidade mais austral do planeta, e se o mundo está acabando, nada melhor do que estar em companhia de um dos bichinhos mais simpáticos dessa vida.

Compramos nosso passeio no quiosque da Piratour logo pela manhã. Estimado em aproximadamente seis horas, o passeio inclui o traslado do centro de Ushuaia até a Estância Harberton (que fica a aproximadamente 80 km de distância), e o deslocamento de barco da Estância até a Isla Martillo (ou ilha dos pinguins), num trajeto de mais ou menos 15 minutos. Já com um pequeno grupo reunido, recebemos o voucher mais estranho e precário de nossas vidas, e alguns minutos depois nosso guia chegou. O tour estava começando.

Se por algum momento você achou precário o ingresso do barquinho no post anterior...

Se por algum momento você achou precário o ingresso do barquinho no post anterior…

Com instruções em inglês e espanhol, o rapaz se desdobrava. Longe de parecer um esforço, as informações gerais foram passadas tanto na van como no barco: a chegada à ilha seria feita de forma tranquila e ordenada; o grupo deveria seguir a trilha delimitada no chão, caminhando de forma tranquila, lenta e compacta; os pinguins se aproximariam, e toda e qualquer iniciativa de contato deveria ser deles, e nunca nossa; em hipótese alguma tentar acariciar os bichinhos, que naturalmente revidariam, e não havia nenhum hospital ou posto médico próximos à ilha; nada de alimentar os pinguins, entre outros procedimentos que todos sabemos existir quando do contato com a vida selvagem do planeta.

Durante o trajeto de van, uma rápida parada na estrada para fotografar as árvores que crescem sob o vento mais que forte da Terra do Fogo. Um lugar belíssimo, que merecia de fato uns minutinhos de registro.

Pense num lugar bonito...

Pense num lugar bonito…

...e gelado!

…e gelado!

O vale é essa coisa linda e verde.

O vale é essa coisa linda e verde.

Mas as árvores que nascem "de cara pro vento" crescem desse jeito. Não é exagero dizer que o vento patagônico é capaz de derrubar (ou nesse caso, entortar).

Mas as árvores que nascem “de cara pro vento” crescem desse jeito. Não é exagero dizer que o vento patagônico é capaz de derrubar (ou nesse caso, entortar).

Assim que chegamos à Estância Harberton, o barco já estava atracado. Uma parada rápida praquele xixi amigo (sim, outra instrução: a ilha não tem banheiro, então trate de se aliviar ou antes ou depois) e embarcamos.

Tudo bonito demais a caminho da ilha dos pinguins.

Tudo bonito demais a caminho da ilha dos pinguins.

Alguns minutos de passeio, e pouco depois chegávamos à Isla Martillo. Desembarcando um a um, o cenário que surgia era coisa inexplicável de tão… fofinha.

Sabemos que uma imagem vale mais do que mil palavras, e as nossas são deliciosas. Deixaremos a descrição do passeio a cargo delas, e vamos enumerar algumas coisas que possivelmente vocês não vão encontrar em outro texto sobre a ilha:

  • Primeira coisa: o cheiro de peixe. Se você é daquelas pessoas que passa mal com a barraca de peixe da feira, o passeio pode não funcionar pra você. A gente tem aquela imagem idealizada de fofura dos pinguins e esquece que os bichinhos são selvagens e fedidinhos;
  • Se você assistiu “Os Pássaros“, pode rolar um certo pânico também;
  • O terreno é bastante lamacento – o que é ótimo pra eles. Por isso mesmo, a escolha de roupas mais acertada consiste em uma bota confortável e bacana, calças jeans (ou de qualquer tecido grosso, veja o vídeo mais abaixo pra entender o porquê) e um casaco corta-vento. Além do cuidado com os pinguins, vale um cuidado com a própria ilha – que escorrega bastante. Cair nunca é legal. Cair em cima de um pinguim, menos ainda;
  • Apesar da quantidade abissal de pinguins, eles não se aproximam tão descaradamente como pode parecer (a lente da Dé era maior do que o normal). Então, muita calma e paciência pra fotografar e filmar os danados.  Mesmo assim, dá pra ver de perto e a experiência continua sensacional;
  • Leve bateria e cartão de memória sobressalentes. É tanto pinguim que você vai querer fotografar um por um;
  • As diferentes espécies de pinguins convivem numa boa;
  • Os pinguins peludinhos são os filhotes. Com o tempo, essa pelugem marrom vai caindo, e eles vão ficando com aquela cara que a gente conhece.
Quando chegamos, fomos recebidos...

