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Passeio

Hungria, Ir e vir

Caminhando contra o vento

26 de outubro de 2015

A dica de hoje é pra você, que assim como nós está sem grana e adora viajar.

O dia estava apenas começando quando nós já estávamos em Erzsébet tér – uma praça muito bonitinha no centro de Budapeste. Pouco depois duas guias chegaram, com suas plaquinhas vermelhas nas mãos: uma falando em espanhol, outra em inglês. Nos juntamos à segunda, e aos poucos outras pessoas foram chegando e formando um grupo, que não excedia 20 pessoas.

No horário marcado para o início do tour, fomos devidamente apresentados e introduzidos à história da cidade. Numa abordagem rápida e divertida, aprendemos em húngaro (o segundo idioma mais difícil do mundo, segundo a Ursula, tradução de Orsi, e que se pronuncia Órchi) a comunicação básica para socializar com os locais, além do nome da cidade: BUDAPESH – desse jeito mesmo, com aquele S carioca carregado. Nossos planos eram fazer os dois tours no mesmo dia: pela manhã, visitando os principais pontos de Pest e o castelo de buda e seus arredores; à tarde, fazendo o tour comunista, que mostrava as memórias de guerra e terminava no Parlamento.

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Orsi, sua bicicleta, e uma paradinha pra algumas histórias húngaras.

Mais do que falar desses lugares – e falaremos, num momento futuro, nosso texto de hoje é pra reafirmar a eficácia desse tipo de programa. Antes da viagem, fomos aconselhados a fazer todos os walking tours possíveis – e foi um ótimo conselho. Você encontra indicações e opções diversas nos folhetos espalhados pela cidade, em albergues e hotéis, além de poder se juntar a qualquer momento aos grupos que estiverem passando pelas ruas (desde que eles sejam gratuitos, óbvio). Ter um panorama geral da cidade onde você está coloca diversas coisas em perspectiva, e seu aprendizado tem grandes chances de ser muito maior. Se você quiser saber um pouco mais sobre o trabalho dos guias, fizemos um texto sobre isso há um tempinho atrás.

Num primeiro momento, nossos planos foram literalmente por água abaixo ao final do primeiro tour, quando voltamos a Pest para almoçar. Durante o almoço, um pé d’água minou nossas expectativas de chegar ao encontro no horário. Porém, aos dispostos a tudo, saibam que o tour saiu do mesmo jeito, de guarda-chuva e enfrentando um temporal. Pra quem tem poucos dias na cidade, um alento se você tiver coragem. Acabamos fazendo o passeio comunista no segundo dia, pois os tours saíam todos os dias do mesmo local. É só se programar – e nesse caso, torcer pra não chover.

Além das principais atrações e a história de cada uma delas, esse tipo de tour nos permitiu conhecer um pouco da visão de quem vive por lá. As duas guias do Free Budapest Tours* deram depoimentos pessoais sobre a situação econômica e política do país, bem como a herança comunista e as dificuldades da Hungria no atual momento. São coisas que a gente não vai encontrar num folheto, no Trip Advisor ou mesmo no Google (e se encontrar, possivelmente será em húngaro). E poucas coisas numa viagem são tão recompensantes quanto aumentar os limites daquela caixinha de ideias que temos de um lugar desconhecido. Dependendo do tour, essa caixinha explode e a cabeça absorve mais que esponja nova. Uma delícia.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Então, se estiver a fim de conhecer um lugar e estiver sem grana, os Free Walking Tours são um prato cheio. Existem diversos grupos que oferecem esse tipo de serviço, então não se acanhe em perguntar sobre os guias, o trajeto e como tudo funciona. Normalmente é de bom tom dar um troco ao guia ao final do passeio, mas nada é obrigatório (o que não significa que você não possa pelo menos garantir um cafezinho pro sujeito). Passeios desse tipo existem em todos os lugares do mundo – inclusive em São Paulo. Um programa mais que recomendado pra quem não se contenta com aquele eterno mais do mesmo.

A nossa historinha húngara, logo mais 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina, Áustria, Brasil, Estive lá

A vez das pessoas

27 de agosto de 2015

Experimentamos durante o último final de semana a sensação de, pela (nossa) primeira vez, circular à pé no asfalto da maior avenida da maior cidade da América do Sul. Não é qualquer coisa restringir o acesso da Avenida Paulista a pedestres e ciclistas, e é uma das várias atitudes que nosso atual prefeito vem tomando para humanizar um pouco mais a metrópole virulenta que vivemos. As atitudes de Fernando Haddad têm sido polêmicas, muito mais pela cultura de ódio permeada atualmente na população brasileira, do que pelas ações em si.

