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Alemanha

Polônia

Arbeit macht frei (2/2)

23 de novembro de 2015

Ao contrário da ida para Auschwitz I, o caminho para Auschwitz II-Birkenau serviu pra gente descansar um pouco a cabeça e as pernas. Mesmo sendo uma distância curta, um pequeno intervalo era mais que necessário. Alguns minutos depois, estávamos no portão de entrada.

É bem difícil descrever esse novo impacto, uma vez que o tamanho do campo é totalmente discrepante de qualquer percepção que a gente possa ter por filmagens ou fotos. Em frente à entrada, olhando para ambos os lados, é impossível definir onde termina a área de Auschwitz II-Birkenau. Aguardamos nossa guia, e pouco depois estávamos entrando.

Em frente ao portão de entrada (e também a entrada dos trens, no período).

Em frente ao portão de entrada (e também a entrada dos trens, no período).

À esquerda, uma enormidade.

À esquerda, uma enormidade.

À direita, não enxerga-se onde termina.

À direita, não enxerga-se onde termina.

Uma tentativa fracassada de mostrar o todo.

Uma tentativa fracassada de mostrar o todo.

A vastidão era ainda maior. Andávamos em ritmo acelerado em meio aos trilhos, que naquela época traziam os trens então repletos de prisioneiros. Vários grupos de visitantes se espalhavam no local, e os olhos procuravam as referências tão conhecidas daquele verdadeiro matadouro. O cenário novamente era de um verde vivo e melancólico, com horizontes planos a perder de vista. A tarde era nublada, com uma leve chuva que ia e vinha. Novamente, parecia que o tempo acompanhava nossas emoções.

O espaço gigantesco dispersa a impressão de multidão, mas ela existia.

O espaço gigantesco dispersa a impressão de multidão, mas ela existia.

Pouco depois de entrar, era essa a visão de quem olhava pra trás...

Pouco depois de entrar, era essa a visão de quem olhava pra trás…

...e olhava novamente para a frente.

…e olhava novamente para a frente.

Paramos adiante próximos a um dos vagões, mantido no local. Dali em diante seguiram-se as explicações de como era feita a chegada dos prisioneiros, e sua ordem de execução: crianças, idosos e outras pessoas com capacidade física prejudicada eram os primeiros a serem enviados para a câmara de gás. A “solução final para o problema judeu” parecia ainda mais cruel quando imaginada em tais dimensões. Auschwitz II-Birkenau foi pensada para aliviar a capacidade do campo anterior, então excedente. Desmonte essa frase e pense no que exatamente ela quer dizer, e me diga se é possível ficar indiferente a tamanha atrocidade.

Um dos vagões, que traziam os prisioneiros...

Um dos vagões, que traziam os prisioneiros…

...e um pequeno memorial em seu degrau.

…e um pequeno memorial em seu degrau.

Seguimos adiante até chegar na área oposta à entrada do campo de concentração. Um memorial com placas em homenagem aos refugiados que estiveram em Auschwitz II-Birkenau – em seus respectivos idiomas, além de uma em inglês para a compreensão da mensagem por todos os visitantes.

“Para eternizar neste lugar um grito de desespero e uma advertência para a humanidade, onde os nazistas assassinaram cerca de um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, judeus principalmente vindos de vários países da Europa.
Auschwitz-Birkenau 1940 – 1945”

As placas, em diversos idiomas.

As placas, em diversos idiomas.

Olhando novamente em direção à entrada, uma ideia da distância percorrida.

Olhando novamente em direção à entrada, uma ideia da distância percorrida.

Uma perspectiva real das distâncias da entrada (1), do vagão (2) e do memorial com as placas (3).

Uma perspectiva real das distâncias da entrada (1), do vagão (2) e do memorial com as placas (3).

