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Winter is coming – parte 2

16 de abril de 2015

Dubrovnik: a King’s Landing de Game Of Thrones.

À medida que você vai conhecendo uma região, você começa a notar semelhanças entre as cidades. No Perú por exemplo, todas as cidades que visitamos têm a Plaza de Armas, que é a praça principal da cidade (herança da colonização espanhola). No Leste Europeu, a semelhança acontecia com as Old Towns, que nada mais são do que centros históricos. Guardadas as devidas proporções, elas são bem parecidas entre si, com ruas de pedra ou paralelepípedo, estreitas e com circulação proibida (ou bem reduzida) de carros; prédios históricos, bonitos, coloridos, cheios de enfeites, esculturas, estátuas, gárgulas e santos; pelo menos uma igreja com arquitetura monstruosa e linda… uma coisa meio gótica; e uma grande concentração de bares, restaurantes, cafés e afins. É basicamente o coração da cidade.

A Croácia foi o último país que visitamos durante nossa viagem. A primeira cidade croata visitada foi Zadar*, que logo de cara tinha um centro histórico bem diferente do que tínhamos visto até então. Vários prédios de pedra com uma arquitetura mais simples (mas nem por isso menos impressionante) e um ar “um pouco mais grego”. De Zadar, seguimos viagem até Dubrovnik.

Chegamos na rodoviária e de lá fizemos um trajeto à pé para o centro velho. O caminho é longo – são quase 3Km (que parecem 12), bonito, cheio de plaquinhas indicando a direção e a distância que você ainda vai percorrer, passando inclusive por “ruas de escada” (como foi dito no post anterior, a cidade é cheia de subidas e descidas pesadas), já pra sentir o clima do Old Town. A chegada ao centro propriamente dito é inexplicável: antes mesmo de virar a esquina, já é possível ver uma parte da muralha e a famosa Minceta Tower.

Minceta Tower - a primeira pancada na chegada às muralhas de Dubrovnik.

Minceta Tower – a primeira pancada na chegada às muralhas de Dubrovnik.

Uma visão geral da entrada do Old Town.

Uma visão geral da entrada do Old Town.

Logo na entrada da cidade, a fonte onde você pode abastecer sua garrafinha d'água de graça.

Logo na entrada da cidade, a fonte onde você pode abastecer sua garrafinha d’água de graça.

Nas vielas, os diversos restaurantes.

Nas vielas, os diversos restaurantes.

Tendo visitado outras cidades, todas com seu centro histórico tão característico, já me considerava uma expert (aham!) no conceito “Old Town“. Mas chegar à cidade velha de Dubrovnik é jogar todo o seu repertório no lixo, e se sentir em meio a um filme medieval, pronto para ouvir barulhos de canhões e esperando arqueiros uniformizados dominarem a muralha da cidade, todos prontos para a batalha. Uma coisa meio Senhor dos Anéis mesmo…

Um cenário de filme - e de série :)

Um cenário de filme – e de série 🙂

Dubrovnik parece um forte, um cenário pronto para a guerra. A cidade nasceu para abrigar os que fugiam dos bárbaros – ou seja, já nasceu da necessidade de proteção. Devido à sua localização estratégica, a cidade sempre foi um alvo muito desejado, e assim como o resto da Europa, passou por uma dança das cadeiras, sendo dominada por vários países e impérios diferentes durante décadas.

A marina. De frente pro mar, uma das faces das muralhas.

A marina. De frente pro mar, uma das faces das muralhas.

Uma torre, com um dos sinos de Dubrovnik.

Uma torre, com um dos sinos de Dubrovnik.

A altura dos muros abraça as residências em alguns pontos da cidade.

A altura dos muros abraça as residências em alguns pontos da cidade.

A visão do Adriático e da Marina, de cima de um dos pontos da muralha.

A visão do Adriático e da Marina, de cima de um dos pontos da muralha.

Mesmo com essa confusão toda, Dubrovnik conseguiu manter-se próspera, e à medida que crescia, o fortalecimento de sua defesa crescia junto. Mas nem tudo são rosas, e a junção de um terremoto gigante com a separação da Iugoslávia fizeram um estrago considerável na cidade, tanto na área histórica como nos prédios residenciais e comerciais. O centro histórico é patrimônio da UNESCO, e até hoje ela e o governo investem em restaurações estruturais. Essas restaurações incluem detalhes como a remontagem dos telhados tradicionais, e o cuidado com alguns buracos, ainda visíveis nas paredes dos prédios.

Os acessos ao centro histórico, vistos de dentro da cidade.

Os acessos ao centro histórico, vistos de dentro da cidade.

As estreitas vielas, que levam dos muros à alameda principal.

As estreitas vielas, que levam dos muros à alameda principal.

O principal passeio pra se fazer em Dubrovnik consiste em explorar os 1.940 metros de muralhas que envolvem o centro velho. As muralhas formam um quadrilátero, sendo que cada ponta tem um forte. A parede que está de frente para o mar é a mais fina – tem de 1,5 a 3 metros de espessura, e a que está de frente para o continente é mais reforçada, com até 6 metros de espessura. Sua altura, dependendo do local, chega a 25 metros. O passeio é bem tranquilo, e o mais legal é que, como ela dá a volta em todo o centro, você consegue ter uma visão privilegiada da cidade e dos arredores.

O ingresso para o passeio pelas muralhas. Os números em destaque são os locais do passeio onde os fiscais verificam se sua entrada foi paga/está válida.

O ingresso para o passeio pelas muralhas. Os números em destaque são os locais do passeio onde os fiscais verificam se sua entrada foi paga/está válida.

