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Argentina, Gastronomia

As ovelhinhas

12 de novembro de 2015

Se você está de dieta, este texto não é pra você*.

Um dos produtos de maior destaque na culinária argentina é seu sorvete – fama justificada e merecida, que se diga. Não faz muito tempo que qualquer pessoa que viajasse pra lá tinha quase que por obrigação experimentar os sorvetes do Freddo, marca que possui uma infinidade de lojas em Buenos Aires (e que desembarcou no Brasil já há alguns anos). Experimentar um Freddo no Brasil – lamento informar – não é a mesma coisa do que fazê-lo em seu país de origem: com uma quantidade muito maior de sabores, até mesmo a textura do sorvete varia. Continua sendo um programão, que a gente sempre que pode usufrui.

Respeita o Safadão.

Respeita o Safadão.

Mas não viemos aqui falar do Freddo.

Com apenas duas lojas, sendo uma em cada cidade – Ushuaia e El Calafate – a Ovejitas de la Patagonia** (http://www.ovejitasdelapatagonia.com/) é a principal loja de sorvetes da Patagônia Argentina. Com uma simpática (e óbvia) ovelhinha como mascote, suas vitrines atraem qualquer pessoa que goste de chocolate e sorvete: ou seja, quase todo ser humano vivo e com um mínimo de prazer por comida gostosa.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Parada obrigatória nas noites patagônicas.

Deixamos para conhecer a loja somente em Calafate (burrice, com o passar dos anos a gente aprende a não adiar certos prazeres). O menuzão na parede destaca quem realmente importa – nada de Flocos e Creme (por sinal, quem inventou essas duas porcarias)? Entre frutas e doces que de fato merecem uma versão gelada, qual não foi nossa surpresa quando demos de cara com um sabor descrito como CHOCOLATE SUPER DELICIOSO? Essa coisa meio Willy Wonka mexe com a cabeça de qualquer pessoa, e foi o primeiro de nossos diversos pedidos. Bem, um sorvete de chocolate ARGENTINO misturado com pedaços de doce de leite ARGENTINO… a gente acaba perdendo a cabeça mesmo.

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente...

Super Sambayon, Tramontana, Sandia, e obviamente…

...o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

…o CHOCOLATE SUPER DELICIOSO, com tarugos repuxantes de doce de leite.

Ostentação e amor.

Ostentação e amor.

Além do sorvete, diversos chocolatinhos, doces e outras coisas coloridas fazem parte do universo ovelhístico. É tudo tão bonitinho (e deve ser tão gostoso) que seu orçamento pode ir pro espaço se você acabar se deixando levar pela emoção. Em Calafate está também a fábrica do sorvete, a qual tentamos visitar sem sucesso (acho que demos azar e a dita estava fechada quando aparecemos por lá). Sem problemas: o que importa é a loja, e seu cardápio que acaba virando um desafio pessoal a ser vencido.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Ovejitas: aprovamos e sentimos saudades.

Sim, a Patagônia é um lugar gelado. Tomar sorvete no frio? É uma das coisas que mais fazem sentido nessa vida – e sorvete bom… meu amigo, isso não tem clima que te desanime! E quem é capaz de falar não para ovelhinhas tão simpáticas?


* Por sinal, nenhum texto do Faniquito é. Acostume-se, ou procure um site de viagens diet.

** Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Faniquito

Por outros olhos

9 de novembro de 2015

Sempre é divertido acompanhar a aventura alheia. As redes sociais permitem que a gente se aproxime (em tempo real, ou em recapitulação) das viagens dos outros. Amigos, família ou mesmo desconhecidos dividem com o mundo suas experiências, e a gente acaba por alguns instantes invadindo a bagagem e o cotidiano dessas pessoas. A distância faz com que nossa companhia seja superficial, mas por vezes realizamos nossos sonhos e vontades por outras pernas que não as nossas.

