Dinheiro

2016: um ano pra se viajar

25 de fevereiro de 2016

Por Melissa Lüdeman


Será que dá? Saiba como economizar e se planejar para não deixar de viajar em 2016.

2016 começou gritando em alto e bom som: “não vai ser fácil”. O dólar que estava na faixa dos R$ 2,80 em fevereiro de 2015 hoje oscila na casa dos R$ 4.

Apesar de vários destinos interessantes não utilizarem esta moeda, a alta compromete a economia do mundo todo. Por isso, se você planeja viajar para países que tem o dólar ou o euro como moeda corrente, saiba que você terá que planejar e economizar bastante para tornar este sonho possível.

Mas, se você não quer correr o risco, vale repensar o seu destino e aproveitar opções mais baratas. O que não vale é abrir mão da sua tradicional viagem de férias este ano, viu? O Faniquito preparou algumas dicas importantes de economia para antes da viagem e durante o percurso para você aproveitar ao máximo, sem sustos lá na frente. Confira:


ANTES:

201601

• Pesquise sua passagem em sites especializados em passagens aéreas
Cadastre seu destino em sites como o Skyscanner e o Kayak, e receba e-mails periódicos que informam as variações de preço para o local e a data que você deseja.

201602

• Escolha seu destino de acordo com o seu orçamento
No site Adioso você diz o quanto quer pagar pelas passagens, e o serviço lista uma série de vôos disponíveis para a data que você delimitar.

201603

• Programe suas férias depois de encontrar um vôo perfeito
Se você tiver flexibilidade no trabalho, encontre uma tarifa que se adeque ao seu orçamento e depois marque o dia das suas férias. O site Melhores Destinos faz uma listagem diária das melhores promoções encontradas.

201604

• Pesquise o custo de vida dos lugares que você quer visitar
O Numbeo é o maior banco de dados online com informações sobre cidades e países do mundo. Dá para ter uma noção sobre a vida cotidiana do destino informações especiais para viajantes.

201605

• Parcele as passagens com antecedência no cartão de crédito
Comprar passagens antes é quase sempre mais barato, e você ainda pode parcelar no cartão de crédito com o bônus extra de acumular milhas. Programando direitinho, dá para chegar no dia do embarque com a passagem já quitada, e com uma preocupação a menos.

201606

• Acompanhe a cotação da moeda do seu destino
Saiba o valor de câmbio e aproveite os períodos de baixa cambial esporádica para comprar a moeda com antecedência. Comprar euros ou dólares regularmente também serve como reserva para viagens futuras.


DURANTE:

201607

• Pague o que puder em cash
Pague tudo que puder em dinheiro, e deixe os gastos no cartão de crédito apenas para emergências. Lembre-se, o custo de 0,38% de IOF sempre é melhor que os juros de 6,38% de qualquer cartão de crédito. E mais, você nunca saberá quanto estará custando o dólar quando a fatura do seu cartão fechar. Uma fatura que você pensou que sairia por R$1000,00 pode facilmente se transformar numa de R$3000,00 num piscar de olhos. Tome cuidado!

201608

• Alugue um apartamento ou casa
Se você vai ficar um período considerável em apenas um local, vale a pena alugar um apartamento ou casa que oferecerá o mesmo nível de conforto e localização que um hotel, saindo mais barato. Sites como o Airbnb, Tripadvisor e Booking tem várias opções de imóveis. Mas não se esqueça de pesquisar bem sobre o imóvel e cheque todas as informações relevantes com o proprietário para não ter surpresas.

201609

• Livre-se de preconceitos, e hopede-se num hostel
Os hostels são bem mais baratos que qualquer outra opção de hospedagem. Se engana quem pensa que são opções ruins. Muitos hostels tem qualidade similar a hotéis econômicos, e oferecem cafés da manhã fartos e com muita qualidade. O site Hostel Wold apresenta um vasto portifólio de Hostels do mundo e as avaliações das pessoas que já se hospedaram. Para deixar tudo mais seguro, é possível também reservar pelo site.

Em Londres, por exemplo, três diárias em fevereiro custam R$437,55 no Generator Hostel contra R$664,00 no Gresham Hotel Bloomsbury, ambos com a mesma qualidade e ótima localização.

201610

• Coma produtos de supermercado
Supermercados tem uma infinidade de produtos deliciosos, e podem substituir uma refeição rápida. Não é preciso abrir mão de restaurantes, claro, mas um piquenique no parque vai bem em qualquer viagem!

201614

• Evite utilizar o serviço de Roaming Internacional
As tarifas de roaming Internacional das operadoras são abusivas. Para não ter surpresas na volta, compre um chip pré-pago local e recarregue de acordo com a demanda. Se quiser economizar ainda mais, dispense o chip e aproveite todos os pontos de wi-fi possíveis, que hoje estão em todos os lugares.

201611

• Fique mais tempo em menos destinos
Translados, ônibus e aviões podem encarecer sua viagem e tomam um tempo precioso. Procure programar seu roteiro para passar mais dias em cidades maiores, e programe viagens menores de um dia para locais próximos.

