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Gastronomia

Gastronomia, Tailândia

“Spicy or no spicy?”

3 de janeiro de 2017

A culinária tailandesa é famosa pelo “excesso” (ao menos pra nós, ocidentais – daí as aspas) de pimenta em seus pratos. Pra quem não curte um sabor picante, pensar em comer por lá pode fazer com que o destino escolhido seja outro. É com esse cenário que nos planejamos, e fomos comprovar se de fato a coisa era grave desse jeito…

Já adianto: não é*.

Estivemos em três lugares: Bangkok, Koh Phi Phi e Koh Tao. Em todos você encontra uma variedade bastante grande de restaurantes, bares e lanchonetes. Na capital do país predomina a comida local, mas outras opções existem em abundância. Não é difícil encontrar um hambúrguer, uma massa ou um peixinho. A comida de rua é presença constante e maciça, mas não provamos por pura paranoia pessoal (o que é meio estúpido, mas pra uma primeira viagem pro outro lado do mundo resolvemos apostar na segurança e correr poucos riscos).

Sobre essas variedades: a comida de rua é perfumadíssima, e dá o tom local que todo viajante procura. Em banquinhos minúsculos ou sentados no chão, quem opta por ela come muito bem e paga muito pouco. Quanto às outras opções listadas acima, normalmente são encontradas na maioria dos restaurantes, dividindo o cardápio com os pratos locais. O curry é presença constante entre os pratos locais, e experimentá-lo em suas variações tornou-se um exercício muito legal, praticado por este que vos escreve. Além do sabor marcante, é uma ótima maneira de se habituar com a pimenta. Da mesma forma, os pratos com noodles – aquele macarrãozinho simpático – também estão sempre presentes, e normalmente são a opção segura para os não chegados numa pimentinha. Mas comer macarrão todo dia não dá, né amiguinhos…

Comida de rua é a imagem mais tradicional de Bangkok que ninguém fotografa. Mas mesmo fotografando, fico devendo o cheirinho pra vocês.

Não se deixei enganar: não é a cor do curry que determina se ele é “picante” ou “muito picante”. E a porçãozinha de arroz é pra dar uma contrabalanceada nessa pimenta toda.

Não está a fim de encarar comida picante? Vá de noodles sem medo!

Pimenta que está de fato presente em quase tudo. A Dé tentou por algumas vezes perguntar antes do pedido se o prato A, B ou C era apimentado. Mesmo nas negativas, o que vinha era pelo menos um pouco picante. Recomendação pessoal: TREINE antes de ir pra lá. Sim, gaste seus vidrinhos de Tabasco, principalmente aquele da Habanero. Mais importante do que se habituar com a pimenta que entra é encarar com dignidade a pimenta que sai. Adquirir um pouco de tolerância pode ser a diferença entre os dias legais e os desconfortáveis. Porém, longe de ser uma coisa insuportável. Em momento algum eu deixei de comer alguma coisa pela quantidade de pimenta. Vá com calma, prove, acostume-se e saboreie.

Nas ilhas (Koh Phi Phi e Koh Tao) as opções são muitas, uma vez que a frequência turística em ambas é monstruosa. De pizzas a hambúrgueres, dá pra encontrar de tudo. Os frutos do mar são excelentes, e pra quem gosta dá pra pedir um caranguejo caprichado (a gente tentou, mas continuamos detestando o dito cujo pelo custo-benefício ser aquela martelação sem fim pra quase nada). Curry e Fried Rice são bem-vindos, inclusive no almoço, debaixo daquele sol obsceno. A cerveja mais comum é a Chang (que vai estampar pelo menos uma das camisetas que você trará de recordação), mas a mais gostosa é a Leo. Experimente ambas. Os sucos e shakes são excelentes – shakes que por sinal não têm nada a ver com milk-shake. São sim batidas de frutas – às vezes com um pouco de leite condensado (que não passa perto do doce que conhecemos) e bons punhados de gelo. Coloridos, vistosos e gostosos, pra combater o calor dos temperos.

Se pedir pizza, lembre-se: você não está em São Paulo (nessas horas, infelizmente).

Um hambúrguer de fazer inveja a muito reduto hipster, por um preço igualmente maravilhoso. Pra interromper qualquer experiência gastronômica oriental sem nenhum peso na consciência.

