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Dinheiro

2016: um ano pra se viajar

25 de fevereiro de 2016

Por Melissa Lüdeman


Será que dá? Saiba como economizar e se planejar para não deixar de viajar em 2016.

2016 começou gritando em alto e bom som: “não vai ser fácil”. O dólar que estava na faixa dos R$ 2,80 em fevereiro de 2015 hoje oscila na casa dos R$ 4.

Apesar de vários destinos interessantes não utilizarem esta moeda, a alta compromete a economia do mundo todo. Por isso, se você planeja viajar para países que tem o dólar ou o euro como moeda corrente, saiba que você terá que planejar e economizar bastante para tornar este sonho possível.

Mas, se você não quer correr o risco, vale repensar o seu destino e aproveitar opções mais baratas. O que não vale é abrir mão da sua tradicional viagem de férias este ano, viu? O Faniquito preparou algumas dicas importantes de economia para antes da viagem e durante o percurso para você aproveitar ao máximo, sem sustos lá na frente. Confira:


ANTES:

201601

• Pesquise sua passagem em sites especializados em passagens aéreas
Cadastre seu destino em sites como o Skyscanner e o Kayak, e receba e-mails periódicos que informam as variações de preço para o local e a data que você deseja.

201602

• Escolha seu destino de acordo com o seu orçamento
No site Adioso você diz o quanto quer pagar pelas passagens, e o serviço lista uma série de vôos disponíveis para a data que você delimitar.

201603

• Programe suas férias depois de encontrar um vôo perfeito
Se você tiver flexibilidade no trabalho, encontre uma tarifa que se adeque ao seu orçamento e depois marque o dia das suas férias. O site Melhores Destinos faz uma listagem diária das melhores promoções encontradas.

201604

• Pesquise o custo de vida dos lugares que você quer visitar
O Numbeo é o maior banco de dados online com informações sobre cidades e países do mundo. Dá para ter uma noção sobre a vida cotidiana do destino informações especiais para viajantes.

201605

• Parcele as passagens com antecedência no cartão de crédito
Comprar passagens antes é quase sempre mais barato, e você ainda pode parcelar no cartão de crédito com o bônus extra de acumular milhas. Programando direitinho, dá para chegar no dia do embarque com a passagem já quitada, e com uma preocupação a menos.

201606

• Acompanhe a cotação da moeda do seu destino
Saiba o valor de câmbio e aproveite os períodos de baixa cambial esporádica para comprar a moeda com antecedência. Comprar euros ou dólares regularmente também serve como reserva para viagens futuras.


DURANTE:

201607

• Pague o que puder em cash
Pague tudo que puder em dinheiro, e deixe os gastos no cartão de crédito apenas para emergências. Lembre-se, o custo de 0,38% de IOF sempre é melhor que os juros de 6,38% de qualquer cartão de crédito. E mais, você nunca saberá quanto estará custando o dólar quando a fatura do seu cartão fechar. Uma fatura que você pensou que sairia por R$1000,00 pode facilmente se transformar numa de R$3000,00 num piscar de olhos. Tome cuidado!

201608

• Alugue um apartamento ou casa
Se você vai ficar um período considerável em apenas um local, vale a pena alugar um apartamento ou casa que oferecerá o mesmo nível de conforto e localização que um hotel, saindo mais barato. Sites como o Airbnb, Tripadvisor e Booking tem várias opções de imóveis. Mas não se esqueça de pesquisar bem sobre o imóvel e cheque todas as informações relevantes com o proprietário para não ter surpresas.

201609

• Livre-se de preconceitos, e hopede-se num hostel
Os hostels são bem mais baratos que qualquer outra opção de hospedagem. Se engana quem pensa que são opções ruins. Muitos hostels tem qualidade similar a hotéis econômicos, e oferecem cafés da manhã fartos e com muita qualidade. O site Hostel Wold apresenta um vasto portifólio de Hostels do mundo e as avaliações das pessoas que já se hospedaram. Para deixar tudo mais seguro, é possível também reservar pelo site.

Em Londres, por exemplo, três diárias em fevereiro custam R$437,55 no Generator Hostel contra R$664,00 no Gresham Hotel Bloomsbury, ambos com a mesma qualidade e ótima localização.

201610

• Coma produtos de supermercado
Supermercados tem uma infinidade de produtos deliciosos, e podem substituir uma refeição rápida. Não é preciso abrir mão de restaurantes, claro, mas um piquenique no parque vai bem em qualquer viagem!

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• Evite utilizar o serviço de Roaming Internacional
As tarifas de roaming Internacional das operadoras são abusivas. Para não ter surpresas na volta, compre um chip pré-pago local e recarregue de acordo com a demanda. Se quiser economizar ainda mais, dispense o chip e aproveite todos os pontos de wi-fi possíveis, que hoje estão em todos os lugares.

201611

• Fique mais tempo em menos destinos
Translados, ônibus e aviões podem encarecer sua viagem e tomam um tempo precioso. Procure programar seu roteiro para passar mais dias em cidades maiores, e programe viagens menores de um dia para locais próximos.

201612

• Compre Passes Turismo para o transporte público
Muitas cidades do mundo oferecem bilhetes especiais para turistas. São várias opções de passes especiais que valem muito mais a pena do que os individuais. Para não fazer feio nem levar gato por lebre, pesquise antes como funciona o sistema de trasporte do destino que você visitará.