201612

• Compre Passes Turismo para o transporte público
Muitas cidades do mundo oferecem bilhetes especiais para turistas. São várias opções de passes especiais que valem muito mais a pena do que os individuais. Para não fazer feio nem levar gato por lebre, pesquise antes como funciona o sistema de trasporte do destino que você visitará.

201613

• GPS Grátis
Você sabia que o Google Maps liberou a navegação para uso offline? Antes de viajar baixe os mapas dos destinos e economize o 3G.


BÔNUS: OS BARATOS DO MOMENTO

Montevidéu, no Uruguai
Para quem gosta de história, arquitetura e belas paisagens a capital Uruguaia é uma excelente opção. Dá para visitar muita coisa sem pagar nada por isso. Nos restaurantes, pagando contas com cartão de crédito, você se isenta de um imposto de 18,5%, uma bela economia, hein?
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$900,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$55,00 por diária (média)

Santiago, no Chile
Viajar pela América do Sul ainda é a opção mais barata entre os destinos internacionais. Economizando na passagem, dá para aproveitar sem culpa os passeios para o Vale Nevado e a Vinícola Concha Y Toro que custam em torno de R$150,00. Comer por lá também é uma pechincha, o jantar completo – com vinho -, sai por R$35,00.
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$910,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$75,00 por diária (média)

Bali, na Indonésia
Apesar do preço da passagem ser um pouco salgado, todo o custo adicional em Bali compensa. As maravilhosas praias e paisagens são atrações turísticas imperdíveis e gratuitas. Tem coisa melhor?
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$4.000,00 (média)
Hospedagem em Hotel 5 estrelas: R$130,00 por diária (média)

Istambul, na Turquia
Quer visitar dois continentes ao mesmo tempo numa só viagem? Seu destino é Istambul, a única cidade no mundo dividida entre a Europa e a Ásia. Já pensou a mistura interessante que a mistura entre oriente e ocidente dá? História e modernidade se colidem a todo tempo.
Apesar da passagem também ser mais cara, tudo por lá vale a pena, desde jantares que custam menos de R$25,00 a atrações turísticas que não passam dos R$30,00.
Passagens ida e volta (saindo de São Paulo): R$3100,00 (média)
Hospedagem em Hostel: R$30,00 por diária (média)


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

Faniquito

Eu, viajante

23 de fevereiro de 2016

Eu nunca pensei que seria uma daquelas pessoas que se programa todo ano pra viajar. Há 8 anos, quando fizemos nossa primeira viagem, a coisa toda aconteceu de uma forma tão impulsiva, que não foram poucas as vezes que me desentendi com a Dé durante aqueles oito dias: pouco dinheiro, medo de improvisar, insegurança por estar num lugar totalmente desconhecido eram algumas das coisas que me faziam temer mais do que aproveitar aqueles primeiros momentos. Aos poucos, fui me acostumando àquele cenário, e a coisa toda acabou fluindo de uma maneira um pouco melhor. Mas não foi fácil.

Por isso mesmo, entendo as pessoas que resistem a sair da concha. A gente vive ouvindo sobre a tal “zona de conforto”, e o quanto ela acaba “nos protegendo” de tudo aquilo que não conhecemos. É um jeito de enxergar a vida, sem dúvida: no quentinho e fofinho, tudo parece maravilhoso e sob controle. Durante a maior parte da minha vida, era essa a minha cabeça. E da mesma forma, quando ouvia que fulano ia pra não sei onde, tudo aquilo me parecia trabalhoso demais, caro demais, difícil demais pra valer tamanho investimento. Estava enxergando o mundo lá de dentro da minha concha, onde a gente vê as coisas pela perspectiva de um olho mágico, com travas na porta e chave girada. É mais seguro acompanhar a vida daqui, de dentro da redoma.

A gente acaba se boicotando. Encontrando “prioridades mais prioritárias”, e algumas desculpas que reprimem nossas vontades. Claro que custa dinheiro – tudo na vida custa. Dinheiro é necessário. A diferença é o que você faz com o que ganha. Quanto tempo você pretende economizar, de quanto precisa, no que de fato quer gastar, e se viajar for uma opção válida e forte, pra onde quer ir. Pode demorar pouco, pode levar uns dois ou três anos. Se é longe, precisa de tempo, e se você não tem tempo, precisa dar um jeito de conseguir compensar esses intervalos de uma maneira produtiva, pra que a viagem não seja um parênteses, e sim parte da sua vida. A ideia central é: incorporar esse planejamento e todas as suas variáveis ao seu dia-a-dia, de forma que pensar a viagem não seja um ato de desespero, com pouco menos de um mês pra tirar férias, e sim uma ação contínua e abrangente.

Mas como sair de dentro da concha, e incorporar essa rotina?

Planejar. Sempre.

Planejar. Sempre.