Lula, pra você que não é coxinha 🙂 #foratemer

Fried rice dentro de um abacaxi, cheio de frutos do mar, verduras e legumes. Um dos principais pratos de Koh Phi Phi.

O caranguejo realmente veio lindo, mas a gente continua não sabendo comer esse troço. Pra quem gosta, uma ótima pedida.

E em Koh Phi Phi tomei o suco mais bonito que eu já vi na vida. Pitaia rosa é exatamente dessa cor, a foto não está saturada.

Ainda nas ilhas: café da manhã é coisa comum (parece informação besta, mas tem lugar na Europa que pra encontrar um é um verdadeiro parto), fácil e variadíssima. Tem de tudo: as tradicionais panquecas doces e salgadas, wraps saudáveis, combos inusitados (como o english breakfast, com direito a feijãozinho doce e linguiça), e cafés quentes, gelados, puros ou misturados. Forrar a pança antes da praia é uma ótima ideia, já que sair dela pode causar um conflito emocional daqueles.

Por que não um wrap de salmão com chips de mandioca logo cedo?

English Breakfast? Tem… mas se você está com saudade do feijão daqui, não é bem isso o que você vai encontrar. Mas é gostoso 🙂

Zona de conforto: peça um cheese frangão, e comece o dia no sossego!

Resumão desse texto: não deixe que a pimenta e as especiarias orientais impeçam você de conhecer esse país. A Tailândia é um lugar sensacional, e você vai comer coisa boa por preços módicos. E se der um bode hora dessas, sempre tem um McDonalds ou Burger King por perto pra matar saudade dessas porcarias que a gente ama.

*Que fique claro: esse é um relato pessoal. Tolerância é coisa de cada um, e obviamente existem lugares, pratos e opções que podem desmentir esse texto de cima a baixo. É questão de opção arriscar pra mais ou pra menos. Divirta-se 😉

Gastronomia

Quem resiste ao kebab?

31 de março de 2016

Na maioria dos países da Europa, o kebab é uma excelente opção para enfrentar a fome – aquela companhia constante (e chata) em qualquer viagem bem aproveitada. Prato quase onipresente, é encontrado em restaurantes, vendinhas, em quiosques nas ruas e até mesmo em algumas galerias. Os responsáveis por tal difusão são os turcos, cuja culinária permeia e influencia diretamente os hábitos alimentares do continente.

É comum confundí-lo com o churrasco grego brasileiro, e os que “temem” tal coincidência (que se justifica em alguns aspectos ruins, e em outros muito bons) podem se privar de uma experiência gastronômica espetacular. A semelhança está justamente na forma como está disposta a carne do lanche: um espeto giratório. E termina aí, se você escolher um lugar minimamente preparado para sua refeição – porque sim, podrão tem em tudo quanto é canto no mundo.

O kebab em seu formato "tradicional", que é aquele enroladinho. Mas...

O kebab em seu formato “tradicional”, que é aquele enroladinho. Mas…

...ele também pode chegar num pão gigante maravilhoso!

…ele também pode chegar num pão gigante maravilhoso!

De cordeiro, carne ou frango (e às vezes, com essas carnes misturadas), o kebab costuma transbordar recheios: molhos, tomate, alface, repolho, cebola, pimenta, e até mesmo batata frita podem acompanhar os sabores do espeto. Conta também o fato de não ter um “formato muito definido”, podendo ser servido num taco, num pão, num prato ou numa caixinha, dependendo do gosto e da fome do freguês. A Dé experimentou pedir um kebab sem todos os ingredientes e levou uma aloprada do vendedor, então esteja preparado pra ouvir umas piadinhas em caso de maiores requintes.

De todos os atrativos, o maior talvez seja o preço. Equivalente à nossa comida de rua e mais barato do que os famigerados food trucks, o kebab pode causar certa desconfiança por ser um prato tão acessível. Uma tremenda besteira e um certo preconceito – a gente também costuma torcer o nariz pras Kombis espalhadas por aí, até experimentar um X-Tudo num dia de fome. Observe o ambiente, a frequência e os lanches nas mesas ou mãos vizinhas. Sentindo confiança, arrisque.

Apesar da semelhança com o churrasco grego, a higiene é outro papo.

Apesar da semelhança com o churrasco grego, a higiene é outro papo.

E o resultado, também!

E o resultado, também!