Os muros são bem altos em alguns pontos, e bem baixinhos em outros.

Os muros são bem altos em alguns pontos, e bem baixinhos em outros.

Os telhados estão sendo restaurados, com sua coloração original...

Os telhados estão sendo restaurados, com sua coloração original…

...mas não é um trabalho rápido nem fácil - pois telhado é o que não falta.

…mas não é um trabalho rápido nem fácil – pois telhado é o que não falta.

A visão de um trecho da muralha e o Mar Adriático, de um dos pontos mais altos da cidade.

A visão de um trecho da muralha e o Mar Adriático, de um dos pontos mais altos da cidade.

Um pouco mais abaixo, a paisagem completa.

Um pouco mais abaixo, a paisagem completa.

A entrada principal da cidade velha é pela Pile Gate, e nessa mesma rua ficam vários guias, prontos para te abordar e oferecer quinhentos passeios dos mais variados tipos, inclusive um específico do Game of Thrones, que te leva aos lugares onde foram filmados os episódios, conta curiosidades sobre o show, os personagens, a história, etc. Não fizemos esse tour porque ainda não vimos a série, mas um fato interessante é que a cidade literalmente pára em função das filmagens. Existem cláusulas de confidencialidade entre os cidadãos, os quais não saem de casa durante esse período. Mas o que a série traz de retorno no turismo justifica a paralisação de todo o comércio no Old Town.

A loja mais lotada do centro histórico. Compramos nossa lembrancinha também, pra quando a gente (enfim) assistir a série.

A loja mais lotada do centro histórico. Compramos nossa lembrancinha também, pra quando a gente (enfim) assistir a série.

O tour que nós fizemos e recomendamos (além de um passeio de caiaque pelo Mar Adriático <3) foi um walking tour, desses que um guia local te leva pela cidade, contando a história e curiosidades que só alguém que vive lá pode saber. É relativamente baratinho, e vale a pena pra você ir embora sentindo que realmente conheceu um pouco do lugar.

Os ingressos do walking tour são um pouco mais baratos que os do passeio pela muralha.

Os ingressos do walking tour são um pouco mais baratos que os do passeio pela muralha.

A gente acabou optando por fazer o walking tour...

A gente acabou optando por fazer o walking tour…

...que começava justamente no fim da tarde.

…que começava justamente no fim da tarde.

O que foi muito bom, pois pudemos conhecer a noite de Dubrovnik.

O que foi muito bom, pois pudemos conhecer a noite de Dubrovnik.

Uma noite pintada de luzes amarelas...

Uma noite pintada de luzes amarelas…

...que deixavam as texturas das muralhas e do piso ainda mais evidentes.

…que deixavam as texturas das muralhas e do piso ainda mais evidentes.

Luzes de outras cores fazem a paisagem ficar ainda mais bonita.

Luzes de outras cores fazem a paisagem ficar ainda mais bonita.

E assim a gente se despediu de lá :)

E assim a gente se despediu de lá 🙂


* Na verdade a primeira cidade croata foi Zagreb, mas como a Croácia dos meus sonhos sempre teve o Mar Adriático, Zagreb pra mim entra numa categoria à parte.

Causos, Croácia, Gastronomia, Ir e vir

Winter is coming – parte 1

13 de abril de 2015

Pegando embalo na estreia de mais uma temporada de Game Of Thrones, com a turminha de Jon Snow, Tyrion Lannister e cia. na noite deste último domingo, faremos uma semana especial por aqui no Faniquito – não sobre a série, mas sim sobre uma de suas locações mais bonitas e vistosas: Dubrovnik.

Porém, esse primeiro texto não será tão direto. A cidade será apresentada na próxima quinta-feira, com a volta da Debs pra cá (após um mês de aprimoramento profissional do/para o Faniquito). Hoje darei algumas dicas sobre o que fazer quando em Dubrovnik – coisas que o pessoal do Game Of Thrones possivelmente não poderá incluir nos próximos capítulos da série. Afinal de contas, não é só de inverno que esse mundo é feito…

Pra começar, vamos direto pro estômago.

Em Dubrovnik, existem duas áreas comerciais de destaque: a cidade velha, e a área portuária. A primeira é bem mais movimentada, pois o objetivo de todos os cruzeiros que desembarcam por lá é justamente explorá-la durante o dia. Cruzeiros esses que chegam – obviamente – pela área portuária, o que justifica a afirmativa anterior. A oferta de restaurantes na cidade velha é gigantesca, o que acaba deixando a região do porto em segundo plano como opção gastronômica – um vacilo monstruoso, como demonstrado em dois exemplos logo abaixo:

A Otto Taverna (http://tinyurl.com/pdhb69t) é uma excelente opção para um jantar mais romântico e reservado. O ambiente é lindo e minúsculo, com um atendimento primoroso e simpaticíssimo. Mas nenhuma combinação de todos esses fatores supera a experiência da sequência de pratos servida durante o jantar. Muito sabor, boas quantidades, e e um cuidado que aumentarão seu amor – inevitável desde a chegada – pela cidade. Chegue cedo (o restaurante abre para o jantar no finalzinho da tarde, começo de noite), e seus poucos lugares vão embora rapidinho. Apesar de alguma rotatividade, a pressa não é lugar comum para quem opta pela comida de lá – por motivos óbvios.

Bonito, gostoso e delicado.

Bonito, gostoso e delicado.