201613

• GPS Grátis
Você sabia que o Google Maps liberou a navegação para uso offline? Antes de viajar baixe os mapas dos destinos e economize o 3G.


BÔNUS: OS BARATOS DO MOMENTO

Montevidéu, no Uruguai
Para quem gosta de história, arquitetura e belas paisagens a capital Uruguaia é uma excelente opção. Dá para visitar muita coisa sem pagar nada por isso. Nos restaurantes, pagando contas com cartão de crédito, você se isenta de um imposto de 18,5%, uma bela economia, hein?
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$900,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$55,00 por diária (média)

Santiago, no Chile
Viajar pela América do Sul ainda é a opção mais barata entre os destinos internacionais. Economizando na passagem, dá para aproveitar sem culpa os passeios para o Vale Nevado e a Vinícola Concha Y Toro que custam em torno de R$150,00. Comer por lá também é uma pechincha, o jantar completo – com vinho -, sai por R$35,00.
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$910,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$75,00 por diária (média)

Bali, na Indonésia
Apesar do preço da passagem ser um pouco salgado, todo o custo adicional em Bali compensa. As maravilhosas praias e paisagens são atrações turísticas imperdíveis e gratuitas. Tem coisa melhor?
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$4.000,00 (média)
Hospedagem em Hotel 5 estrelas: R$130,00 por diária (média)

Istambul, na Turquia
Quer visitar dois continentes ao mesmo tempo numa só viagem? Seu destino é Istambul, a única cidade no mundo dividida entre a Europa e a Ásia. Já pensou a mistura interessante que a mistura entre oriente e ocidente dá? História e modernidade se colidem a todo tempo.
Apesar da passagem também ser mais cara, tudo por lá vale a pena, desde jantares que custam menos de R$25,00 a atrações turísticas que não passam dos R$30,00.
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$3100,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$30,00 por diária (média)


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Faniquito

Eu, viajante

23 de fevereiro de 2016

Eu nunca pensei que seria uma daquelas pessoas que se programa todo ano pra viajar. Há 8 anos, quando fizemos nossa primeira viagem, a coisa toda aconteceu de uma forma tão impulsiva, que não foram poucas as vezes que me desentendi com a Dé durante aqueles oito dias: pouco dinheiro, medo de improvisar, insegurança por estar num lugar totalmente desconhecido eram algumas das coisas que me faziam temer mais do que aproveitar aqueles primeiros momentos. Aos poucos, fui me acostumando àquele cenário, e a coisa toda acabou fluindo de uma maneira um pouco melhor. Mas não foi fácil.

Por isso mesmo, entendo as pessoas que resistem a sair da concha. A gente vive ouvindo sobre a tal “zona de conforto”, e o quanto ela acaba “nos protegendo” de tudo aquilo que não conhecemos. É um jeito de enxergar a vida, sem dúvida: no quentinho e fofinho, tudo parece maravilhoso e sob controle. Durante a maior parte da minha vida, era essa a minha cabeça. E da mesma forma, quando ouvia que fulano ia pra não sei onde, tudo aquilo me parecia trabalhoso demais, caro demais, difícil demais pra valer tamanho investimento. Estava enxergando o mundo lá de dentro da minha concha, onde a gente vê as coisas pela perspectiva de um olho mágico, com travas na porta e chave girada. É mais seguro acompanhar a vida daqui, de dentro da redoma.

A gente acaba se boicotando. Encontrando “prioridades mais prioritárias”, e algumas desculpas que reprimem nossas vontades. Claro que custa dinheiro – tudo na vida custa. Dinheiro é necessário. A diferença é o que você faz com o que ganha. Quanto tempo você pretende economizar, de quanto precisa, no que de fato quer gastar, e se viajar for uma opção válida e forte, pra onde quer ir. Pode demorar pouco, pode levar uns dois ou três anos. Se é longe, precisa de tempo, e se você não tem tempo, precisa dar um jeito de conseguir compensar esses intervalos de uma maneira produtiva, pra que a viagem não seja um parênteses, e sim parte da sua vida. A ideia central é: incorporar esse planejamento e todas as suas variáveis ao seu dia-a-dia, de forma que pensar a viagem não seja um ato de desespero, com pouco menos de um mês pra tirar férias, e sim uma ação contínua e abrangente.

Mas como sair de dentro da concha, e incorporar essa rotina?

Planejar. Sempre.

Planejar. Sempre.

Planejar uma viagem é pensar em vontades, escancarar desejos e tentar concretizar alguns sonhos. Tudo isso leva em consideração esse contexto complexo, de distâncias, valores, tempo hábil, deslocamento e diferenças. Transformar dificuldade em ânimo é o primeiro e mais difícil passo. Parece tão difícil quanto dar entrada num carro, num apartamento, comprar um sofá, criar um filho. A gente se sente incapaz até começar a fazer – seja voluntariamente, ou por necessidade. E sim: viajar torna-se uma necessidade quando você começa. Ver novas cores, jogar do imaginário pra memória, ou mesmo experimentar as transformações inevitáveis que uma experiência dessas sempre (e repito: SEMPRE) proporciona são algumas das razões que levam a gente a todo ano repetir esse ciclo, de uma forma tão natural que nem percebemos mais quando começa e quando termina um desses projetos.