Valorizar aquela graninha guardada pra viagem consiste também em partir pros quitutes locais vez ou outra. Com tamanha presença em tantos lugares, fugir de algo tão saboroso e barato não faz sentido. O kebab é daquelas coisas que a gente voltou sentindo falta, e funciona como impulso pra voltar e matar saudade. Prepare a fome e divirta-se!

Gastronomia, Romênia

Caru’ Cu Bere, e o eisbein gigante

19 de janeiro de 2016

Hoje a gente vai falar de gordice. O Caru’ Cu Bere* não é para amadores.

Depois de uma primeira incursão não tão feliz na culinária romena, resolvemos buscar indicações com procedência para nossa segunda refeição. Como chegamos em Bucareste à tarde, havíamos jantado num lugar esquisitinho – uma quase tradição em nossas viagens, nunca acertamos logo de cara um lugar bacana (apesar da cerveja ter funcionado como um belíssimo cartão de visitas). Nossa aposta estava no almoço seguinte, e nossas fichas foram pro Caru’ Cu Bere.

Antes de explicar as razões para essa escolha, um pouquinho de história:

O Caru’ cu bere é um restaurante cuja história começa em 1879, e está localizado no centro histórico de Bucareste. Os tapumes na fachada entregavam um delicado e cuidadoso projeto de restauração. Originariamente da família de Nicolae Mircea, o restaurante passou para o domínio da Companhia Comercial de Bucareste em 1948, durante o período pós-guerra, tendo suas paredes internas e pinturas cobertas por uma inexplicável e bizarra camada de gesso. O processo de restauração de seu interior começou na metade dos anos 80, sendo o prédio retomado definitivamente pelos descendentes de Mircea somente em 1999. Desde então, a restauração de sua arquitetura tem sido executada com os devidos cuidados.

E como é bonito, o danado...

E como é bonito, o danado…

Muito bem. Lá estávamos, e ao nosso lado um enorme grupo de turistas. Considerado o restaurante número um de Bucareste, é de se esperar que sua frequência seja alta. Uma moça nos atende em inglês fluente, e nos leva ao subterrâneo – um dos três pisos, além da área de calçada onde localizam-se trocentas mesas. Mais do que aparentar, o Caru’ Cu Bere dá a impressão de abrigar toda a população da Romênia. Recebemos o cardápio, e a paixão me arrebata logo de cara – definitivamente, nossas fichas estavam mesmo no lugar certo.

Quando você vê uma foto e reconhece o amor.

Quando você vê uma foto e reconhece o amor.

Estreando na Europa, a Dé pede um schnitzel – coisa que eu também estava com vontade de fazer, mas como resistir a um joelho de porco com uma faca enfiada? E não amigos, não estamos falando do Valdívia no Departamento Médico do Palmeiras! Mesmo com o aviso “for two persons” no rodapé da foto, ignorei completamente os bons modos e ativei o ogro que mora no meu coração. Enquanto esperávamos os pratos (e sim, o atendimento é lento – o que prova que paulista é realmente neurótico e mal-acostumado), abracei a cerveja da casa como se fosse uma velha amiga. A pequena fez o mesmo, em uma das poucas vezes em que ela se arriscou na viagem.

Dé, num raro momento "viking meigo com calor"

Dé, num raro momento “viking meigo com calor”

Algum tempo depois, estávamos famintos. Havíamos passeado durante toda a manhã e comecinho da tarde. O salão inferior era bastante barulhento, com os garçons passando a todo momento, pessoas falando alto (e bebendo como se devem afinal aquilo era também uma cervejaria). Quando estávamos quase desfalecendo de fome, abriram-se as portas da esperança.

Derramando lágrimas de saudade.

Derramando lágrimas de saudade.

O desafio estava lançado: o joelho de porco (com uma casquinha possivelmente inspirada nas sacanagens mais sujas dessa vida), pickles, polenta, raiz-forte, repolho e pimentas. Foram poucas vezes na vida em que um sorriso de satisfação foi tão espontâneo e sincero.

Isso, meus amigos, chama-se FELICIDADE.

Isso, meus amigos, chama-se FELICIDADE.

Mesmo mais modesta, a Dé também recebeu amor em forma de comida.

Mesmo mais modesta, a Dé também recebeu amor em forma de comida.