Planejar uma viagem é pensar em vontades, escancarar desejos e tentar concretizar alguns sonhos. Tudo isso leva em consideração esse contexto complexo, de distâncias, valores, tempo hábil, deslocamento e diferenças. Transformar dificuldade em ânimo é o primeiro e mais difícil passo. Parece tão difícil quanto dar entrada num carro, num apartamento, comprar um sofá, criar um filho. A gente se sente incapaz até começar a fazer – seja voluntariamente, ou por necessidade. E sim: viajar torna-se uma necessidade quando você começa. Ver novas cores, jogar do imaginário pra memória, ou mesmo experimentar as transformações inevitáveis que uma experiência dessas sempre (e repito: SEMPRE) proporciona são algumas das razões que levam a gente a todo ano repetir esse ciclo, de uma forma tão natural que nem percebemos mais quando começa e quando termina um desses projetos.

Mesmo em um contexto econômico tão adverso quanto o atual, projetos são projetos: existem opções, que às vezes não são tão óbvias, e as vontades, bem… essas nunca mudam. Nossa função é sempre ajudar, incentivar, não deixar a bola cair. Talvez pelo fato de nossa primeira viagem ter sido feita da forma mais absurda possível – ambos desempregados e sem renda alternativa, demorando a entender caro e barato num país diferente, e sem saber sobre como seria o dia seguinte – que a gente assimile as dificuldades como sendo um terreno comum, ao qual qualquer ser humano está sujeito. Na adversidade, aprendemos mais em oito dias do que em meses e meses de namoro. Amadurecemos. Conhecemos coisas novas. Outras opções. Colecionamos momentos, que até hoje têm cheiro de novo. Voltamos felizes – e obviamente, preocupados, mas corremos atrás e ajeitamos as coisas até a viagem seguinte, que teve outros problemas, e mais uma tonelada de ensinamentos, soluções e memórias.

Viajar é um ciclo de recompensas. Seria fácil cair no lugar comum e citar que “dinheiro em viagem não é gasto, mas investido”. Soa babaca quando nosso bolso está vazio, mas aprendemos a dar nossos pulos mesmo com pouco ou quase nada na carteira. Então sim, é um constante investimento viver e proporcionar a outras pessoas esse tipo de sensação. É o que a gente leva adiante, e que nenhum momento de dificuldade é capaz de arrancar de dentro da gente. Sua cabeça muda, você evolui como ser humano e cidadão, além de entender de uma forma muito mais clara sua importância pro mundo e pras pessoas. Viajar é foda. Não existe hora boa ou ruim pra isso: existe sim o planejamento adequado à situação e suas necessidades.

É nossa prioridade – tão inabalável quanto qualquer vontade sincera. Como, quando e onde cuidar dela, depende de você. Quanto a nós dois, um novo planejamento está em andamento, e quem sabe logo mais ele venha parar aqui. Até lá, pense bem o quão gostosa é essa concha, e se essa coceirinha aí não é vontade de dar uma volta pelo resto do oceano…

Venezuela

Uma saga chamada Roraima (4/6)

18 de fevereiro de 2016

É nosso centésimo texto! Uma alegria do tamanho do Roraima 🙂

E é também a quarta parte do nosso relato sobre o Monte Roraima. Não por acaso, o dia em que pudemos conhecê-lo lá de cima, e que além da experiência em si, significou muito mais do que isso na nossa vida. Então, sem mais delongas, à história:

Acordamos na esperança de alguma melhora em nossa situação, mas assim que abrimos a barraca o tempo úmido entregava que pouco ou quase nada havia mudado: as calças continuavam molhadas, assim como nossas botas. E com botas molhadas, como conseguir passear pelo Roraima? O terreno é totalmente irregular, composto de pedras que em certos lugares podem sim machucar seu pé. Havaianas eram impensáveis (e proibidas pelo nosso guia). Tomamos nosso café da manhã com um sentimento de derrota que poucas vezes experimentamos na vida. Nossa viagem parecia ter terminado antes da melhor parte.

Foi aí, sabe-se lá como, que veio uma ideia.

Nosso almoço do dia anterior foi um lanchinho mequetrefe, entregue pela equipe do guia NUM SAQUINHO PLÁSTICO. Bem, tínhamos meias secas. As calças eram de tecido leve, e secariam rapidamente no corpo. Se calçássemos as botas com esse saquinho nos pés, e com a meia sequinha, tínhamos uma chance de sobrevida lá em cima. Rapidamente o pessoal do grupo (que compadecia completamente do nosso desânimo) ssiu caçando os saquinhos do dia anterior. Nos trocamos, testamos, e tivemos nosso primeiro momento de alegria e esperança no topo do Roraima. Situação até então impensável, um milagre aconteceu – e voltamos ao jogo 🙂

De volta ao jogo, tínhamos um longo caminho.

De volta ao jogo, tínhamos um longo caminho.