Mesmo em um contexto econômico tão adverso quanto o atual, projetos são projetos: existem opções, que às vezes não são tão óbvias, e as vontades, bem… essas nunca mudam. Nossa função é sempre ajudar, incentivar, não deixar a bola cair. Talvez pelo fato de nossa primeira viagem ter sido feita da forma mais absurda possível – ambos desempregados e sem renda alternativa, demorando a entender caro e barato num país diferente, e sem saber sobre como seria o dia seguinte – que a gente assimile as dificuldades como sendo um terreno comum, ao qual qualquer ser humano está sujeito. Na adversidade, aprendemos mais em oito dias do que em meses e meses de namoro. Amadurecemos. Conhecemos coisas novas. Outras opções. Colecionamos momentos, que até hoje têm cheiro de novo. Voltamos felizes – e obviamente, preocupados, mas corremos atrás e ajeitamos as coisas até a viagem seguinte, que teve outros problemas, e mais uma tonelada de ensinamentos, soluções e memórias.

Viajar é um ciclo de recompensas. Seria fácil cair no lugar comum e citar que “dinheiro em viagem não é gasto, mas investido”. Soa babaca quando nosso bolso está vazio, mas aprendemos a dar nossos pulos mesmo com pouco ou quase nada na carteira. Então sim, é um constante investimento viver e proporcionar a outras pessoas esse tipo de sensação. É o que a gente leva adiante, e que nenhum momento de dificuldade é capaz de arrancar de dentro da gente. Sua cabeça muda, você evolui como ser humano e cidadão, além de entender de uma forma muito mais clara sua importância pro mundo e pras pessoas. Viajar é foda. Não existe hora boa ou ruim pra isso: existe sim o planejamento adequado à situação e suas necessidades.

É nossa prioridade – tão inabalável quanto qualquer vontade sincera. Como, quando e onde cuidar dela, depende de você. Quanto a nós dois, um novo planejamento está em andamento, e quem sabe logo mais ele venha parar aqui. Até lá, pense bem o quão gostosa é essa concha, e se essa coceirinha aí não é vontade de dar uma volta pelo resto do oceano…

Brasil, Em duas rodas

Bicicleta na estrada: de Mogi a Guararema

11 de fevereiro de 2016

Era sábado à tarde quando a Gica nos ligou, convidando para um passeio de bicicleta “de verdade”. Nossos já estabelecidos 12 quilômetros aos finais de semana aqui na vizinhança dariam lugar a corajosos 52, em terrenos nunca antes desbravados. Nossas bicicletas ainda estavam virgens de quase tudo, limpinhas da Silva e totalmente delicadas.

– Jinhu, você sabe que eu adoro me f**der.

Com essa singela frase que a Dé me convidou ao desafio. Eu, de maneira muito parceira e temerosa, aceitei.

No dia seguinte, saímos de casa por volta das 9h30. Percorremos os 6 primeiros quilômetros da ciclovia da Avenida Eliseu de Almeida. Um trecho de duas ou três quadras estava interditado para o desfile de Carnaval que aconteceria à noite, então seguimos cuidadosamente pela rua e calçadas até retomar a ciclovia, em direção ao metrô Butantã. Chegando lá, nova estreia, descendo as escadas com as meninas debaixo do braço, e agradecendo aos céus por termos comprado quadros de alumínio – que sim, são mais caros, mas que valem cada centavo investido na hora do levantamento de peso.

Seguimos do Butantã à República, onde encontramos Gica e André – os responsáveis pelo passeio (e por nossas bicicletas, como já contamos em outro texto). Mudamos da linha amarela para a vermelha, e seguimos a travessia pela cidade, indo de metrô até o Brás, e de trem dali em diante – do Brás até Guaianazes, fazendo nova baldeação e seguindo até Estudantes, em Mogi das Cruzes.

Suas definições de "atravessar a cidade" foram atualizadas.

Suas definições de “atravessar a cidade” foram atualizadas.

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô...

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô…

...e seguiu de trem.

…e seguiu de trem.

Lá, encontramos o Alex e a Su, que completaram o nosso grupo. Estávamos prontos pra seguir – enfim, de bicicleta. Capacetes e luvas seriam usados pela primeira vez. Estávamos ansiosos. Filtro solar distribuído e um breve lanchinho, começamos nossa pedalada.

Hora de pedalar pra valer :)

Hora de pedalar pra valer 🙂

Um primeiro trecho ainda pela cidade, e algumas mudanças já se fizeram necessárias: nossos bancos estavam baixos demais, e as pernas (ou melhor, as coxas) acusaram isso na primeira tentativa de acompanhar o grupo. Ajustamos, e agora confortáveis, seguimos viagem. O trecho urbano deu lugar a uma estradinha com quase nenhum movimento. Encarávamos nossos primeiros trechos de descida, e principalmente de subida. Com a ajuda da Gica e do André, fomos descobrindo aos poucos qual a relação de marchas usar em qual trecho, e nesse passo-a-passo fomos adquirindo a confiança que até então não tínhamos. Não havia pressa, e isso ajudou muito para que o casal de novatos não desse vexame ou fizesse feio.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Do asfalto ao paralelepípedo, os primeiros trechos em subida que de fato utilizamos o que havíamos aprendido. Mesmo com pouca inclinação, aquele obstáculo – que até o início do dia era intransponível – ficou pra trás. A sensação de vitória é deliciosa, e íamos encontrando nosso ritmo. Pouco depois chegávamos à Estação de Sabaúna, onde demos um tempinho pra reabastecer numa barraquinha de caldo de cana. O calor maltratava, mas o vento na cara, o bom humor da galera e nossas garrafas d’água compensavam. O cansaço, surpreendentemente, era bem menor do que esperávamos. Seguimos adiante.