Almoçamos lindamente, e obviamente eu demorei muito mais que a Dé pra terminar o eisbein (contei inclusive com a ajuda dela em alguns momentos, pois dividir comida é amor). Foi a primeira de muitas visitas que fizemos ao restaurante, contrariando nossos hábitos de desbravar a maior quantidade possível de lugares diferentes numa viagem. Mesmo não sendo o lugar mais barato do mundo, cabia no bolso, o cardápio era gigante, e um almoço com tamanha qualidade e gostosura pedia novos desafios. Testamos coisas diferentes, que foram igualmente satisfatórias, mas ficou ali um gostinho de “precisamos fazer isso de novo, a quatro mãos”.

Não deixamos de dar aquele alô pra costelinha...

Não deixamos de dar aquele alô pra costelinha…

...e pra linguicinha...

…e pra linguicinha…

...recheada <3

…recheada <3

Decidimos: seria um outro eisbein nosso prato de despedida da Romênia (e da Europa) ao final da viagem. Quase um mês depois, voltamos. E numa noite chuvosa, após um dia corrido e cansativo, estávamos famintos e exaustos. Parecia o fechamento perfeito.

E foi. COMO FOI, MEUS AMIGOS. E assim que chegou aquele tarugo de porco cheiroso, resolvemos gravar um videozinho em homenagem ao outro viking que conhecemos, e que deveria domar tal iguaria com prática mais que natural: meu sogro 🙂

Se abriu seu apetite, não foi em vão. Amiguinhos: a Romênia é demais, e o Caru’ Cu Bere um dos lugares obrigatórios pra você visitar na vida. Um restaurante aberto há tanto tempo, que serve uma cerveja linda, trocentos pratos gostosos e UM PORCO DESSE TAMANHO está contribuindo para o avanço da humanidade, e precisa ser prestigiado por gerações e gerações. Vá com fome!

Para quem quiser saber mais: www.carucubere.ro


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina, Gastronomia

As ovelhinhas

12 de novembro de 2015

Se você está de dieta, este texto não é pra você*.

Um dos produtos de maior destaque na culinária argentina é seu sorvete – fama justificada e merecida, que se diga. Não faz muito tempo que qualquer pessoa que viajasse pra lá tinha quase que por obrigação experimentar os sorvetes do Freddo, marca que possui uma infinidade de lojas em Buenos Aires (e que desembarcou no Brasil já há alguns anos). Experimentar um Freddo no Brasil – lamento informar – não é a mesma coisa do que fazê-lo em seu país de origem: com uma quantidade muito maior de sabores, até mesmo a textura do sorvete varia. Continua sendo um programão, que a gente sempre que pode usufrui.

Respeita o Safadão.

Respeita o Safadão.

Mas não viemos aqui falar do Freddo.

Com apenas duas lojas, sendo uma em cada cidade – Ushuaia e El Calafate – a Ovejitas de la Patagonia** (http://www.ovejitasdelapatagonia.com/) é a principal loja de sorvetes da Patagônia Argentina. Com uma simpática (e óbvia) ovelhinha como mascote, suas vitrines atraem qualquer pessoa que goste de chocolate e sorvete: ou seja, quase todo ser humano vivo e com um mínimo de prazer por comida gostosa.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Deixamos para conhecer a loja somente em Calafate (burrice, com o passar dos anos a gente aprende a não adiar certos prazeres). O menuzão na parede destaca quem realmente importa – nada de Flocos e Creme (por sinal, quem inventou essas duas porcarias)? Entre frutas e doces que de fato merecem uma versão gelada, qual não foi nossa surpresa quando demos de cara com um sabor descrito como CHOCOLATE SUPER DELICIOSO? Essa coisa meio Willy Wonka mexe com a cabeça de qualquer pessoa, e foi o primeiro de nossos diversos pedidos. Bem, um sorvete de chocolate ARGENTINO misturado com pedaços de doce de leite ARGENTINO… a gente acaba perdendo a cabeça mesmo.

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente...

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente…

...o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

…o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

Ostentação e amor.

Ostentação e amor.