Ali mesmo, fomos todos para o lado esquerdo. As ruínas que estavam logo abaixo eram aquilo que restou de uma das câmaras de gás, destruídas pelos próprios nazistas, que tentaram apagar as evidências da barbárie pouco antes da chegada do exército soviético – como se isso fosse possível. A proximidade de um local desses, mesmo tão descaracterizado, era tão perturbadora quanto a impressão que tivemos ao visitar a câmara de Auschwitz I.

Os escombros das câmaras de gás, totalmente...

Os escombros das câmaras de gás, totalmente…

...ou parcialmente descaracterizadas.

…ou parcialmente descaracterizadas.

Pouco adiante, entramos em um dos galpões de tijolos, cujo visual quebra a imensidão verde dos campos. Eram dois os tipos de galpão existentes em Auschwitz II-Birkenau: os de tijolos abrigavam às mulheres, enquanto os de madeira aos homens. E abrigar é uma forma muito educada de descrever o que de fato acontecia no interior desses galpões. O chão era de terra e lama, com higiene inexistente. Acumulava-se ali todo tipo de dejeto, enquanto os prisioneiros se amontoavam em verdadeiros cubículos. Um lugar onde caberiam no máximo 4 pessoas abrigava de 20 a 30. A impressão nas fotos não é distorcida: é inconcebível a possibilidade desse número absurdo conseguir sobreviver nessas condições – e era exatamente esse o desejo nazista.

De 20 a 30 mulheres eram amontoadas em cada uma dessas células.

De 20 a 30 mulheres eram amontoadas em cada uma dessas células.

Parece impossível, como toda e qualquer informação que tivemos nesse dia.

Parece impossível, como toda e qualquer informação que tivemos nesse dia.

No caso dos barracões onde eram alojados os homens, somente a base resistiu à queima de arquivo nazista. Sendo de madeira, foram incendiados antes da chegada dos soviéticos, restando a fundação como memória dos espaços. Estávamos quase no final do tour, enquanto caminhávamos entre os outros galpões.

Enquanto os barracões femininos permanecem preservados...

Enquanto os barracões femininos permanecem preservados…

...pouco restou dos masculinos.

…pouco restou dos masculinos.

Já próximos ao portão de entrada novamente, nossa guia agradeceu a todos pela presença, contou sobre sua própria preparação para aquele trabalho, e que se esforçava ao máximo para relatar os acontecimentos de forma mais precisa, detalhada e respeitosa a todos, de forma que as lições daquele dia nunca mais se perdessem.

Nossa conclusão sobre a experiência em Auschwitz é aquela que tínhamos como expectativa antes de pensar o destino de nossa viagem: algo transformador, em muitos aspectos. Doloroso, complexo, absurdo de tão distante da nossa realidade. Mas nesses tempos em que a intolerância brota inadvertidamente dos lugares mais inesperados, o aviso expresso na placa em homenagem aos que lá estiveram nos parece cada vez mais necessário. Sentir na pele um lugar tão importante na História da humanidade nos devastou, a ponto de voltarmos para Cracóvia em silênco e mentalmente exaustos. Dali em diante, vivemos e revivemos aqueles momentos a cada informação já conhecida ou ainda não sobre os horrores da Segunda Guerra – e todas as outras, relativas ou diretamente ligadas a atitudes absurdas promovidas pelo ser humano. Recomendamos sim a visita aos campos. Aprender sobre nossa essência, e sobre o que somos capazes de fazer quando nossa vida é movida pelo ódio e pelo preconceito é uma lição da qual jamais esqueceremos.

Polônia

Arbeit macht frei (1/2)

19 de novembro de 2015

Visitar Auschwitz foi possivelmente a experiência mais marcante da minha vida.

Em um texto anterior, expliquei minha fascinação por assuntos de guerra, seus memoriais e como isso me emociona. Há algum tempo estou ensaiando pra escrever esse texto, uma vez que – imagino – nenhum tipo de explicação seja capaz de quantificar o impacto que estar num campo de concentração, num presídio ou ruína causa na gente. Então cheguei à conclusão de que, ao invés de descrever como foi o dia de visita, melhor contar desordenadamente como um único dia foi capaz de mudar minha cabeça pra sempre. Não será a última vez que falaremos de Auschwitz por aqui (futuramente a Dé contará a história dela, da forma que quiser), e explico isso por fazer questão que esse relato seja algo totalmente meu, mesmo.