Na Estação de Sabaúna...

Na Estação de Sabaúna…

...uma pausa pro "caldicana".

…uma pausa pro “caldicana”.

Pouco depois, entrávamos num extenso trecho de terra. Pra minha alegria, a Dé – que não tinha experiência alguma nesse tipo de terreno – passeou tranquilamente junto ao grupo. Tanto ela como eu ainda tínhamos alguma dificuldade com a nova posição de nossos bancos, a ponto de perdermos o equilíbrio em algumas paradas pelo caminho. Cada pessoa do grupo tinha seu ritmo, mas todos fizemos questão de estar sempre juntos – fosse avisando sobre algum carro que se aproximava, dividindo água, ou falando besteira. O passeio era ótimo, e já valia mesmo sem termos chegado ao destino.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Mas chegamos.

A Vila Estação Luis Carlos é uma área recém-restaurada pela prefeitura de Guararema, e que esteve abandonada até 2010. Hoje, além de abrigar restaurantes, bares, comércio e algumas poucas residências, a vila serve de ponto para o Passeio Turístico Estação Guararema – Estação Luís Carlos, que é realizado com a locomotiva Maria-Fumaça 353. A primeira impressão que tivemos ao chegar foi de que aquele lugar era cenográfico, tal a intensidade das cores da pequena vila – que foi entregue restaurada há apenas 4 anos – e sua cara de coisa nova, mesmo com detalhes arquitetônicos tão tradicionais. Uma rua reta, uma praça, um calçadão onde estavam estacionados trocentos carros, e pouco adiante, a locomotiva. Mesmo minúscula, ficamos surpresos com o charme e a beleza do lugar, do qual até então sequer havíamos ouvido falar.

Descemos das bicicletas, e chegamos...

Descemos das bicicletas, e chegamos…

...à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica...

…à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica…

...com suas casinhas coloridas...

…com suas casinhas coloridas…

...e essa combinação inacreditável de "igrejinha azul mais Brasília amarela".

…e essa combinação inacreditável de “igrejinha azul mais Brasília amarela”.

Um final de tarde colorido :)

Um final de tarde colorido 🙂

Cansados e felizes, nos instalamos em um dos bares para aproveitar um pouco da vila. Eu e a Dé estávamos realizados – não havia um mês que tínhamos feito nosso primeiro passeio com nossas próprias bicicletas, e conseguimos superar 20 quilômetros de um trecho nada semelhante à habitual ciclovia. Passava das 17h quando pedimos alguns petiscos e bebidas. Ficamos de bobeira por lá por mais ou menos hora e pouco, ouvindo um grupo animado de violeiros e observando aquele inesperado vai-e-vem num lugar tão pequeno. Reabastecemos nossas garrafas, tiramos várias fotos, tomamos coragem e começamos o caminho de volta.

Já familiarizados com o terreno, a insegurança foi dando lugar ao cansaço. O sol aos poucos ia sumindo, e temíamos pela pedalada à noite, o que acabou acontecendo principalmente pela minha queda de rendimento. Mesmo com pouca luz, a volta foi bastante segura (pelas lanternas das bicicletas, que foram utilizadas também pela primeira vez), e por não demorarmos a chegar no trecho urbano. A chegada à Estação de Estudantes, em Mogi, foi totalmente redentora pra gente.

Um pouco mais de terra na hora de voltar...

Um pouco mais de terra na hora de voltar…

...algumas descidas redentoras...

…algumas descidas redentoras…

...e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

…e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

Não imaginávamos que algum dia faríamos parte de um grupo disposto a fazer um passeio desse tipo. Não nos imaginávamos capazes de saltar de 12 para 52 quilômetros nesse tipo de teste físico. Mas deu certo. Deu tudo muito certo. E mesmo com a (inevitável) posterior dor na bunda, do cansaço no dia seguinte, foi muito gostoso. Uma experiência totalmente diferente de um passeio de carro, trem ou ônibus. O contato com a natureza, um grupo de gente do bem, um trajeto bonito e esse lado lúdico que a bicicleta traz formam um conjunto que periga viciar.

Agora é fato: temos mesmo um novo faniquito adquirido 🙂

Brasil

Das nuvens

26 de janeiro de 2016

Por Carol Andrade


“Marquei seu salto pra 10:30 com o Lu”

O whatsapp me entregava essa mensagem da Alice quando eu já estava na Casa do Alemão com Débora tomando café, a caminho de Resende. Tinha acordado com medo: eita caramba, é hoje que eu vou saltar de paraquedas.