Durante esse final de semana recebemos um casal de amigos em casa. Eles nos mostraram fotos de sua última viagem a Gramado. Fizemos o mesmo, e durante aquelas horas me peguei pensando como um mesmo destino pode incitar propostas totalmente distintas de diversão: entre pontos turísticos e natureza, conforto ou improviso, cidade ou arredores. Há alguns dias, uma amiga voltou de uma viagem pelo Oriente (que é um sonho de consumo e lugar de honra em nossa lista de coisas a serem feitas em breve). Ao mesmo tempo, outra amiga nossa* está fazendo o Caminho de Santiago, e a cada foto ou pequeno relato a gente acaba indo junto, e uma aventura da qual sempre tive medo se mostra cada vez mais atrente.

~ A Dé vai adorar saber disso por aqui… ~

Fiquei pensando se ao invés do nosso casal amigo fôssemos nós na viagem a Gramado. E eles, como ficariam no Roraima? Será que o (mais que possível e provável) desconforto com a ideia inicial teria uma chance, assim como Santiago está tendo nesse momento dentro da minha cabeça? Eu, que há alguns anos jamais faria certas coisas que já fiz, e hoje desejo essa viagem pro Oriente tanto quanto a Dé. Não imagino a amiga que está no Caminho de Santiago se contentando com viagens pouco desafiadoras daqui em diante – mas posso estar completamente equivocado. Nunca havia imaginado minha mãe subindo Machu Picchu e excursionando no deserto – até que um dia, aconteceu. Enfim, é um leque de possibilidades – um leque enorme, e que não tem fim.

É redondo, e é lindo.

É redondo, e é lindo.

Você já se imaginou fora da sua bolha? Tentando uma experiência totalmente avessa àquilo que considera ideal? De repente sair do hotel pra tomar um banho frio, ou trocar a praia pela piscina? Um dos princípios que nos incitaram a criar o Faniquito foi justamente esse – o de mexer com essas nossas certezas intocáveis: “nunca vou fazer isso“, “isso não tem a minha cara” ou “eu acho demais, mas não é pra mim” são obstáculos que a gente acaba colocando em nosso próprio caminho.

Esse prazer de enfrentar o próprio medo, abrir a guarda e se deixar levar por uma aventura aparentemente fora de controle pode ser um divisor de águas em nossas vidas. Posso falar isso por experiência própria, depois de perder meu medo de altura durante uma aventura dessas – medo esse que me apavorou durante boa parte da vida. O ato de contar o quanto uma viagem te faz bem e seus porquês tem esse poder de fazer com que a gente enxergue uma possível situação pelos olhos de outra pessoa. Se em algum momento aquele relato te instigar, não tenha medo: mais do que sair de casa, passear pelo mundo te deixa bem longe de outro lugar bastante frequentado e aconchegante – chamado zona de conforto.

Estar longe desse lugar é libertador e aterrorizante, mas faz a gente crescer de uma maneira absurda. Temos várias histórias por aqui que comprovam isso. Inspiração não tem hora, e serve de gatilho para que possamos ir além. Num mundo redondo, ir além é nunca chegar ao fim, por mais longe que se vá. É nossa aposta, e nossa proposta. Sempre 🙂


* Essa baita foto que abre o texto é da nossa amiga que venceu 45 quilômetros em um único dia lá no Caminho de Santiago. Roubei descaradamente (e pedi sua autorização pra isso) pois foi a partir dela que pintou a ideia pro texto de hoje – e quem sabe, a faísca pra gente encarar desafio semelhante mais pra frente? Sorte aí, Ci.

Bolívia

A verdadeira Copacabana

3 de novembro de 2015

Durante nossa passagem pela Bolívia, havia um buraco em nosso planejamento, chamado Copacabana. Aos desavidados, não é um lapso geográfico: acreditem – a cidade boliviana de Copacabana deu nome ao bairro carioca mais famoso do mundo. Está na Wikipédia que “no século XIX, uma réplica local da imagem de Nossa Senhora de Copacabana foi levada por comerciantes espanhóis ao Rio de Janeiro, no Brasil, onde foi criada uma pequena igreja para abrigá-la. A igreja cresceu e acabou por nomear o atual bairro de Copacabana.”

