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Causos

Causos, Croácia, Gastronomia, Ir e vir

Winter is coming – parte 1

13 de abril de 2015

Pegando embalo na estreia de mais uma temporada de Game Of Thrones, com a turminha de Jon Snow, Tyrion Lannister e cia. na noite deste último domingo, faremos uma semana especial por aqui no Faniquito – não sobre a série, mas sim sobre uma de suas locações mais bonitas e vistosas: Dubrovnik.

Porém, esse primeiro texto não será tão direto. A cidade será apresentada na próxima quinta-feira, com a volta da Debs pra cá (após um mês de aprimoramento profissional do/para o Faniquito). Hoje darei algumas dicas sobre o que fazer quando em Dubrovnik – coisas que o pessoal do Game Of Thrones possivelmente não poderá incluir nos próximos capítulos da série. Afinal de contas, não é só de inverno que esse mundo é feito…

Pra começar, vamos direto pro estômago.

Em Dubrovnik, existem duas áreas comerciais de destaque: a cidade velha, e a área portuária. A primeira é bem mais movimentada, pois o objetivo de todos os cruzeiros que desembarcam por lá é justamente explorá-la durante o dia. Cruzeiros esses que chegam – obviamente – pela área portuária, o que justifica a afirmativa anterior. A oferta de restaurantes na cidade velha é gigantesca, o que acaba deixando a região do porto em segundo plano como opção gastronômica – um vacilo monstruoso, como demonstrado em dois exemplos logo abaixo:

A Otto Taverna (http://tinyurl.com/pdhb69t) é uma excelente opção para um jantar mais romântico e reservado. O ambiente é lindo e minúsculo, com um atendimento primoroso e simpaticíssimo. Mas nenhuma combinação de todos esses fatores supera a experiência da sequência de pratos servida durante o jantar. Muito sabor, boas quantidades, e e um cuidado que aumentarão seu amor – inevitável desde a chegada – pela cidade. Chegue cedo (o restaurante abre para o jantar no finalzinho da tarde, começo de noite), e seus poucos lugares vão embora rapidinho. Apesar de alguma rotatividade, a pressa não é lugar comum para quem opta pela comida de lá – por motivos óbvios.

Bonito, gostoso e delicado.

Bonito, gostoso e delicado.

Alguns metros distante dali – coisa de 5 minutos de uma caminhada tranquila – está o Amfora (http://tinyurl.com/pm7jers). O restaurante possui um salão bem amplo, inclusive com algumas mesas na calçada. Não se deixe enganar por seus aspecto de “lugar que não deu certo” – sim, ele normalmente tem lugares de sobra. O atendimento é muito atencioso e excelente, assim como seus pratos. Destacamos com louvor o risoto preto, que é um dos melhores pratos que já comemos NA VIDA. Durante nosso jantar, o garçom ofereceu alguns ítens que não estavam no cardápio – incluindo alguns pratos em fase de experimentação que o chef da casa estava fazendo. Uma delícia.

Risoto pra comer de joelhos.

Risoto pra comer de joelhos.

A segunda dica é sobre transporte.

Dubrovnik não é exatamente a cidade mais fácil pra você se locomover. A entrada da cidade, além do acesso de veículos, comporta o porto e a rodoviária. As pousadas se espalham nas áreas residenciais, e existem alguns hotéis mais próximos da cidade velha (cujos valores de hospedagem beiram ao proibitivo), sendo a saída mais comum para quem se hospeda na cidade o aluguel de apartamentos. Porém, os acessos são extremamente complicados – pela geografia vertical da cidade, subidas e descidas pesadas, suas vielas e becos. Os valores de táxi são caros – a cidade em si não é barata, e toda economia possível deve ser considerada para os viajantes menos afortunados – grupo esse que integramos desde sempre.

Uma cidade vertical não é mole de ser explorada.

Uma cidade vertical não é mole de ser explorada.