Nunca tive essa vontade antes, a ideia de pular de um avião no ar e apreciar o caminho vertical para o chão não me apetecia – até que, quando fui a Penedo na semana retrasada, essa ideia surgiu em forma de desejo, desejo-quase-necessidade.

Estava precisando sentir algo que me sacodisse de uma forma diferente de todas as minhas referências e nada melhor do que conversar com o Sombra, amigo querido e marido de Alice, uma das primeiras amigas da minha vida. Com anos de estrada e forte reconhecimento no paraquedismo, esse cara que já dobrou paraquedas do príncipe de Dubai por alguns anos, precisou ouvir todos os tipos de pergunta: as pessoas se mijam? Pode ter crise de pânico lá em cima? Tem algo que eu precise fazer para que a coisa dê certo? Eu que abro o paraquedas? Ele vai abrir?

Pasmem, mas ele respondeu a todas essas perguntas, ao longo de uma semana, entre um cigarro e um café, entre uma cerveja e um bolo de cenoura na enchente. Alice e Angela (mãe da Alice, professora querida e ex-colega de trabalho – vejam como essa família é um poço de referências de carinho na minha vida) empolgadíssimas com meus planos, davam força para que eu não desistisse.

Eu esperei o sábado e o sol, mas o segundo resolveu que daria lugar a nuvens carregadas e chuva contínua. Voltei para o Rio frustrada, mas na promessa de voltar, assim que o astro rei permitisse que eu passeasse no céu.

Enfim, essa semana, lá estava ele, nos devolvendo um pouco do calor infernal e dando dias mais bonitos.

“Alice, como está o tempo aí?”

“Está lindo.”

Eu entendi que era a hora.

Débora topou o passeio, vai que também decidia saltar…

Sete da manhã, pontualíssima, minha amiga há tantos anos passou para me buscar e fomos rumo a algo que eu não fazia ideia do que esperar. Ao longo do caminho ela me tranquilizou: eu não era obrigada a saltar, se chegasse lá e desse medo. Eu pensei que isso não poderia acontecer. E ainda bem que não aconteceu.

Após uma leve perdida na cidade, chegamos ao Aeroporto de Resende, Hangar 4. Alice era so sorriso. Débora registrava meus passos importantes com sua câmera. Eu estava na sétima decolagem. Macacão azul, por favor. Rosa não. Assina o termo. Débora, vou ler essa porra não, vou só preencher e assinar, fotografa pra eu ler depois em casa. Instruções do Luciano, simulando a saída do avião e a postura da queda. No carrinho do galpão e no skate, tudo parecia tranquilo. Prende o macaquinho no macacão. Vai ficar apertado, mas se incomodar avisa. Você segura aqui, abre o braço quando eu avisar. Cuidado com a cabeça, ao embarcar no avião. Vamos lá?

De repente eu estava num campo, concentrada com alguns caras de macacão, exceto um, de bermuda e camiseta que parecia bem tranquilo. O responsável pela filmagem externa me avisou: no ar, pode ser que eu segure a sua mão. Deixe apenas estendida, mas não segure a minha, ok? Ok. O instrutor disse que tudo o que eu precisava fazer era sorrir, ação que parecia impossível quando o avião chegou. Todos subiram, eu fui por último (mal sabia eu que essa ordem significava ser eu a primeira a saltar).

E aí começou.

O avião começa a andar com a porta aberta e de repente ele sobe e tudo vai diminuindo de tamanho do lado de fora, enquanto do lado de dentro, a sensação é de que há algo que não caberá mais em mim. “Não tem mais volta!”, brincou o instrutor. Mal sabia ele que essa irreversibilidade existia desde a semana que passei em Penedo.

Em poucos segundos, eu estava presa ao instrutor pela estrutura do macaquinho e em menos segundos ainda, o avião fez a reta do salto. Um alarme tocou e o avião diminuiu a velocidade. Chegou a hora, me pareceu. Abriram a porta do avião. Eu só conseguia dizer “Caralho”. Eu ia cair no google maps visualização satélite, aqueles pequenos quadrados que são o chão, aquele barulho ensurdecedor do avião, do céu, da minha cabeça, o frio na barriga, o instrutor me posicionando na porta do avião, os outros paraquedistas sorrindo, se despedindo, dando boa sorte, eu sentei com os pés para fora do avião e caralho eu to com os pés pra fora do avião, a janela que eu tanto gosto de olhar nas viagens não era mais uma janela; era o lugar onde eu estava com o corpo, eu ia cair ali, no céu, na cidade de Resende e tudo isso deve ter durado um segundo ou menos e de repente eu estava caindo e um medo absurdo apareceu e sumiu, pois magicamente eu entendi que não tinha dado merda. Tudo estava sob controle. E eu abri os olhos.

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Não sei dizer o que eu senti exatamente, eu olhava em volta e só conseguia chorar, a emoção era física e tudo o que eu queria era olhar o máximo possível, olhar para cima, olhar para baixo, registrar todas as sensações de se estar no céu. O paraquedas abriu e a coisa só ficou mais suave. Era voar de avião sem avião, era olhar tudo muito pequeno lá embaixo, sentir o corpo navegar sem chão. Não conseguia gritar urru, nem dizer o quão incrível aquilo estava sendo. Era tudo inacreditável. Não tinha angústia, não tinha tristeza, não tinha medo, não tinha fracasso, não tinha dúvidas. Todos os meus canais de perceber o mundo foram tomados por aquele momento de estar ali, depois de ter saído de um avião no ar. Pensei que meditar deve ser isso, estar consciente de uma presença grande, uma plenitude de aqui-agora, de infinito.