Voltando à nossa experiência: não havíamos planejado absolutamente NADA para a cidade. Como chegar, onde ficar e o que fazer seriam decididos no meio do caminho, e assim foi feito. Ao contrário do nosso relato anterior dessa mesma viagem sobre transportes traumáticos, tivemos a mais agradável das experiências com nosso veículo, cujo trajeto consistia na saída de Cusco (talvez a explicação para tamanha diferença seja a origem peruana do ônibus), uma pausa em Puno (onde muita coisa aconteceu – mas o que acontece em Puno fica em Puno, e em nossas memórias), e de lá a travessia do país até a chegada em Copacabana. Viajamos num semi-leito gostosíssimo, carimbamos os passaportes num lugar bem sossegado e pouco depois desembarcamos na cidadezinha. Um táxi nos levaria ao nosso albergue, localizado poucas quadras adiante.

Nada de Rio de Janeiro: estávamos à caminho da Copacabana original.

Nada de Rio de Janeiro: estávamos à caminho da Copacabana original.

Nada de surpresas também: dessa vez dava pra confiar no ônibus...

Nada de surpresas também: dessa vez dava pra confiar no ônibus…

...e ainda contemplar o Lago Titicaca da janela.

…e ainda contemplar o Lago Titicaca da janela.

Uma explicação rápida sobre o que não será explicado:

Nosso principal intuito na chegada a Copacabana era DESCANSAR. Estávamos emocionalmente exaustos com um desgaste totalmente inesperado que tivemos DURANTE a primeira parte de nosso trajeto, e precisávamos de boas horas de paz e tranquilidade – coisas que são essenciais para que uma viagem valha a pena e deixe saudades, e não cicatrizes. Detalhes sobre o que aconteceu, com quem e seus resultados dizem respeito a quem estava lá, e somente a essas pessoas. Por isso mesmo, pedimos desculpas por essa lacuna.

Copacabana é mais conhecida como ponto de partida para a ilha do Sol – um território inca bastante conhecido, e que movimenta a economia local com o turismo pela região. A cidade em si é minúscula, contando com aproximadamente seis mil habitantes. Sua geografia consiste em ladeiras bastante impiedosas, poucas ruas e simpáticas casinhas de cor terrosa.

Uma cidadezinha cheia de ladeiras.

Uma cidadezinha cheia de ladeiras.

E imagino que possamos dizer que essa é "a verdadeira praia de Copacabana", não?

E imagino que possamos dizer que essa é “a verdadeira praia de Copacabana”, não?

Acabamos não visitando a ilha do Sol, por naquele momento priorizarmos outra coisa – ficaríamos pouco mais de um dia na cidade, e tudo o que queríamos era esvaziar a cabeça e aproveitar aquele novo momento de verdadeiro alívio antes da segunda parte de nossa viagem. Por isso mesmo, pouco após nos instalarmos, fomos passear um pouco pela cidade e comer alguma coisa. Acabamos em um dos diversos restaurantes que oferecem o prato típico da cidade – a truta. Com direito a sucos enfeitados com simpáticos guarda-chuvinhas, celebramos o novo momento com o sugerido peixinho.

Se a principal oferta gastronômica é a truta...

Se a principal oferta gastronômica é a truta…

...que venha a truta, oras.

…que venha a truta, oras.

Mais uma breve caminhada pela cidade, e nos separamos: minha mãe resolveu tirar uma soneca da tarde, enquanto eu, a Dé e a Mel encaramos um mini-trekking. A ideia era subir o Cerro Calvario (que nome mais sugestivo, não?), e ver o pôr-do-sol lá de cima. Consiste num caminho de cunho religioso – que justifica o nome da colina, pois existem 14 pontos que remetem à via crucis. Seu início era bem próximo à saída do nosso albergue, e calmamente fomos subindo até a chegada lá no topo.

Paquinha se recolheu aos novos aposentos.

Paquinha se recolheu aos novos aposentos.

Nós resolvemos encarar a subida. E que subida, amigos.