Além do sorvete, diversos chocolatinhos, doces e outras coisas coloridas fazem parte do universo ovelhístico. É tudo tão bonitinho (e deve ser tão gostoso) que seu orçamento pode ir pro espaço se você acabar se deixando levar pela emoção. Em Calafate está também a fábrica do sorvete, a qual tentamos visitar sem sucesso (acho que demos azar e a dita estava fechada quando aparecemos por lá). Sem problemas: o que importa é a loja, e seu cardápio que acaba virando um desafio pessoal a ser vencido.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Sim, a Patagônia é um lugar gelado. Tomar sorvete no frio? É uma das coisas que mais fazem sentido nessa vida – e sorvete bom… meu amigo, isso não tem clima que te desanime! E quem é capaz de falar não para ovelhinhas tão simpáticas?


* Por sinal, nenhum texto do Faniquito é. Acostume-se, ou procure um site de viagens diet.

** Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Gastronomia

Quem tem boca…

20 de outubro de 2015

O princípio fundamental de qualquer viagem é experimentar. É fato: estando fora de casa, queremos fazer, experimentar ou viver algo diferente. Mesmo as viagens mais cômodas e sossegadas pedem por esse ar de “coisa nova”, seja ela uma bebida, um prato, um banheiro, uma cama, ou mesmo um horário diferente do que nos acostumamos a acordar todos os dias. Pra fazer o de sempre, melhor ficar em casa… certo?

Eu e a Dé nunca cozinhamos nos albergues em que nos hospedamos. Nada pessoal, muito menos preconceito, mas das nossas necessidades (de casal, e mesmo pessoais) experimentar a comida local é tão importante quanto conhecer um novo lugar – e disso a gente não abre mão. Respeitamos e admiramos aquela galera que passa toda uma viagem na base do pão Pullmann e miojo, mas nas contas que fazemos antes de viajar, poder comer sem se preocupar é uma de nossas diversões. E pra que possamos fazer isso da forma mais bacana, preferimos experimentar o que estiver na frente. Nem sempre a gente se deu bem fazendo isso, mas temos boas histórias pra contar:

Ovos romenos

Estávamos no Caru’ cu bere – um dos restaurantes mais antigos e tradicionais de Bucareste (e que será tema de texto mais pra frente). Chegamos cedo, querendo tomar um café da manhã antes de sair pra conhecer a cidade. Sendo um verdadeiro ponto turístico, todos os funcionários falam inglês. Pedimos o cardápio, e ele veio – todo bilíngue, exceto nos pratos do café da manhã. Podíamos perguntar para a garçonete, mas preferimos valer o risco e pedir pela beleza estética das palavras em romeno. A Dé ganhou dois ovos. Eu, um omelete com chá. Eu não como ovo, então a Dé acabou comendo omelete com ovos, e eu fiquei só no chá (minha hora do almoço foi, por consequência, selvagem).

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Poderia ter sido uma baita decepção, mas a pequena gostou do prato duplo dela, e eu tomei o melhor chá da minha vida – sem hipocrisia, tava tão bom que eu tive que procurar sabor semelhante no Brasil (e o que mais se aproximou foi o vermelhinho da Twinings).

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia :)

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia 🙂

Trocando em miúdos

Em nossa primeira viagem à Argentina, abrimos mão de experimentar a parrillada por pura falta de dinheiro/estômago. E se você não sabe o que é parrillada, a gente explica:

“A parrillada permite provar diferentes partes da vaca. Esta refeição geralmente começa com uma salsicha e chouriço, antes da chegada da carne principal. Ela também pode ser acompanhada de rins, pâncreas, fígado e tripas de gado. Frango e porco esporadicamente também estão inclusos.”

Quando voltamos pra lá, virou dívida pessoal. Acabamos nos metendo numa Parrilla (um restaurante especializado em parrillada) na cidade de Ushuaia. Um baita frio, uma baita fome, respiramos fundo e pedimos a criança. O restaurante estava lotado, e havíamos tido uma breve aula sobre o que viria naquele prato com meu sogro.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Com a parrillada na mesa, o caminho era sem volta: experimentamos um a um aqueles cortes bizarros de carne, com consistências e cores estranhas. Não dá pra dizer que detestamos, muito menos que amamos – apenas riscamos uma pendência da nossa lista pessoal, e sobrevivemos sem grandes dores àquele jantar esquisito.

Aaaaaaah…alpaca!