Uma boa alternativa para poupar as pernas e agradar os bolsos é comprar o passe diário de ônibus, vendido logo na entrada da cidade velha. Por 30 kunas (coisa de R$ 12), você pega quantos ônibus quiser no período de um dia. São linhas circulares, que dão acesso a praticamente toda a cidade – incluindo a rodoviária. E uma informação a ser destacada: todos os pontos de ônibus possuem informações sobre linhas, e horários de saída e chegada (que são cumpridos com rigor britânico), o que facilita absurdamente a vida de qualquer turista. As viagens são curtas, pois a cidade é pequena, então não tenha medo e compre seu bilhete assim que chegar à cidade.

Sempre pontual, ele te espera pra sair na hora certinha.

Sempre pontual, ele te espera pra sair na hora certinha.

O bilhete diário: não esqueça de validar, pois não há cobrador.

O bilhete diário: não esqueça de validar, pois não há cobrador.

A terceira e última dica: sobre um causo local que aconteceu com a gente.

Qualquer lugar minimamente turístico oferece uma gama razoável de possíveis passeios e atividades. O caiaque foi nossa escolha em Dubrovnik, com um circuito que nos daria uma visão bacana da cidade, algum conhecimento histórico, uma volta por uma ilha da cidade, e uma parada em uma pequena praia de lá. Nessa praia, além de comer um lanche, havia a possibilidade de mergulhar de uma pedra, tomar um banho de mar e nadar utilizando snorkel. Não nos arriscamos na pedra, comemos nosso lanche e fomos pra água fazer nosso primeiro mergulho livre.

A prainha da terra de Jon Snow.

A prainha da terra de Jon Snow.

Resultado: a visão incrível daquele tanto de peixe numa água absolutamente transparente nos levaram a investir num curso de mergulho poucos meses depois. Uma ideia que jamais havíamos imaginado, e que tomou forma naqueles poucos minutos de alegria. Mais uma prova concreta de que o faniquito existe em todo mundo. É só botar pra fora.

Gostou? Quinta tem mais 🙂

Causos

Dica Faniquito: removendo turistas

2 de abril de 2015

Sim, ainda somos o mesmo site.

Sim, viajar é maravilhoso. E nossas fotos são a forma de eternizar memórias de determinados lugares, que não sabemos quando e se voltaremos a visitar. Além disso, elas contarão aos nossos amigos a história que vivemos. A gente toma um p*** cuidado com as nossas… são nosso tesouro, as recordações de fato. Damos de ombros para souvenirs, compras e o escambau. A gente gosta mesmo é de reviver a viagem sempre que revisitamos nossos registros.

Mas confesse: você não odeia que aquela sua foto, tirada com cuidado e carinho durante uma viagem inesquecível, seja agora uma memória de um lugar maravilhoso, e também de um fulano sem noção, que estava sentado ao seu lado comendo um pretzel? Algumas dicas fotográficas serão dadas por aqui logo mais, mas o assunto de hoje não tem a ver com técnica, e sim com cara de pau. Mais especificamente, com um macete* que descobrimos em nossa última viagem:

como tirar aquele povo todo da sua frente, e “limpar” suas fotos de viagem?

Um dos elementos do casal (mais especificamente este que vos escreve) é comumente conhecido como ogro, grosso e outros adjetivos carinhosos. Porém, essa dica não tem nada a ver com grosseria, e sim com falta de noção – a mesma das pessoas que literalmente SE INSTALAM diante de um determinado ponto ou local “muito fotografável” – e consequentemente, se eternizam nas memórias de outros turistas, que queriam registrar esse ponto de uma forma quase imaculada/particular, mas são impedidos nesse tipo de situação.

Segue então um passo-a-passo dessa forma extremamente educada e polida de retimoção dos elementos indesejados de suas fotos:


1) Esteja em dupla, pelo menos. Um fotógrafo, e alguém pra sair na foto. Tentar executar essa perigosa manobra sozinho é certeza de insucesso. Porém, em dupla a eficiência é quase certa. Caso esteja em grupo, as chances de êxito são infinitas.