Ao adquirir o tour para Auschwitz, você visita dois locais: Auschwitz I durante a manhã (os famosos prédios de tijolos, construídos para servirem de alojamento à artilharia nazista, e que posteriormente foram transformados em campos de concentração), e Auschwitz II-Birkenau à tarde (o campo de extermínio, onde os trens desembarcavam os judeus para execução). Auschwitz não é Auschwitz, mas sim a pequena cidade de Oświęcim, rebatizada durante o domínio alemão com o famoso nome. Nosso tour saía da Cracóvia, e a distância de aproximadamente 70 km serviu para preparar o grupo para o que viria a seguir. Na própria van, o documentário Die Befreiung von Auschwitz (A Libertação de Auschwitz) foi assistido em silêncio sepucral durante uma hora. Devo ter chorado umas 3 ou 4 vezes, e não fui o único. Trata-se do registro cinematográfico oficial feito pelos soviéticos quando da libertação dos campos, e as imagens são EXTREMAMENTE fortes. O vídeo completo (com narração em inglês, assim como assistimos) está disponível logo abaixo. As cenas são fortíssimas, e não recomendadas a estômagos mais sensíveis.

A chegada ao campo já traz esse desconforto, e dali em diante uma guia e sua acompanhante – funcionária designada pelo próprio Museu de Auschwitz, com a função de evitar qualquer distorção aos fatos reais – acompanham o grupo. As explicações são feitas por meio de rádio, e são distribuídos fones e decodificadores aos visitantes. Com isso, mesmo com a verdadeira multidão presente (e distribuída em diversos e esparsos grupos), o silêncio impera quando se passar pelo portão principal. Passar pelo letreiro Arbeit macht frei (“o trabalho liberta”) tem o impacto de ser pisoteado por um gigante. As costas pesam. Mesmo sendo um lugar tão conhecido, é impossível ficar indiferente e não imaginar o que de fato aconteceu com as pessoas que pisaram naquele mesmo chão um dia. As imagens em preto e branco dão espaço a uma realidade de cores terrosas e muito bonitas – pode parecer absurdo dizer isso, mas sim: Auschwitz I é um lugar belíssimo (não esquecendo que antes de se tornar o que se tornou, seus prédios eram um alojamento). Todo o cuidado e estrutura de hoje obviamente contrastam com o estado das instalações no período em que foram utilizadas.

O título deste texto é a maior mentira já contada na História da humanindade

O título deste texto é a maior mentira já contada na História da humanindade

A beleza mórbida e pesada de Auschwitz I.

A beleza mórbida e pesada de Auschwitz I.

Os passos são lentos entre as alamedas, agora livres dos cercados da época (porém, alguns corredores permanecem intactos, cercados por arame farpado e totalmente claustrofóbicos). Grande parte dos edifícios é aberta à visitação, abrigando o museu que dá nome ao complexo: fotos dos prisioneiros, mapas estatísticos, uniformes, objetos pessoais, manchetes de jornal, infográficos, maquetes e estátuas ocupam seus interiores. Numa determinada área, uma simulação de fluxo de prisioneiros até a morte nas câmaras de gás, e uma lata de Zyklon-B (pesticida à base de cianureto, “a grande descoberta dos nazistas para extermínio de massa a baixo custo, uma vez que os fuzilamentos eram demorados e caros, dada a quantidade de balas gasta pelo exército nazista“).

Os corredores cercados.

Os corredores cercados.

Alguns dos uniformes utilizados pelos prisioneiros.

Alguns dos uniformes utilizados pelos prisioneiros.

O Zyklon-B, explicado e exibido.

O Zyklon-B, explicado e exibido.