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Chegar no chão foi divertidíssimo – segui as instruções do Luciano e tudo acabou com um tobogã na grama com o paraquedas caindo atrás da gente. A primeira pessoa que eu vi foi Alice, feliz demais correndo em minha direção de braços abertos. Que inacreditável.

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Ao longo do dia eu fiquei tomada por um estado zen de espírito, uma tranquilidade, um sorriso calmo. Na cabeça, somente aquela imagem google maps visualização satélite, aqueles quadradinhos que tomavam forma de casas, de cidade, de pessoas jogando futebol, aquele gelado no corpo de saltar de um avião a 4 km do chão, aquele choro descarreguento, aquela emoção da ilusão de voar. Aquele carinho das amigas que estavam ali comigo, do Sombra que não estava lá, mas garantiu que estará na próxima – a próxima que eu espero acontecer o quanto antes.

Que bem maravilhoso que toda essa conjuntura me permitiu.

Voemos.


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Argentina, Causos

Chillhouse/Chill out

21 de janeiro de 2016

É um texto rápido esse, pra data não passar em branco. Rápido como nossa passagem no Chillhouse – que serve de gancho pra contar um causo.

Há 3 anos (e um dia) a gente desembarcava na Argentina pela segunda vez, naquela que seria nossa viagem pela Patagônia. Uma viagem planejada durante um mês, em caráter de improviso (e com uma boa dose de mau humor no início, uma vez que nosso destino planejado era pra cima, e não pra baixo do continente). Porém, antes de chegarmos à região patagônica, passaríamos um dia em Buenos Aires.

Por ser uma pausa rápida, topamos um albergue com quarto compartilhado. Fizemos a reserva no Chillhouse, que vinha muito bem recomendado em nossas pesquisas. Porém, assim que chegamos, fomos surpreendidos com uma reserva equivocada, que nos colocou em quartos coletivos SEPARADOS. Não sei mensurar o grau do meu emputecimento, já imaginando que uma “viagem de improviso” que começava daquele jeito podia desandar pra coisa muito pior. Em situação bizarra, nos separamos, e eu dividi o quarto com mais uma menina e três caras (sendo que um deles, OBVIAMENTE, roncava mais que uma motoserra. Amaldiçoava cada segundo naquele lugar até a manhã seguinte, quando pegamos nossas coisas e seguimos viagem.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Mesmo com esse início tétrico, a viagem foi incrível.

Voltaríamos pro Chillhouse ao final da viagem, e eu imaginava uma nova sessão de terror caso fizessem uma nova cagada com nossas reservas. Porém, a Dé havia se precavido, e pela primeira vez teríamos em um albergue um quarto exclusivo, em nossas (até então) quatro viagens acumuladas. Contra toda a desconfiança acumulada, recebemos uma suíte necessária e providencial após dias extremamente cansativos: ventilador, televisão, e um banheiro no quarto que tinha até banheira. Foi a analogia perfeita com o início e fim do planejamento daquela viagem: começou nas trevas, terminou no céu.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

É bom saber que a noite de 20 de janeiro de 2013 não deu o tom de uma viagem tão urgentemente planejada. Bom saber que a gente às vezes se engana nas primeiras impressões sobre determinadas coisas ou lugares. E bom saber que depois de três anos, dá pra gente comemorar uma data que hoje é tão importante na nossa vida, mesmo que naquela noite tenha sido vivida em camas separadas, e com companhias bizarras.

Afinal, ronco bom é aquele que a gente CONCORDA em dividir 😉

Causos, Fofuras

Do amor e tantos Bowies

13 de janeiro de 2016

Por Beta Clapp


Esse é um relato sobre o amor. Daqueles amores que a gente sente instantaneamente quando para pra observar de um jeito mais atento. Quando desacostuma o olhar. Do amor e outras sensações que vem dele, das que não são descritas em palavras, por mais que a gente tente. Ta aí a minha tentativa de começar a falar do meu amor por São Paulo, pelo Masili e pela Dé, pela Isabella e pelo Bowie. E não reparem: amor e amar serão repetidos várias vezes por aqui.

Em janeiro de 2014, recebi o convite pro aniversário do Masili. Eu no RJ, ele em SP. Eu, que já amo SP, tinha mais um motivo pra encher a mochila e partir. Claro que eu não ia confirmar o evento e avisar pra ele que eu ia na comemoração: a ideia era brotar lá de surpresa e causar uma comoção mesmo. Foi aí que eu comecei a angariar as minhas parceiras no crime – Isabella (que na época nem conhecia o Masili) e Carol toparam a surpresa, e a Dé foi a aliada primordial no plano de causar um faniquito no moço.

O aniversário do Marcelo era na sexta, o bar estava marcado pra sábado. Mas quem vai pra SP na sexta podendo ir na quarta? Eu e Isabella estávamos com a agenda tranquila e decidimos chegar antes pra poder aproveitar essa cidade tão querida. Passagens compradas, hostel reservado, comecei a planejar o tour dos dias que viriam.