Havíamos terminado nosso primeiro dia de passeio em Machu Picchu. Descemos até a cidade, e entramos no primeiro restaurante que vimos na frente (e que nos pareceu entrável – não dá pra deixar o estômago falar na frente do cérebro sob hipótese alguma). Das opções do cardápio, nos chamou a atenção a carne de alpaca – e acabamos pedindo os quatro pratos iguais. Um prato que chegou lindo como esse da foto, e gostoso de um jeito muito difícil de se imaginar. Fomos embora de bucho cheio, e morrendo de saudade dessa carninha. Quando eu e a Dé voltamos pro Perú – em Lima – pedimos alpaca novamente, e ficamos sabendo que só servem a coitada em Cusco e arredores. Ou seja, foi realmente um prato típico e muito difícil de se encontrar em outro lugar. Ah… você não sabe o que é alpaca?

Alpaca: sua gostosa.

Alpaca: sua gostosa.

É esse bichinho simpático da foto lá do topo, que abre nosso texto de hoje. Pois é: por mais fofo que seja, na hora da fome a gente quer mesmo é dentar uma coisa suculenta. Dessa coisinha bonitinha comemos esse medalhão, espetinho e até pizza. Alpaca: experimente.

O desafio da arepa

O café da manhã na Venezuela era um verdadeiro desafio: Santa Elena de Uairén sofria com o desabastecimento (assim como ocorre com todo o país), e queríamos porque queríamos experimentar a tal arepa, que é um prato bem comum e típico do país. Fomos a um restaurante chamado La Arepera, crentes que conseguiríamos degustar o tal quitute. Porém, o garçom era mais atrapalhado que qualquer outra coisa, e depois de pedirmos duas arepas e dois sucos de laranja, recebemos dois tostex e duas Coca-Colas. Essa foi a reação da Dé ao ocorrido:

Arepa e suco? Não... tostex e Coca-Cola.

Arepa e suco? Não… tostex e Coca-Cola.

La Embajada: quem vê cara...

La Embajada: quem vê cara…

...não vê coração. Nem arepa :)

…não vê coração. Nem arepa 🙂

Foi num cantinho chamado La Embajada que encontramos nossa arepa… e que troço bom a tal massinha de polenta frita com recheios variados (no caso, nem tão variados, mas muito gostosos). Nossos cafés da manhã na cidade consistiam de arepas e sucos enquanto estivessem disponíveis (e mesmo comendo como se fosse um almoço, o valor nunca ultrapassava dez Reais PARA AMBOS). Ganhou um lugar especial no nosso coração.

Traumas ou delícias: tudo vira história. Então deixe seu medo em casa, e vá experimentar os sabores do mundo sem medo 🙂

Áustria, Gastronomia

Porquinho dourado

25 de agosto de 2015

Gastávamos a sola em Viena. A cidade convida a bons e longos passeios, e o metrô é de uma abrangência absurda. Ainda não havíamos chegado na metade da nossa viagem, e na Áustria experimentávamos várias novidades: o primeiro país que utilizava o Euro até então – havíamos passado por Romênia (Leu), Polônia (Złoty) e República Tcheca (Koruna), nosso primeiro país a não fazer parte do bloco do Leste, e também um de nossos destinos mais aguardados, uma vez que reza a lenda que Viena é uma das cidades mais bonitas do mundo – e do mundo que conhecemos até o momento, essa lenda faz bastante sentido.

Era um dia de sol, com céu aberto e azul na capital austríaca, e havíamos passado toda a manhã e o começo da tarde visitando o Schönbrunn Palace (mais comumente conhecido como o Palácio da Sissi, do qual falaremos futuramente por aqui). Um passeio que, quando feito de forma tranquila e sem correria, leva mais de quatro horas sem o menor exagero: não somente dentro do palácio, mas principalmente por seu jardim, que é gigantesco e repleto de outras atrações. Depois de acumular uma boa quilometragem dentro daquela área enorme, uma coisa ficou muito clara pra gente: estávamos azuis – de fome. Logicamente haviam algumas opções lá dentro, mas tínhamos outros planos para nossos Euros.

Só pra dar uma ideia do quanto andamos pela manhã, e quantificar nossa fome visigoda. Contamos mais sobre esse lugar num futuro próximo, e com o devido carinho!

Só pra dar uma ideia do quanto andamos pela manhã, e quantificar nossa fome visigoda. Contamos mais sobre esse lugar num futuro próximo, e com o devido carinho!

