Arquivos do mês de

fevereiro 2015

Brasil

Chapado na chapada

26 de fevereiro de 2015

Por Flavio Pucci


Calma leitor, quem me conhece sabe que não sou adepto de coisas ilegais. Não fumo, não injeto, não cheiro…só bebo, e viajo. Viajo pra caralho. Numa dessas viagens, eu e minha (hoje) esposa pegamos 30 dias de férias e fomos de carro de São Paulo à Recife. Que viagem.

f_carlaflavio05

Tudo isso de Uninho – chupa Land Rover.

Poderia escrever aqui sobre a viagem toda, mas com certeza deixaria escapar detalhes importantes. Um texto é pouco. Prefiro então focar num bom capitulo dessa longa viagem, a Chapada Diamantina.

Chegando em Lençóis, não dávamos muito para a cidade, nem para o que nos aguardava por entre aquelas montanhas. Já na pousada, conhecemos o Alcino, um cara de papo manso e várias histórias sobre a cidade. Além de pousada, o lugar tem um atelier nos fundos com vários souvenirs legais para levar de recordação. Nada de brindes escritos “lembrança da Bahia” ou coisas do tipo. Compramos uns copinhos de cachaça feitos a mão, uma graça.

Todas as manhãs, o Alcino serve o melhor – não sei que nome dar pra isso, mas eles chamam de – café da manhã do mundo. Tem de tudo, é tudo fresco e tudo feito na hora. Se você perguntar sobre algum ingrediente, é capaz de ouvir toda a história da família do Alcino com pontos em comum com a história de Lençóis. Sentar para tomar um café da manhã ali, é sem dúvida uma viagem. E é tão “turístico” isso que você pode fazer mesmo sem estar hospedado na pousada.

Café da manhã na Estalagem e Atelier Alcino (foto da internet)

Café da manhã na Estalagem e Atelier Alcino (foto da internet)

Durante toda a viagem, eu e a Carla chegávamos nas cidades com aquele pé atrás de todo brasileiro. Desconfiando um pouco aqui, não acreditando um pouco acolá. Lençóis deu um tapa gigantesco na nossa cara. Ainda bem. Que cidade hospitaleira, que cidade foda. Puta merda.

Num restaurante argentino chamado El Jamiro*, conhecemos uma garçonete, a Ale, que foi nossa guia (até espiritual) e disse tudo o que tinha de melhor por ali. “não deixem de fazer o Vale do Pati”. Ela foi tão simpática que repetimos de restaurante no outro dia só para encontrá-la e ouvir mais um pouco da cidade. Ela tinha planos de abrir um café, o Café de Todos os Santos, espero que já esteja funcionando… e bombando. Lembro que naquela noite fomos dormir pensando em largar tudo e abrir qualquer coisa em Lençóis.

Carla em frente o El Jamiro, mal sabendo o que estava por vir...

Carla em frente o El Jamiro, mal sabendo o que estava por vir…

Vamos à Chapada, mais especificamente ao Vale do Pati. Os outros passeios são bons mas são um tanto quanto comerciais. Ficam próximos da cidade e não te dá aquela sensação de “faço parte dessa porra chamada natureza”. A maior verdade que encontrei revendo as fotos e até pensando sobre esse lugar é que: não existe texto nem foto que descreva essa porra. Posso te mostrar mil fotos, escrever mil textos e falar feito um idiota. Nada se compara a caminhar entre os vales, passar pelas montanhas e chegar num mirante, puta merda. Falta ar… e quando chegamos lá, tudo o que queremos é ficar ali, sentado, contemplando. Você fica, como diria Rubem Alves, estupidificado.

Nóis no mirante

Nóis no mirante

Ficamos 4 dias caminhando (uma média de uns 20km por dia), tomando água de rio, banho de cachoeira e conhecendo pessoas. No meio dessas andanças, conhecemos o Seu Nô, um senhor que nunca ouviu falar do Neymar. “E Messi, quem é? Conheço o Pelé, pode ser?” O Vale do Pati é um lugar ímpar. Lá, a casa que tem geladeira, não tem fogão e a casa que tem fogão, não tem geladeira. Mas todas têm muita história pra contar.

Casa do Seu Nô, onde ficamos hospedados duas noites.

Casa do Seu Nô, onde ficamos hospedados duas noites.

Esse passeio de 4 dias você pode fazer sozinho ou com um guia. Escolhemos a segunda opção por questões de “faltamos todas as aulas de geografia e não sabemos ler mapa nem bussola”. Ainda bem porque o nosso guia não poderia ser melhor, o Diógenes. Um figura, torcedor do Vitória, simples de tudo e que gostava de “meditar”. Vivia nos convidando para “meditar”. Fomos descobrir mais tarde que “meditar” era o mesmo que “fumar um”. Disse a ele que não curtia muito essas paradas e que, estando ali na Chapada, não precisava usar nada para se sentir chapado. #tudumpish.

Eu e o Diógenes, nosso guia.

Eu e o Diógenes, nosso guia.

