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Brasil

São Paulo: um longo caminho

2 de fevereiro de 2016

Durante o penúltimo final de semana de janeiro aconteceram os festejos de aniversário de São Paulo. Uma daquelas oportunidades em que aproveitar a cidade é quase uma obrigação, tamanho o número de eventos gratuitos, diversos e simultâneos que se espalham por aqui. A gente escolheu uma das atrações – um passeio de trólebus pelo centro velho – e resolveu encarar um feriado de sol escaldante pra passear por aqui.

Aos fatos:

Pegamos um ônibus perto de casa, que nos deixou na Estação República do Metrô. Nesse dia, o bilhete único valia 8 horas, e isso já era um baita incentivo pra, mais uma vez, deixar o carro em casa (porém, o bilhete da Dé deu pau e cobrou ambas viagens, de ida e volta). Alguns passos adiante, e duas tendas para o evento orientavam os turistas, e organizavam um walking tour pela região. Seguimos até o Pateo do Collegio, que era o ponto de partida do trólebus: saía em intervalos de 3 a 4 minutos, com todos os passageiros sentados, num tour gratuito e guiado. Porém, a fila de espera para o ônibus era dantesca, e abandonamos imediatamente a ideia do tour.

Sugestão:

Por que não distribuir os pontos de saída de um passeio circular por 3 ou 4 pontos do trajeto? As filas ficariam diluídas, não desanimariam quem chega, e possivelmente teriam maior adesão…

Mudança de planos imediata, voltamos à Prefeitura para pegar o próximo walking tour, que sairia às 11h30. No horário marcado, nossa guia reuniu o pequeno grupo (que não somava mais de 10 pessoas), iniciando ali mesmo as explicações. Uma coisa que a gente notou foi um certo descuido com alguns detalhes (como por exemplo, o microfone, que mesmo em grupos pequenos precisa estar ligado o tempo todo – no caso desse passeio, durou pouco menos de 15 minutos). Seriam mais ou menos duas horas e meia de caminhada. Partimos.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM - Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM – Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo...

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo…

...bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima - depois de descer a história é outra e todos nós sabemos...).

…bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima – depois de descer a história é outra e todos nós sabemos…).

Prefeitura, Secretaria de Segurança, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Catedral da Sé, Praça João Mendes, Tribunal de Justiça, Solar da Marquesa de Santos, Pateo do Collegio, Centro Cultural Banco do Brasil, Rua do Comércio, uma subida no Edifício Martinelli, Anhangabaú e Theatro Municipal. Um belo roteiro, que vamos resumir em observações positivas e negativas.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

O "primeiro caixa eletrônico" da cidade ainda existe.

O “primeiro caixa eletrônico” da cidade ainda existe.

As coisas bacanas:

Começando pelo óbvio, é de fato um tour muito bonito e recheado de história. Alguns dos edifícios são belíssimos, e os detalhes de outros tantos são exaltados pela guia durante o trajeto, que teve como ponto alto (sem trocadilhos) a visita ao topo do Martinelli. Eu nunca tinha subido lá, e dá pra chamar sim de obrigação – tanto para quem mora como para quem visita a cidade. Mesmo em duas horas e meia, é um passeio bastante tranquilo, que pode ser feito em qualquer dia da semana, de tão simples.

A fachada do Martinelli continua impressionante...

A fachada do Martinelli continua impressionante…

...mas a visão lá de cima é ainda mais.

…mas a visão lá de cima é ainda mais.

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível...

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível…

...é possível observar também o cimento original e importado para sua construção - que sim, é rosa.

…é possível observar também o cimento original e importado para sua construção – que sim, é rosa.

As coisas não tão bacanas:

Em relação ao tour, falta preparo e uma certa estrutura ao sistema de passeio guiado. Não foram poucas as explicações imprecisas, e uma certa confusão com as informações – pra algo desse contexto, não dá pra ser “mais ou menos”. Além disso, alguns lugares como a Catedral da Sé e o Pateo do Collegio mereciam algo melhor do que apresentações de fachada – uma entrada rápida ou uma explicação mais detalhada impressionariam muito mais aos que não conhecem esse roteiro.

Quanto à cidade, é uma pena que tenhamos que evitar a Praça da Sé “devido ao perigo” da região. Apesar de algumas ações que já acontecem, há muito a ser feito quanto à política social e de inclusão na cidade. Por diversas vezes o grupo “foi desviado”, para evitar contato com as pessoas que vivem nas ruas da cidade. Há também a degradação arquitetônica, e um descaso gigante com o patrimônio histórico e cultural do qual esses prédios fazem parte.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

A conclusão do nosso passeio:

São Paulo é incrível e por muitas vezes inacreditável, mas precisa desenvolver bastante seu lado turístico, pois mesmo com essas iniciativas, aquilo que temos é incompatível com o tamanho e complexiade da cidade. Existem possibilidades infinitas e óbvias, que podem ser implementadas muito rapidamente a custo muito baixo, mas o que a gente vê por aí ainda é muito pouco. Os programas gratuitos – como os que foram oferecidos durante o aniversário da cidade – são louváveis, mas dá pra ir além. MUITO além. Da mesma forma, o turismo interno que a gente (não) faz é esclarecedor em trocentos aspectos: da nossa total falta de conhecimento da própria história, à situação real das pessoas – pro bem ou pro mal.