O que se seguiu dali em diante foi um longo e tranquilo passeio durante toda a manhã. Começamos fazendo o caminho inverso ao que havíamos desesperadamente feito no final da tarde anterior, quando o temporal nos pegou e fez o que fez. Em fila, seguíamos o guia entre as depressões e desníveis das pedras no caminho. De fato, diferenciar poças d’água e rocha era uma tarefa difícil até durante o dia, pois as rochas são quase pretas, enquanto as pequenas piscinas mantém aspecto semelhante, e enfiar o pé na lama é questão de sorte (ou azar, como foi o nosso caso). Pelo caminho destacava-se também toda uma flora totalmente desconhecida, com plantas coloridas cuja principal característica era a capacidade absurda de absorção de água – dado o ecossistema único do tepui.

Um verdadeiro vale de ikebanas.

Um verdadeiro vale de ikebanas.

Mais adiante, uma área um pouco mais aberta reservava um verdadeiro tapete branco, contrastando com a rocha negra da superfície. O Vale dos Cristais é de fato tão bonito quando o nome sugere, e era necessário um cuidado especial para não prejudicar as estruturas do local. O sol dava as caras pela primeira vez.

De todos os tamanhos, os cristais que dão nome ao vale...

De todos os tamanhos, os cristais que dão nome ao vale…

...servem como um inacreditável tapete branco.

…servem como um inacreditável tapete branco.

O dia começava bem, e nossa esperança havia voltado :)

O dia começava bem, e nossa esperança havia voltado 🙂

Entre subidas e descidas, fomos conhecendo alguns vales, lagoas, depressões e formações rochosas que nos deixavam de boca aberta. Os cenários que o Roraima proporciona não são comparáveis a nada que conhecíamos até então. Foram várias as situações em que nos sentíamos pisando na Lua, sem nenhum exagero. Alguns locais levavam nomes engraçados, pelas silhuetas formadas: um sombrero, o rosto do Fidel, e outras coisas cujas imagens falam por si…

O sombrero, que veio parar na minha cabeça...

O sombrero, que veio parar na minha cabeça…

...o rosto do Fidel...

…o rosto do Fidel…

...e bem... o Ricky quis provar alguma coisa pra gente.

…e bem… o Ricky quis provar alguma coisa pra gente.

Com algumas paradinhas estratégicas, nossas roupas já estavam secas. A solução para os pés tinha funcionado, apesar de um certo calor que sentíamos por causa do saquinho entre as meias e as botas – mas dada a situação geral, estávamos num lucro monumental. O tempo havia aberto, e o frio da manhã dava lugar ao sol e um céu azul. Lembrando que estávamos sem banho já há um dia e meio, compensávamos nosso cheiro com a alegria da sobrevida no tepui – e pra falar bem a verdade, não éramos os únicos a estar naquele tipo de situação: essa higiene à qual estamos tão acostumados aqui na civilização dá lugar a um certo instinto de sobrevivência em acampamentos desse tipo. Queríamos um banho, mas queríamos ainda mais era vencer o Roraima.

As formações eram - pra dizer o mínimo - inacreditáveis.

As formações eram – pra dizer o mínimo – inacreditáveis.

Uma pausa pra descanso ao lado de uma das lagoas.

Uma pausa pra descanso ao lado de uma das lagoas.

E entre subidas e descidas, seguíamos adiante.

E entre subidas e descidas, seguíamos adiante.

Seguimos vale adentro, descendo algumas encostas e caminhando entre as depressões. As dores no meu joelho haviam aumentado, mas como eu disse, tínhamos objetivos maiores e claros nesse dia. Eis que chegamos enfim à área de borda do tepui. Um tempo maior de contemplação era necessário. Estávamos caminhando acima das nuvens, num território maravilhoso, e com uma vista privilegiada do nosso vizinho, o Kukenán. Hora da ficha cair e comemorar: havíamos enfim conquistado o Roraima, e Carl Fredricksen não estava mais sozinho.

Chegamos!

Chegamos!

E sim, é tudo de verdade.

E sim, é tudo de verdade.

A primeira imagem, só com as nuvens...

A primeira imagem, só com as nuvens…

...e a segunda, com a gente entre elas :)

…e a segunda, com a gente entre elas 🙂

Perto dali, um conjunto de pedras chamado carinhosamente de “La Ventana” desafiava os mais corajosos a uma olhada pelo vão central daquela estrutura: uma janela para baixo, com rajadas de vento absurdas e violentas. Para se aproximar, por questão de segurança só estando agachado ou deitado. Nenhum dos dois se arriscou… em compensação, a Dé insistiu em olhar pra baixo, e resolveu fazer isso do jeito dela.

La Ventana, meus amigos. Um vão para o nada, basicamente. Não encaramos.

La Ventana, meus amigos. Um vão para o nada, basicamente. Não encaramos.

Mas como eu casei com uma pateta, ganhei esse momento de presente...

Mas como eu casei com uma pateta, ganhei esse momento de presente…

...momento esse que a Mercedes deixou ainda mais evidente.

