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Em duas rodas

Tirando as rodinhas da bicicleta

11 de janeiro de 2016

Esses últimos dias foram de total expectativa pra gente: acabamos de comprar e montar nossas bicicletas, inspirados e influenciados por diversas coisas que andaram acontecendo por aqui.

A começar, obviamente, pela estrutura que São Paulo agora possui para a prática do ciclismo. “Ah, mas não é o ideal… ainda falta muito, tem muita coisa precária e nem tudo é essa maravilha“. Verdade. Mas ao mesmo tempo, é algo concreto, e que precisa ser ocupado, utilizado e com o tempo desenvolvido para que se firme e torne-se algo tão natural quanto uma rua ou uma calçada. Há espaço sim para todos, a cidade é imensa, e a alternativa maravilhosa sob diversos aspectos. Tivemos nosso primeiro e real contato quando da primeira visita à Avenida Paulista aberta. O ambiente presente naquela primeira visita (e que se repetiu na segunda, bem em como outros diversos finais de semana) nos tomou de assalto, e dali em diante a bicicleta passou de ideia a projeto.

Além disso, estar de bicicleta muda sua relação com a cidade. Os trajetos são livres, o contato diferente, e a vontade de redescobrir paisagens e elementos que fazem parte da sua então rotina acrescenta algo lúdico a lugares tão conhecidos. Nossa ansiedade em visitar a casa da mãe/sogra, ir comer um pastel no sacolão ou mesmo dar uma volta pelas redondezas é comparável à de uma criança no dia de Natal. Existe também a parte física, que os dois trintões (a Dé ainda é trintinha, eu que estou entrando nessa perigosa área do til) precisam cuidar.

Redescobrir a cidade: sempre é hora pra isso, e os amigos já estão lá.

Redescobrir a cidade: sempre é hora pra isso, e os amigos já estão lá.

Tão lúdico que até andar pelo Minhocão parece uma boa ideia (mas de bicicleta).

Tão lúdico que até andar pelo Minhocão parece uma boa ideia (mas de bicicleta).

Temos alguns/vários amigos que já fazem parte desse movimento: alguns utilizam a dita pra trabalhar, outros fazem trilha em grupos noturnos, e uns já se profissionalizaram e viajam de bike para distâncias não tão curtas assim. Foi justamente seguindo as dicas de um casal de amigos – a Gica e o André, o casal que faz algumas das viagens mais inacreditáveis nesse modelo, e que despertou um faniquito incontrolável em nós dois – que colocamos nosso plano em prática. Eles nos mostraram algumas das possíveis combinações entre os diversos elementos que compõem uma bicicleta: guidões, freios, manetes, quadros, pneus, passadores de marcha, selins, pedais e tantas coisas que podem facilitar ou dificultar sua pedalada. Nosso teste prático foi breve, mas bastante esclarecedor – além de potencializar definitivamente o projeto. Com isso, fizemos nossa compra e montagem durante o último sábado, e se o cronograma der certo vamos retirar as crianças nessa próxima quarta-feira.

A Gica e o André pintaram nosso faniquito de trocentas cores.

A Gica e o André pintaram nosso faniquito de trocentas cores.

Aos temerosos ou que ainda não sabem pedalar, um depoimento pessoal: a Dé também não sabia até 2008, quando nos metemos a eliminar essa lacuna no Parque Villa-Lobos, aqui em São Paulo. Alugamos duas bicicletas, e eu (que nunca tinha ensinado ninguém a andar de bicicleta na vida) fiz o papel de professor naquele dia. Sim: em UM DIA ela aprendeu e deu a volta no Parque comigo. Obviamente um tombinho aqui e uma tremidinha ali fizeram parte desse passeio, exatamente da mesma forma quando a gente aprende a dirigir, arruma um emprego, essas coisas. Fato é que depois de se equilibrar pela primeira vez, nunca mais você esquece. Alguns meses depois, esse dia nos permitiu desfrutar da mesma experiência de um passeio no parque – mas em Buenos Aires, o que foi muito legal.