Uma das áreas mais impressionantes era sem dúvida a adaptação do espaço interno em um prédio, onde acumulavam-se os pertences pessoais dos prisioneiros. Com a promessa de trabalho no local, os judeus chegavam carregando em mãos aquilo que podiam. Após sua chegada, tudo lhes era tirado (ou melhor, roubado) pelo exército nazista, separado e guardado. Malas, sapatos, próteses, pincéis de barba, aparelhos de barbear, xícaras e até mesmo urinóis estão expostos em vitrines enormes.

Mas nada é mais chocante do que uma das vitrines, onde está acumulado todo o cabelo raspado das mulheres mortas nas câmaras de gás. Os nazistas utilizavam esse cabelo para a fabricação de sacos. Confesso que nesse momento me sinto nauseado tentando descrever essa cena, da qual não temos registro fotográfico (por proibição explícita na sala). Mas faz-se necessário o registro, e ele existe – na internet, efetuado por pessoas que desrespeitaram esse aviso. Não destacaríamos esse tipo de desrespeito aos regimentos internos de qualquer lugar, mas provar sua existência é necessário – pois é racionalmente inconcebível acreditar que um dia isso aconteceu.

Imensas vitrines com pertences roubados pelo exército nazista, e acumulados em verdadeiras pirâmides.

Imensas vitrines com pertences roubados pelo exército nazista, e acumulados em verdadeiras pirâmides.

Os sapatos, num ângulo cuja perspectiva da quantidade é muito mais evidente.

Os sapatos, num ângulo cuja perspectiva da quantidade é muito mais evidente.

E a inacreditável quantidade de cabelos, raspados após a morte das mulheres na câmara de gás. Deviam ter um comprimento mínimo, para que pudessem ser utilizados na confecção de sacos. Uma imagem surreal.

E a inacreditável quantidade de cabelos, raspados após a morte das mulheres na câmara de gás. Deviam ter um comprimento mínimo, para que pudessem ser utilizados na confecção de sacos. Uma imagem surreal.

Dentro dos prédios, fotos são proibidas na maioria das áreas – possivelmente para facilitar a fluidez no fluxo dos diversos grupos de visitantes. Quando permitidas, somente sem flash. O tempo para as mesmas é bastante reduzido – porém, é possível fazê-las sem correria e com qualidade. A maioria dos ítens de época são preservados em cabines de vidro, enquanto diversos painéis detalham todo tipo de informação pertinente. A comunicação interna é feita de forma sóbria, direta e extremamente didática, não deixando margem para interpretações erradas sobre o que está relatado.

Em algumas áreas, salas inteiras permanecem preservadas e/ou restauradas. Alojamentos dos prisioneiros, algumas salas onde operava o comando do exército nazista, e no subsolo que pudemos visitar, celas tão minúsculas que os prisioneiros encarcerados tinham sua musculatura forçada ao extremo quando “encaixados” naqueles cubículos, com morte certa em um curto período de tempo. Mesmo com as explicações cuidadosas da guia, o cenário era desolador e cada vez mais inacreditável.

O local onde as mulheres tiravam suas roupas. De lá, eram conduzidas em pares até a área externa, onde eram executadas.

O local onde as mulheres tiravam suas roupas. De lá, eram conduzidas em pares até a área externa, onde eram executadas.

Um dos dormitórios (na parede, a foto com os prisioneiros).

Um dos dormitórios (na parede, a foto com os prisioneiros).

Sobre as explicações dadas durante o tour, vale um adendo: o cuidado e a delicadeza em tratar o assunto sem ofender este ou aquele povo é notável. Em nenhum momento mistura-se o povo alemão à mentalidade presente no comando nazista, e seu maior expoente – cuja nacionalidade, não esqueçamos, é austríaca. Parece pouco, mas separar muito bem as coisas é um dever histórico dos mais importantes.