Quando chegamos, fomos recebidos…

...de braços abertos.

…de braços abertos.

Que praia sensacional e lotada, essa.

Que praia sensacional e lotada, essa.

Uma daquelas fotos com sorriso mais que sincero, que você vai guardar pro resto da vida.

Uma daquelas fotos com sorriso mais que sincero, que você vai guardar pro resto da vida.

"E aí pinguim, rola uma selfie?"

“E aí pinguim, rola uma selfie?”

O passeio é sossegadíssimo. Pessoas de todas as idades podem fazê-lo tranquilamente, e a diversão é mais que garantida. É impossível não se encantar com a doçura dos bichinhos, e passar a identificar um ou outro (o mais saidinho, o cantor, a mãezona, o sem-vergonha, o tímido, as crianças, etc.). O mais legal: não tem nada de artificial na ilha. É habitat deles, e a gente que está no papel de visita. Nada de cercas, divisórias ou adestramentos, e é maravilhoso.

No meio do caminho, um casal de pinguins imperadores, que estava de passagem pela ilha.

No meio do caminho, um casal de pinguins imperadores, que estava de passagem pela ilha.

Claro que nem tudo é pinguim...

Claro que nem tudo é pinguim…

...mas a maioria é.

…mas a maioria é.

Um deles resolveu se amigar com esse cara.

Um deles resolveu se amigar com esse cara.

E até posou pra foto, enquanto a gente filmava.

E até posou pra foto, enquanto a gente filmava.

Pinguins enquanto crianças, e seus casaquinhos...

Pinguins enquanto crianças, e seus casaquinhos…

...que, com o tempo, vão dando lugar ao "pinguim com cara de pinguim".

…que, com o tempo, vão dando lugar ao “pinguim com cara de pinguim”.

E antes de ir embora, que tal uma cantoria?

E antes de ir embora, que tal uma cantoria?

Que passeio di-ver-ti-do!

Que passeio di-ver-ti-do!

Pouco antes de ir embora, uma última visita. O Museu Acatushún pertence à Estância Harberton, e nele temos mais uma aula rápida sobre a vida marinha da região.

Afinal de contas, um pouquinho a mais de conhecimento não faz mal a ninguém.

Afinal de contas, um pouquinho a mais de conhecimento não faz mal a ninguém.

Serve como fechamento perfeito pra uma manhã tão diferente, e a gente sai de lá se sentindo mais rico, feliz e de coração quente – apesar do vento patagônico, que é sempre gelado. Mais do que recomendado, é um passeio obrigatório pra quem chega ao fim do mundo 🙂

Argentina, Gastronomia

As ovelhinhas

12 de novembro de 2015

Se você está de dieta, este texto não é pra você*.

Um dos produtos de maior destaque na culinária argentina é seu sorvete – fama justificada e merecida, que se diga. Não faz muito tempo que qualquer pessoa que viajasse pra lá tinha quase que por obrigação experimentar os sorvetes do Freddo, marca que possui uma infinidade de lojas em Buenos Aires (e que desembarcou no Brasil já há alguns anos). Experimentar um Freddo no Brasil – lamento informar – não é a mesma coisa do que fazê-lo em seu país de origem: com uma quantidade muito maior de sabores, até mesmo a textura do sorvete varia. Continua sendo um programão, que a gente sempre que pode usufrui.