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2) Você, fotógrafo: afaste-se o suficiente para enquadrar o plano, local ou coisa que você quer registrar. E por favor, capriche na foto – sempre. Não precisa ficar conferindo uma a uma depois de tirar… tire logo um monte, e selecione a melhor depois.

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3) Você, cara de pau sem noção: vá em direção ao bololô de turistas (precisa ser um grupo razoavelmente pequeno, pois sua ação é localizada). Fique bem próximo daqueles que insistem em não sair. Então, vire-se para o fotógrafo e faça-se notar: agite os braços, peça orientação, sorria, fale alto… enfim, devolva na mesma moeda – mas com simpatia! Eles ficarão carrancudos? Provavelmente. Eles acharão que você é um idiota? Tenha certeza disso (mas não se porte como um – apenas seja excessivamente feliz). Eles não entenderão nada? Fato. Mas eles sairão de perto, porque ninguém gosta de ficar próximo a um sem noção**, não é mesmo…?

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4) Sejam rápidos, e tirem suas fotos (pois esses pontos atraem pessoas novas a todo instante, e ter um raro momento de paisagem limpa sem aproveitá-lo é tão idiota quanto ficar postado no enquadramento alheio). Pronto! Você conseguiu!

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* Este é um texto de humor, obviamente – mas recheado de fatos reais. Sim, a gente por várias vezes se utilizou dessa dica pra conseguir fotos “mais limpas”… porém, que seja feito com critério: pequenos grupos, normalmente estacionados. Não vá encher o saco dos outros o tempo todo: procure um espaço, tenha paciência (afinal de contas, você está viajando, e deixou a pressa em casa), e se utilize de educação e bons modos sempre que possível. Num mundo ideal você não precisaria dessa dica – mas por vezes, sim, existe um comboio de tapado que merece passar pelo constrangimento ilustrado acima. Encare numa boa as bufadas e caras feias: depois de dez segundos, você nunca mais verá essas pessoas.

** Tenha tato. Fazer isso com uma caravana de lutadores de jiu-jitsu pode não terminar bem.

Causos, Faniquito, Fofuras

Apresentando: o mundo

19 de março de 2015

Dia desses a gente programou uma viagem. Que a princípio seria pra dois, mas que no fim das contas dobrou de tamanho. Viagem que seria um mochilão pesado, com mudanças de altitude, longas viagens em ônibus de procedência duvidosa, algumas correrias, e passeios que exigiam certa resistência física (que nem a gente sabia bem se tinha ou não). Na época, eu tinha 31, a Dé 28, e a Mel – nossa amiga e uma das colaboradoras do Faniquito – tinha apenas 20 anos. O papo começou em 2010, a viagem seria em 2011. E durante a comemoração do meu aniversário em janeiro, me chamam à mesa. Minha mãe vira pra mim, e comunica:

– Eu também vou, viu?*

Tomei um susto, óbvio. A começar pela única informação já relatada em nossos perfis: Paquinha** tinha na época seus bem vividos 62 anos, e teria 63 na viagem. Um histórico de dor nas costas, dor nos pés, dor nisso e dor naquilo. Estatura não muito avantajada, e assim como eu, boa de garfo. Mas todas essas informações perdiam importância perto de algumas outras: minha mãe nunca havia saído do país (ok, eu só havia saído uma, a Dé duas), voado de avião, ou mesmo passado tanto tempo longe de casa. Meu pai havia falecido há seis meses, e achei aquele ímpeto sensacional. Dois segundos depois do susto, topei – e não mais repensei, pois sabia que aquilo seria incrível.

Perder alguém (e nesse caso, alguém tão próximo como meu pai) instantaneamente mudou meu modo de lidar com as pessoas. Imagino que cada pessoa lide com uma situação traumática à sua maneira. A minha foi aproveitar ao máximo dali em diante a tudo e a todos: pelo menos uma vez ao ano tentar rever o máximo de pessoas possíveis (e uso descaradamente meu aniversário pra isso), nunca perder a oportunidade de agradecer, criticar, elogiar ou dividir as coisas importantes da vida, e por aí vai. É coisa minha, e é minha forma de eternizar tudo que meu pai fez por mim também. E durante os meses que se seguiram, eu pensava: “O velho teria orgulho de ver o que a gente vai fazer pela Paquinha“.