Já ouvimos sobre o medo e os perigos de andar de bicicleta “na rua”. Bem, perigos existem sob qualquer circunstância, e enfrentá-los é o que nos faz crescer e amplia horizontes. Por isso mesmo, estamos muito felizes em poder inaugurar essa sessãozinha chamada “em duas rodas“, que em breve – esperamos – receba mais e mais conteúdo da gente, e de quem mais se habilitar a dividir suas experiências bicicletísticas aqui no Faniquito 🙂

Coreia do Norte

Coreia do Norte: o Projac asiático

7 de janeiro de 2016

Rolou uma substituição de pauta de última hora por aqui. Preferi abordar outro tema, que me parece bastante pertinente, dados os últimos acontecimentos dessa quarta-feira. Existe um país que eu morro de vontade de conhecer, pelos motivos mais óbvios e bizarros que uma pessoa pode ter (e eles nunca são plenamente explicáveis). Estou falando da Coreia do Norte.

Deixando de lado o fato dos caras terem supostamente testado uma bomba H (com a naturalidade de quem resolve sair pra comer um pastel), lembro de ter começado a prestar atenção no país quando do sorteio da Copa da África do Sul, e o chaveamento no grupo do Brasil. Aí aconteceu o tal jogo, o Brasil ganhou por 2×1, e os jornais daqui noticiaram que por lá informaram uma suposta vitória norte-coreana. Eu achei bizarro, e a partir dali passei a me interessar por toda e qualquer notícia que envolvesse a Coreia do Norte. Pouco tempo depois, aquilo que era somente curiosidade virou uma obsessão, quando vimos a repercussão local da morte de Kim Jong-il. Eram cenas inacreditáveis – e continuam sendo:

Pra alguém que leu 1984, saí devorando tudo o que dizia respeito à Coreia do Norte: me emprestaram livro, revirei o YouTube, diversos blogs e textos, e assisti a todos os especiais que pudessem acrescentar algum tipo de conhecimento sobre aquele país totalmente alheio à globalização. A tal filosofia juche (de culto à personalidade, base da política implantada no país desde 1948 e que fez de Kim Jong-il e de seu pai, Kim Il-sung, verdadeiros deuses aos olhos dos norte-coreanos), o modelo comunista e socialista, a economia, a relação com o mundo exterior (e a não-relação com EUA, Coreia do Sul e Japão)… quanto mais a gente mexe, mais difícil de entender o quebra-cabeça que constitui a imagem de um país tão único – sem juízo de bem ou mal, apenas entendendo que ele se encaixa no contexto mundial como verdadeira exceção em praticamente todos os aspectos.

Se isso não é capaz de despertar o faniquito, o que seria?

Em todas as fontes pesquisadas, os relatos de quem se aventurou a conhecer o país são muito semelhantes. Das curiosidades incríveis aos recém-chegados, segue abaixo uma breve lista:

  • a companhia constante e obrigatória de pelo menos dois funcionários do governo (um guia e um motorista), pois a locomoção pela capital Pyongyang é devidamente programada, aprovada, e jamais feita de forma independente;
  • de uma ampla série de coisas e lugares possíveis de se conhecer, absolutamente todos fazem menção explícita e exaltada “à soberania nacional, e aos méritos de seus dois líderes e salvadores históricos” anteriormente citados. Nada de pegar um cineminha, ou mesmo dar uma volta pelas ruas;
  • o contato dos turistas com os cidadãos, se não nulo, é mínimo e controlado – nada de novas amizades;
  • quando em visita ao país, seus documentos são literalmente sequestrados, e somente devolvidos no dia de saída;
  • a moeda local para turistas é diferente da utilizada pelos locais (!);
  • das vinte estações de metrô, o turista só é autorizado a passear entre duas (Puhung e Kaeson);