…momento esse que a Mercedes deixou ainda mais evidente.

O tempo variava rapidamente. Chuva e sol revezavam, enquanto seguíamos para a última parte do passeio da manhã (já era começo de tarde), que consistia em visitar as piscinas naturais que se formavam entre as rochas. Piscinas? Banho, certo? Errado… pois nós (e outros oito do grupo) esquecemos toalhas e sabão de côco nas barracas. Quem não esqueceu foi o grupo de neozelandezes, que se divertiu enquanto a gente se lamentava pela falta de ideia – e por nosso cheirinho nada agradável. Os caras definitivamente sabiam o que estavam fazendo.

As belíssimas e convidativas piscinas naturais...

As belíssimas e convidativas piscinas naturais…

...que só os neozelandeses usaram :(

…que só os neozelandeses usaram 🙁

Depois do banho deles, voltamos ao “hotel”. Almoçamos por lá com calma e tranquilidade. O Ricky – nosso guia – alertou que um dos carregadores acompanharia quem quisesse em um passeio durante a tarde na rocha que ficava logo em frente ao hotel, enquanto ele ficaria descansando. Resolvi fazer o mesmo – pelo bem do meu joelho, e por saber que o dia seguinte seria o mais difícil dessa nossa epopeia. Eu precisava me recuperar um pouco, ou o quinto dia seria ainda mais dramático. A Dé seguiu com o grupo para a pedra, enquanto eu fiquei conversando com o Ricky e com o canadense, que também ficou por lá. Foi algo divertido e bem inesperado: tive que desdobrar meu inglês macarrônico na conversa com ambos, e aos poucos fui me sentindo mais à vontade com essa nova necessidade. Tomamos um chá – estava esfriando bastante – e assim que o grupo voltou, jantamos enquanto a luz natural ia embora.

Nosso hotel, visto da pedra que ficava logo em frente.

Nosso hotel, visto da pedra que ficava logo em frente.

A Dé também saiu na foto, numa outra versão, enquanto eu estava me recuperando lá embaixo :)

A Dé também saiu na foto, numa outra versão, enquanto eu estava me recuperando lá embaixo 🙂

Um dia que começou com ares de tragédia terminou assim...

Um dia que começou com ares de tragédia terminou assim…

...e nós, logicamente, agradecemos aos céus por isso :)

…e nós, logicamente, agradecemos aos céus por isso 🙂

Nossos pés sobreviveram. O plano deu certo, e o calor dos pés acabou secando internamente as botas. Claro que a pele dos pés sofreu com isso, e nós que já estávamos razoavelmente machucados ganhamos novas feridas. A Dé sofria com bolhas e mais bolhas, enquanto minha preocupação maior ainda era o raio do joelho, que havia sido forçado o dia todo entre subidas e descidas. Mas a sensação de vitória superava tudo isso. Havíamos caminhado, conhecido e vivido o Roraima lá de cima, e sem dúvida era o melhor dos quatro dias até então.

Fomos dormir mais do que satisfeitos, e rezando para que o dia seguinte fosse bom. Mas nada havia nos preparado para o que estava por vir.

Hungria

Uma história de liberdade

16 de fevereiro de 2016

Ir a Budapeste e não conhecer seu Parlamento é quase impossível. A região onde está localizada a Praça da Liberdade (Szabadság tér) é rota inevitável tanto para turistas como para moradores da cidade – mais ou menos como ir ao Rio e não ver o Cristo ou vir a São Paulo sem passear pela Paulista. Suas alamedas amplas e os belos edifícios que a circundam compõem um cenário que pede uma paradinha pra contemplação. Os walking tours passam por lá, e qualquer pessoa que queira conhecer o histórico prédio às margens do rio Danúbio acaba visitando a praça de tabela, dado que ambos estão separados por apenas um quarteirão de distância.

Porém, nada de Parlamento ou detalhes maiores sobre a Szabadság tér hoje. Vamos falar especificamente de um detalhe – ou melhor, uma instalação que faz parte da praça. Algo tão divertido quanto surreal, dado seu simbolismo. Estamos falando de uma prisão.

Sim, prisão. De água.

"Lembra daquela vez, em que a gente foi preso em Budapeste?"

“Lembra daquela vez, em que a gente foi preso em Budapeste?”

A sensação de Liberdade é sempre a melhor e mais divertida.

A sensação de Liberdade é sempre a melhor e mais divertida.

Durante o século XIX, a mesma área dava espaço a uma prisão, utilizada durante a Revolução Húngara de 1848. O território húngaro é repleto de lembranças dessa natureza: de memórias de guerra a locais onde ocorreram massacres populares, tudo é lembrado e eternizado de alguma maneira. A prisão em questão, há 150 anos, era a maior do continente europeu até então. Destruída em 1897, deu lugar à praça onde estão localizados alguns dos memoriais mais importantes do país, e prédios de embaixadas internacionais – entre elas, a americana. Entre esses memoriais, está uma das instalações mais curiosas e chamativas dali. Nada de estátua, pórtico ou pedra fundamental, mas sim uma fonte d’água, em forma de quadrilátero. Seus jatos, quando ativos, formam uma imagem semelhante às barras de uma hipotética prisão. Impossível não se aproximar pra saber do que se trata.