Nós resolvemos encarar a subida. E que subida, amigos.

Logo de cara, a primeira...

Logo de cara, a primeira…

...das várias cruzes que compõem o caminho do Cerro Calvario.

…das várias cruzes que compõem o caminho do Cerro Calvario.

Era uma tarde fria e linda.

Era uma tarde fria e linda.

Pelo caminho, diversos agradecimentos...

Pelo caminho, diversos agradecimentos…

...e demonstrações de devoção à Nossa Senhora de Copacabana.

…e demonstrações de devoção à Nossa Senhora de Copacabana.

Já durante a subida, uma visão espetacular nos aguardava. Fazia frio, mas não a ponto de nos intimidar. Mesmo íngreme em alguns pontos, é um caminho relativamente tranquilo de ser feito. Os poucos obstáculos estão na parte final da subida, com um caminho de pedras que deve ser feito com cuidado. Nada que assuste ou afaste os curiosos – a recompensa na chegada ao topo faz valer o risco.

Uma subida tranquila...

Uma subida tranquila…

...feliz...

…feliz…

...e pacífica. Como nossa viagem - e Copacabana - mereciam.

…e pacífica. Como nossa viagem – e Copacabana – mereciam.

Devagar e com toda essa tranquilidade, chegamos lá em cima.

Devagar e com toda essa tranquilidade, chegamos lá em cima.

A sequência do Calvário era repetida em lá em cima.

A sequência do Calvário era repetida em lá em cima.

Enquanto a visão da baía se misturava às velas dos devotos.

Enquanto a visão da baía se misturava às velas dos devotos.

Lá embaixo, a cidade aos poucos se iluminava. Um belíssimo final de tarde.

Lá embaixo, a cidade aos poucos se iluminava. Um belíssimo final de tarde.

Nossa breve estada na cidade proporcionou o descanso desejado com sobras: no dia seguinte, um café da manhã tão aconchegante quanto as redes no quintal, o dia de sol combinado ao vento gelado que vinha da cordilheira dos Andes, e até mesmo o silêncio de uma cidade pequena como a que estávamos foi a combinação perfeita àquilo que desejávamos em nossa passagem por Copacabana.

Um novo dia.

Um novo dia.

Um merecido descanso...

Um merecido descanso…

...e os Andes logo adiante, nos recebendo, para dias melhores que viriam a seguir.

…e os Andes logo adiante, nos recebendo, para dias melhores que viriam a seguir.

Se vale uma dica: não se prenda às obrigações turísticas que certos locais oferecem (e às vezes, significam – de tal maneira que “estar lá” é sinônimo de fazer A, B ou C). Não termos ido à ilha do Sol não fez diferença em nossa viagem, simplesmente porque queríamos outra coisa naquele momento. Tivemos, e dali em diante cair na estrada ganhou outro significado – muito melhor, mais leve e feliz. Em Copacabana, a paz foi nosso maior presente.

Causos, Romênia

Um sonho por 50 Bani

29 de outubro de 2015

Ontem fez exatamente um ano que a Dé levou uma TREMENDA rasteira profissional. Não foi uma surpresa, mas ainda assim não foi um momento lá muito fácil. Antes que vocês fujam daqui, vou explicar o contexto desse momento – de mochila nas costas.

Sabe aquela hora em que você PRECISA viajar, pois o trabalho te consumiu de tal forma que uma pausa é tão necessária quanto respirar? Essa era ela, antes das nossas férias: clima ruim em casa, cansaço mental, emputecimento agudo… toda aquela coisa que todos nós sabemos muito bem como funciona. Preparamos as mochilas e fomos descansar (bem) longe daqui.

Os dias se passaram, e quando os trinta dias estavam terminando o pensamento de voltar a viver naquele inferno começou a tomar conta da cabeça da pequena. Em nosso penúltimo dia de Romênia estávamos visitando o Castelo de Peleș (que foi motivo do nosso segundo texto no Faniquito), quando pouco antes da saída passamos por uma daquelas fontes repletas de moedas, que a gente vive encontrando em diversos cantos do mundo. Um lugar lindo daqueles, seria possivelmente “nossa última fonte em muito tempo”… oras, por que não fazer uma fezinha? Chamei a Dé:

– Vem cá.
– O que foi.
– Pega a moedinha, e faz um pedido.
– Qual pedido?
– Aquele.