  • além das estruturas, esculturas e memoriais militares e políticos, as grandes atrações turísticas do país são uma fábrica de garrafas, uma tecelagem, entre outros programas injustificáveis;
  • é possivelmente o único país no mundo em que o acesso à internet é proibido (pense no seu cotidiano, e transfira sua realidade pessoal para um contexto desses – seja bem-vindo a 1984: pesquisas na Barsa, Voz do Brasil – mas em coreano, e que no caso, dura um dia, todos os dias, e nada de Menudos ou programa do Chacrinha);
  • todos os cidadãos utilizam um broche com o rosto do comandante da nação;
  • teatro, cinema, música, artes e espetáculos em geral não destacam artistas: toda obra artística e intelectual pertence ao Estado, e consequentemente tem como tema seus comandantes, o partido dos trabalhadores e a filosofia Juche. Em outras palavras: toda manifestação cultural é propaganda política;
  • e se você acha tudo isso absurdo, saiba que foram criadas artificialmente no país duas flores, chamadas Kimilsungia e Kimjongilia (em homenagem óbvia a Kim Il-sung e Kim Jong-il).
Kim Il-sung e Kim Jong-il - o centro do universo na Coreia do Norte.

Kim Il-sung e Kim Jong-il – o centro do universo na Coreia do Norte.

É fascinante, absurdo, medonho, bizarro, misterioso e provocador.

Por isso mesmo eu quero conhecer. Minha imaginação concretiza a imagem de um verdadeiro Projac tamanho gigante. Será que é possível ser genuinamente feliz num lugar onde absolutamente tudo é controlado pelo governo, onde a liberdade de expressão é nula, e você é invadido diariamente e sem intervalos por propaganda política? Qual será o efeito prático que a ignorância pela censura causa no desenvolvimento racional e emocional dos norte-coreanos? É possível sonhar com o que acontece no restante do mundo? Desenvolver algum tipo de curiosidade? Contestar uma realidade que é totalmente moldada num discurso que não evoluiu ou agrega?

Eu duvido, de tudo isso. Mas eu sou ocidental, e calçando meus sapatos é fácil achar tudo isso descabido. Será que eu conseguiria por um mínimo instante calçar os sapatos de um norte-coreano, e conceber o que seria uma semana de vida de um cidadão comum em Pyongyang? Não, certamente não. Nem mesmo o turismo ao país permite algo próximo disso.

Turismo que é sim permitido, mas de maneira bastante peculiar. Seu acesso acontece somente pela China, e o preço é bastante proibitivo (li que gira em torno de R$ 6500,00, fora passagens e vistos), além de todas as observações listadas acima, e mais uma infinidade de detalhes que a gente vai descobrindo pelo caminho. Ou seja: por mais algum tempo a Coreia do Norte estará somente em minha imaginação e em minhas pesquisas.

Mas se valer o desafio, tente se colocar no seguinte cenário: roupas comportadas (semelhantes às que o mundo vestia nos anos 60), o tradicional e obrigatório broche do comandante do país no peito, pouca comida na mesa, muito trabalho, e uma obrigação constante de culto aos heróis nacionais; um em cada 3 de seus amigos é militar; o grande evento do país é um festival cuja atração principal é um enorme e inacreditável mosaico humano – o Arirang – que conta a história da “excepcional vitória norte-coreana sobre os vizinhos japoneses” (obviamente, sob o comando do Grande Líder)…

…seu inconformismo, sua revolta, seu desprazer – se existirem – não podem ser externados, sob pena de prisão, tortura e morte por traição; possivelmente seu casamento será arranjado, e seu mundo restrito às fronteiras desse país.

É a Coreia do Norte: esse enigma que um dia pretendo – se não desvendar – pelo menos tocar.