Alguns metros distante dali – coisa de 5 minutos de uma caminhada tranquila – está o Amfora (http://tinyurl.com/pm7jers). O restaurante possui um salão bem amplo, inclusive com algumas mesas na calçada. Não se deixe enganar por seus aspecto de “lugar que não deu certo” – sim, ele normalmente tem lugares de sobra. O atendimento é muito atencioso e excelente, assim como seus pratos. Destacamos com louvor o risoto preto, que é um dos melhores pratos que já comemos NA VIDA. Durante nosso jantar, o garçom ofereceu alguns ítens que não estavam no cardápio – incluindo alguns pratos em fase de experimentação que o chef da casa estava fazendo. Uma delícia.

Risoto pra comer de joelhos.

Risoto pra comer de joelhos.

A segunda dica é sobre transporte.

Dubrovnik não é exatamente a cidade mais fácil pra você se locomover. A entrada da cidade, além do acesso de veículos, comporta o porto e a rodoviária. As pousadas se espalham nas áreas residenciais, e existem alguns hotéis mais próximos da cidade velha (cujos valores de hospedagem beiram ao proibitivo), sendo a saída mais comum para quem se hospeda na cidade o aluguel de apartamentos. Porém, os acessos são extremamente complicados – pela geografia vertical da cidade, subidas e descidas pesadas, suas vielas e becos. Os valores de táxi são caros – a cidade em si não é barata, e toda economia possível deve ser considerada para os viajantes menos afortunados – grupo esse que integramos desde sempre.

Uma cidade vertical não é mole de ser explorada.

Uma cidade vertical não é mole de ser explorada.

Uma boa alternativa para poupar as pernas e agradar os bolsos é comprar o passe diário de ônibus, vendido logo na entrada da cidade velha. Por 30 kunas (coisa de R$ 12), você pega quantos ônibus quiser no período de um dia. São linhas circulares, que dão acesso a praticamente toda a cidade – incluindo a rodoviária. E uma informação a ser destacada: todos os pontos de ônibus possuem informações sobre linhas, e horários de saída e chegada (que são cumpridos com rigor britânico), o que facilita absurdamente a vida de qualquer turista. As viagens são curtas, pois a cidade é pequena, então não tenha medo e compre seu bilhete assim que chegar à cidade.

Sempre pontual, ele te espera pra sair na hora certinha.

Sempre pontual, ele te espera pra sair na hora certinha.

O bilhete diário: não esqueça de validar, pois não há cobrador.

O bilhete diário: não esqueça de validar, pois não há cobrador.

A terceira e última dica: sobre um causo local que aconteceu com a gente.

Qualquer lugar minimamente turístico oferece uma gama razoável de possíveis passeios e atividades. O caiaque foi nossa escolha em Dubrovnik, com um circuito que nos daria uma visão bacana da cidade, algum conhecimento histórico, uma volta por uma ilha da cidade, e uma parada em uma pequena praia de lá. Nessa praia, além de comer um lanche, havia a possibilidade de mergulhar de uma pedra, tomar um banho de mar e nadar utilizando snorkel. Não nos arriscamos na pedra, comemos nosso lanche e fomos pra água fazer nosso primeiro mergulho livre.

A prainha da terra de Jon Snow.

A prainha da terra de Jon Snow.

Resultado: a visão incrível daquele tanto de peixe numa água absolutamente transparente nos levaram a investir num curso de mergulho poucos meses depois. Uma ideia que jamais havíamos imaginado, e que tomou forma naqueles poucos minutos de alegria. Mais uma prova concreta de que o faniquito existe em todo mundo. É só botar pra fora.

Gostou? Quinta tem mais 🙂

França

Mudança de planos

9 de abril de 2015

Por Daniela Beneti


Oi gente, tudo bom? Assim como o  Masili e a Dé, donos do Faniquito, vim dividir algumas histórias de viagens com vocês. E já que o Masili contou como foi levar a mãe dele pra conhecer o mundo, quero contar como foi a experiência do meu pai.

Em 2008 eu fiz meu primeiro mochilão rumo a Europa. Minha primeira viagem internacional. Juntando um pouco todo mês durante 1 ano e meio, consegui realizar o sonho (ainda conto dos perrengues).

Esse fato deu um estalo na cabeça do senhor meu pai, seu Ricardo. Pra ele, Europa era coisa de milionário. Então como a filha de 26 anos, dura, tinha ido parar lá?

Alguns meses depois da minha volta, meu pai me abordou: você gostaria de conhecer o Egito? Achei que era uma pergunta retórica e respondi que sim. Pois no final de 2010 ele já tinha o dinheiro para nós dois, que vinha juntando desde aquela época.

Por quê Egito? Meu pai sempre foi apaixonado por história e por filmes. Conhecer as grandes civilizações era um sonho e ele sempre quis ver de perto as pirâmides. Esse era o cara que, ao invés de contos de fada, me contava a história de Cleópatra e Helena de Tróia quando eu era pequena.

"Você gostaria de conhecer o Egito, filha?"

“Você gostaria de conhecer o Egito, filha?”

Em janeiro de 2011, fomos felizes e contentes comprar nosso lindo “pacote Egito” em uma operadora, com tudo que tínhamos direito – hotel, passeios, cruzeiro pelo Nilo. Meu pai me deixou em casa com um sorriso de orelha a orelha.

Mas se vocês estão lembrados, em janeiro de 2011 aconteceu uma coisinha básica chamada “Primavera Árabe”, uma onda de protestos contra as ditaduras estabelecidas que sacudiu o Oriente Médio. No dia em que compramos o passeio, ela chegou ao Egito.

"Pai, deu ruim."

“Pai, deu ruim.”

Liguei no dia seguinte para a agência de viagens, que me garantiu que “era coisa passageira, que sempre acontecia por lá”. Visto que, um mês depois a coisa só tinha piorado, a moça nos deu a opção de trocar o pacote por outro de nossa escolha, com valor semelhante.