Porém, o mais interessante é a possibilidade de “entrar” nessa prisão. Nas partes internas e externas desses jatos d’água, pequenas plataformas que funcionam como pedais. Basta pisar para que elas desativem segmentos da fonte por alguns segundos – o tempo necessário para entrar ou sair da instalação. Mais legal do que a própria instalação é a forma como a gente acaba aprendendo um capítulo tão importante da história do país. Interagir com a fonte faz com que tal experiência se torne inesquecível.

Com isso, uma memória terrível que já data de quase dois séculos é transformada em algo totalmente diferente. Dor vira alegria, cicatriz vira diversão. Um país que já foi tão castigado em alguns dos mais sangrentos e cruéis capítulos da História não teme escancarar seu passado das mais diversas maneiras. Porém, nem todas precisam fazer menção direta a determinados episódios. Transformações são permitidas: uma história de repressão ganha significado oposto, com a “prisão por opção em uma cadeia d’água”.

A opção? É sempre pela liberdade – a mesma que dá nome à praça, e significado à vida dessas pessoas. A mesma liberdade que a gente sente quando conhece uma história dessas de perto.

Brasil, Em duas rodas

Bicicleta na estrada: de Mogi a Guararema

11 de fevereiro de 2016

Era sábado à tarde quando a Gica nos ligou, convidando para um passeio de bicicleta “de verdade”. Nossos já estabelecidos 12 quilômetros aos finais de semana aqui na vizinhança dariam lugar a corajosos 52, em terrenos nunca antes desbravados. Nossas bicicletas ainda estavam virgens de quase tudo, limpinhas da Silva e totalmente delicadas.

– Jinhu, você sabe que eu adoro me f**der.

Com essa singela frase que a Dé me convidou ao desafio. Eu, de maneira muito parceira e temerosa, aceitei.

No dia seguinte, saímos de casa por volta das 9h30. Percorremos os 6 primeiros quilômetros da ciclovia da Avenida Eliseu de Almeida. Um trecho de duas ou três quadras estava interditado para o desfile de Carnaval que aconteceria à noite, então seguimos cuidadosamente pela rua e calçadas até retomar a ciclovia, em direção ao metrô Butantã. Chegando lá, nova estreia, descendo as escadas com as meninas debaixo do braço, e agradecendo aos céus por termos comprado quadros de alumínio – que sim, são mais caros, mas que valem cada centavo investido na hora do levantamento de peso.

Seguimos do Butantã à República, onde encontramos Gica e André – os responsáveis pelo passeio (e por nossas bicicletas, como já contamos em outro texto). Mudamos da linha amarela para a vermelha, e seguimos a travessia pela cidade, indo de metrô até o Brás, e de trem dali em diante – do Brás até Guaianazes, fazendo nova baldeação e seguindo até Estudantes, em Mogi das Cruzes.

Suas definições de "atravessar a cidade" foram atualizadas.

Suas definições de “atravessar a cidade” foram atualizadas.

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô...

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô…

...e seguiu de trem.

…e seguiu de trem.

Lá, encontramos o Alex e a Su, que completaram o nosso grupo. Estávamos prontos pra seguir – enfim, de bicicleta. Capacetes e luvas seriam usados pela primeira vez. Estávamos ansiosos. Filtro solar distribuído e um breve lanchinho, começamos nossa pedalada.

Hora de pedalar pra valer :)

Hora de pedalar pra valer 🙂

Um primeiro trecho ainda pela cidade, e algumas mudanças já se fizeram necessárias: nossos bancos estavam baixos demais, e as pernas (ou melhor, as coxas) acusaram isso na primeira tentativa de acompanhar o grupo. Ajustamos, e agora confortáveis, seguimos viagem. O trecho urbano deu lugar a uma estradinha com quase nenhum movimento. Encarávamos nossos primeiros trechos de descida, e principalmente de subida. Com a ajuda da Gica e do André, fomos descobrindo aos poucos qual a relação de marchas usar em qual trecho, e nesse passo-a-passo fomos adquirindo a confiança que até então não tínhamos. Não havia pressa, e isso ajudou muito para que o casal de novatos não desse vexame ou fizesse feio.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Do asfalto ao paralelepípedo, os primeiros trechos em subida que de fato utilizamos o que havíamos aprendido. Mesmo com pouca inclinação, aquele obstáculo – que até o início do dia era intransponível – ficou pra trás. A sensação de vitória é deliciosa, e íamos encontrando nosso ritmo. Pouco depois chegávamos à Estação de Sabaúna, onde demos um tempinho pra reabastecer numa barraquinha de caldo de cana. O calor maltratava, mas o vento na cara, o bom humor da galera e nossas garrafas d’água compensavam. O cansaço, surpreendentemente, era bem menor do que esperávamos. Seguimos adiante.