Mais algumas dicas:

  • A busca por imagens do país no Google não chega a ser ruim, mas se quiser acompanhar um canal muito bacana com imagens de lá, siga o DPRK360 no Facebook. As fotos são ótimas e aparentemente trazem um pouco daquilo que os turistas não têm possibilidade de conhecer no país (mas isso é só uma hipótese, como tudo o que é noticiado de lá…).
  • Sobre o Arirang e o culto ao grande líder, assista A State of Mind (2004), documentário britânico da BBC que está disponível na íntegra no Youtube (com legendas em inglês);
  • Uma das melhores séries de reportagens sobre a Coreia do Norte realizadas no Brasil foi feita pelo SBT, em 2005, no Jornal SBT Brasil – e também está disponível no Youtube.
  • Um depoimento no TED que fez bastante barulho há algum tempo diz respeito a uma norte-coreana que relata como foi crescer na Coreia do Norte, e hoje enxergar o país de fora. Também está disponível e legendado no Youtube.
  • Outro depoimento no TED diz respeito a uma sul-coreana que passou seis meses disfarçada no país, lecionando em inglês. A entrevista está disponível (sem legendas) nesse link.
Faniquito

Ano um

14 de dezembro de 2015

Exatamente hoje completamos nosso primeiro aniversário!

Com um saldo de 89 textos (contando com esse) e 22 países contabilizados até o momento. Um começo de muita realização pra gente, que fez dos nossos papos recorrentes motivo de pauta e disciplina: dois textos por semana, sempre que a agenda de ambos permitisse, com espaço liberado para amigos, conhecidos ou aventureiros que, assim como nós, curtissem soltar o verbo sobre suas experiências pessoais na estrada – fosse ela de terra, asfalto, gramada, de areia, do céu ou mesmo debaixo d’água.

Chegaram à nossa caixa postal as mais diversas histórias: paixões, desabafos, contos, receitas, dicas, percepções pessoais, e o mais importante – olhares diferentes sobre o mesmo assunto. Viajar amplia os horizontes, e isso a gente já sabe. Some mais e mais pessoas, e o horizonte que surge é imensurável. Essa é nossa vontade, sempre: ir mais e mais longe, até conhecer tudo o que uma, duas ou várias vidas permitam.

Da nossa parte, esmiuçamos e fragmentamos nossas próprias experiências, e nos acostumamos a discutir e relembrar nossas viagens semanalmente. Um hábito gostoso, e que fez muito bem à nossa memória. Abrir nossa memoriabilia, tirar dúvida sobre alguns detalhes para ilustrar nosso próximo texto é sempre coisa boa de se fazer, e o Faniquito continuou sendo mais diversão e menos trabalho pra gente.

E mais de 700 fotos, sendo quase todas autorais :)

E mais de 700 fotos, sendo quase todas autorais 🙂

Por isso mesmo, além de apagar velinhas, agradecemos a todos vocês que estiveram com a gente durante esse primeiro ano – seja comentando, curtindo, compartilhando ou enviando textos pra gente, bem como as primeiras pessoas que apostaram no Faniquito para planejar suas viagens. Num ano tão difícil e adverso, procuramos manter o entusiasmo sem perder a noção da realidade. Viajar é sim um prazer, exige esforço, algum investimento (que varia conforme propósitos e condições), e nem sempre essa equação é simples como a gente vê em alguns discursos por aí. Não planejamos algumas coisas que surgiram pelo caminho, como a necessidade de alguns posicionamentos, e senso crítico com determinadas situações. Estamos constantemente buscando esse crescimento, e vocês nos ajudam nessa caminhada.

Nesse nosso penúltimo texto de 2015, somos só alegria…! Se quiserem nos presentear, enviem novos textos – quem já nos escreveu, quem ainda está ensaiando ou mesmo quem nunca cogitou. É bem divertido, acreditem. Aos que gostam desse nosso recheio, sintam-se à vontade para nos divulgar. E se você estiver a fim de viajar, e quiser um roteirinho fora da curva, conte com a gente pra montar um itinerário divertido. Seremos todos muito felizes!

Obrigado mesmo galera! Que seja só o início!

Cuba

Enfim, Cuba!

10 de dezembro de 2015

Por Yara Mansur


Cuba habitou meu imaginário desde a adolescência.

A trilha sonora de fundo para as imagens do paraíso caribenho era composta por longas discussões dos caras mais velhos e bacanas do colégio sobre o embargo americano, veio a era Gorbachev, sua perestroika e a glasnost e então, sobraram poucos paises socialistas no mundo. E dos remanescentes, Cuba era o único na banda ocidental do planeta, portanto, o mais acessível para nós, brasileiros.