Meu pai ficou simplesmente arrasado. Passei semanas perguntando “pra onde você quer ir?” , só pra escutar um teimoso e seco “pro Egito”. Não havia o que fazer. Depois de mais um mês, ele solta um irritado “Então quero fazer o mesmo passeio que você. Vamos pra Europa”.

Peguei aquele valor e , junto com a consultora, bolei um novo pacote. Paris, Veneza, Florença, Roma e Athenas – muita história pra compensar o Egito perdido. Mas o italianão estava irredutível. Embarcou para Paris com um bico de criança contrariada. Não era o passeio que ele imaginava. Fui com medo que ele detestasse tudo.

Bobagem. O primeiro contato dele com um vôo internacional não podia ser melhor, com a Air France*. O tratamento solícito compensou o cansativo vôo e ele já foi ficando mais animado. Ao chegar, passar por aeroporto e tudo mais, peguei um ônibus da própria companhia até o centro de Paris, onde pegaríamos o metrô. A parada era bem no Arco do Triunfo.

Agora sim, você está em Paris.

Agora sim, você está em Paris.

Ele ficou uns 5 minutos olhando praquele monumento, embasbacado. Foi aí que eu pai entendeu que qualquer viagem pode ampliar suas fronteiras, mesmo que ela não seja aquele primeiro plano que você fez.

O CHOQUE CULTURAL

Bem, contei pra vocês como a viagem para o Egito do meu pai virou Europa. Agora, vou contar um pouco do choque cultural e de valores que ele teve lá.

Meu pai como contei, meu pai nunca tinha saído do Brasil e todas as suas referências eram São Paulo e afins. Quando disse a ele que pegaríamos metrô para tudo, ele olhou para mim como se subitamente eu tivesse ficado laranja-tangerina “Por que a gente faria isso? Vamos de táxi”.

Tive a única reação possível: eu ri como nunca. E tive que explicar que, a não ser que ele tivesse virado milionário e eu não soubesse, táxi só pra casos muito necessários ou lugares muito difíceis. Em uma cidade com uma malha de metrô tão extensa como Paris não faz sentido nenhum ficar pra cima e pra baixo de táxi. Perde-se o melhor da cidade.

Claro que ele não ia se convencer com um simples argumento. Como bom paulista, seu Ricardo sempre foi de carro pra todo lado e não entende (até hoje) por quê eu não dirijo. Então foi muito a contragosto que enfiei meu pai metrô adentro.

Apresentando Seu Ricardo ao metrô.

Apresentando Seu Ricardo ao metrô.

Primeira surpresa dele: chegamos rápido e fácil até o hotel. Que ficava a apenas duas quadras do metrô Trocadero. Chegamos, fizemos nosso check-in, deixamos as coisas e, depois de apresentá-lo ao conceito de mochila do dia, fomos andar.

Pra quem já conhece Paris, sabe que ele tomou a segunda surpresa assim que atravessou a avenida em frente ao metrô: do Trocadero, uma antiga instituição militar, hoje um espaço de exposições, você tem uma das mais belas vistas da Torre Eiffeil.

Surpresa!

Surpresa!

Pra ter uma ideia do encanto do meu pai, ele até hoje trata a torre como uma “pessoa” – ela é linda, ela é maravilhosa, sinto falta de olhar pra ela. Acho que esse é um dos momentos que fazem de Paris uma cidade mágica, esse encontro com paisagens dignas de cinema, ali, perfeitas, bem à sua frente.

Foi assim que ele aprendeu como caminhar por uma cidade é uma descoberta. Meu pai há muito tempo não caminhava São Paulo, assustado, como muitos, pela violência. Mas não caminhar por uma cidade é perder seu encanto e sua conexão real com ela.

No primeiro dia, andamos pelas margens do Sena e ao redor da Torre. Foi um dia incrível para os dois. Para mim, por dividir aquele lugar com o meu pai. Pra ele, por descobrir que uma cidade pode ser sim mais humana, feita pras pessoas andarem por ela, vendo coisas bonitas e apenas aproveitando o fim de tarde em um café.

Turistando...

Turistando…

...e turistando mais um pouco.

…e turistando mais um pouco.

Claro que também fomos turistar nos dias seguintes. Visitamos o Palácio de Versalhes e seus jardins bem na época das àguas dançantes, fomos à Champs Elysées, Place de La Concorde, Louvre (onde o difícil foi tirar seu Ricardo da ala egípicia) e ao Les Invalidès, antigo hospital de guerra, hoje um museu dos conflitos desde a época pré-histórica. Esse determinaria o ano seguinte, na hora que meu pai viu o acervo da Segunda Guerra.

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Não façam isso, não mesmo!

Controlar seu Ricardo em museus provou-se minha mais árdua tarefa. Parecia uma criança na Disney – louco por experimentar tudo, agora, já. Foram 6 horas e meia de Louvre, vencido apenas pelo cansaço. Querendo tocar em tudo (e sim, pro meu desespero ele botou a mãozona em  peças de 4 mil anos de idade). No Invalidés, ele tirou foto abraçado com tanque de guerra, bomba de submarino. Além de Egito Antigo, meu pai sabe tudo de Segunda Guerra. Já viu todos os filmes, lê qualquer livro que encontra sobre. Ficou doido. Sabia o nome de todas as batalhas, os generais nas fotos, as siglas das armas. E eu olhando, pensando que pra quem veio emburrado, ele tinha se conformado muito bem.

Acho que até que seu certo no final, né pai?

Acho que até que seu certo no final, né pai?