Respeita o Safadão.

Respeita o Safadão.

Mas não viemos aqui falar do Freddo.

Com apenas duas lojas, sendo uma em cada cidade – Ushuaia e El Calafate – a Ovejitas de la Patagonia** (http://www.ovejitasdelapatagonia.com/) é a principal loja de sorvetes da Patagônia Argentina. Com uma simpática (e óbvia) ovelhinha como mascote, suas vitrines atraem qualquer pessoa que goste de chocolate e sorvete: ou seja, quase todo ser humano vivo e com um mínimo de prazer por comida gostosa.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Deixamos para conhecer a loja somente em Calafate (burrice, com o passar dos anos a gente aprende a não adiar certos prazeres). O menuzão na parede destaca quem realmente importa – nada de Flocos e Creme (por sinal, quem inventou essas duas porcarias)? Entre frutas e doces que de fato merecem uma versão gelada, qual não foi nossa surpresa quando demos de cara com um sabor descrito como CHOCOLATE SUPER DELICIOSO? Essa coisa meio Willy Wonka mexe com a cabeça de qualquer pessoa, e foi o primeiro de nossos diversos pedidos. Bem, um sorvete de chocolate ARGENTINO misturado com pedaços de doce de leite ARGENTINO… a gente acaba perdendo a cabeça mesmo.

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente...

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente…

...o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

…o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

Ostentação e amor.

Ostentação e amor.

Além do sorvete, diversos chocolatinhos, doces e outras coisas coloridas fazem parte do universo ovelhístico. É tudo tão bonitinho (e deve ser tão gostoso) que seu orçamento pode ir pro espaço se você acabar se deixando levar pela emoção. Em Calafate está também a fábrica do sorvete, a qual tentamos visitar sem sucesso (acho que demos azar e a dita estava fechada quando aparecemos por lá). Sem problemas: o que importa é a loja, e seu cardápio que acaba virando um desafio pessoal a ser vencido.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Sim, a Patagônia é um lugar gelado. Tomar sorvete no frio? É uma das coisas que mais fazem sentido nessa vida – e sorvete bom… meu amigo, isso não tem clima que te desanime! E quem é capaz de falar não para ovelhinhas tão simpáticas?


* Por sinal, nenhum texto do Faniquito é. Acostume-se, ou procure um site de viagens diet.

** Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina

Azul

4 de agosto de 2015

31 de janeiro de 2013. Meu aniversário.

Ainda era cedo quando o ônibus parou em frente ao nosso albergue. Ainda vazio, seguimos pelas pequenas ruas de El Calafate recolhendo mais algumas pessoas do grupo do qual a partir daquele momento fazíamos parte. Seguimos pela estrada por pouco menos de duas horas – exatos 78 quilômetros, até a entrada do Parque Nacional dos Glaciares. Uma pausa rápida e providencial para aquela visita básica ao banheiro, e pouco depois, já de volta ao ônibus, seguimos por uma belíssima estradinha em direção ao nosso destino. No rádio do ônibus, por algum capricho divino, os Rolling Stones tocavam. E nos primeiros acordes de She’s A Rainbow, avistamos o gigante azul logo adiante.

Não fazia ideia do que esperar quando a Dé havia comentado sobre o Perito Moreno. Assim que chegamos a Calafate, procuramos logo de cara uma agência (de várias que estão disponíveis na cidade) que oferecesse o passeio. Ainda no escritório, nos foram oferecidos dois tipos de passeio pelo Glaciar: um mini trekking (de aproximadamente uma hora), e o big trekking (que levava de 3 a 4 horas). Pesquisados os relatos de quem havia estado por lá, optamos pelo mini. Uma escolha acertada e totalmente recomendada, como contaremos a seguir.