No Oscar de 2000, lá vem o Wim Wenders com seu incrível documentáro, Buena Vista Social Club, para colocar mais lenha nesta fogueira e reacender a curiosidade sobre a ilha.

Depois de algumas tentativas adiadas pela nada amistosa passagem de furacões e ciclones que anualmente assolam a região, em 2010, eu finalmente desembarquei em Havana.

Logo no início da pesquisa de como viajar, o que fazer, onde se hospedar e encontrar poucas informações ou recomendações para uma viagem “solo”, as dificuldades apareceram. Começou com a questão do visto que, na época, hoje não mais, exigia uma carta convite ou o pagamento de uma pequena fortuna pela sua permissão para ir à Cuba.

Deu para perceber, logo de cara, que não seria uma viagem barata, apenas uma companhia aérea que voava para Cuba, tudo tinha que passar pela agência oficial do governo cubano e por aí foi …. até que passei por cima do meu orgulho de viajante “solo” e optei por um pacote de viagem.

O roteiro proposto chegava em Havana, mas ia direto para Varadero, onde fiquei 2 dias. Depois, 4 dias em Cayo Largo, ao sul de Cuba e por fim, mais 3 dias em Havana.

Varadero é uma balneário clássico, com os resorts “all-inclusive”, na sua maioria construídos na década de 50 e mantidos com sua arquitetura original. Não é uma cena essencialmente cubana, é uma cena caribenha. Mas como foi a minha primeira parada, o queixo ficou caído com aquele mar de cor indescritível. Não me lembro onde me hospedei, mas sinceramente, eram todos bem parecidos, portanto, não há como errar.

Varadero, apresentando Cuba...

Varadero, apresentando Cuba…

...e um pouco de suas cores.

…e um pouco de suas cores.

Na verdade, Varadero foi uma espécie de preparação para Cayo Largo, onde realmente a imagem do paraíso se materializou. Na época, Cayo Largo começava a receber investimentos estrangeiros, em formato de parceria com o governo cubano. Neste modelo, os hotéis e restaurantes só poderiam utilizar mão-de-obra local, materiais locais, ingredientes locais nos seus empreendimentos, divisas também não poderiam ser remetidas para fora de Cuba. Espanhóis e italianos tinham topado a empreitada e construído a pousada que fiquei. O nível de serviço era no quase baiano, com a mesma simpatia e gentileza, portanto, nada que pudesse nos afetar ou diminuir o prazer de estar neste lugar.

Pra não deixar dúvidas...

Pra não deixar dúvidas…

...agora sim, a cena cubana tão desejada era concreta.

…agora sim, a cena cubana tão desejada era concreta.

Em Havana, os bairros turísticos são Vedado, Habana Centro e Habana Vieja. Fiquei em Vedado, no famoso Hotel Nacional. Em Cuba, como em todos os lugares, os hotéis são classificados por estrelas, mas um 5 estrelas cubano não é exatamente um 5 estrelas não cubano. Portanto, opte por uma hospedagem acima do que você normalmente utilizaria para garantir o conforto esperado.

Em Habana Centro e Habana Vieja, ficam a maioria dos hotéis, restaurantes ou paladares como são chamados por lá, merece destaque o La Guarida e a sorveteria Coppelia, a fila é enorme e você logo entederá o por quê. Nestes bairros estão também os locais de interesse dos viajantes, o imponente Capitólio Nacional, a Plaza de La Catedral, a Plaza de la Revolución e toda história que você puder ouvir reverenciando Fidel, mas principalmente, Che Guevara, mais ídolo do que o primeiro.

O Capitólio Nacional.

O Capitólio Nacional.

E a Plaza de la Revolución.

E a Plaza de la Revolución.

Bom, é importante saber que todo cubano se autointitula “guia turístico”. Você pode simplesmente passear com um bom contador de histórias ou visitar os locais com um guia de fato, se resolver contratar o guia na rua. A decisão é sua, pode ser uma boa, por que boas histórias nunca são demais, mas se quiser evitar, opte por um serviço contratado no hotel.