Mal sabia eu que isso daria origem a uma nova viagem, mas isso é conversa para outro dia.


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Romênia

Nicolae

16 de março de 2015

Uma coisa que fica muito clara quando se visita o Leste Europeu: esqueça a imagem do comunismo vendida em Hollywood durante o período da Guerra Fria (anos 80, principalmente). Afinal de contas, foram os soviéticos (e não os americanos) que libertaram diversos países ao final da Segunda Guerra. De certa forma, foram eles os heróis da libertação desses povos do domínio nazista. O que foi feito dali em diante varia muito de país pra país* – alguns foram de fato oprimidos, outros saqueados, outros ainda agregados. E a vida seguiu, de um jeito que a gente não faz ideia – e por isso mesmo, é muito difícil de dizer se bem ou mal.

Um dos fragmentos daquilo que aprendemos se deu na Romênia. Mais especificamente, num dia de tour que fizemos, acompanhados de uma guia muito simpática (chamada Radica, ou Radika – fonema confirmado, grafia infelizmente não), mas que arranhava entre diversos idiomas o nosso Português: “Por causa das novelas“, ela me disse com uma fluidez tímida em nossa língua. Estávamos no ônibus, o passeio teria mais de duas horas, e fomos os últimos turistas recolhidos para o passeio. Pouco antes de seguirmos rumo a Brașov, fizemos um tour por Bucareste, onde nos foi pincelada muito resumidamente a secular história da Romênia. Logo de início, a pergunta básica feita a qualquer grupo de turistas:

– Qual é a primeira coisa que vem à cabeça quando vocês pensam “Romênia”?

E cada um pôde responder. Somente duas respostas eram ditas:

– Drácula/Vlad Tepes, e Transilvânia.

Até a pergunta chegar ao alien aqui, que respondeu:

– Ceaușescu.

Mais dois caras citaram isso depois, e mais adiante nossa guia contou uma breve história sobre Nicolae Ceaușescu. Minha resposta não foi em vão, pois de fato ele (ao lado de Gorbachev) faziam parte da minha pífia educação política enquanto criança. Era um nome diferente, vivia aparecendo na TV, na Veja, eu adorava a cobertura em preto e branco – mas cheia de sangue, que eu criança ainda não entendia de onde saía, mas era muito mais real do que o que eu via em cores nos filmes do Rambo. Assim como real também era aquela imagem desse senhor após seu fuzilamento, morto ao lado de sua esposa. Ficou na minha cabeça, e nunca mais saiu. Vieram Gheorghe Hagi, e Nadia Comăneci em relatos olímpicos, mas Nicolae era protagonista da minha “imagem romena padrão”. Passaram-se alguns minutos até que o assunto chegasse ao seu período de governo.

A enorme e lindíssima Bucareste.

A enorme e lindíssima Bucareste.

E da boca de uma romena pudemos ouvir um pouco sobre a história desse senhor. Sem desvios de imprensa, sem tradução simultânea:

Filiou-se ao Partido Comunista com o fim da Segunda Guerra Mundial. Gradativamente foi alçando cargos mais elevados, até se tornar presidente durante os anos 70. Baseado no modelo de governo da Coreia do Norte (Juche) e na Revolução Cultural Chinesa, tornou-se um líder totalitarista, e afastou a Romênia do bloco do leste, isolando-a da política comunitária proposta no Pacto de Varsóvia. A Securitate (polícia secreta romena) agia desde a década de 40, e multiplicou sua ação durante os anos de Ceaușescu. Povoados foram destruídos, assim como um quinto da Capital – uma área histórica, “que seria reconstruída segundo a vontade de Nicolae”.

A megalomania de Ceaușescu resume-se figurativamente no Parlamento de Bucareste (Palatul Parlamentului). Segundo maior edifício vertical do mundo (perde somente para o Pentágono), teve suas obras iniciadas em 1984 por uma arquiteta romena, sendo que até hoje não foi concluído – por sua extensão absurda, seus materiais caríssimos, entre outros motivos. Um monumento incompatível à situação miserável romena, erguido sobre uma colina (Colina Spirii), no lugar de 30 mil residências, e de diversas igrejas, das mais diversas religiões. O Parlamento era a tradução do culto à personalidade e da corrupção – duas marcas latentes de seu governo.

Após um confronto entre militares e manifestantes que iam contra o regime opressor de Ceaușescu, forças armadas e população alinharam-se. O ditador fugiu, mas foi capturado, julgado e morto.

Cenário esse que muitos sonham hoje em dia no Brasil.

O Parlamento Romeno: um edifício equivalente à megalomania de seu mentor.

O Parlamento Romeno: um edifício equivalente à megalomania de seu mentor.

Imponente, opressor e lindo.

Imponente, opressor e lindo.

Uma foto possível em um país democrático.

Uma foto turística, possível somente em um país agora democrático.

Se ainda hoje houvesse um líder semelhante a Ceaușescu governando a Romênia, essas fotos acima não seriam possíveis; não teríamos caminhado e aproveitado a beleza da cidade, do Parlamento (que hoje em dia funciona abrigando alguns órgãos de governo, além de um museu), das ruas, feirinhas e parques belíssimos, que merecerão outros futuros textos em nosso site.

Radica – ou Radika – contou algumas de suas histórias pessoais; de como as distâncias entre campo e cidade ainda hoje são grandes pelos desdobramentos do governo de Nicolae; de como a economia – mesmo após duas décadas de sua morte – ainda sofre para acompanhar o bloco. Se alegra em contar que hoje pode conversar com outras pessoas, estudar outros idiomas, trocar experiências… enfim, aprender e ensinar. Hoje Radica – ou Radika – pode viver em paz.