Não acredito em destino mas (momento cliché do texto), esse tipo de viagem parece que vem com parte do roteiro pré determinado e uma pequena nota de rodapé: você só vai encontrar gente foda pelo caminho. E vai querer voltar, certeza. Seu puto.

A lembrança que temos da Chapada é que:
1) cansa pra caralho.
2) vale a pena pra caralho.


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Faniquito, Natureza

Natureza: o eterno fator surpresa

23 de fevereiro de 2015

Acho que a grande recompensa de qualquer coisa que a gente planeje minimamente é a correspondência às nossas expectativas. Buscar por algo e conseguir “chegar lá” te completa, e acaba te empurrando pra um novo desafio. É assim com a nossa vida amorosa, profissional e social. E funciona assim também quando estamos viajando. A expectativa pode jogar a favor ou contra, dependendo de como ela habita seus pensamentos e emoções.

Porém, existe um poder maior que sempre – e eu afirmo: SEMPRE – vai além: a natureza. E dela, por mais que se espere algo gigantesco por pura e evidente convenção, sempre vem um chorinho. Seja na estrutura, no clima, na geografia ou na combinação de todos esses fatores, a gente nunca sabe de que maneira será surpreendido. Imagens mentais costumam falhar miseravelmente a cada nova descoberta, o que é muito legal (nesses casos, sem masoquismo).

A gente não é capaz de imaginar essa quantidade gigante de cores num mesmo lugar.

A gente não é capaz de imaginar essa quantidade gigante de cores num mesmo lugar.

Ou ainda que uma paisagem possa parecer uma gigantesca e infinita folha em branco.

Ou ainda que uma paisagem possa parecer uma gigantesca e infinita folha em branco.

Nunca fui o entusiasta-mór desses destinos. Ainda hoje costumo misturar as vontades, buscando alguma cidade primeiro – e que de lá, de repente, se pintar algum lugar pra ver… mas confesso que a Dé é a voz da natureza aqui em casa. No final das contas, é só durante a viagem que eu acabo descobrindo esses destinos naturais – e eles acabam se destacando de tal forma que eu volto pra casa em estado de choque.

Esse fator surpresa é um sentimento que permeia todo e qualquer novo destino. É o que dá sentido a jogar-se no desconhecido, fazer com que a gente se disponha a passar certas dificuldades. Alguns lugares são absolutamente tranquilos e contemplativos; outros desafiam sua saúde, sua disposição e seus objetivos de uma forma implacável. E quando o assunto é enfrentar a natureza, a gente acaba aprendendo muito sobre juízo, e sobre nosso real lugar no mundo (e nosso tamanho ínfimo). Ficar perdido numa trilha, brincar à beira de um abismo, duvidar de certos obstáculos… bem, sua saúde mental pode dar claros avisos sobre o que aquilo é capaz de causar. Possivelmente é esse eterno conflito a minha pedra no caminho em buscar os desafios naturais por conta própria… mas não os recuso, quando eles chegam embrulhados num pacote, para serem abertos a quatro ou mais mãos.

Se sentir um nada, perto de um gigante de gelo do tamanho de uma cidade.

Se sentir um nada, perto de um gigante de gelo do tamanho de uma cidade.

Encontrar gelo, areia, terra, sol e água num mesmo lugar.

Encontrar gelo, areia, terra, sol e água num mesmo lugar.

Não há construção, monumento ou pintura que mexa mais com a gente do que um paredão de gelo azul, uma cachoeira gigante, um deserto branco ou um fim de tarde acima das nuvens. A gente leva um soco na cara quando o mundo – aquele mesmo lugar em que a gente se acostumou a viver todos os dias, e que tem sempre a mesma cara – te mostra a própria grandeza. E a gente apanha, com gosto, porque o danado é bonito demais, e nunca deixa de te surpreender – e corresponder. Não é nenhum demérito achar graça naquele céu que todo dia cobre a sua cabeça, mas que de repente parece estar mais bonito. Ou prestar atenção na grama. Ficar procurando formas engraçadas nas pedras, ou experimentar botar o pé naquela água gelada.

É o que as crianças fazem. E elas normalmente sabem como aproveitar o mundo.

Se cercar de água - esse elemento tão raro e valioso (sabemos bem disso, não?)...

Se cercar de água – esse elemento tão raro e valioso (sabemos bem disso, não?)…

...e entender a hora em que a natureza te fala "chega, vai pra casa tomar um banho e comer alguma coisa".

…e entender a hora em que a natureza te fala “Chega, vai pra casa tomar um banho e comer alguma coisa”.

É de encontro a ela que a gente também acaba confirmando algumas máximas: ela manda, a gente obedece – SIM; não somos donos do planeta, pois mal sabemos a quantidade de coisas que fazem parte dele, e compõem essa imensidão que uma vida não basta pra gente conhecer; e acima de tudo, o quanto a gente é responsável por cuidar bem da nossa casa. Onde quer que você vá, as instruções de “não leve uma pedrinha pra casa”, “não toque nessa parede”, “não mexa nessa coisinha” deixam claro o quanto a nossa passagem por aqui é rápida, e há quanto ela é de fato a responsável por manter a nossa vida vivível. A gente pode aprender um novo idioma, a comer coisas que não está acostumado, a mudar alguns hábitos, mas nenhuma lição é maior do que essa: admirar passivamente, e participar desse tipo de preservação é cuidar de sim mesmo. De quem você ama. De quem você não conhece. E mais do que isso: da nossa casa. De todos nós.