Andar pelas ruas de Havana é sentir-se na década de 50, na sua arquitetura preservada, prédios em estilo barroco e neoclássico, nos carros antigos, no ritmo das pessoas na rua. 50 total!

Alguns detalhes da arquitetura e cores cubanas...

Alguns detalhes da arquitetura e cores cubanas…

...e seus carros antigos característicos.

…e seus carros antigos característicos.

Os táxis são lindos, perfeitamente conservados e mais enfeitados do que carro alegórico em pleno carnaval, vale todo tipo de adereço: tapetes, bonecos, espelhos, luzes e o que mais tiver à mão. Eles também não ligam o taxímetro, combine o preço antes e pechinche, sempre. Tem também o “côco-táxi”, uma moto adaptada para levar 2 pessoas, em geral turistas, que quebra um galho.

O simpático côco-táxi.

O simpático côco-táxi.

Dólar por lá é coisa do capeta, leve euros e troque-os por pesos cubanos, faça isso no hotel ou no aeroporto, em casas de câmbio oficiais, nunca na rua. Esqueça também o cartão de crédito. A lei da demanda e oferta funciona num país socialista tanto quanto num país capitalista e tudo é muito caro por causa da escassez de oferta.

Cubanos e não-cubanos quando estão em Cuba fumam em todos os lugares, inclusive os famosos e onipresentes habanos, prepare-se para muita fumaça, até no elevador.

A terra dos habanos, que sempre te acompanham em qualquer lugar.

A terra dos habanos, que sempre te acompanham em qualquer lugar.

Ítens de higiene são controlados. Por exemplo, não é sempre que você encontrará papel higiênico nos banheiros, mesmo em locais como museus, onde tudo estará muito limpo e bem mantido, papel será coisa rara.

Na linha dos ítens controlados, internet e telefone são coisas praticamente impossíveis. Para os cubanos e não-cubanos o acesso custará muito, muito, mas muito caro mesmo, além de bloqueios a sites e aplicativos que ainda reinam por lá.

O povo cubano é de fazer festa para tudo. Juntou 4 numa mesa, vão começar a cantarolar alguma coisa (geralmente boa), alguém vai improvisar uns instrumentos e em alguns minutos estarão dançando. Ah, e você beberá o melhor rum da sua vida, pode ser até na Bodeguita del Medio, onde desfrutaram seus mojitos, Nat King Cole e Ernest Hemingway.

Se “Paris é uma festa”, Cuba também é. Desfrute!


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

Fazendo as malas, Hospedagem, Ir e vir, Perrengues

Maldito mês de dezembro (?)

7 de dezembro de 2015

Foi-se a primeira semana de dezembro. O período de Festas é um dos momentos do ano em que a grande maioria das pessoas resolve botar o pé na estrada: férias escolares e/ou coletivas, é uma oportunidade de enfim juntar a família e fazer alguma coisa diferente da vida. Não por acaso, é justamente entre dezembro e janeiro em que essa alegria pode ser trocada por ódio mortal e absoluto se você não souber jogar direitinho com essas datas. Botar as malas no carro pode significar horas e horas de congestionamentos, competição por comida e abrigo com outros turistas, dores de cabeças inimagináveis e absurdas… enfim, a coisa toda pode virar um inferno.

Que o humor da Dé no trânsito seja igual ao seu durante esse final de ano.

Que o humor da Dé no trânsito seja igual ao seu durante esse final de ano.

Sendo assim, a gente vem passar umas dicas e conselhos aos que se aventuram nesse período, e que normalmente soltam fumaça só de pensar nesse “maldito mês de dezembro”. Vamos lá:

1) Sim, é mais caro – conforme-se ou não vá

O final de ano obviamente não é a melhor época pra viajar se você está apertado de grana. Períodos que coincidem com férias escolares/coletivas têm um aumento descomunal de preços em praticamente tudo: hospedagem, comércio local, lazer e abastecimento vão arrancar uma grana do seu bolso SIM – e não adianta ficar ranhetando na fila da vendinha ou pro tio do picolé. Se não tiver essa grana extra disponível, capriche na seleção de filmes do Netflix e fique em casa – seus meses de janeiro e fevereiro agradecerão, acredite.