Era igualzinha :)

Era igualzinha 🙂

Era óbvio qual seria o pedido.

Viramos as costas, ela jogou a moedinha. Eram só 50 bani (coisa de 50 centavos de Real), mas acho que a vontade era tamanha de se livrar daquele encosto de emprego que o pedido foi feito recheado de esperança. “Vai dar certo, vai por mim“, eu lembro de dizer antes de dar um abraço nela. Passamos bem o resto do dia, e voltamos pro Brasil com aquele sentimento de missão cumprida depois de uma viagem gostosa como a que havíamos feito.

Obviamente o humor dela foi pro espaço já na primeira semana de volta ao emprego. Coisa de pouco menos de um mês, nessa mesma data, a Dé rodou. Dia seguinte ela já estava tocando a vida novamente, e três dias depois arranjou um novo lugar pra trabalhar: mais distante de casa, mas com gente interessada, profissional e sem fulando puxando tapete de geral. É lá que ela está até hoje, feliz da vida e levinha da Silva.

Faz um ano que aquela fonte nos fez o favor de levar a sério nosso pedido. Toda viagem tem por função natural trazer pras nossas vidas dias melhores. Essa em especial trouxe mais que isso, e um ano depois a gente continua muito grato por, em algum momento, termos apostado numa grande virada em nossas vidas em uma moedinha dourada que valia quase nada.

Valeu, e muito.

Hungria, Ir e vir

Caminhando contra o vento

26 de outubro de 2015

A dica de hoje é pra você, que assim como nós está sem grana e adora viajar.

O dia estava apenas começando quando nós já estávamos em Erzsébet tér – uma praça muito bonitinha no centro de Budapeste. Pouco depois duas guias chegaram, com suas plaquinhas vermelhas nas mãos: uma falando em espanhol, outra em inglês. Nos juntamos à segunda, e aos poucos outras pessoas foram chegando e formando um grupo, que não excedia 20 pessoas.

No horário marcado para o início do tour, fomos devidamente apresentados e introduzidos à história da cidade. Numa abordagem rápida e divertida, aprendemos em húngaro (o segundo idioma mais difícil do mundo, segundo a Ursula, tradução de Orsi, e que se pronuncia Órchi) a comunicação básica para socializar com os locais, além do nome da cidade: BUDAPESH – desse jeito mesmo, com aquele S carioca carregado. Nossos planos eram fazer os dois tours no mesmo dia: pela manhã, visitando os principais pontos de Pest e o castelo de buda e seus arredores; à tarde, fazendo o tour comunista, que mostrava as memórias de guerra e terminava no Parlamento.

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Orsi, sua bicicleta, e uma paradinha pra algumas histórias húngaras.

Mais do que falar desses lugares – e falaremos, num momento futuro, nosso texto de hoje é pra reafirmar a eficácia desse tipo de programa. Antes da viagem, fomos aconselhados a fazer todos os walking tours possíveis – e foi um ótimo conselho. Você encontra indicações e opções diversas nos folhetos espalhados pela cidade, em albergues e hotéis, além de poder se juntar a qualquer momento aos grupos que estiverem passando pelas ruas (desde que eles sejam gratuitos, óbvio). Ter um panorama geral da cidade onde você está coloca diversas coisas em perspectiva, e seu aprendizado tem grandes chances de ser muito maior. Se você quiser saber um pouco mais sobre o trabalho dos guias, fizemos um texto sobre isso há um tempinho atrás.