Na Estação de Sabaúna...

Na Estação de Sabaúna…

...uma pausa pro "caldicana".

…uma pausa pro “caldicana”.

Pouco depois, entrávamos num extenso trecho de terra. Pra minha alegria, a Dé – que não tinha experiência alguma nesse tipo de terreno – passeou tranquilamente junto ao grupo. Tanto ela como eu ainda tínhamos alguma dificuldade com a nova posição de nossos bancos, a ponto de perdermos o equilíbrio em algumas paradas pelo caminho. Cada pessoa do grupo tinha seu ritmo, mas todos fizemos questão de estar sempre juntos – fosse avisando sobre algum carro que se aproximava, dividindo água, ou falando besteira. O passeio era ótimo, e já valia mesmo sem termos chegado ao destino.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Mas chegamos.

A Vila Estação Luis Carlos é uma área recém-restaurada pela prefeitura de Guararema, e que esteve abandonada até 2010. Hoje, além de abrigar restaurantes, bares, comércio e algumas poucas residências, a vila serve de ponto para o Passeio Turístico Estação Guararema – Estação Luís Carlos, que é realizado com a locomotiva Maria-Fumaça 353. A primeira impressão que tivemos ao chegar foi de que aquele lugar era cenográfico, tal a intensidade das cores da pequena vila – que foi entregue restaurada há apenas 4 anos – e sua cara de coisa nova, mesmo com detalhes arquitetônicos tão tradicionais. Uma rua reta, uma praça, um calçadão onde estavam estacionados trocentos carros, e pouco adiante, a locomotiva. Mesmo minúscula, ficamos surpresos com o charme e a beleza do lugar, do qual até então sequer havíamos ouvido falar.

Descemos das bicicletas, e chegamos...

Descemos das bicicletas, e chegamos…

...à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica...

…à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica…

...com suas casinhas coloridas...

…com suas casinhas coloridas…

...e essa combinação inacreditável de "igrejinha azul mais Brasília amarela".

…e essa combinação inacreditável de “igrejinha azul mais Brasília amarela”.

Um final de tarde colorido :)

Um final de tarde colorido 🙂

Cansados e felizes, nos instalamos em um dos bares para aproveitar um pouco da vila. Eu e a Dé estávamos realizados – não havia um mês que tínhamos feito nosso primeiro passeio com nossas próprias bicicletas, e conseguimos superar 20 quilômetros de um trecho nada semelhante à habitual ciclovia. Passava das 17h quando pedimos alguns petiscos e bebidas. Ficamos de bobeira por lá por mais ou menos hora e pouco, ouvindo um grupo animado de violeiros e observando aquele inesperado vai-e-vem num lugar tão pequeno. Reabastecemos nossas garrafas, tiramos várias fotos, tomamos coragem e começamos o caminho de volta.

Já familiarizados com o terreno, a insegurança foi dando lugar ao cansaço. O sol aos poucos ia sumindo, e temíamos pela pedalada à noite, o que acabou acontecendo principalmente pela minha queda de rendimento. Mesmo com pouca luz, a volta foi bastante segura (pelas lanternas das bicicletas, que foram utilizadas também pela primeira vez), e por não demorarmos a chegar no trecho urbano. A chegada à Estação de Estudantes, em Mogi, foi totalmente redentora pra gente.

Um pouco mais de terra na hora de voltar...

Um pouco mais de terra na hora de voltar…

...algumas descidas redentoras...

…algumas descidas redentoras…

...e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

…e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

Não imaginávamos que algum dia faríamos parte de um grupo disposto a fazer um passeio desse tipo. Não nos imaginávamos capazes de saltar de 12 para 52 quilômetros nesse tipo de teste físico. Mas deu certo. Deu tudo muito certo. E mesmo com a (inevitável) posterior dor na bunda, do cansaço no dia seguinte, foi muito gostoso. Uma experiência totalmente diferente de um passeio de carro, trem ou ônibus. O contato com a natureza, um grupo de gente do bem, um trajeto bonito e esse lado lúdico que a bicicleta traz formam um conjunto que periga viciar.

Agora é fato: temos mesmo um novo faniquito adquirido 🙂

Brasil

São Paulo: um longo caminho

2 de fevereiro de 2016

Durante o penúltimo final de semana de janeiro aconteceram os festejos de aniversário de São Paulo. Uma daquelas oportunidades em que aproveitar a cidade é quase uma obrigação, tamanho o número de eventos gratuitos, diversos e simultâneos que se espalham por aqui. A gente escolheu uma das atrações – um passeio de trólebus pelo centro velho – e resolveu encarar um feriado de sol escaldante pra passear por aqui.