Viajar no tempo é um exercício constante durante o tour, e se colocar no lugar daquelas pessoas é inevitável. Não há um minuto em que sua cabeça não esteja funcionando sob um prisma de um prisioneiro – ou de um nazista. Sim, é hipocrisia dizer que a gente só se coloca no papel do massacrado, quando o maior desafio é tentar entender a cabeça de quem massacra. Por isso mesmo, você acaba por diversas vezes tentando entender o personagem, mesmo sem querer. Absurdo dizer isso? Desumano? Não amigos… eu garanto: o desgaste mental ao final do dia tem muito a ver com esse exercício involuntário, de tentar compreender o incompreensível.

Um detalhe da sinalização dos blocos.

Um detalhe da sinalização dos blocos.

Dé, o nosso grupo e os rádios onde recebíamos as informações da guia (na imagem, de bolsa vermelha).

Dé, o nosso grupo e os rádios onde recebíamos as informações da guia (na imagem, de bolsa vermelha).

E mesmo em momentos onde aparentemente o lugar não parece algo tão terrível...

E mesmo em momentos onde aparentemente o lugar não parece algo tão terrível…

...bastam apenas alguns passos para voltarmos à realidade.

…bastam apenas alguns passos para voltarmos à realidade.

Dos momentos mais pesados que tivemos lá dentro, destaco três:

– Uma área entre dois prédios, onde encontra-se o muro de fuzilamento. O espaço tornou-se um pequeno memorial, que estava cercado de flores. No alto, atrás da parede de tijolos que une os blocos 10 e 11, uma bandeira que faz alusão aos uniformes dos prisioneiros – com listras azuis e um triângulo vermelho invertido.

A lembrança dos prisioneiros.

A lembrança dos prisioneiros.

E sua terrível sentença final.

E sua terrível sentença final.

– A forca onde Rudolf Höss – comandante do campo de concentração – foi executado. Quase no fim do tour da manhã, poderia ser um fechamento “positivo” para tanta desgraça relatada durante a manhã (na minha cabeça e pelos meus valores, não existe nazista que mereça perdão – e eu posso dizer isso de consciência muito tranquila).

O último ato de Rudolf Höss.

O último ato de Rudolf Höss.

– Visitamos uma câmara de gás, por dentro. Entrar naquele pequeno galpão foi uma das sensações mais sufocantes e dolorosas de todo o dia (e posso dizer, da minha vida). São poucos segundos de escuridão, interrompida por lâmpadas amareladas e pequenos feixes de luz vindos dos buracos do teto, onde era despejado o Zyklon-B. Marcas na parede, silêncio, até sua respiração parece ecoar enquanto você absorve uma das maiores crueldades pensadas pelo ser humano. Sair de lá, olhar pra trás e imaginar o que aquele lugar – hoje inofensivo – já foi um dia é tão, mas tão pesado e terrível, que é impossível não sair rasgado de dentro pra fora.

Dois minutos bastaram, no lugar mais terrível que já visitei na vida.

Dois minutos bastaram, no lugar mais terrível que já visitei na vida.

A parte de dentro: marcas nas paredes, calafrios, vontade de chorar, horror... é impossível definir o que se sente ali dentro.

A parte de dentro: marcas nas paredes, calafrios, vontade de chorar, horror… é impossível definir o que se sente por ali.

Obviamente foi o último ponto antes do período do “descanso” entre os dois tours, pois não há emocional que resista. Todo mundo precisa dessa pausa, para voltar à própria realidade, almoçar/lanchar e se recuperar um pouco para a segunda parte do dia. Comemos alguma coisa, voltamos para a van e esperamos o grupo se reunir. O dia estava cinzento, com ameaça de chuva leve. Eu acredito que até mesmo o clima reforçava as sensações daquela visita.

Contarei sobre Auschwitz II-Birkenau no próximo texto.

Alemanha

O Muro de Berlim,
ou a história ao vivo

7 de maio de 2015

Por Luciana Carpinelli


A primeira referência a Berlim de que me lembro é do muro, provavelmente em uma aula de História no primário. Nunca tive muita paciência para os feitos da Igreja Católica, para as disputas entre Gregos e Troianos e muito menos para as Grandes Navegações. Então a história da Alemanha e tudo o que a envolvia, com (e apesar de) todas as suas crueldades, me deixavam mais curiosa.