A utilização de espaços públicos é coisa a qual não estamos acostumados, ainda mais quando ela acontece de graça e com fácil acesso. O paulista orgulha-se em ter o Ibirapuera como parque, mas sabe o quão difícil é seu acesso, e a quantidade de pessoas que o frequenta (principalmente nos finais de semana) afugenta os que procuram um pouco de paz e tranquilidade, ou mesmo outras alternativas de espaço – com comércio, restaurantes, espetáculos ou qualquer outro tipo de lazer. São Paulo é estigmatizada por carimbar com filas e/ou preços proibitivos suas principais atrações (temos o ótimo Sinta-se Paulistano satirizando essa imagem mais do que merecida que a cidade tem). E isso mina o ânimo de quem busca um pouco de sossego, ou ainda quem não tem dinheiro pra prestigiar tais atrações, afinal de contas, já temos filas, stress e preços altos suficientes durante a semana. Prorrogar essas dores cotidianas para nossos dias de folga é coisa a ser considerada. Sempre.

Longe de São Paulo vivemos dois momentos muito marcantes da chamada “vida ao ar livre” antes de presenciarmos o acontecimento do último domingo, e vamos contá-los rapidamente por aqui:

Começando por nossos vizinhos, e sua notória simpatia por espaços públicos. Tivemos a melhor das impressões em nossa primeira viagem ao notar que não era somente nos grandes parques (como o Rosedal, na foto) que os argentinos se esparramavam, com suas cuias de mate, livros, radinho, bola e toalha. Grandes ou pequenas, em Buenos Aires ou Ushuaia, eles têm por hábito curtir as praças, calçadões e ruas com sua família e amigos. Esses espaços se fundem com a cidade num convívio dos mais harmoniosos possíveis. De fácil acesso e espalhados pela cidade, perto ou longe do metrô, dia ou noite, de bicicleta ou à pé, as praças e parques argentinos estão sempre cheios de gente, todos os dias da semana.

Parques, praças e muita, muita gente.

Parques, praças e muita, muita gente.

Atravessamos o oceano e chegamos até Viena (que foi tema de nosso texto anterior) – uma cidade notoriamente cara, todos sabemos ou fazemos ideia. Mas com algumas características que valem MUITO destaque: a começar pela semelhança com as cidades argentinas no que se diz respeito aos parques e praças. Gente de todas as idades se espalha pelos gramados e alamedas da cidade, dia e noite.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Mas o que mais nos tocou foi um acontecimento em particular: acabamos não assistindo a nenhuma ópera na cidade, e isso poderia ser uma lacuna em nossa viagem. Mas ao passarmos em frente ao Wiener Staatsoper (a Ópera de Viena), um imenso telão na sua lateral transmitia ao vivo e com um som muito bacana o espetáculo que acontecia lá dentro – e cujos preços são condizentes a uma ópera. Em Viena. Na Ópera de Viena. Uma multidão de pessoas assistia ao espetáculo sentada na calçada, no chão ou em cadeirinhas e banquinhos trazidos de casa, comendo uma pizza e tomando um vinho. Diversão, música e cultura –  de graça. Fizemos o mesmo, e ficamos por alguns minutos ali, curtindo não só a ópera, mas as pessoas. Era dia de semana – se não me engano, uma quinta-feira. Um momento que a gente certamente não esquecerá.

Ópera na rua. Quem diria?

Ópera na rua. Quem diria?

Voltemos à Paulista, que experimentamos ao lado de um casal de amigos cariocas no último domingo. Diversos comerciantes sabiamente abriram suas lojas. Outras tantas pessoas levaram seus carrinhos (de comida, de bugigangas, de serviços) pra calçada, e juntaram-se às tradicionais feirinhas do MASP e do Trianon. Vimos grupos de teatro, bandas tocando, gente fotografando, fazendo piquenique, lendo livro na calçada. Pais e filhos à pé ou de bicicleta, num clima tão bom que nos sentimos… turistas. Existe sensação melhor que essa?

Em São Paulo, o Minhocão já tem o trânsito de veículos restrito há tempos durante os finais de semana. Algumas avenidas da cidade (principalmente as atendidas por metrô e trem) como a Paulista, a Faria Lima e a Sumaré são sim ótimas opções para o passeio livre em dias de descanso. Temos as Viradas Culturais, onde a cidade toda vira um imenso palco dia e noite (e cuja qualidade e organização vêm melhorando com o passar do tempo). Com a possibilidade de utilização desses espaços, podemos sair de casa. Conhecer pessoas, reencontrar amigos. Nos divertir sem gastar tubos. Fazer nosso piquenique. Desafogar o Ibirapuera e outros parques. Termos uma vida mais saudável, sem enterrar nossas finanças numa academia. Enfim, aproveitar uma cidade que se orgulha tanto do tamanho que tem, mas que tem se mostrado dia-a-dia uma metrópole de gente egoísta e intolerante.

Talvez nos falte educação, ou estejamos saturados. Mas nenhuma justificativa explica o fato nos afastarmos cada vez mais daquilo que o ser humano tem de mais precioso – a possibilidade de conviver em harmonia com pessoas de diferentes origens, características e gostos. Ninguém que está feliz julga alguém que também está sorrindo – seja pelo motivo que for, é um fato. E nos propiciar alguns momentos de felicidade em lugares que estamos acostumados a correr e xingar é uma iniciativa que nós apoiamos e prestigiamos irrestritamente.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Ir e vir

Com guia? Sem guia?