O dia foi delicioso (e cansativo pelo calor), e devemos repetir a dose ano que vem. Quem sabe, sentados dentro do trólebus, ou num walking tour diferente. Mesmo com um longo caminho pela frente, a semente foi plantada, e comemoramos o aniversário da cidade da forma que ela merece. Que venham outras festas, ainda melhores.

Hungria, Ir e vir

Caminhando contra o vento

26 de outubro de 2015

A dica de hoje é pra você, que assim como nós está sem grana e adora viajar.

O dia estava apenas começando quando nós já estávamos em Erzsébet tér – uma praça muito bonitinha no centro de Budapeste. Pouco depois duas guias chegaram, com suas plaquinhas vermelhas nas mãos: uma falando em espanhol, outra em inglês. Nos juntamos à segunda, e aos poucos outras pessoas foram chegando e formando um grupo, que não excedia 20 pessoas.

No horário marcado para o início do tour, fomos devidamente apresentados e introduzidos à história da cidade. Numa abordagem rápida e divertida, aprendemos em húngaro (o segundo idioma mais difícil do mundo, segundo a Ursula, tradução de Orsi, e que se pronuncia Órchi) a comunicação básica para socializar com os locais, além do nome da cidade: BUDAPESH – desse jeito mesmo, com aquele S carioca carregado. Nossos planos eram fazer os dois tours no mesmo dia: pela manhã, visitando os principais pontos de Pest e o castelo de buda e seus arredores; à tarde, fazendo o tour comunista, que mostrava as memórias de guerra e terminava no Parlamento.

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Orsi, sua bicicleta, e uma paradinha pra algumas histórias húngaras.

Mais do que falar desses lugares – e falaremos, num momento futuro, nosso texto de hoje é pra reafirmar a eficácia desse tipo de programa. Antes da viagem, fomos aconselhados a fazer todos os walking tours possíveis – e foi um ótimo conselho. Você encontra indicações e opções diversas nos folhetos espalhados pela cidade, em albergues e hotéis, além de poder se juntar a qualquer momento aos grupos que estiverem passando pelas ruas (desde que eles sejam gratuitos, óbvio). Ter um panorama geral da cidade onde você está coloca diversas coisas em perspectiva, e seu aprendizado tem grandes chances de ser muito maior. Se você quiser saber um pouco mais sobre o trabalho dos guias, fizemos um texto sobre isso há um tempinho atrás.

Num primeiro momento, nossos planos foram literalmente por água abaixo ao final do primeiro tour, quando voltamos a Pest para almoçar. Durante o almoço, um pé d’água minou nossas expectativas de chegar ao encontro no horário. Porém, aos dispostos a tudo, saibam que o tour saiu do mesmo jeito, de guarda-chuva e enfrentando um temporal. Pra quem tem poucos dias na cidade, um alento se você tiver coragem. Acabamos fazendo o passeio comunista no segundo dia, pois os tours saíam todos os dias do mesmo local. É só se programar – e nesse caso, torcer pra não chover.

Além das principais atrações e a história de cada uma delas, esse tipo de tour nos permitiu conhecer um pouco da visão de quem vive por lá. As duas guias do Free Budapest Tours* deram depoimentos pessoais sobre a situação econômica e política do país, bem como a herança comunista e as dificuldades da Hungria no atual momento. São coisas que a gente não vai encontrar num folheto, no Trip Advisor ou mesmo no Google (e se encontrar, possivelmente será em húngaro). E poucas coisas numa viagem são tão recompensantes quanto aumentar os limites daquela caixinha de ideias que temos de um lugar desconhecido. Dependendo do tour, essa caixinha explode e a cabeça absorve mais que esponja nova. Uma delícia.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Então, se estiver a fim de conhecer um lugar e estiver sem grana, os Free Walking Tours são um prato cheio. Existem diversos grupos que oferecem esse tipo de serviço, então não se acanhe em perguntar sobre os guias, o trajeto e como tudo funciona. Normalmente é de bom tom dar um troco ao guia ao final do passeio, mas nada é obrigatório (o que não significa que você não possa pelo menos garantir um cafezinho pro sujeito). Passeios desse tipo existem em todos os lugares do mundo – inclusive em São Paulo. Um programa mais que recomendado pra quem não se contenta com aquele eterno mais do mesmo.

A nossa historinha húngara, logo mais 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.