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A primeira reunião de turma, no Mercadão.

E o Faniquito surgia mais ou menos nessa época :)

O Faniquito surgia mais ou menos nessa época 🙂

E chegou setembro.

Mochilamos. Primeiro, o vôo de São Paulo – com escala em Santa Cruz de la Sierra, e a primeira correria para pegar a conexão – até La Paz. Chegamos à noite, pegamos um táxi capenguíssima e pouco depois estávamos no albergue. Sim, o primeiro albergue da vida da Paquinha. Encomendamos uma pizza e tomamos uma cerveja no meio do bar. E dali seguiram-se várias experiências, que pipocarão aos poucos por aqui: as ladeiras de La Paz, as folhas de coca, o Paro Cívico, as festividades em Cusco, Machu Picchu, Salar do Uyuni, o ônibus quebrado, o amigo americano, as comidas e bebidas inéditas, o primeiro barco (da vida dela, cruzando o Lago Titicaca), passear no deserto, dormir sem energia e acordar em temperatura negativa…

O primeiro dia de fato fora do Brasil - nesse caso, em La Paz.

O primeiro dia de fato fora do Brasil – nesse caso, em La Paz.

E o primeiro baque de emoção, com um evento local em Cusco.

E o primeiro baque de emoção, com um evento local em Cusco.

O ritmo durante a viagem, obviamente, não era o mesmo que o nosso, mas não estávamos com pressa. Dividimos a bagagem dela, e todo mundo se ajudou – ela também ajudou muito a gente: sim, mãe é mãe em qualquer lugar do mundo (e ela no caso estava provida de um filho original, e duas filhas adquiridas). Várias foram as vezes ela se emocionou (como na foto logo acima). As imagens que a gente se acostuma em casa tomam outras cores nesse novo contexto, e redescobrimos as pessoas. A cada novo lugar, uma informação diferente – e essas novidades desnorteavam a Paquinha: as tecelãs peruanas, as montanhas de Machu Picchu, aquela imensidão do deserto de sal boliviano, as lhamas e alpacas. De repente, outra cidade. Vinte e um dias, que permanecem mais que vivos na memória da gente.

Em Pisac, da mesma sequência da foto que abre esse texto...

Em Pisac, da mesma sequência da foto que abre esse texto…

...e um pouco mais tarde, em Ollantaytambo, dando as favas pra chuva que caía.

…e um pouco mais tarde, em Ollantaytambo, dando as favas pra chuva que caía.

Até hoje a gente fala sobre essa viagem, óbvio. Pelos lugares, paisagens e tudo aquilo que a gente tá acostumado a dividir sempre que se afasta de casa, claro, mas o mais legal é notar a cara de novidade que minha mãe faz toda vez que relembra da aventura. É um prazer absurdo pra gente ter “apresentado o mundo” à Paquinha. Notar que toda aquela lista de coisas apontadas lá em cima desapareceram durante a viagem é um prazer, pois a empolgação a cada novo dia era muito maior que qualquer preocupação – aparentemente ela deixou todos os problemas no Brasil sem avisar a gente, mas como confiamos na véia desde o início, não ficamos surpresos.

Não teve obstáculo pra Paquinha...

Não teve obstáculo pra Paquinha…

...e também não foi só perrengue: por diversas vezes nos demos muito bem.

…e também não foi só perrengue: por diversas vezes nos demos muito bem.

O primeiro barco da vida, após 63 anos. Medo?

O primeiro barco da vida, após 63 anos. Medo?

Eis a resposta.

Eis a resposta.