Num primeiro momento, nossos planos foram literalmente por água abaixo ao final do primeiro tour, quando voltamos a Pest para almoçar. Durante o almoço, um pé d’água minou nossas expectativas de chegar ao encontro no horário. Porém, aos dispostos a tudo, saibam que o tour saiu do mesmo jeito, de guarda-chuva e enfrentando um temporal. Pra quem tem poucos dias na cidade, um alento se você tiver coragem. Acabamos fazendo o passeio comunista no segundo dia, pois os tours saíam todos os dias do mesmo local. É só se programar – e nesse caso, torcer pra não chover.

Além das principais atrações e a história de cada uma delas, esse tipo de tour nos permitiu conhecer um pouco da visão de quem vive por lá. As duas guias do Free Budapest Tours* deram depoimentos pessoais sobre a situação econômica e política do país, bem como a herança comunista e as dificuldades da Hungria no atual momento. São coisas que a gente não vai encontrar num folheto, no Trip Advisor ou mesmo no Google (e se encontrar, possivelmente será em húngaro). E poucas coisas numa viagem são tão recompensantes quanto aumentar os limites daquela caixinha de ideias que temos de um lugar desconhecido. Dependendo do tour, essa caixinha explode e a cabeça absorve mais que esponja nova. Uma delícia.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Então, se estiver a fim de conhecer um lugar e estiver sem grana, os Free Walking Tours são um prato cheio. Existem diversos grupos que oferecem esse tipo de serviço, então não se acanhe em perguntar sobre os guias, o trajeto e como tudo funciona. Normalmente é de bom tom dar um troco ao guia ao final do passeio, mas nada é obrigatório (o que não significa que você não possa pelo menos garantir um cafezinho pro sujeito). Passeios desse tipo existem em todos os lugares do mundo – inclusive em São Paulo. Um programa mais que recomendado pra quem não se contenta com aquele eterno mais do mesmo.

A nossa historinha húngara, logo mais 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Gastronomia

Quem tem boca…

20 de outubro de 2015

O princípio fundamental de qualquer viagem é experimentar. É fato: estando fora de casa, queremos fazer, experimentar ou viver algo diferente. Mesmo as viagens mais cômodas e sossegadas pedem por esse ar de “coisa nova”, seja ela uma bebida, um prato, um banheiro, uma cama, ou mesmo um horário diferente do que nos acostumamos a acordar todos os dias. Pra fazer o de sempre, melhor ficar em casa… certo?

Eu e a Dé nunca cozinhamos nos albergues em que nos hospedamos. Nada pessoal, muito menos preconceito, mas das nossas necessidades (de casal, e mesmo pessoais) experimentar a comida local é tão importante quanto conhecer um novo lugar – e disso a gente não abre mão. Respeitamos e admiramos aquela galera que passa toda uma viagem na base do pão Pullmann e miojo, mas nas contas que fazemos antes de viajar, poder comer sem se preocupar é uma de nossas diversões. E pra que possamos fazer isso da forma mais bacana, preferimos experimentar o que estiver na frente. Nem sempre a gente se deu bem fazendo isso, mas temos boas histórias pra contar:

Ovos romenos

Estávamos no Caru’ cu bere – um dos restaurantes mais antigos e tradicionais de Bucareste (e que será tema de texto mais pra frente). Chegamos cedo, querendo tomar um café da manhã antes de sair pra conhecer a cidade. Sendo um verdadeiro ponto turístico, todos os funcionários falam inglês. Pedimos o cardápio, e ele veio – todo bilíngue, exceto nos pratos do café da manhã. Podíamos perguntar para a garçonete, mas preferimos valer o risco e pedir pela beleza estética das palavras em romeno. A Dé ganhou dois ovos. Eu, um omelete com chá. Eu não como ovo, então a Dé acabou comendo omelete com ovos, e eu fiquei só no chá (minha hora do almoço foi, por consequência, selvagem).

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Ovolândia, e o melhor chá da vida.

Poderia ter sido uma baita decepção, mas a pequena gostou do prato duplo dela, e eu tomei o melhor chá da minha vida – sem hipocrisia, tava tão bom que eu tive que procurar sabor semelhante no Brasil (e o que mais se aproximou foi o vermelhinho da Twinings).