2) Procedência

Na praia, na montanha, no interior ou exterior, com desconhecidos, amigos ou família: verifique a procedência da sua hospedagem (cuja reserva – espero – já tenha sido feita há dois ou três meses). Chuveiros que não esquentam, geladeiras que não fecham, ventiladores quebrados ou ar condicionado barulhento são coisas que sempre deixam a gente soltando fumaça. Tem cobertor? Cama suficiente? Pernilongo? A casa é ventilada? E a água? Precisa levar alguma coisa? Tem wi-fi? A internet é boa? É camping mesmo ou é um quintal adaptado? Não se acanhe em perguntar e pesquisar: mais vale apertar o espaço no carro e levar um ventilador de casa (desde que a voltagem bata – sim, não esqueça desse detalhe) do que passar duas semanas suando que nem um porco madrugada adentro.

Este é o Amadeu - o cara que você NÃO quer encontrar este mês.

Este é o Amadeu – o cara que você NÃO quer encontrar este mês.

3) Kit de escoteiro

Vale pra qualquer viagem, mas simbora relembrar: farmacinha (remédio pra dor de cabeça/muscular, band-aid, cotonete, gase, esparadrapo, pomada pra coceira, repelente se for o caso, protetor solar, creme dental e escova de dentes são o kit básico). Se usar algum medicamento específico, leve de casa. “Ah Marcelo, mas onde eu vou tem farmácia“. Sim, tem. E se não tiver o que você precisa (ou custar o triplo do que você normalmente paga) você vai se sentir culpado por não ter seguido essa dica. Uma bolsinha que cabe no porta-luvas ou no bolsinho da mochila pode te poupar a dor de cabeça de sair correndo no aperto, e uma graninha razoável.

Dinheiro em viagem é pra diversão, e não pra apagar incêndio.

Além da farmacinha, outros ítens legais de se ter na bagagem:

  • adaptador elétrico/benjamim (imagina que legal ter que desligar o ventilador pra deixar o celular carregando?);
  • se for tirar muitas fotos, lembre-se: descarregá-las pode ser necessário se você não tiver cartões de memória suficientes. Aí um hd externo ou uma boa conexão (para backup em nuvem) podem ser necessários. Ajuste expectativa e realidade, e seja feliz.
  • prepare-se pro melhor e pro pior: se mesmo com previsão de sol existir alguma possibilidade de fazer frio, não seja a anta que só levou bermuda e biquini. Às vezes sua praia pode acabar virando um Banco Imobiliário, e se isso acontecer, esteja quentinho, faça uma pipoca e divirta-se da mesma forma.
Nunca subestime a capacidade de diversão de um jogo de tabuleiro em dias de chuva.

Nunca subestime a capacidade de diversão de um jogo de tabuleiro em dias de chuva.

4) Tenha alternativas

Viaje com antecedência, e se possível faça o mesmo pra voltar. Horários bizarros são bem-vindos, desde que não coloquem em risco sua saúde e segurança (se for o caso, junte-se ao exército de turistas e escolha uma boa trilha sonora). Quando em seu destino, lembre-se que os programas mais populares serão inevitavelmente os mais abarrotados de gente. Procure alternativas menos conhecidas, ou mude os horários (não tenha medo de acordar cedo, almoçar mais tarde ou mesmo jantar no final da tarde – você está descansando, e sair da rotina inclui experimentar novos hábitos). Se a multidão for inevitável, não seja o cara que fica reclamando da demora, da fila ou do atendimento ruim (as pessoas da cidade que você está visitando também precisam se adaptar à demanda, e não é coisa simples).

Insira um milhão de turistas nessa foto e vislumbre seu futuro.

Insira um milhão de turistas nessa foto e vislumbre seu futuro.