Aos fatos:

Pegamos um ônibus perto de casa, que nos deixou na Estação República do Metrô. Nesse dia, o bilhete único valia 8 horas, e isso já era um baita incentivo pra, mais uma vez, deixar o carro em casa (porém, o bilhete da Dé deu pau e cobrou ambas viagens, de ida e volta). Alguns passos adiante, e duas tendas para o evento orientavam os turistas, e organizavam um walking tour pela região. Seguimos até o Pateo do Collegio, que era o ponto de partida do trólebus: saía em intervalos de 3 a 4 minutos, com todos os passageiros sentados, num tour gratuito e guiado. Porém, a fila de espera para o ônibus era dantesca, e abandonamos imediatamente a ideia do tour.

Sugestão:

Por que não distribuir os pontos de saída de um passeio circular por 3 ou 4 pontos do trajeto? As filas ficariam diluídas, não desanimariam quem chega, e possivelmente teriam maior adesão…

Mudança de planos imediata, voltamos à Prefeitura para pegar o próximo walking tour, que sairia às 11h30. No horário marcado, nossa guia reuniu o pequeno grupo (que não somava mais de 10 pessoas), iniciando ali mesmo as explicações. Uma coisa que a gente notou foi um certo descuido com alguns detalhes (como por exemplo, o microfone, que mesmo em grupos pequenos precisa estar ligado o tempo todo – no caso desse passeio, durou pouco menos de 15 minutos). Seriam mais ou menos duas horas e meia de caminhada. Partimos.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM - Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM – Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo...

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo…

...bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima - depois de descer a história é outra e todos nós sabemos...).

…bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima – depois de descer a história é outra e todos nós sabemos…).

Prefeitura, Secretaria de Segurança, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Catedral da Sé, Praça João Mendes, Tribunal de Justiça, Solar da Marquesa de Santos, Pateo do Collegio, Centro Cultural Banco do Brasil, Rua do Comércio, uma subida no Edifício Martinelli, Anhangabaú e Theatro Municipal. Um belo roteiro, que vamos resumir em observações positivas e negativas.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

O "primeiro caixa eletrônico" da cidade ainda existe.

O “primeiro caixa eletrônico” da cidade ainda existe.

As coisas bacanas:

Começando pelo óbvio, é de fato um tour muito bonito e recheado de história. Alguns dos edifícios são belíssimos, e os detalhes de outros tantos são exaltados pela guia durante o trajeto, que teve como ponto alto (sem trocadilhos) a visita ao topo do Martinelli. Eu nunca tinha subido lá, e dá pra chamar sim de obrigação – tanto para quem mora como para quem visita a cidade. Mesmo em duas horas e meia, é um passeio bastante tranquilo, que pode ser feito em qualquer dia da semana, de tão simples.

A fachada do Martinelli continua impressionante...

A fachada do Martinelli continua impressionante…

...mas a visão lá de cima é ainda mais.

…mas a visão lá de cima é ainda mais.

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível...

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível…

...é possível observar também o cimento original e importado para sua construção - que sim, é rosa.

…é possível observar também o cimento original e importado para sua construção – que sim, é rosa.

As coisas não tão bacanas:

Em relação ao tour, falta preparo e uma certa estrutura ao sistema de passeio guiado. Não foram poucas as explicações imprecisas, e uma certa confusão com as informações – pra algo desse contexto, não dá pra ser “mais ou menos”. Além disso, alguns lugares como a Catedral da Sé e o Pateo do Collegio mereciam algo melhor do que apresentações de fachada – uma entrada rápida ou uma explicação mais detalhada impressionariam muito mais aos que não conhecem esse roteiro.

Quanto à cidade, é uma pena que tenhamos que evitar a Praça da Sé “devido ao perigo” da região. Apesar de algumas ações que já acontecem, há muito a ser feito quanto à política social e de inclusão na cidade. Por diversas vezes o grupo “foi desviado”, para evitar contato com as pessoas que vivem nas ruas da cidade. Há também a degradação arquitetônica, e um descaso gigante com o patrimônio histórico e cultural do qual esses prédios fazem parte.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

A conclusão do nosso passeio:

São Paulo é incrível e por muitas vezes inacreditável, mas precisa desenvolver bastante seu lado turístico, pois mesmo com essas iniciativas, aquilo que temos é incompatível com o tamanho e complexiade da cidade. Existem possibilidades infinitas e óbvias, que podem ser implementadas muito rapidamente a custo muito baixo, mas o que a gente vê por aí ainda é muito pouco. Os programas gratuitos – como os que foram oferecidos durante o aniversário da cidade – são louváveis, mas dá pra ir além. MUITO além. Da mesma forma, o turismo interno que a gente (não) faz é esclarecedor em trocentos aspectos: da nossa total falta de conhecimento da própria história, à situação real das pessoas – pro bem ou pro mal.

O dia foi delicioso (e cansativo pelo calor), e devemos repetir a dose ano que vem. Quem sabe, sentados dentro do trólebus, ou num walking tour diferente. Mesmo com um longo caminho pela frente, a semente foi plantada, e comemoramos o aniversário da cidade da forma que ela merece. Que venham outras festas, ainda melhores.