Saímos do ônibus e pegamos um barco, que nos levaria ao início do trekking. Para tanto, atravessar o rio era preciso, e na embarcação recebemos as primeiras instruções de como proceder no Glaciar. Estaríamos sempre próximos de nossos guias, sendo que o grupo seria acompanhado de dois deles – um no início, um no fim. Seguiríamos o passeio em fila. Todos usaríamos luvas e grampones – aqueles “calçados” que são encaixados debaixo das botas, para não escorregarmos no gelo. Ao desembarcar, um dos auxiliares do tour mandou um “Vai Corinthians” pra mim. Definitivamente, eu estava em casa.

A primeira imagem mais de perto já era suficientemente avassaladora...

A primeira imagem mais de perto já era suficientemente avassaladora…

...e quanto mais perto, mais impressionante era aquele imenso bloco de gelo.

…e quanto mais perto, mais impressionante era aquele imenso bloco de gelo.

Estávamos razoavelmente distantes do Glaciar quando nos reunimos para repassar instruções e saber um pouco mais sobre aquele lugar nas explicações de nosso agora apresentado guia de grupo (dica: o grupo é dividido em dois grupos menores – com guias em inglês ou em espanhol. Grupos de língua espanhola SEMPRE são menores…). Mesmo de longe, o visual já era impressionante. O paredão de gelo possui mais de 20 metros de altura, e sua área total é maior que a cidade de Buenos Aires. É um monstro azul, no sentido literal da expressão, e poucas definições se encaixariam tão bem.

Quando dizemos MONSTRO, não é em sentido figurado.

Quando dizemos MONSTRO, não é em sentido figurado.

Quando dizemos AZUL, também não. Isso não é saturação: é a natureza mesmo.

Quando dizemos AZUL, também não. Isso não é saturação: é a natureza mesmo.

Perto dali, fomos equipados. Pegamos nossos pares de luvas (que não têm nada a ver com frio, mas sim com proteção em caso de queda no gelo), deixamos nossas mochilas guardadas, e colocamos nossos grampones com a ajuda de outros guias. Depois de perguntar pra Dé o que ela fazia da vida, o guia disse: “Eu trabalho aqui, todo dia. Chato né?”… Formamos a fila, e estávamos prontos pra começar nosso mini trekking.

"Eu trabalho aqui todos os dias". Sim amigo: invejamos.

“Eu trabalho aqui todos os dias”. Sim amigo: invejamos.

Mas que não deve ser fácil calçar e caminhar com isso todos os dias, não deve.

Mas que não deve ser fácil calçar e caminhar com isso todos os dias, não deve.

Caminhar no gelo é uma experiência sensorial. E isso aos 33 anos produz um efeito acachapante… os primeiros passos são temerosos e desengonçados, mas pouco depois você pega o jeito e a coisa flui. Todos em fila, começa um sobe e desce divertido, com pausas para explicações geográficas e estruturais – e para um gole d’água, que você pega do chão. E é a água mais gostosa do mundo, saibam.

Hora de subir. De descer. De subir, e descer de novo.

Hora de subir. De descer. De subir, e descer de novo.

Os paredões azuis são impressionantes – quanto mais azul, mais antigo o gelo. Manter a trilha é certeza de segurança, uma vez que existem áreas mais frágeis e algumas crateras que a gente só percebe depois de ser avisado. Não é um lugar pra brincadeira. Com o céu azul, a jaqueta passa a incomodar um pouco, pois a suadeira é garantida. Uma hora naquele ritmo, acredite, é mais do que suficiente. É proibido parar para fotos pelo caminho, a não ser que o grupo também esteja parado – justamente para não atrapalhar o fluxo do passeio. Leve cartões de memória – sim, mais de um, pois uma beleza dessas não é todo dia que a gente vê.

A gente merecia uma selfiezinha nesse fundo azul maravilhoso.

A gente merecia uma selfiezinha nesse fundo azul maravilhoso.

É um passeio puxadinho...