Fofuras, Perrengues

Perrengue não significa Fim

19 de fevereiro de 2015

Por Fernanda Seiffert


Enquanto viajante mais ou menos rodada (ui!), posso afirmar categoricamente que existem duas coisas que ficam pra sempre na lembrança de qualquer um: o perrengue e a fofura sem precedentes.

Graças a todas as forças boas do universo, tenho orgulho de dizer que já encarei os dois, sendo que, pra cada perrengue, encontrei uma fofura de intensidade, no mínimo, igual. Posso garantir, também, que ambos podem acontecer em qualquer parte do mundo, com qualquer viajante e qualquer povo do planeta.

É chegada a hora dos temidos perrengues, moçadinha!


1) Desci na parada errada do ônibus

Estava eu sozinha, com bagagem suficiente para passar um mês na Europa e era, apenas, minha terceira parada: Varsóvia. Ao contrário de Cracóvia, muito preparada para receber o turista de braços abertos, os poloneses da capital também se mostraram simpáticos e solícitos, mas não conheciam muitos idiomas além do polaco de raiz. Situação de muitos anos atrás, rezo para que seja situação mudada.

Em mal traçadas linhas, eu sabia que tinha de descer do ônibus que peguei no aeroporto em uma avenida cujo nome era muito semelhante ao meu esquisito sobrenome. Dei o sinal e desci. Claro, era a avenida errada. Não haveria problemas se estivesse com uma boa grana na carteira e fosse fluente em polonês. Certeza de que eu teria conseguido pegar um táxi e seguir, fina, até o hostel. No entanto, minha realidade era completamente oposta e o pobre conhecimento em inglês que eu carregava na mala parecia fluência absoluta perto do conhecimento dos meus primos. Sim, eles só falavam polonês. Não entendiam uma palavra em inglês. Embora a vontade fosse de sentar e chorar ao me ver perdida na capital do país dos meus bisavós, ergui meu mapa em punho e comecei a comparar as letrinhas de placas indecifráveis. Depois de caminhar duas horas, consegui chegar ao hostel.

Ali eu aprendia uma lição importante: não se deixe enganar pelos nomes parecidos. Quanto se está na Europa Oriental, a enormidade de nomes com CZK é absurda!

2) Reservei um hostel fantasma

Do alto de minha inocência em turismo, entrei num link que nem lembro qual era. Reservei um hostel que parecia bacana e… lá estava eu de malas em punho e em frente a uma enorme construção. Desci do táxi meio assustada e abordei uma mocinha simpaticíssima que passeava com seu poodle. Perguntei sobre o tal albergue que eu havia reservado e a resposta “nossa… nunca ouvi falar! E olha que moro ali naquele prédio há anos!”. O prédio dela era vizinho à obra onde eu deveria pernoitar. O táxi já tinha ido embora, era início de madrugada e eu estava perdida. Novamente, a vontade de chorar. Avistei um letreiro em neon e pensei “Obrigada, Senhor, aquilo é um hotel”. Não, não era. Deus estava rindo da minha cara ao mostrar o neon de uma funerária. Por um instante, o cansaço já era tão grande que eu cogitei, de verdade, a possibilidade de dormir em um caixão. Ou na escadaria da funerária. Onde fosse mais confortável e seguro.

Continuei a caminhar. Entrei em diversas lojinhas 24 horas que estavam a cada esquina e saía com a mesma resposta: não há hotéis. Até que veio a lojinha menorzinha, mais feia e mais suja em que um paquistanês apontou umas três ruelas à esquerda e disse que ali havia um bom hotel. Eu só enxergava escuridão. Ainda assim, confiei e fui. Achei uma portinha mequetrefe e nela entrei. Sim, era um hotel de verdade e aquela era a entrada de serviço. Era um hotel 4 estrelas, bem mais caro do que eu tinha planejado pagar, mas era o que tinha no momento. Quando entrei no quarto, uma cama king size que eu não alcançava pra sentar, de tão alta que era. Aproveitei, tomei distância, corri e saltei sobre a cama. Do jeito que caí, fiquei. Eu merecia aquela noite de sono.

Lição aprendida: desconfiar de preço muito baixo.