Dos nossos desejos culinários daquele canto do mundo, já havíamos encarado o kebab, o eisbein, a salsicha, o apfelstrudel e trocentas cervejas. Era hora de encarar o wiener schnitzel – a milanesa de porco, bem fininha, e que vem acompanhada de um limãozinho em cima faz parte de 9 de cada 10 cardápios que havíamos pedido até então por aqueles lados (compequenas variações de acompanhamentos). Por ser um prato típico da região, nada mais justo do que caçar uma referência na cidade. E lá fomos nós, gastar mais uma solinha de sapato.

Já de volta à região central da cidade, andamos um pouquinho até encontrar uma viela que passa desapercebida a qualquer pessoa de passo mais apressado. Notamos as paredes verdes, e a plaquinha que estávamos à procura: Figlmüller | Seit 1905. Nossa fome era inversamente proporcional ao tamanho do restaurante – um, de seus dois endereços. Olhando pela janela, diversos velhinhos e pessoas razoavelmente bem vestidas (estávamos em Viena, e se a gente já tem esse jeitinho mulambo de se vestir aqui mesmo no Brasil, o que dizer de nossos modelitos de viagem, ainda mais depois de passar uma manhã inteira caminhando?).

A entrada da vielinha (ao fundo, à direita da foto)...

A entrada da vielinha (ao fundo, à direita da foto)…

...e num ângulo invertido, as mesmas paredes verdes da foto anterior (mas agora, numa foto nossa).

…e num ângulo invertido, as mesmas paredes verdes da foto anterior (mas agora, numa foto nossa).

Com certa reticência – que era menor que nosso desejo de experimentar o schnitzel – nos arriscamos com o garçom, que nos levou a uma das poucas mesas disponíveis no restaurante. O espaço apertado no fundo da casa ao menos era exclusivo – outras mesas, mesmo que de quatro pessoas, eram divididas por pessoas que nem sempre faziam parte do mesmo grupo – e isso aparentemente não incomodava ninguém.

A destreza dos garçons – inclusive anotando os pedidos – passava aquela impressão de se estar num lugar em que todo mundo sabe o que faz – e faz bem. Senhores “com cara de austríaco” passavam de lá pra cá, se desviando nos pequenos espaços para circulação naquela casinha. Quando chamamos, obviamente tanto eu como a Dé pedimos o tão famoso schnitzel. Na hora das bebidas, uma curiosidade: nada de refrigerante no cardápio. Eu me arrisquei com um troço que, se não me engano, era uma tônica/água/coisa com limão – que era horrorosa, enquanto a Dé pediu um suco de uva. Mas danem-se as bebidas.

Quando a propaganda faz jus à experiência, e se basta em uma imagem.

Quando a propaganda faz jus à experiência, e se basta em uma imagem.

O prato é um exagero. Ou melhor, vamos refazer essa frase: o prato é menor que o schnitzel. Você pede um acompanhamento (na foto, temos uma porçãozinha de batata), e traça uma estratégia pra conseguir comer o discão de carne. A milanesa sequinha e o limão entregam toda a expectativa que você tem quando experimenta um prato tradicional de um restaurante tradicional. Não é por falta de méritos que a casa existe há 110 anos, pois a milanesa é realmente uma experiência pra se levar nas melhores lembranças. Olhando em volta, é quase uma unanimidade, sendo poucas as pessoas que se arriscam em outro prato – mais ou menos aquela situação da pessoa que vai numa churrascaria pra comer salada.

Nossa visita ao Figlmüller não rendeu fotos ou vídeos caprichados, infelizmente – estávamos preocupados demais com o sabor do porquinho, e nossos registros foram de fato deficientes. Pra compensar essa falha, resolvi publicar um vídeo que encontrei nesse oásis chamado Youtube, que mostra a cozinha e o preparo do schnitzel no Figlmüller. Pra quem entende alemão, aceito a tradução das informações. Aos leigos (como eu), vale o registro da preparação da milanesa da foto a partir dos 4:30 (o vídeo é bom inteiro, então assistam sem pular). E caso aceitem o desafio, façam isso com fome. É espetacular.

*Nossa publicação de hoje tem motivos culinários por celebrar a marca superior a MIL SEGUIDORES, obtida ontem à noite com um incentivo mais que especial do Receitando Gastronomia, que vem nos dando uma força daquelas há alguns meses. Nossa forma de agradecimento põe na mesa comida e passaporte – essa combinação mais que perfeita, e que de apetite inesgotável 🙂