Uma pequena pausa pra falar sobre Isabella. Isabella é um amor que é. Não dá pra ir além disso. Isabella vive pensando nos outros. Eu vivo pensando em Isabella e em Isabella pensar nela. Essa viagem era pra mim, pra Marcelo e pra Isabella. Apesar de ela já ter ido pra SP, eu queria mostrar pra ela a cidade que eu amava. E na busca pela programação da viagem eu descobri que na sexta-feira, a mesma do aniversário do Masili, o Museu da Imagem e do Som (MIS) ia inaugurar uma exposição sobre David Bowie, um dos grandes amores de Isabella. A exposição tinha sido montada originalmente no Victoria and Albert Musem em Londres entre março e agosto de 2013 e tava indo pro MIS.

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Toda vez que Isabella falava do Bowie, os olhos brilhavam e ela abria um sorriso. A minha reação era sempre a mesma – eu (dizia que) não conhecia Bowie.

Então eu descobri a exposição e queria fazer a segunda surpresa da viagem, agora pra Isabella. Entrei no site e vi que dava pra comprar as entradas antes, o ingresso que era R$5 ia pra R$25, mas mesmo assim eu estava decidida a garantir a nossa ida na estreia. Mandei e-mail pro hostel pra ver se alguém podia me dar um help e comprar pra gente, a fim de evitar o prejuízo. No final das contas, não dava pra comprar antecipado no MIS, o site não funcionava e eu corri o risco de comprar no dia. Mandei pra ela a programação que tinha pensado e tinha um buraco na sexta de manhã. Era segredo.

Chegamos em SP na quarta-feira muito cedo, largamos as coisas no hostel e fomos pra rua. O dia terminou com uma chegada milimetricamente arquitetada por mim e pela Dé, na qual passamos pela portaria do prédio deles sem tocar o interfone e quase matei o Masili do coração quando ele abriu a porta e ta-dá!, estávamos lá.

Passei quarta e quinta andando com Isabella pela cidade. Sempre ficava tensa quando pegávamos o metrô: aquelas telinhas cheias de propaganda ficavam sugerindo eventos pela cidade e eu ficava sempre desviando a atenção dela, com medo de aparecer alguma coisa sobre a exposição. Consegui.

Sexta de manhã chegou. Eu estava mega ansiosa. A primeira surpresa tinha sido sucesso, a segunda ia rolar, eu tinha fé. Mal podia esperar pela reação dela. E mais uma pausa pra falar de Isabella. Isabella, que pensa muito pouco nela, estava sendo livre. Isabella estava sendo ela, fazendo o que queria, sem pressa, sem estado de alerta, sem preocupações constantes. O faniquito.

Pegamos um ônibus e fomos. Quando chegamos lá nos deparamos com um cartaz gigante e esse container aí de baixo. Os olhos de Isabella brilharam mais do que todas as vezes que ela falou do Bowie, encheram d’água e o sorriso não fechava nunca. Parecia que a gente ia entrar e dar de cara com o próprio Bowie. Não consegui um registro desse momento, mas tem esse aí que foi posterior à chegada.

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Ficamos um tempinho do lado de fora, a exposição abria às 11h. Eu achando que ia estar lotado e nada, muito longe disso. Rolou uma filinha com algumas pessoas, compramos nossos ingressos e entramos. Deixamos a bolsa num armário (felizmente era proibido fotografar, acho isso sempre um alívio) e antes de entrar pegamos um fone com um aparelho do tamanho de um radinho de pilha que deveria ficar pendurado no pescoço. No fone rolava o que até então eu achava era tão só uma trilha sonora pra curtir a exposição.

Passamos por um corredor escuro, com umas luzes azuis pelo caminho e a primeira sala era dedicada a nada menos que Space Oddity. Logo na abertura um cartaz contava a história da composição da música. Pra definir o nome, Bowie procurou Stanley Kubrick, e na minha cabeça foi algo do tipo: oi, Kubrick, beleza?, aqui é o Bowie, eu fiz uma música nova e queria saber se rola de fazer um jogo de palavras com Space Odyssey”. Isso foi sensacional demais pra mim.

Essa primeira sala era bem pequena, eu ainda estava tentando entender como aquilo ali rolava no mundo e eu não sabia. Fui acompanhando a sequência, rascunhos, matérias de jornal, cifras, e, de repente, quando virei, dei de cara com uma televisãozinha antiga que passava isso aqui:

Foi, então, que tudo fez sentido: o fone estava perfeitamente sincronizado com a TV e eu fiquei uns 15 minutos vendo o clipe se repetir. E, assim, eu me apaixonei.

Passamos mais de duas horas lá dentro. A cada passo que eu dava era um mundo que se abria. Eu não conseguia imaginar a possibilidade de fazer tantas coisas incríveis em uma única vida, de ter aquela capacidade de me reinventar, de me desorganizar e de expandir. E aos poucos eu fui percebendo que, sim, eu conhecia Bowie. Eu conhecia e sabia várias das coisas que vi lá dentro, as roupas, os filmes, as músicas. E mais do que o que era concreto, eu de alguma forma me reconhecia ali. Eu queria ser e era, em alguma molécula do meu corpo, um pouco de Bowie. Porque Bowie não era ele, era tudo, era todos e não era coisa alguma. David Jones. David Bowie. Ziggy. E por aí vai.