Portanto, ao final desse texto – e dessas fotos – a gente deixa um conselho pra você, amiguinho ou amiguinha viajante: além da bagagem, leve pra estrada quem você ama: seus pais, filhos, irmãos, primos, amigos (com procedência), a vovó, o vovô e até o cachorrinho. Pense em combinações improváveis – sim, às vezes quem menos se imagina quer fazer algo que a gente num primeiro momento pode achar totalmente descabido, mas pense: uma realização de vida dessas tem preço? Mais que um presente, dividir uma experiência de vida tão marcante como uma viagem, ou um trecho dela?

Não tenha frescuras quando for viajar.

Não tenha frescuras quando for viajar.

Procure sempre as melhores companhias.

Procure sempre as melhores companhias.

Leve sempre um agasalho.

Leve sempre um agasalho.

E não tenha medo do desconhecido. Nem de ser feliz.

E não tenha medo do desconhecido. Nem de ser feliz.

Pois você será.

Pois você será.

Não espere que alguém te faça um pedido desses. Tome a iniciativa, como minha mãe tomou. A experiência de viajar já é suficiente marcante, mas se torna inesquecível quando ela deixa de ser só sua, pra ser também de quem você ama.


* Faniquito não tem idade, galera. Está cientificamente comprovado.

** Paquinha (ou Marilene, pros desconhecidos) é minha mãe, e ela faz aniversário daqui a 3 dias. Uma mãe como poucas, e que eu espero, sirva de espelho pra outras mamães por aí. Achei justo homenageá-la numa data próxima, com um apanhado geral de uma viagem que vai aparecer aqui no Faniquito por diversas vezes. Feliz aniversário adiantado, véia. Que o mundo te abrace (assim como eu pretendo fazê-lo, o mais breve possível). Amo muito você.

Causos

Batendo uma bola

12 de fevereiro de 2015

Sendo inegável minha paixão irrestrita pelo esporte bretão, camisas de futebol sempre fazem parte da minha bagagem – na ida, e às vezes na volta, como souvenir. Já voltei do Perú com uma camisa horrorosa/maravilhosa do Cienciano (essa aí em cima, que tem milhares de patrocínios, uma malha pra lá de vagabunda, uma marca d’água com a imagem de Machu Picchu e vinha num kit com uma regatinha de treino – que eu jamais vestirei, mas que guardo com enorme carinho), e sempre pesquiso em nossas visitas turísticas novas peças para minha agora coleção pessoal.

Porém, mais do que vestuário, se declarar um entusiatsa do esporte mais popular do planeta te faz personagem de pequenas histórias – algumas delas inclusive bastante divertidas, e que eu vou contar agora mesmo:

CORINTHIANS
amizades garantidas

Dentre tantos (e foram muitos), três momentos edificantes me foram proporcionados por ostentar o manto sagrado do Todo Poderoso. O primeiro em 2008, em nossa primeira viagem a Buenos Aires. Estávamos saindo do elevador, ainda vislumbrados e naquele processo de se contextualizar num universo todo em espanhol, quando um senhor vem em nossa direção de braços abertos, todo solícito. Esperando um “buenos dias” caloroso, tomei um baita susto quando o cara me solta “até que enfim um corinthiano nessa cidade!” em excelente português. Sim – nessa mesma viagem não demos de cara com a enorme quantidade de brasileiros que hoje em dia frequenta o país de Dieguito, e o que nos encontrou me trouxe um pouco do sentimento de estar em casa, naquele mundo todo novo.

O segundo foi em 2013, lá pro sul do país. Comemorando meu aniversário de 33 anos, fomos visitar o Glaciar Perito Moreno, que fica em El Calafate (cujo episódio ganhará um texto futuramente). Estávamos num grupo razoavelmente pequeno (coisa de umas 20 pessoas). Chegamos de ônibus, pegamos um barco com outras pessoas e de lá seguimos até o Glaciar, onde nos esperavam os guias e ajudantes do passeio. Descemos do barco um a um, e ao me estender a mão, o guia – argentiníssimo – viu minha camisa, e emendou um torto e simpaticíssimo “Vai Corinthians“. Um presentão, tão inesperado quanto um título invicto de Libertadores. Começar a se divertir antes mesmo de começar o passeio já valeu o aniversário.