Nicolae Ceaușescu era um ditador. Como Hitler, Stalin e Kim Il-sung. Enquanto esteve no poder, minorias religiosas e étnicas foram dizimadas. Não havia liberdade de expressão. A censura era severa, atingia a imprensa, a população, e a polícia secreta eliminava ou desaparecia com os que se opunham ao regime. Pessoas eram vigiadas em todos os lugares, o tempo todo, e delatadas anonimamente.

Ditador é o principal comandante de um processo de ditadura. Ditadura é uma coisa que muitas pessoas querem hoje para o Brasil**. Durante a ditadura, viajar, conhecer, aprender e disseminar conhecimento são atividades proibidas ou fiscalizadas. O Faniquito não existe em  uma ditadura, pois “ter um faniquito” é uma atividade ilegal nesse tipo de regime. Por essa razão, entre outras tantas – em que basta tão somente a informação, um pouco de estudo, curiosidade, e nenhum passaporte, dinheiro gasto ou milhas acumuladas – que somos totalmente CONTRA qualquer posicionamento pró-ditadura ou golpe militar, sob qualquer circunstância. Vivemos – eu e a Dé – os últimos minutos desse regime, e dele quase não lembramos. Certas coisas – o poder pelas armas, a opressão, o racismo, a xenofobia, o extremismo religioso, a intolerância, o fanatismo, entre tantos outros males que notória e historicamente não são justificáveis sob nenhum aspecto. Nunca foram. E nunca serão.


*Sabemos que a dominação de um país durante determinados períodos históricos resulta na imediata exploração de seu povo, seus recursos e facilidades. Antes de botarmos o dedo na cara dos soviéticos, vale lembrar o que aconteceu com os nativos do NOSSO país quando da chegada dos então “conquistadores”, pra onde foram nossos recursos, entre outras semelhanças históricas. E ainda hoje “comemoramos essa descoberta”.

**Sugerimos esse rápido “exercício de sobrevivência a um regime ditatorial”, somente para confirmar as tantas e pesadas linhas de hoje. E interamos: não existe ditadura “mais” ou “menos” branda: qualquer coisa capaz de causar a morte, o sofrimento ou o trauma a uma única pessoa já vai contra nossa natureza, e merece todo o desprezo possível:  http://super.abril.com.br/jogo-ditadura-militar/

Polônia

Meu caso de amor
com um corneteiro polonês

12 de março de 2015

Por Juliana Eliezer


Cracóvia, ao que parece, não é um destino popular entre brasileiros. Digo isso sem preconceito algum, e não sei explicar por que. Segundo minhas impressões, se você não passa por Varsóvia, fica mais difícil chegar e sair da antiga capital polonesa. De Praga, tomei um trem até a fronteira e, a partir de lá, uma van, conduzida por estradas surpreendentemente conservadas e bem sinalizadas, e que me deixou no meu hotel pouco depois das onze e meia de uma noite gelada do final de outubro.

Sou ansiosa, não gosto de esperar: depois do banho e de vestir roupas limpas, desci os degraus desbeiçados do meu hotel, que ficava num prédio de apartamentos tão velho que parecia que iria cair na minha cabeça a qualquer momento, mas que estava na cara do gol para se acessar Stare Miasto, a cidade velha, e meti as caras, acreditando nos relatos dos viajantes que diziam ser Cracóvia super segura para turistas estreantes.

Minutos depois, meu primeiro contato com Rynek Glowny, a maior praça medieval da Europa, envolta numa camada de névoa espessa, que tornava fantasmagórica a iluminação do prédio que eles chamam de Sukiennice, e eu chamarei de mercado central.

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Parentesis: nem se preocupem com a pronúncia desses nomes todos… para vocês terem uma ideia, Cracóvia em polonês se escreve Kraków e se pronuncia “crrrácúfff”, ou algo assim… inútil, portanto, a preocupação com tais preciosismos. Fecha parentesis.

Rynek Glowny levou exatos três segundos para roubar meu coração. Gigantesca, cheia de detalhes e de contrastes – uma igreja do século 10 a poucos passos de um Hard Rock Cafe – estava ali ela, quase envelopada na bruma, de um jeito que fazia com que eu tivesse a impressão que podia pegar o ar com os meus dedos. Quase não havia luzes acesas nas casas que a ladeavam, restaurantes e hoteis em sua maioria, emprestando à praça um curioso aspecto fantasmagórico e nada assustador ao mesmo tempo. Acreditem vocês também: é seguro de fato, mesmo à meia noite e meia de um dia de semana. O máximo que pode acontecer é o turista ser abordado por um dos montes de promotores que entregam panfletos dos bares e restaurantes nas imediações, ou mesmo pelo Freddy Krueger que anda por ali fazendo propaganda da Lost Souls Alley, atração de terror que fica logo ali, na Ulica Florianska.

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Dadas as muitas horas de viagem que eu carregava no lombo naquele momento, somadas à fome que eu estava, meu primeiro exame de Rynek Glowny foi um pouco precário, consistindo apenas em uma volta e meia, para depois tomar o caminho do McDonald’s mais próximo (só porque eu ainda não conhecia o restaurante 24 horas que só vende pierogis, os maravilhosos dumplings recheados que provavelmente são a melhor coisa que já comi na vida). Na volta, apenas uma pequena olhada, dessa vez mais de perto, no prédio do Mercado, que descansava ali no meio do largo. Faltavam dois minutos para a uma da manhã, e eu precisava de sono, muito sono.