(esse vídeo também rolou numa televisãozinha e mais uns 15 minutos se foram no repeat)

Chegamos ao final. Uma sala enorme, escura, redonda, com um pé direito altíssimo e vários manequins vestidos com roupas dele. Toda a sala era feita de telões que passavam imagens de shows. Não um show, mas alguns. Às vezes dois, às vezes três. E por conta do radinho mágico, dependendo do lugar onde você estava na sala, o som ia mudando.

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A minha primeira reação foi ficar girando no mesmo lugar pra ouvir tudo e olhar pra tudo. Foi quando eu parei, olhei pros lados e vi: as várias pessoas que estavam na sala naquele momento experimentavam cada uma o seu show particular, escolhiam pra qual tela olhar, mas todas, sem exceção, estavam emocionadas. Eu me sentei no chão de carpete, encostada num canto e chorei. Quietinha, no meu canto, eu chorei um bocado. Eu não conseguia entender o que acontecia, mas acontecia e era incrível, era lindo e era totalmente inexplicável. E foi, assim, que o amor chegou. A paixão era evidente, mas sim, eu amava Bowie, assim. Talvez porque isso seja mesmo o amor, uma coisa que apesar de poder ser recíproco, compartilhado ou não, no fundo você experimenta sempre sozinho. Tem a ver com o que te afeta, como te afeta e como você olha e esquece tudo ao redor. Nada importava naquela hora, então eu me entreguei. E como em todo amor, não dava vontade de partir.

Várias vezes eu me perdi da Isabella lá dentro e quando olhava pro lado ela ainda estava com a mesma cara de quando tinha chegado. A gente digeriu cada pedacinho daquilo tudo e tentou guardar o máximo que deu. No fundo eu acho que se alguém me pedir pra contar as coisas que aprendi sobre ele na exposição eu não vou saber dizer muita coisa. Porque não é por aí. E quem sabe valha a pena a gente pensar se a gente aprende alguma coisa efetivamente sobre quem se ama ou sobre o que se ama, porque eu acho que não. O amor é essa experimentação constante do que diz alguma coisa, do que brilha na e da gente. Porque, na verdade, afeto a gente não vê, não toca, não define. Os afetos estão por aí, pra serem vistos com o corpo, pra serem sentidos pela alma e a gente sabe que eles vem quando dá aquele vazio que vai crescendo lá dentro do estômago e sai pela boca iluminando tudo ao redor. Quando a gente experimenta o amor é lisergia pura.

Quando eu comecei a escrever esse texto, tinha pensado em pesquisar fotos, falar da exposição, tentar contar pra quem não pôde ir o que deu pra ver por lá. Mas não deu. Não dá. Como eu disse no começo, esse é um texto sobre o amor, e só quem vive um amor é capaz de enxergá-lo como ele se dá.

http://arte1.band.uol.com.br/homenagem-a-david-bowie/

A nossa viagem continuou linda. A comemoração do aniversário do Masili teve ainda mais uma surpresa, com a chegada da Carol.

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Eu voltei pro RJ no domingo e a primeira coisa que fiz foi baixar a discografia do Bowie. Na época, escolhi 4 discos pra ouvir: Heroes, The man who sold the world, The rise and fall of Ziggy Stardust and the spiders from Mars e, claro, Space Oddity. Os quatro estão no meu iPod até hoje – já são dois anos – e ainda não consegui parar de ouvi-los, nem achei que era a hora de passar pra outros. Depois disso comprei o meu primeiro vinil do Bowie, claro, Space Oddity. Depois que minha irmã se mudou e levou a vitrola, o disco passou um tempo na casa da Isabella, até que no meu aniversário do ano passado, Isabella, sendo Isabella, me devolveu o disco – com uma vitrola de presente.

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Mas antes disso, no natal de 2014, eu ganhei da minha irmã e de outra amiga um outro presente maravilhoso. Um livro lindo e sensacional da exposição, que eu nem sabia que existia. Pra quem quiser ver mais, tá aqui ó: http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/2215/David-Bowie-.aspx

Quando Bowie se foi no início dessa semana meu coração apertou, mas eu não chorei. Eu disse pra mim mesma que era uma bobagem, que não tinha porque. E aí hoje, eu decidi usar esse lugar tão querido que é o Faniquito pra fazer a minha despedida desse grande amor que se foi. Finalmente, eu chorei. Eu ainda tento entender porque a tristeza de vê-lo ir. Mas como é amor, não tem nenhuma explicação. Pelo que vi e ouvi de algumas pessoas, a conclusão que chegamos é de que talvez seja mesmo difícil entender que Bowie era tão mortal quanto a gente, e que pra ser mais de um, todos e nenhum é só a gente querer.

E, assim, eu me despeço desse texto tão querido e do Bowie, esse amor tão recente e tão arrebatador, como eu já disse em algum outro momento. Agradecendo a ele por ter sido todos eles e até o fim ter sido mais. E aos meus amigos que me ensinaram, como o Bowie: “I never thought I’d need so many people”. Amo vocês.


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