Isso ficou um pouco adormecido em mim desde que o meu grupo na faculdade fez uma pesquisa sobre Joseph Mengele e o Nazismo, mas acabou ressurgindo com a minha temporada em Berlim. E o Muro foi o primeiro “ponto turístico” que resolvi visitar.

O sábado de setembro amanheceu, como de costume, azul e ensolarado, e lá fui eu com meu mapa debaixo do braço. Depois de algumas idas e vindas no metro (óbvio que me perdi), consegui chegar à estação Kochstraße. Logo que saí dela, dei de cara com o museu Haus am Checkpoint Charlie, que guarda a história do famoso Muro de Berlim.

Um dia ensolarado.

Um dia ensolarado.

E na saída da estação Kochstraße...

E na saída da estação Kochstraße…

...o museu Haus am Checkpoint Charlie.

…o museu Haus am Checkpoint Charlie.

A sensação, ao chegar ali, foi um misto de tristeza e alegria. Estava feliz por ter a oportunidade de estar em um lugar tão importante, mas é impossível não sentir o peso do sofrimento que a divisão causou pra tanta gente. Confesso que por alguns momentos fiquei ali observando aquela imagem que tinha visto em tantos livros e chorando quietinha.

Aliás, para mim aquele é um dos lugares mais tristes do mundo. Enquanto estive por lá, lembrei muito da senhorinha que sentou ao meu lado no avião da ida e nas histórias que ela me contou sobre o Holocausto. Vi também algumas frases no muro que me fizeram imaginar quantas vidas foram mudadas pra sempre por ele. Se com isso já fiquei meio pensativa, preferi evitar ver a mostra ao ar livre que eles chamam de “Topografia do Terror” e não consegui sorrir na foto ao lado do que sobrou daquela época.

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Checkpoint Charlie – o ponto da travessia.

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Um dos fragmentos do muro.

Mas de repente eu viro a esquina e encontro uma das coisas mais bizarras que ja vi na vida: uma “praia” onde um dia houve o Muro. Isso mesmo, um monte de areia com algumas barraquinhas e tendas, em que as pessoas ficam refesteladas, tomando uma cerveja e comendo um currywurst. Para mim parece um tanto inadequado, mas esse pedaço de “paraíso” artificial acaba suavizando o clima pesado do lugar.

A “praia”, logo ao lado.

Hesitei em trazer um pedacinho do Muro comigo, mas achei que não seria um souvenir muito positivo a ser guardado. Prefiro ficar com a lembrança de ter visitado um lugar que nunca imaginei conhecer pessoalmente.

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Alemanha, Gastronomia

Freistaat Bayern: um passeio muito além da Oktoberfest

23 de abril de 2015

Por Melissa Lüdeman


A Alemanha tem uma história carregada de significado. É impossível pensar no país e não se lembrar do massacre aos judeus durante a Segunda Guerra. Sem dúvida, o nazismo está enraizado na memória coletiva do mundo, mas é na parte sul do país que a lembrança é muito mais branda, e a população, muito mais alegre e receptiva.

A Baviera está localizada no Sul da Alemanha, onde o clima é mais ameno aos padrões tropicais dos brasileiros. No verão, as temperaturas podem chegar à média dos 30ºC – um deleite para turistas que não estão acostumados com o frio devastador.

Visão aérea do centro de Munique

Visão aérea do centro de Munique

Munique, uma das maiores cidades da região, é especialmente agradável. Além de ser palco do maior evento de cerveja, comida e música do mundo – a Oktoberfest –, também respira história, modernidade (ainda que comedida) e harmonia com a natureza.