30 de julho de 2015

Existe uma questão filosófica envolvendo guias de viagem: eles ajudam ou atrapalham? Estar sem um guia acompanhando determinado passeio te dá a liberdade necessária pra descobrir algo novo por conta própria? É melhor saber da boca de um local as informações necessárias pra gente absorver tudo aquilo que um passeio ou visita oferecem? Dá pra trocar um guia pela Wikipedia, ou mesmo pelo Google?

Vamos por partes.

Polêmica: quem vai na frente, se ninguém sabe o caminho, nem o que fazer?

Polêmica: quem vai na frente, se ninguém sabe o caminho, nem o que fazer?

Primeira coisa, e sempre tratando de qualquer assunto sob o nosso prisma: de início sempre procuramos fazer nosso roteiro por conta própria, ignorando inclusive passeios guiados – justamente por termos essa impressão destacada nas questões do início desse texto. Achávamos que um passeio guiado seria: 1) uma bagunça organizada, pois normalmente ele é feito em grupo, e 2) não teríamos a oportunidade de descobrir certas histórias e detalhes por conta própria. Assumimos o preconceito, e assim mesmo nossos passeios foram divertidos.

Foi aí que, por um acaso, experimentamos o outro lado da coisa.

Eles sabem de tudo, e ainda dividem com a gente? Claro que sim!

Eles sabem de tudo, e ainda dividem com a gente? Claro que sim!

Numa viagem em que inevitavelmente tínhamos direito a alguns passeios: todos com um guia a tiracolo. Num primeiro momento é uma situação meio bizarra ter alguém te pajeando o tempo todo (ainda mais por ser um passeio exclusivo, em que fazíamos somente os três, sem grupo). Funcionava exatamente daquela maneira, que mais parecia uma corrida de autorama, onde a gente nunca pisaria fora da área delimitada.

Quem ganha e quem perde nessas duas situações? Voltamos ao nosso prisma, e nossa opinião é: casar as duas situações é o cenário ideal.

É uma eterna satisfação descobrir certas coisas por méritos próprios: ir conferir aquele cantinho que ninguém vai, confirmar expectativas e se aprofundar em pesquisas, notar certos detalhes que parecem novidade, tudo isso nos causa um bem-estar enorme. Não existe coisa mais gostosa do que se apropriar de um destino, e dali em diante contar histórias e passar adiante dicas que parecem coisa nossa, e só nossa. E em qualquer lugar, a qualquer época, sempre existe uma situação ou descoberta só nossa, que nos acompanhará dali em diante por todas as vezes que contarmos sobre determinada viagem.

Se existe um lugar que você quer conhecer, simplesmente conheça.

Se existe um lugar que você quer conhecer, simplesmente conheça.

Porém, nada impede um tourzinho guiado: seja um city tour, um passeio histórico, ou mesmo uma visita guiada. Apesar de parecer maçante (e às vezes é bem isso mesmo), é uma certeza que com um bom guia e um bom roteiro esse tipo de programa amplia nossos horizontes instantaneamente. E não são poucos os casos que nesses passeios o próprio guia conta detalhes ou opiniões pessoais que fazem barulho suficiente pra gente se intrigar, e mergulhar ainda mais fundo naquele destino.

Existem diversos tipos de tour disponíveis por aí: de grupos de viagem a passeios exclusivos, de guias credenciados a guias locais (que levam o viajante por passeios fora dos roteiros padrão, e cujo valor cobrado vai de acordo com o que você queira pagar – se quiser). Existem ainda grupos voluntários, que fazem passeios temáticos (de terror, políticos, históricos, baseados em livros ou filmes, para crianças, sazonais, etc.). Tivemos ótimas experiências com todos esses tipos, e cada um atende a determinado tipo de perfil.

Uma tarde de diversão e aprendizado, com direito a treinar um novo idioma, e com alguém que sabe onde te levar, e ainda tira fotos por/pra você.

Uma tarde de diversão e aprendizado, com direito a treinar um novo idioma, e com alguém que sabe onde te levar, e ainda tira fotos por/pra você.

Resumindo: caso seja sua primeira viagem, aprofunde-se na pesquisa sobre seus destinos. Pense que um novo lugar inevitavelmente desperta uma curiosidade de 360º. O desejo de qualquer pessoa que viaja é absorver o máximo no menor período de tempo. Desperte sua curiosidade, e sinta-se preparado para ser seu próprio guia na maioria do tempo, mas não dispense ajuda em determinados momentos – até mesmo pra relaxar. Mais do que qualquer outra coisa: livre-se de preconceitos. Não existe melhor ou pior: existem situações, e elas costumam ser diferentes uma da outra. Viajar é aprender e conhecer, o tempo todo. Faça isso da(s) maneira(s) que você mais gosta.

Porque às vezes tudo o que a gente quer é conhecer o basicão, sentado num banco de ônibus ou caminhando com mais meia dúzia de pessoas, e com alguém ao microfone contando uma história bacana.