Ao caminhar em direção ao hotel, por uma das saídas da praça – aquela que passa pela lateral da Bazylika Mariacka, ou Basílica de Santa Maria, famosa pela assimetria de suas duas torres frontais. Andava com meus passinhos rápidos de garota baixinha, quando me vi subitamente detida: o que eu estava ouvindo era um toque de clarim, ou de algum instrumento de sopro que se assemelhasse.

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A música continuou, sem que eu conseguisse identificar de onde vinha. Aliás, ela parecia mudar de lugar conforme se desenvolvia. Fiquei ali parada, olhando para os lados, para cima, para baixo, perdida, meio atordoada. Os toques eram altos, tinham um quê de lamento e pareciam vir de todo canto. Estática, na lateral semi vazia da praça, com a névoa granulando a noite e aquele som misterioso, acho que senti-me numa cena de filme impressionista.

De repente, parou. Sim, a música parou, como se tivesse ficado pela metade. Como se alguém tivesse puxado a vitrola da tomada. Hoje, me arrependo de não ter tirado uma selfie da minha cara de ponto de interrogação (só vim a conhecer o pau de selfie muitos dias mais tarde, em Roma). O que tinha sido aquilo? “Toca mais“, quase gritei, rindo sozinha da minha vontade boba de mandar o corneteiro misterioso tocar Raul. Uns minutos depois, quando me convenci de que ninguém retomaria a música de onde ela havia parado, voltei para o hotel, prometendo a mim mesma que me seguraria para não googlar o incidente, e ver se no tour guiado do dia seguinte eu descobriria alguma coisa.

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Vejam só, essa viagem me tornou uma viciada em tours guiados, tanto aqueles previamente pagos quanto os outros, nos quais você oferece ao guia o tanto de grana que achar que o tour valeu. O de Cracóvia pertencia a este último tipo, e tive a sorte de ser ciceroneada por um rapaz chamado Tomek, que além de falar inglês muito melhor que eu, sabia tudo sobre todas as histórias bizarras, curiosas e lindas da Stare Miasto. E foi por ele que fiquei sabendo qual era a do corneteiro misterioso…

Depois de darmos uma volta pela Cidade Velha, Tomek levou o grupo para a frente da Basílica, às duas horas da tarde, em ponto. Mandou que todo mundo olhasse pra cima, em direção à torre mais alta. Obedecemos. Uns instantes depois, vemos uma janela se abrir, lá em cima, num ponto muito alto para que se tirasse uma foto que prestasse sem o uso de teleobjetiva. Usando meus pobres óculos, contudo, consegui ver o clarim sendo posto para o lado de fora da janela, e então ouvi o som que se seguiu. Era a mesma música lúgubre da noite anterior, e o corneteiro revezava as janelas, se locomovendo pelo lado de dentro da torre. Ate que, no mesmíssimo ponto, parou. Colocou a mão para fora, acenou e fechou a janela na nossa cara. Fim do mistério.

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Tomek contou que, lá pelos idos de mil, duzentos e alguma coisa, o sentinela que tomava conta da cidade avistou, ao longe, uma cambada de invasores tártaros, que ao que parece planejavam tomar Cracóvia. Acordou todo mundo bem na hora H com o toque do seu instrumento, e a cidade conseguiu se livrar dos inimigos. Tristemente, o corneteiro-heroi não viveu para comemorar a vitória: enquanto tocava, foi atingido por uma flecha bem no pescoço, parando a música pelo meio. E aí que, de hora em hora, hoje, após as badaladas do campanário da Basílica, um funcionário público faz as vezes de corneteiro-heroi, reproduzindo a canção até o momento em que ela foi interrompida. Ou assim diz a lenda. É ou não é para se apaixonar?

Cidades importantes são cheias de crônicas e contos próprios. São verdadeiros repositórios. Em Cracóvia, o real se mistura ao imaginário, o sublime ao sangrento, o real ao popular, num caldeirão fumegante (fui falar de caldeirão, lembrei de novo dos pierogis) que encanta qualquer um. Tem corneteiro, tem dragão, tem papa. Tem rei, tem igreja de torres diferentes. Tem amor, tem guerra. Essa que contei foi apenas uma das histórias que tornou Cracóvia o meu destino favorito na Europa, até agora. Todas as outras são, porém, igualmente apaixonantes, e a gente pode aprender indo lá e escutando-as de um guia, ou sonhando que está lá e digitando alguns caracteres no Google. Recomendo a primeira maneira, para fazer asap, assim que a oportunidade surgir. Sim, acho que posso dizer, com segurança e por promíscuo que pareça, que meu caso de amor não foi só com o corneteiro-heroi, mas sim com toda a Cracóvia.


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República Tcheca

O baque de Český Krumlov

5 de março de 2015

É impossível descrever o que a gente sente ao descer do ônibus, na chegada a Český Krumlov. A rodoviária mais parece um pequeno estacionamento, e de lá segue-se à pé por poucos minutos até a entrada de seu Centro Histórico. O cenário avistado ainda de longe é inacreditável: a torre de um castelo, uma ponte de pedras, uma parede verde que termina em um rio sinuoso, e um vilarejo de casinhas coloniais… telhados vermelhos, paredes bonitas, e os mais diferentes tons de verde. Poderia ser encontrada em qualquer livro de contos de fada – mas é de verdade.

Se a primeira impressão é a que fica, definitivamente eu não estava preparado.

Se a primeira impressão é a que fica, definitivamente eu não estava preparado.