O último que eu vou descrever aconteceu em Lima, no ano de 2012. Era novembro, e o Corinthians havia contratado o Guerrero há poucos meses. Pegamos um táxi, que nos levaria a algum lugar (que eu realmente não me lembro qual era). O trânsito em Lima é um inferno, e acabamos presos nele durante algum tempo. Nisso, o taxista vê minha camisa alvinegra, pergunta de nosso então novo atacante, e dispara uma metralhadora de análise técnica do futebol brasileiro, peruano, do próprio Corinthians, e a coisa se arrasta por quase uma hora, num espanhol fluente, cujo domínio eu desconhecia totalmente. No fim o cara disse que torceria pra gente contra o Chelsea.

Pé-quente o rapaz.

O poropopó pelo mundo

O poropopó pelo mundo

PORTUGUESA
a curiosidade e as dores

É uma camisa vermelha, com uma bandeirinha do Brasil na nuca. Passeando pela Europa, não é a mais conhecida – sabemos todos disso, e para tal nem é necessário um profundo conhecimento futebolístico. Fui abordado por um austríaco e um croata, que me pediram pra explicar que time era aquele – o que desencadeou uma rápida conversa com ambos (o austríaco colecionava camisas exóticas, e ficou bem interessado na minha, enquanto o croata queria mesmo era puxar assunto pra no fim das contas me empurrar um almoço em seu restaurante). Mas a terceira abordagem foi a mais curiosa, divertida e trágica: um outro croata – instrutor de caiaque – veio falar comigo todo curioso (antes de começarmos nosso passeio com ele):

– Ei, essa camisa é de que time?
– Da Portuguesa, do Brasil.
– É um time grande? Que divisão está jogando?
– Já foi um time grande… hoje é médio, joga a segunda (ainda durante o Brasileirão de 2013).
– E vocês estão indo bem?
– (Hiato constrangido) Na realidade não (eu perdido, sabia que o time estava uma draga só, e não estava acostumado a descrever desempenho de outras equipes)…
– Hmmm, que pena… mais sorte na próxima temporada!

Me senti um torcedor da Lusa por alguns momentos. Ser corinthiano é mais fácil.

Pouca gente reconhecia...

Pouca gente reconhecia…

...mas a bandeirinha sempre funcionava como permissão pra conversa.

…mas a bandeirinha sempre funcionava como permissão pra conversa.

GALATASARAY
higiene, e o fanatismo europeu

Cheguei ao aeroporto de Istambul FEDENDO. Em maiúsculas. Problemas técnicos que incluíam uma camiseta que não secou direito e um vôo abafado. Passaríamos horas no aeroporto, e nossas malas haviam sido despachadas. Entramos na primeira loja que vimos procurando qualquer roupa limpa que fosse, quando me deparei com a camisa do Galatasaray por módicos 20 Obamas (feita na Turquia – obrigado Nike). Comprei e corri pro banheiro pra trocar aquela nojeira que estava vestindo – e ainda bancar o bacana com uma camisa de time local dos caras. Quando estou pra sair, dois turcos me param apontando pra camisa, e vibrando como se eu houvesse marcado um gol:

– Hey!
– Hi!
Sneijder! Sneijder! Nice shirt man!
– !!!!!!!!!!
– Sneijder! Sneijder!

Empolgação. Muita empolgação… eu seria facilmente convencido a cantar um poropopó turco se não estivesse num ambiente tão… sanitário – e turco.

Nada de Drogba ou Felipe Melo. Sneijder! Sneijder!

Nada de Drogba ou Felipe Melo. Sneijder! Sneijder!

Resumindo: o futebol é isso aí (a Copa do mundo não me deixa mentir): uma tremenda oportunidade de conhecer gente nova, jogar conversa fora e fazer novas amizades – sejam elas das cores que forem. Vista sua camisa favorita, ou nova, ou exótica, não banque o babaca e amplie seu contato social mundão afora.