3) Chegar a uma micro-cidade sem reservar hotel

feperr01

Sempre invejei quem conseguia curtir uma viagem sem programar 100% o que faria, onde ficaria, etc. Apostei na vida loka e decidi que viajaria de uma micro-cidade a outra de trem e pegaria o primeiro hotel que aparecesse. Parece razoável quando se está nos Estados Unidos, no Brasil ou na Alemanha. Mas na Grécia… Não é. Joguei as minhas fichas na ideia básica de que sempre haverá hotéis no entorno de estações de trem, rodoviárias e aeroportos. Apostei e perdi. Peguei um ônibus na cidade de Delfos para depois pegar um trem por algumas horas para finalmente chegar em Kalambaka, cidade que dá acesso aos monastérios de Meteora. O ônibus que eu peguei teve problemas na estrada, o que atrasou a chegada à linha de trem. Ao chegar ao trem, uma manutenção na linha fez com que o trem não chegasse até Kalambaka. E todas informações soavam grego aos meus ouvidos (não só literalmente). Uma lotação levou todos nós, passageiros derrotados, ao destino final, fazendo com que uma viagem curta durasse mais de 9 horas de solavancos e remelexos. Olhei ao redor da estação de trem e… NADA. Não parecia nem haver vida. A regra dos hotéis no entorno falhou. Mais uma vez eu quis sentar e chorar. Depois de rodar a cidade inteira, encontrar um cassino clandestino, uns 14 bêbados, um Hotel 200 estrelas que eu não tinha dinheiro pra pagar, um ou outro transeunte, cheguei a um hotel acessível. Desta vez, eu não passei vontade. Eu chorei. Muito. De cansaço, de alívio por ter encontrado algo. E este é o link para a primeira fofura sem precedentes…

Lição aprendida: nem todas as regras se aplicam a todos os lugares do mundo.

E agora elas, as fofuras…

1) Reação inesperada

Ao me ver chorar sem parar enquanto tentava apenas dizer I’m so tired para a recepcionista, ela saiu no balcão e me abraçou pra dizer que estava tudo bem. Ela me disse que ali eu estava segura, que havia pessoas que me amavam e que um banho curaria minha dor. Surgiu um outro rapaz que carregou minha mochila e os dois me conduziram até o meu quarto. Tomei aquele banho maravilhoso e dormi o sono dos justos. No dia seguinte, de alma lavada, passei pela recepção e me deu um estalo. Eu não lembrava de ter feito check in. Fui conversar com a mesma moça que ainda estava lá. Ela confirmou que eu não havia feito mesmo o check in e explicou “você parecia tão cansada que o check in podia esperar”.

2) Ajuda do além

Estávamos viajando eu, minha mãe e duas malas grandes. Fomos do aeroporto ao hotel usando trem e metrô… no horário de rush. Ao chegarmos na estação em que deveríamos descer, desembarcamos com o mesmo fluxo de pessoas que faz a baldeação na Sé aqui em São Paulo. Eu tinha de carregar as duas malas e cuidar pra não perder minha mãe. Foi quando demos de cara com a escada… que não era rolante. Deixamos todo o povo passar, peguei uma mala, subi as escadas e, antes que pudesse voltar pra buscar a outra, passou um rapaz correndo, provavelmente atrasado, e pegou a mala da minha mãe. Ela quase gritou que estava sendo roubada! No entanto, ele pegou a mala, subiu as escadas correndo, deixou a mala perto de mim e balbuciou um discreto au revoir, sem que eu conseguisse enxergar seu rosto. Sim, ele percebeu a nossa dificuldade e ajudou apenas porque sim. Porque pareceu certo a ele. Num mundo em que estamos acostumados às pessoas pegarem nossas coisas para subtraí-las de nós, encontrar alguém que fez isso para nos ajudar chegou a assustar. Mas foi uma fofura e tanto.

3) Ensinando a rezar

Sempre passamos por situações que chegam a nos emocionar pela fofura, ainda mais quando se apresenta numa cultura tão diferente da nossa. Lá estavam eu olhando o grande templo e sem saber o que fazer direito. Tinha uma corda com um sino, um negócio que parecia um rolo e outro negócio que parecia uma grelha de churrasco. A única coisa que eu consegui entender que precisava fazer era tirar os sapatos. Fora isso… Nada. Eis que surgiu uma velhinha, muito velhinha mesmo, toda arcadinha que me puxou pela mão.

feperr03

A ordem das coisas, infelizmente, eu já não me lembro mais. Mas lembro daquela mãozinha enrugada me segurando e tentando explicar, sem usar palavras, já que uma não falava o idioma da outra, que eu deveria fazer um pedido, jogar uma moeda naquela pseudo-grelha, tocar o sino, girar o rolo e agradecer. Fiz o ritual junto com ela e com toda a paciência que ela demonstrava. Quando eu consegui fazer todo o ritual e repetir algumas palavras que ela pediu que eu dissesse, ela sorriu com muito orgulho, com aqueles olhinhos brilhantes. Muito discreta, me disse um arigatô e foi embora, provavelmente fazer o restante de suas tarefas diárias.

E são as fofuras que me fazem acreditar que a humanidade é, sim, boa e que podemos, sim, ser felizes. Seja aqui, seja ali, seja acolá. Então eu recomendo a qualquer pessoa que tenha tudo preparado, sempre, para qualquer viagem que possa surgir. Para gostar, basta começar.


