Ir e vir

Não sei se vou ou se fico

26 de novembro de 2015

Uma leitora do Faniquito entrou em contato comigo duas semanas atrás, perguntando se era tranquilo fazer uma viagem pra Turquia, mesmo com tudo que estava acontecendo por lá. Fiz uma pesquisa rápida e não vi nada preocupante – muito pelo contrário: com a situação dos refugiados, as pessoas estavam se mostrando muito prestativas, ainda mais na área do turismo, e os viajantes que voltavam de lá só tinham elogios. E então no dia 13 de novembro eu respondi exatamente isso. No mesmo dia 13, aconteceram os ataques em Paris… E foi só no dia seguinte que percebi que a minha resposta tinha sido bem incompleta.

Nesta segunda-feira o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta de viagens para o mundo inteiro. O Departamento de Estado é responsável pelas relações internacionais do país, e o conteúdo do alerta é basicamente este:

“Existe um risco em viajar para qualquer parte do mundo por causa do aumento da ameaça terrorista. Deverão ser evitadas multidões ou lugares muito cheios de gente, assim como se deve tomar cuidado em espaços e transportes públicos.”

Não vou entrar na questão da política do medo que foi colocada desde os ataques na França, nem vou me fazer de inocente, dizendo que o mundo está um mar de rosas. O Departamento de Estado dos EUA está fazendo a sua parte. É preciso sim alertar as pessoas de que a situação atual é perigosa, mas a ideia de que qualquer viagem deve ser evitada me parece irreal. Ainda mais às vésperas das férias escolares, Natal e Reveillon.

Viajar é parte da nossa cultura. Ajuda a expandir a cabeça e seus conceitos, faz com que você participe (mesmo que superficialmente) de outra realidade, e consequentemente se coloque no lugar de outras pessoas. Faz com que você se conecte não só com quem conheceu, mas com todo um povo e uma cultura (vale dizer, todas essas vantagens em viajar vão contra a tal política do medo), e acima de tudo, faz com que você saia da sua zona de conforto. Sob essa ótica do medo, sair dessa zona de conforto pode ser confundido com entrar numa zona de risco.

Assim como o conforto, o risco é um conceito muito pessoal. Cada um decide onde termina seu (des)conforto e começa a sua insegurança.

Estar confortável em um país desconhecido com tudo o que vem acontecendo é algo que varia de pessoa para pessoa. Cada um deve decidir por si só se aceita ou não o risco de viajar e, caso aceite, precisa assimilar a situação por completo: possíveis atrações turísticas fechadas para o público, segurança reforçada e nem sempre tão receptiva nos aeroportos, etc.

Se esse tipo de cenário te preocupa, cancele sua viagem. Não há dinheiro no mundo que seja capaz de te deixar tranquilo, ainda mais num lugar onde sua própria sensação de segurança não é total. Mas se com tudo isso, viajar ainda te pareça mais importante do que qualquer outro acontecimento externo, vá – sem medo de ser feliz. O mais importante: confie na sua decisão e no seu instinto.

Riscos sempre existiram, e sempre existirão – seja o terrorismo, o acidente de avião, um tsunami, ou mesmo tropeçar na calçada e quebrar o pé. Fica a pergunta: o que é maior? Seu medo, ou sua vontade de conhecer o mundo?

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