É impossível chegar ao coração de Munique e não se apaixonar. A Praça de Carlos (Karlsplatz) é a porta de entrada para o centro. Além do Portão de Carlos (Karltor), uma parte da antiga muralha da fortaleza medieval que protegia a cidade, o local possui uma bela fonte no cerne da praça, um alívio refrescante para turistas que visitam a cidade no verão.

Karltor, o portão da antiga muralha medieval que cercava Munique

Karltor, o portão da antiga muralha medieval que cercava Munique

Fonte da Karlsplatz

Fonte da Karlsplatz

Seguindo adiante pelo Karltor, por meio da Neuhauser Strasse, é possível visualizar o prédio da Augustinerbräu*, a cervejaria mais antiga de Munique, fundada em 1328. Para quem gosta de cerveja, experimentar esta preciosidade é quase obrigatório.

Logo mais à frente, surge a Praça de Maria (Marienplatz), uma das mais bonitas praças da Alemanha, que abriga a antiga e a nova prefeituras (Altes und Neues Rathaus) no mesmo perímetro. A nova prefeitura, além de ser um prédio de beleza ímpar com uma arquitetura esplendorosa, possui no centro a Torre do Relógio, onde, todos os dias às 11h e às 17h uma procissão de bonequinhos saem de dentro do relógio para dançar.

Neues Rathaus na MarienPlatz

Neues Rathaus na MarienPlatz

Ainda no centro, podemos avistar de quase todos os lugares a Frauenkirche, igreja que foi parcialmente destruída na Segunda Guerra, e hoje está restaurada. Com suas cúpulas verdes marcantes e salão gigante, a igreja pode abrigar até 20.000 fiéis.

Para os que adoram comer, tenho duas dicas deliciosas e igualmente especiais para todos os tipos de bolso: o Viktualienmarkt, um mercado ao ar livre, e a cervejaria/restaurante Hofbräu.

O Viktualienmarkt é uma espécie de feira ao ar livre com tudo que há de melhor em comidas típicas bávaras, bem como temperos, mel caseiro, geleias, frutas maravilhosas e queijos de vários tipos. Prove tudo que lhe oferecerem e aprecie os aromas de cada barraca. Procure pelo Obatzda, uma pasta de queijo Camembert com páprica, cerveja e temperos e descubra que este é o acompanhamento perfeito para um bretzel tradicional.

Viktualienmarkt

Viktualienmarkt

A Hofbräuhaus foi fundada em 1589 pelo Duque William V da Baviera para uso próprio, a fim de evitar a fadiga que era ter que comprar a cerveja direto da Saxônia. Apenas depois de um tempo, em 1828, a cervejaria foi aberta ao público. O local é bastante amplo, com espaços em áreas internas e externas (ou biergarten, como eles costumam chamar os lugares onde se toma cerveja ao ar livre), e mesas no melhor estilo bávaro de ser: dois bancos grandes com uma mesa de madeira no meio. A decoração é simples, mas muito bonita, e o teto com pinturas é um espetáculo à parte.

Interior da Hofbräuhaus

Interior da Hofbräuhaus

Além de tomar o Maß de cerveja Hofbräu, ou HB para os íntimos – que na minha opinião é uma das melhores cervejas do mundo –, você poderá experimentar pratos típicos da Baviera: eisbein (joelho de porco)schweinsbraten (bife tenro de porco com batatas), würstplate (poutporri com várias salsichas alemãs), apfelstrudel (torta de maçã), entre outros, sempre regado a muita música tradicional.

Schweinsbraten com batata

Schweinsbraten com batata

O passeio pelo centro de Munique pode ser feito em um dia, para aqueles que tiverem pressa, ou em dois, para ter um pouco mais de folga para curtir cada detalhe. Acompanhe um dos muitos guias que transitam pelo local e conheça muitas histórias. Vale muito a pena!

Afinal, “In München steht, eins, zwei, g’suffa!” (Aqui em Munique – um, dois, nós bebemos!).

Eu, e a minha querida e amada Maß

Eu, e a minha querida e amada Maß


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*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.