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia :)

Sim: um chá britânico com gostinho de Romênia 🙂

Trocando em miúdos

Em nossa primeira viagem à Argentina, abrimos mão de experimentar a parrillada por pura falta de dinheiro/estômago. E se você não sabe o que é parrillada, a gente explica:

“A parrillada permite provar diferentes partes da vaca. Esta refeição geralmente começa com uma salsicha e chouriço, antes da chegada da carne principal. Ela também pode ser acompanhada de rins, pâncreas, fígado e tripas de gado. Frango e porco esporadicamente também estão inclusos.”

Quando voltamos pra lá, virou dívida pessoal. Acabamos nos metendo numa Parrilla (um restaurante especializado em parrillada) na cidade de Ushuaia. Um baita frio, uma baita fome, respiramos fundo e pedimos a criança. O restaurante estava lotado, e havíamos tido uma breve aula sobre o que viria naquele prato com meu sogro.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Nada te prepara pra uma intimidade tão grande com a vaca.

Com a parrillada na mesa, o caminho era sem volta: experimentamos um a um aqueles cortes bizarros de carne, com consistências e cores estranhas. Não dá pra dizer que detestamos, muito menos que amamos – apenas riscamos uma pendência da nossa lista pessoal, e sobrevivemos sem grandes dores àquele jantar esquisito.

Aaaaaaah…alpaca!

Havíamos terminado nosso primeiro dia de passeio em Machu Picchu. Descemos até a cidade, e entramos no primeiro restaurante que vimos na frente (e que nos pareceu entrável – não dá pra deixar o estômago falar na frente do cérebro sob hipótese alguma). Das opções do cardápio, nos chamou a atenção a carne de alpaca – e acabamos pedindo os quatro pratos iguais. Um prato que chegou lindo como esse da foto, e gostoso de um jeito muito difícil de se imaginar. Fomos embora de bucho cheio, e morrendo de saudade dessa carninha. Quando eu e a Dé voltamos pro Perú – em Lima – pedimos alpaca novamente, e ficamos sabendo que só servem a coitada em Cusco e arredores. Ou seja, foi realmente um prato típico e muito difícil de se encontrar em outro lugar. Ah… você não sabe o que é alpaca?

Alpaca: sua gostosa.

Alpaca: sua gostosa.

É esse bichinho simpático da foto lá do topo, que abre nosso texto de hoje. Pois é: por mais fofo que seja, na hora da fome a gente quer mesmo é dentar uma coisa suculenta. Dessa coisinha bonitinha comemos esse medalhão, espetinho e até pizza. Alpaca: experimente.

O desafio da arepa

O café da manhã na Venezuela era um verdadeiro desafio: Santa Elena de Uairén sofria com o desabastecimento (assim como ocorre com todo o país), e queríamos porque queríamos experimentar a tal arepa, que é um prato bem comum e típico do país. Fomos a um restaurante chamado La Arepera, crentes que conseguiríamos degustar o tal quitute. Porém, o garçom era mais atrapalhado que qualquer outra coisa, e depois de pedirmos duas arepas e dois sucos de laranja, recebemos dois tostex e duas Coca-Colas. Essa foi a reação da Dé ao ocorrido:

Arepa e suco? Não... tostex e Coca-Cola.

Arepa e suco? Não… tostex e Coca-Cola.

La Embajada: quem vê cara...

La Embajada: quem vê cara…

...não vê coração. Nem arepa :)

…não vê coração. Nem arepa 🙂

Foi num cantinho chamado La Embajada que encontramos nossa arepa… e que troço bom a tal massinha de polenta frita com recheios variados (no caso, nem tão variados, mas muito gostosos). Nossos cafés da manhã na cidade consistiam de arepas e sucos enquanto estivessem disponíveis (e mesmo comendo como se fosse um almoço, o valor nunca ultrapassava dez Reais PARA AMBOS). Ganhou um lugar especial no nosso coração.

Traumas ou delícias: tudo vira história. Então deixe seu medo em casa, e vá experimentar os sabores do mundo sem medo 🙂