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina

Conhecendo El Chaltén

16 de fevereiro de 2015

Uma cidade, mas pode chamar de vila. El Chaltén não possui sequer mil habitantes, e é a cidade mais nova da Argentina (nasceu em 1985, delimitando uma fronteira com o Chile por meio de ocupação). Chegamos lá de ônibus, partindo de El Calafate, numa viagem razoavelmente rápida de 220 km pela RP 23 – existem passeios de um dia, com saída e chegada em Calafate, feitos da mesma maneira.

Ainda no ônibus, o Fitz Roy é o cartão de visitas.

Ainda no ônibus, o Fitz Roy é o cartão de visitas.

E de fato, conhecer a cidade não é tarefa difícil ou demorada. A estrada desemboca em sua rua principal (Miguel Martín de Güemes), que divide o vilarejo em duas partes: do lado direito (cuja rua principal é a San Martín), os restaurantes, alguns hotéis e albergues, lojas e bares; do lado esquerdo (cuja rua principal é a José Antonio Rojo), residências em sua grande maioria, com algumas exceções para hospedarias de menor porte e alguns restaurantes. Ambos os lados acessados a partir de uma bifurcação daquela mesma rua principal, chamada Lago del Desierto. É essa a geografia da cidade, que de tão simples pode ser desbravada num passeio à pé em menos de uma hora – se o vento patagônico te deixar.

A chegada pela Miguel Martín de Güemes.

A chegada pela Miguel Martín de Güemes.

O guia de ruas, nada complexo.

O guia de ruas, nada complexo.

A San Martín. Nosso albergue ficava no final.

A San Martín. Nosso albergue ficava no final.

El Chaltén ainda é notoriamente um vilarejo, cujo ritmo de construção está em vias de torná-lo uma cidade de fato. Porém, seu maior atrativo não encontra-se dentro desse perímetro descrito anteriormente. É de Chaltén o ponto de partida para alguns dos lugares mais espetaculares da Patagônia Argentina: o Cerro Fitz Roy, o Cerro Torre, a Laguna de Los Tres, o Glaciar Viedma, além de ser um dos acessos ao gigantesco Parque Nacional Los Glaciares. Todos esses lugares são motivos mais que suficientes para visitá-la, e no fim das contas a cidade em si fica em segundo plano, em meio a outras tantas boas atrações.

Mas Chaltén tem seu charme. A começar justamente por esse aspecto de “em construção”. Há somente um posto de gasolina (onde o motorista enche o próprio tanque – ou galão de reserva, soubemos que sim, existe gente carregando gasolina dentro do próprio carro), e a comunicação com os moradores por vezes acontece em papéis fixados na porta da rodoviária – exatamente como no elevador do seu prédio. A cidade é ladeada pelo Río de las Vueltas, que tem uma cor azul-esverdeada extremamente bonita. O aspecto da água é turvo de tão gelado, pois o rio é proveniente do degelo dos glaciares. Dá pra chegar bem pertinho, mas mergulhar, nem pensar… O som é quente, o vento gelado. Uma jaqueta corta-vento é tão importante quanto um par de Havaianas, então leve ambos.

O posto de gasolina - que sim, funciona.

O posto de gasolina – que sim, funciona.

O informativo local funciona na base do sulfite e durex.

O informativo local funciona na base do sulfite e durex.

O verde e geladíssimo Río de Las Vueltas.

O verde e geladíssimo Río de Las Vueltas.

Pelo caminho encontra-se uma pequena capela (Toni Egger Gnadenkapelle – Toni Egger foi um alpinista austríaco, e o primeiro a morrer tentando superar o Cerro Torre – também dá nome a um de seus picos), que serve de memorial aos que não regressaram do Fitz Roy ou do Torre. Ilustram a paisagem a tradicional igrejinha, uma pequena escola que fica ao lado de um parquinho, entre outras imagens comuns a vilarejos. Durante a tarde o movimento das ruas é quase nulo, mas sempre existem pequenos grupos bebendo ou comendo na entrada de hospedarias e alguns restaurantes. Os rostos tornam-se familiares muito rapidamente (estando hospedado em Chaltén, certamente você verá as mesmas pessoas por diversas vezes). Além disso, a cidade é repleta de cães – sem dono, mas extremamente amáveis – que estavam por lá desde a época da briga pela fronteira, e hoje habitam a região.

A capela - um memorial aos que ficaram nas montanhas.

A capela – um memorial aos que ficaram nas montanhas.

Todo vilarejo que se preze tem sua igrejinha.

Todo vilarejo que se preze tem sua igrejinha.

O cair da tarde traz todo o tom bucólico que a cidade carrega.

O cair da tarde traz todo o tom bucólico que a cidade carrega.

Um dos simpáticos, lindos e pidões cachorros que estão espalhados por Chaltén.

Um dos simpáticos, lindos e pidões cachorros que estão espalhados por Chaltén.