5) Aproveite e mude seu jeito

É final de ano, e todo mundo quer festejar. Faça parte das lembranças boas das pessoas, sendo aquele que faz a diferença pro bem. Lave aquela louça que você não lavou o ano todo, divida as despesas e as dores de cabeça com quem estiver contigo, e faça parte do grupo. Se você não tiver grupo, é uma ótima época pra fazer amizades. Procure manter um sorriso na cara, e respire fundo nas dificuldades antes de responder com uma patada. Suas férias podem te ajudar a cumprir aquelas eternas promessas jamais cumpridas, se sua atitude começar a mudar antes mesmo da contagem regressiva.

São nossas dicas (mas ainda não é nosso último texto do ano) 😉

Ir e vir

Não sei se vou ou se fico

26 de novembro de 2015

Uma leitora do Faniquito entrou em contato comigo duas semanas atrás, perguntando se era tranquilo fazer uma viagem pra Turquia, mesmo com tudo que estava acontecendo por lá. Fiz uma pesquisa rápida e não vi nada preocupante – muito pelo contrário: com a situação dos refugiados, as pessoas estavam se mostrando muito prestativas, ainda mais na área do turismo, e os viajantes que voltavam de lá só tinham elogios. E então no dia 13 de novembro eu respondi exatamente isso. No mesmo dia 13, aconteceram os ataques em Paris… E foi só no dia seguinte que percebi que a minha resposta tinha sido bem incompleta.

Nesta segunda-feira o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta de viagens para o mundo inteiro. O Departamento de Estado é responsável pelas relações internacionais do país, e o conteúdo do alerta é basicamente este:

“Existe um risco em viajar para qualquer parte do mundo por causa do aumento da ameaça terrorista. Deverão ser evitadas multidões ou lugares muito cheios de gente, assim como se deve tomar cuidado em espaços e transportes públicos.”

Não vou entrar na questão da política do medo que foi colocada desde os ataques na França, nem vou me fazer de inocente, dizendo que o mundo está um mar de rosas. O Departamento de Estado dos EUA está fazendo a sua parte. É preciso sim alertar as pessoas de que a situação atual é perigosa, mas a ideia de que qualquer viagem deve ser evitada me parece irreal. Ainda mais às vésperas das férias escolares, Natal e Reveillon.

Viajar é parte da nossa cultura. Ajuda a expandir a cabeça e seus conceitos, faz com que você participe (mesmo que superficialmente) de outra realidade, e consequentemente se coloque no lugar de outras pessoas. Faz com que você se conecte não só com quem conheceu, mas com todo um povo e uma cultura (vale dizer, todas essas vantagens em viajar vão contra a tal política do medo), e acima de tudo, faz com que você saia da sua zona de conforto. Sob essa ótica do medo, sair dessa zona de conforto pode ser confundido com entrar numa zona de risco.

Assim como o conforto, o risco é um conceito muito pessoal. Cada um decide onde termina seu (des)conforto e começa a sua insegurança.

Estar confortável em um país desconhecido com tudo o que vem acontecendo é algo que varia de pessoa para pessoa. Cada um deve decidir por si só se aceita ou não o risco de viajar e, caso aceite, precisa assimilar a situação por completo: possíveis atrações turísticas fechadas para o público, segurança reforçada e nem sempre tão receptiva nos aeroportos, etc.

Se esse tipo de cenário te preocupa, cancele sua viagem. Não há dinheiro no mundo que seja capaz de te deixar tranquilo, ainda mais num lugar onde sua própria sensação de segurança não é total. Mas se com tudo isso, viajar ainda te pareça mais importante do que qualquer outro acontecimento externo, vá – sem medo de ser feliz. O mais importante: confie na sua decisão e no seu instinto.

Riscos sempre existiram, e sempre existirão – seja o terrorismo, o acidente de avião, um tsunami, ou mesmo tropeçar na calçada e quebrar o pé. Fica a pergunta: o que é maior? Seu medo, ou sua vontade de conhecer o mundo?