A cidade de fato vai além desses limites – possivelmente com as moradias dos cidadãos, que durante o dia trabalham no Centro Histórico. São várias as hospedarias, os restaurantes e as lojinhas, que vendem produtos de todos os tipos: artesanatos locais, adesivos temáticos, roupas (típicas ou não), brinquedos de madeira, mercearias, etc. Não conhecemos os arredores, justamente por esse motivo. Porém, desbravar a cidade velha é uma delícia, e pode ser feito em um dia e meio – tranquilamente e sem correrias.

O fluxo de turistas é grande, mas tranquilo.

O fluxo de turistas é grande, mas tranquilo.

De perto tudo é ainda mais bonito.

De perto tudo é ainda mais bonito.

Old Český Krumlov está charmosamente “abraçada” num rio em formato de ‘S’. Suas ruelas permitem o trânsito de carros, mas ele é raríssimo – e de certa forma bastante trabalhoso aos que tentarem. Os turistas tomam conta do local, mas seu fluxo passa longe de ser aquela coisa insuportável. Passeia-se com razoável tranquilidade entre suas ladeiras, e nelas encontra-se algumas coisas que desde então alimentam nossa saudade da cidade: existem artistas locais tocando música tradicional em suas pequenas pontes (com sapatos pontudos e instrumentos insólitos); existem algumas lojas/janelas que vendem o Trdelník (que não é tcheco, mas originário da Transilvânia) – uma espécie de pão em espiral coberto de açúcar e canela, cujo aroma e sabor são impossíveis de se traduzir aqui (mas as imagens farão você desejar um assim mesmo); atravessar a cidade de uma ponta a outra não leva mais de 15 minutos, e essas são apenas algumas das peculiaridades e delícias de Český Krumlov.

E dessa linda janelinha...

E dessa linda janelinha…

...sai essa verdadeira delícia quentinha - e no caso, recheada.

…sai essa verdadeira delícia quentinha – e no caso, recheada.

A travessia da cidade pode ser feita inclusive de bote :)

A travessia da cidade pode ser feita inclusive de bote 🙂

O programa obrigatório de Český Krumlov é visitar o castelo. Uma das coisas bacanas: esse programa é de graça. É possível passear por dentro de suas muralhas, conhecer o local que funcionava como uma espécie de feira lá dentro, atravessar um enorme hall central, e de lá subir uma ladeira para conhecer os jardins no alto da cidade. Mais: nesse mesmo complexo, após atravessar o enorme e espetacular labirinto verde, encontra-se um restaurante de comida típica ao final desse jardim, lá em cima, chamado Krčma Markéta* (http://www.krcma-marketa.cz/). Deleite-se com a cerveja artesanal e as carnes preparadas na pedra, além de um apfelstrudel pra comer de joelhos.

As muralhas do castelo, vistas de baixo.

As muralhas do castelo, vistas de baixo.

Já lá em cima, o mercadinho daquela época.

Já lá em cima, o mercadinho daquela época.

E após atravessar o hall central...

E após atravessar o hall central…

...você recebe a cidade de presente.

…você recebe a cidade de presente.

Após a subida, os enormes e lindos jardins lá de cima.

Chegando ao Krčma Markéta, esteja com fome e com sede (você estará). Cerveja artesanal, e comida rústica de verdade.

Por fim, o apfelstrudel. Que deveria vir numa moldura.

Por fim, o apfelstrudel. Que deveria vir numa moldura.

Depois de um almoço bem servido, desça a ladeira (sim, você não estará apto a fazer nenhum esforço depois desse banquete), atravesse o castelo e vire à esquerda para visitar o mais completo Museu de Tortura do Leste Europeu (cuja entrada é paga, mas vale a pena). De um touro de ferro que funcionava como forno para queimar pessoas, a sapatos com pregos e parafusos para esmagar os ossos dos condenados, o local é uma ode à criatividade maldita do ser humano. Um verdadeiro contraste à doçura e delicadeza da cidade, mas que só faz aumentar a sensação de se estar passeando numa história de fantasia – nesse “capítulo”, macabra.

Um lugar que você não gostaria de entrar...

Um lugar que você não gostaria de entrar…

...e acessórios que você não gostaria de vestir.

…e acessórios que você não gostaria de vestir.

A noite da cidade é deliciosa. As lâmpadas amarelas deixam as ruas à meia-luz. Alguns grupos de senhores se reúnem neste ou naquele bar, e cantam alegremente anunciando o final do dia. Os passeios ficam mais vazios, mas não menos tranquilos. Num mirante próximo à igreja dois músicos tocam viola, enquanto as pessoas admiram a lua sentadas nos bancos ou no gramado. A paz reina.

A vida noturna de Český Krumlov :)

A vida noturna de Český Krumlov 🙂

E o movimento das ruas.

E o movimento das ruas.

No mirante, música ao vivo, a lua e toda a tranquilidade do mundo.

No mirante, música ao vivo, a lua e toda a tranquilidade do mundo.

Existem outras atrações e possibilidades que Český Krumlov oferece. Porém, jantar após às 21h30 não é uma delas. A cidade FECHA (literalmente) por volta das 22h – ou seja, almoce e jante cedo, se não quiser passar fome, ou ter que se contentar com um lanchinho comprado nas mercearias. Outra coisa engraçada: não é servido café da manhã em praticamente nenhum restaurante, café ou bar. Se for, é capaz que ele seja assim:

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Český Krumlov é um lugar inesquecível. Daqueles que valem cartões de memória de tantas fotos, mas acima disso, de uma paz condizente com uma época que não vivemos, mas que quase podemos tocar estando lá, rodeados por paisagens tão espetaculares. Destino obrigatório aos que visitam a República Tcheca, e que deixa saudade aos que têm a oportunidade de conhecê-lo.


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.