Nas lojinhas a gente encontra alguns badulaques pra levar de lembrança, mas nada muito fora do comum – postais, mapas, artesanatos e camisetas temáticas são o que mais se vê – existe uma loja bem grande logo na entrada da cidade, onde os turistas fazem a festa. Porém, o forte da cidade são os esportes de aventura, e a gente acaba encontrando também algumas lojas de suporte a alpinistas, montanhistas, ciclistas e adeptos de camping. O tema é recorrente, e isso é explícito até nos lugares mais inusitados. Roupas, suprimentos e equipamentos estão lá, tanto para iniciantes como para esportistas profissionais. Algumas agências dão suporte aos passeios pela região, e dicas importantes para a prática das modalidades. Nessas agências a gente também encontra o mapa da cidade – que torna-se absolutamente denecessário depois de umas duas voltas por lá.

Uma lojinha com a cara do fim do mundo.

Uma lojinha com a cara do fim do mundo.

Algumas capricham na propaganda.

Algumas capricham na propaganda.

Mas a cidade é dos montanhistas - até na hora de jogar o lixo fora.

Mas a cidade é dos montanhistas – até na hora de jogar o lixo fora.

Obviamente come-se muito bem por lá* – fator recorrente em toda a Patagônia. O Parrilla Como Vaca (http://tinyurl.com/le4k42l) é um baita lugar pra uma carne bem-feita e gostosa; se quiser algo um pouco mais sofisticado, o La Tapera (http://tinyurl.com/l9fp4xc) atende muito bem às expectativas – mas chegue cedo, pois o lugar lota e é pequeno; para um bom custo-benefício, a Patagonicus (http://tinyurl.com/l66x6ql) pode funcionar para uma pizza no meio do dia, ou mesmo um lanche. Existem outras opções, e entre elas a gente destaca justamente a que mais usou: o restaurante de nosso albergue. O Hostel Rancho Grande (http://tinyurl.com/psxvetn) possui poucos, generosos e ótimos pratos, além de um menu de café da manhã pra alpinista nenhum botar defeito. Um conforto de verdade pra qualquer aventura. Obviamente há alguns cafés, sorveterias e outros lugares minúsculos, que merecem uma vasculhada com carinho.

Cortes explicados, comida vistosa, uma pizza ocasional, ou um PF honestíssimo: passar fome não será um problema.

Cortes explicados, comida vistosa, uma pizza ocasional, ou um PF honestíssimo: passar fome não será um problema.

Enfim, El Chaltén é um ótimo lugar, seja pra se preparar, seja descansar depois de uma incursão às belezas da região. Um lugar para desligar a cabeça, e curtir um pouco do sossego que a Patagônia Argentina oferece. E o cenário – pois a minúscula cidade possui uma visão privilegiada para os Cerros Torre e Fitz Roy – é para poucos. No caso de Chaltén, menos de mil. Dado que escalá-los e superá-los é uma missão somente para alguns sobre-humanos, nos resta observar. E já vale muito.

Cerros Torre e Fitz Roy: apenas para profissionais.

Cerros Torre e Fitz Roy: apenas para profissionais.

Aproveitem, enquanto a cidade ainda é uma criança, e desse tamanho.


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Causos

Batendo uma bola

12 de fevereiro de 2015

Sendo inegável minha paixão irrestrita pelo esporte bretão, camisas de futebol sempre fazem parte da minha bagagem – na ida, e às vezes na volta, como souvenir. Já voltei do Perú com uma camisa horrorosa/maravilhosa do Cienciano (essa aí em cima, que tem milhares de patrocínios, uma malha pra lá de vagabunda, uma marca d’água com a imagem de Machu Picchu e vinha num kit com uma regatinha de treino – que eu jamais vestirei, mas que guardo com enorme carinho), e sempre pesquiso em nossas visitas turísticas novas peças para minha agora coleção pessoal.

Porém, mais do que vestuário, se declarar um entusiatsa do esporte mais popular do planeta te faz personagem de pequenas histórias – algumas delas inclusive bastante divertidas, e que eu vou contar agora mesmo:

CORINTHIANS
amizades garantidas

Dentre tantos (e foram muitos), três momentos edificantes me foram proporcionados por ostentar o manto sagrado do Todo Poderoso. O primeiro em 2008, em nossa primeira viagem a Buenos Aires. Estávamos saindo do elevador, ainda vislumbrados e naquele processo de se contextualizar num universo todo em espanhol, quando um senhor vem em nossa direção de braços abertos, todo solícito. Esperando um “buenos dias” caloroso, tomei um baita susto quando o cara me solta “até que enfim um corinthiano nessa cidade!” em excelente português. Sim – nessa mesma viagem não demos de cara com a enorme quantidade de brasileiros que hoje em dia frequenta o país de Dieguito, e o que nos encontrou me trouxe um pouco do sentimento de estar em casa, naquele mundo todo novo.

O segundo foi em 2013, lá pro sul do país. Comemorando meu aniversário de 33 anos, fomos visitar o Glaciar Perito Moreno, que fica em El Calafate (cujo episódio ganhará um texto futuramente). Estávamos num grupo razoavelmente pequeno (coisa de umas 20 pessoas). Chegamos de ônibus, pegamos um barco com outras pessoas e de lá seguimos até o Glaciar, onde nos esperavam os guias e ajudantes do passeio. Descemos do barco um a um, e ao me estender a mão, o guia – argentiníssimo – viu minha camisa, e emendou um torto e simpaticíssimo “Vai Corinthians“. Um presentão, tão inesperado quanto um título invicto de Libertadores. Começar a se divertir antes mesmo de começar o passeio já valeu o aniversário.