É um passeio puxadinho…

...mas TOTALMENTE recompensante!

…mas TOTALMENTE recompensante!

Uma cratera enorme. Portanto, nada de desgarrar do grupo.

Uma cratera enorme. Portanto, nada de desgarrar do grupo.

Ao final da trilha, um whiskey com gelo que o guia tira do chão ali na hora. E um alfajor, que ninguém é de ferro. Não teria adjetivos suficientes pra qualificar o passeio – que ainda não havia chegado ao fim.

Hora da recompensa (mais uma, afinal) :)

Hora da recompensa (mais uma, afinal) 🙂

Um lanche (que você mesmo leva na mochila, e cujo lixo é levado de volta – nada é fornecido dentro do parque), uma pequena pausa pro descanso, e o barco volta pra pegar o grupo. Dali, alguns minutos de ônibus até a entrada dos miradores, onde um passeio de pouco mais de 30 minutos fecha o tour pelo Perito Moreno. E se você acha que tudo de mais bonito já havia sido visto, preste atenção às próximas imagens.

Sim, é inacreditável.

Sim, é inacreditável.

E também um dos lugares mais bonitos que eu já vi.

E também um dos lugares mais bonitos que eu já vi.

Passear pelo Glaciar Perito Moreno é, no mínimo, transformador. Não é uma recomendação de viagem – é uma ordem, e uma pendência na vida de qualquer pessoa que goste de sair do quintal de casa. Pra se sentir mais vivo, e um presente de aniversário que eu jamais esquecerei.

Causos

O poder da porra da viagem

16 de julho de 2015

Por Flavio Pucci


Ele não era um super-herói, mas tinha um superpoder: o de conseguir viajar por pelo menos 5 minutos por dia. Tinha dia que era um pouco mais.

Conseguia desligar tudo e embarcar numa viagem quando menos se esperava. Reuniões de alinhamento, reuniões de metas, reuniões de fluxo ou reuniões de qualquer coisa. Esses eram as principais plataformas de embarque. Ele aproveitava aquele início de reunião onde todo mundo contava uma piada enquanto a pauta não vinha e ia, ia simbora.

O único (d)efeito colateral desse superpoder era que ele não escolhia o lugar pronde ía. Ou seja, ele tinha o poder de sair dali mas não sabia onde podia cair.

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Da última vez saiu de uma reunião em que tinha que ouvir o novo posicionamento de uma marca e caiu na bolsa de valores de Nova York. Um caos total: telefone tocando, gente gritando e o pior, ele sentia todo aquele stress como se fosse um local, e não um passageiro. Não viu valor nenhum naquilo, até voltar para sua reuniãozinha de posicionamento em São Paulo. Perto da Bolsa, a reunião de posicionamento era picas. Mais fácil que tabuada do zero: zero vezes um?

Num outro dia em Lassa, no Tibet, trocando ideia com um povo num bar, descobriu que não podia realmente escolher seu destino, mas podia ditar seu ritmo, seu tom.  Exemplo: podia facilmente cair num lugar como a bolsa de valores, só que ouvindo um Bach. Melhorava muito o cenário. Era quase como estar no Salar do Uyuini numa tarde cheia de nuvens. Era quase como escolher seu destino sem escolher seu destino.

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Quando estava no Alaska, ouviu um barulho estranho. Era sua secretária, que entrou na sala e disse: Senhor, sua reunião na Patagônia foi cancelada, em contrapartida, agendei o alinhamento em Dudinka. Às 14h30.

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Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

Argentina, Gastronomia

Isabel

25 de maio de 2015

Pegando o gancho do texto anterior, escrito pela Dani semana passada, a dica de hoje é sobre um lugarzinho meio inesperado em El Calafate… mas uma coisa de cada vez, então vamos lá:

El Calafate é uma cidadezinha deliciosa localizada na Patagônia Argentina. Pra efeitos de comparação (e levando-se em consideração que sou brasileiro/paulista), é razoavelmente semelhante a Campos do Jordão, porém sem montanhas e menos colonial. Em uma rua principal estão todo os principais pontos comerciais da cidade: restaurantes, lojas, agências de turismo e até mesmo uma feirinha são passeáveis e conhecíveis à pé; numa rua paralela acima está a estação rodoviária, e seguindo adiante está a área residencial da cidade; tomando-se a rua principal como referência novamente, mas olhando pra trás, em três ou quatro ruas paralelas estão distribuídos os hotéis e albergues da cidade, além de alguns serviços essenciais – lojinhas de conveniência, lavanderias e bazares.

De El Calafate falaremos mais em outras oportunidades. Hoje, o assunto é o Hostel El Calafate… bem, mais ou menos. O assunto mesmo está dentro do Hostel El Calafate – mais especificamente, o quê e quem.

Com poucos dias – às vezes, somente um – disponíveis em determinadas cidades, dificilmente o restaurante do hotel é uma opção considerada na hora de decidir onde comer. E aí entra em cena outro personagem dessa história, chamado Leandro, e proprietário do Isabel Cocina al Disco* (http://isabelcocinaaldisco.com/) – um enorme e bonito salão localizado ao lado da recepção do albergue**.

Leandro é o cara à esquerda, no pique.

Leandro é o cara à esquerda, no pique.

Estávamos de saída para conhecer a cidade (chegamos no começo da tarde), quando fomos abordados pelo rapaz pouco antes da saída. Confesso que não me lembro direito do papo, mas foi engraçado – sim, o Leandro era o argentino com maior fluência em Português que havíamos conhecido até então. E com meia dúzia de piadas infames e aquele jeito Ciro Bottini infalível, ficamos meio confusos até ele nos convencer a jantar por lá mesmo.

Resumindo a história: ficamos 5 dias em El Calafate. Jantamos por lá 3 vezes.

Claro que ficamos. Olha o tamanho dessa panela...!

Claro que ficamos. Olha o tamanho dessa panela…!

Porque não basta a comida ser MUITO boa (e escrever em letras maiúsculas é uma pequena tentativa de quantificar o cuidado com o sabor da coisa toda), o ambiente e o atendimento são um capítulo à parte. Falando da comida: além de alguns pratos comuns (leia-se bife de chorizo e adjacências), a especialidade da casa é a cocina al disco de arado – um panelão de diversos ingredientes, com jeito de comida rústica, mas de um sabor que é um verdadeiro soco na cara de tão gostoso.

Dá pra sentir o cheirinho dessa delícia?

Dá pra sentir o cheirinho dessa delícia?

E pra fechar, que tal um sorvetinho de calafate?

E pra fechar, que tal um sorvetinho de calafate?

Quanto ao atendimento, a simpatia do Leandro e da sua equipe são coisa que vão muito além da simples venda – saímos de lá já morrendo de saudade, e felizmente mantemos contato desde então – e que melhor recomendação existe do que conhecer um lugar, e sair de lá com uma amizade a tiracolo?

Três refeições depois: alegria incontida, e amizade saudosa!

Três refeições depois: alegria incontida, e amizade saudosa!

Portanto amiguinhos, esse texto (que porpositalmente está indo ao ar pouco antes do almoço) é um incentivo a mais para que, quando de sua viagem ao país hermano – mais especificamente à parte lá de baixo, onde existem pinguins, geleiras e noites ensolaradas – considerem El Calafate. Cheguem com fome, e conheçam o Isabel. Mais que isso: conheçam o Leandro.

Capaz que saiam de lá de barriga cheia, e torcedores do Racing*** 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

**Albergue por chamar Hostel El Calafate – mas com área de hotel do lado oposto ao restaurante. Adotamos a convenção porque ficamos no albergue mesmo.

*** Nem Boca nem River – o cara é doente pelo Racing – mesmo (mas ainda assim um gente boa).