O último que eu vou descrever aconteceu em Lima, no ano de 2012. Era novembro, e o Corinthians havia contratado o Guerrero há poucos meses. Pegamos um táxi, que nos levaria a algum lugar (que eu realmente não me lembro qual era). O trânsito em Lima é um inferno, e acabamos presos nele durante algum tempo. Nisso, o taxista vê minha camisa alvinegra, pergunta de nosso então novo atacante, e dispara uma metralhadora de análise técnica do futebol brasileiro, peruano, do próprio Corinthians, e a coisa se arrasta por quase uma hora, num espanhol fluente, cujo domínio eu desconhecia totalmente. No fim o cara disse que torceria pra gente contra o Chelsea.

Pé-quente o rapaz.

O poropopó pelo mundo

O poropopó pelo mundo

PORTUGUESA
a curiosidade e as dores

É uma camisa vermelha, com uma bandeirinha do Brasil na nuca. Passeando pela Europa, não é a mais conhecida – sabemos todos disso, e para tal nem é necessário um profundo conhecimento futebolístico. Fui abordado por um austríaco e um croata, que me pediram pra explicar que time era aquele – o que desencadeou uma rápida conversa com ambos (o austríaco colecionava camisas exóticas, e ficou bem interessado na minha, enquanto o croata queria mesmo era puxar assunto pra no fim das contas me empurrar um almoço em seu restaurante). Mas a terceira abordagem foi a mais curiosa, divertida e trágica: um outro croata – instrutor de caiaque – veio falar comigo todo curioso (antes de começarmos nosso passeio com ele):

– Ei, essa camisa é de que time?
– Da Portuguesa, do Brasil.
– É um time grande? Que divisão está jogando?
– Já foi um time grande… hoje é médio, joga a segunda (ainda durante o Brasileirão de 2013).
– E vocês estão indo bem?
– (Hiato constrangido) Na realidade não (eu perdido, sabia que o time estava uma draga só, e não estava acostumado a descrever desempenho de outras equipes)…
– Hmmm, que pena… mais sorte na próxima temporada!

Me senti um torcedor da Lusa por alguns momentos. Ser corinthiano é mais fácil.

Pouca gente reconhecia...

Pouca gente reconhecia…

...mas a bandeirinha sempre funcionava como permissão pra conversa.

…mas a bandeirinha sempre funcionava como permissão pra conversa.

GALATASARAY
higiene, e o fanatismo europeu

Cheguei ao aeroporto de Istambul FEDENDO. Em maiúsculas. Problemas técnicos que incluíam uma camiseta que não secou direito e um vôo abafado. Passaríamos horas no aeroporto, e nossas malas haviam sido despachadas. Entramos na primeira loja que vimos procurando qualquer roupa limpa que fosse, quando me deparei com a camisa do Galatasaray por módicos 20 Obamas (feita na Turquia – obrigado Nike). Comprei e corri pro banheiro pra trocar aquela nojeira que estava vestindo – e ainda bancar o bacana com uma camisa de time local dos caras. Quando estou pra sair, dois turcos me param apontando pra camisa, e vibrando como se eu houvesse marcado um gol:

– Hey!
– Hi!
Sneijder! Sneijder! Nice shirt man!
– !!!!!!!!!!
– Sneijder! Sneijder!

Empolgação. Muita empolgação… eu seria facilmente convencido a cantar um poropopó turco se não estivesse num ambiente tão… sanitário – e turco.

Nada de Drogba ou Felipe Melo. Sneijder! Sneijder!

Nada de Drogba ou Felipe Melo. Sneijder! Sneijder!

Resumindo: o futebol é isso aí (a Copa do mundo não me deixa mentir): uma tremenda oportunidade de conhecer gente nova, jogar conversa fora e fazer novas amizades – sejam elas das cores que forem. Vista sua camisa favorita, ou nova, ou exótica, não banque o babaca e amplie seu contato social mundão afora.

Brasil, Dinheiro, Venezuela

Monte Roraima: como faz?

9 de fevereiro de 2015

Agora que já contei sobre minha relação de amor e ódio com o Monte Roraima, porque não dar os detalhes de como fazer a viagem? Afinal, quem nunca imaginou chegar lá em cima?

O planejamento da viagem é relativamente simples, e assim como qualquer outra viagem, existem agências que fecham pacotes pra fazer o tour. O problema é que se você comparar os preços desses pacotes com os de se fazer uma viagem por conta, é desanimador. Uma viagem barata acaba saindo pelo dobro – ou até o triplo – do valor. Então resolvemos fazer tudo na cara e na coragem…

Fomos para Boa Vista (RR) de avião. A cidade é relativamente pequena, e até tem alguns tours pra se fazer por lá, mas resolvemos não explorar muito e ir direto pra a Venezuela. Saímos de Boa Vista rumo a Pacaraima na parte da manhã. A fronteira entre Brasil e Venezuela tem fama de não ser muito “confiável” em relação a horários (li relatos de que às vezes fecham pro almoço, e só voltam no dia seguinte), portanto a ideia era chegar por lá ainda pela manhã. Fizemos esse trajeto entre as duas cidades de táxi coletivo. Essa viagenzinha, que leva de duas a três horas, custa uns R$ 35,00 por pessoa (consideravelmente mais barato que a viagem de táxi normal, que sai por volta de R$ 150,00). Uma coisa interessante nesse trajeto é que alguns dos táxis coletivos – especificamente os da Companhia Pacaraima – fazem uma parada estratégica pra banheiro e um lanchinho num restaurante chamado Rosa de Saron, onde é servida a paçoca – coisa linda de Deus…

Tá lá escrito: TEMOS PAÇOCA. E se você pensa que estamos falando de amendoim...

Tá lá escrito: TEMOS PAÇOCA. E se você pensa que estamos falando de amendoim…

...errou feio. Carne, farofa, cebola e água gelada: quem precisa de mais?

…errou feio. Carne, farofa, cebola e água gelada: quem precisa de mais?

Pacaraima é a ultima cidade brasileira, bem na fronteira com a Venezuela. É uma cidadezinha tão pequena que o “caixa eletrônico” do Bradesco é uma mulher atendendo dentro de um mercadinho. As dezenas de táxis que te levam a Santa Elena de Uairén estão concentrados bem do lado da fronteira, só esperando encher o carro pra te levar à cidade. Esse é um trajeto bem mais rápido, de uns 20 minutos, que custa de 2 a 3 Reais.

Bradesco: humanizando o atendimento.

Bradesco: humanizando o atendimento eletrônico.

Já em Santa Elena, nos hospedamos no Hotel Michelle. Ele é bem localizado, perto do centro da cidade, com vários lugares pra comer por perto. Os albergues e pousadas da cidade são basicamente a mesma coisa: meio precários, com um wi-fi bem lento, ventiladores barulhentos e os preços são bem parecidos. Santa Elena de Uairén não é uma cidade turística: não tem muita coisa pra se fazer, nem lugares bonitos para ver, mas serve de base pra praticamente todos os tours do Roraima. De todos esses, a grande maioria sai da frente da Posada Backpackers.

Santa Elena de Uairén é basicamente isso aí durante o dia.

Santa Elena de Uairén é basicamente isso aí durante o dia.

Se você andar um pouquinho pela cidade, vai encontrar várias pessoas oferecendo o tour pro Roraima e/ou pro Salto Ángel. Também existem outras tantas opções e guias independentes, com os quais você pode entrar em contato pelo Facebook ou mesmo por telefone, negociar e fechar o passeio. Resolvemos fazer o nosso com o pessoal do Backpacker Tours, pela estrutura que eles ofereceram. Em outros casos, teríamos que carregar, armar e desarmar a barraca, carregar comida, o preço do carregador seria mais caro, ou ainda teríamos que esperar alguns dias a mais pra fechar um grupo e sair. Enfim… as opções são inúmeras. Mais uma vantagem de fechar com eles foi o Ricky – nosso guia – do qual já tinha ouvido falar muito bem.

Os preços dos tours são bem parecidos em todos os lugares que você pesquisar, assim como a forma que todos eles trabalham. Então, basta achar um lugar que te inspire confiança.

A imagem da confiança.

A imagem da confiança.

Ricky: de amado a odiado, e depois amado de novo. Histórias em breve.

Ricky: de amado a odiado, e depois amado de novo. Histórias em breve.

Um ponto muito importante é o dinheiro. O câmbio oficial atual diz que um Real equivale a mais ou menos 2,27 bolívares venezuelanos. Na época (setembro de 2013) a média era de 1 pra 2,70 ou 2,80. Acontece que o câmbio oficial por lá não quer dizer quase nada. A coisa mais normal do mundo é trocar dinheiro na fronteira, onde o câmbio “paralelo” é o mais favorável. No dia em que chegamos na Venezuela, esse tipo de câmbio era de 1 pra 18. Já no último dia, tinha subido para 1 pra 23. Em uma das pesquisas de preço que fizemos, a mulher responsável pelo tour chegou a ligar para um conhecido na fronteira, e perguntar como estava o câmbio antes de nos passar o valor. Então é bom ficar atento a essas variações.

Pega essa, Eike Batista.

Pega essa, Eike Batista.

Outra coisa importante: a nota mais alta de bolívares é de Bs.F. 100,00. Isso pode ser um problema na hora de trocar o dinheiro, pois você pode ter que contar centenas de notas ali, na fronteira, dentro de um táxi coletivo, e voltar com elas escondidas na cueca, no sutiã ou sabe-se lá onde. A parte boa é que dá um up na sua moral… afinal, quando no Brasil você se sentiria tão rico assim?