Tag

Buenos Aires

Argentina

A casa de Maradona

23 de julho de 2015

Ir a Buenos Aires e não conhecer a Bombonera é deixar uma lacuna na sua viagem. Bom, pelo menos é o que dizem todos os que visitam o estádio, arrastando até mesmo os desinteressados por futebol até o bairro da Boca. Mais ou menos como ir ao Rio e não visitar o Cristo, o mitológico estádio do Boca Juniors é parada obrigatória para qualquer turista que visita a cidade portenha. E nós fomos conferir essa história.

Existe um certo “terrorismo” quanto a La Boca. Não são poucos os que demonizam o bairro (onde também está localizado o Caminito), recomendando “cuidado ao andar pelas ruas”, entre outros conselhos que deixam os visitantes de pé atrás. Opinião pessoal: um absoluto exagero. É um bairro antigo e boêmio, bastante diferente da área central da cidade – mas numa comparação binária, seria como colocar lado a lado as regiões do Jardins e da Moóca em São Paulo. Cuidado a gente tem que ter em qualquer lugar, e não é por estar degradado que um lugar é necessariamente ruim. Então, encare sim o passeio.

Uma paredão em azul e amarelo. Bem-vindos à Bombonera.

Uma paredão em azul e amarelo. Bem-vindos à Bombonera.

O estádio é sim imponente pra cacete. Do lado de fora, um paredão de concreto azul e amarelo, com grandes colunas verticais, deixando claro que estamos entrando num lugar que em nada se assemelha às “arenas” modernas de hoje em dia. Na pequena sala de entrada do museu, você compra os ingressos pro tipo de visita (só o museu, museu e gramado com visita guiada, etc.), e aguarda a chamada numa acanhada lojinha.

A entradinha do museu, e o anúncio que a coisa ali é sobre paixão mesmo.

A entradinha do museu, e o anúncio que a coisa ali é sobre paixão mesmo.

O museu é muito bacana. Estátuas dos jogadores mais famosos do time (Maradona, Palermo, Riquelme), a relação completa dos jogadores que vestiram a camisa do Clube, uma pequena maquete do bairro em outros tempos, e uma memoriabília sensacional, com taças, flâmulas, camisas e todo tipo de objeto que ajude a contar a história do Boca. Da mesma forma que tudo no estádio, é menor do que você imagina – ainda mais se tiver as mesmas referências que eu quanto a esse tipo de museu: o do Corinthians e o Museu do Futebol no estádio do Pacaembú são absurdamente gigantes perto do museu do Boca.

Uma miniatura do bairro, nos tempos de fundação do estádio.

Uma miniatura do bairro, nos tempos de fundação do estádio.

Um cara que perde três pênaltis num mesmo jogo merece mesmo uma estátua.

Um cara que perde três pênaltis num mesmo jogo merece mesmo uma estátua.

A camisa de caminhão do Navarro Montoya. [Clubismo] Em outros tempos, outro goleiro ridículo aderiu à mesma moda no Brasil [/Clubismo].

A camisa de caminhão do Navarro Montoya. [Clubismo] Em outros tempos, outro goleiro ridículo aderiu à mesma moda no Brasil [/Clubismo].

Schiavi, esse parceirásso :)

Schiavi, esse parceirásso 🙂

Mas a graça da Bombonera são os vestiários e o gramado.

Graça pra quem visita, obviamente. O vestiário dos visitantes é apertado e deve ser um inferno se preparar ali. Fora que a arquibancada mais hardcore dos caras fica justamente em cima dele, propositalmente. A fama de caldeirão da Bombonera não é à toa. É tudo meio velho e podre, como tudo no bairro, e é justamente isso que carrega ainda mais a mística do lugar. “Ah, mas isso fica longe do que eu vejo na Champions League”, dirá o representante da geração Playstation. Sim amiguinho, é bem diferente. Por isso mesmo a Libertadores é divertida: porque é aqui, e não na Europa.

Quanto ao gramado e às arquibancadas: aquilo tudo que ouvimos e vemos é exatamente daquela maneira: assentos colados, corredores apertados e uma verdadeira parede de arquibancada que impressiona de verdade. Nossa guia era extremamente animada (e a maioria dos visitantes, brasileira), e contou detalhadamente os principais fatos da história do estádio. Mostrou também onde fica o camarote vitalício do Maradona, e nos levou à “geral” da Bombonera (aquela que fica em cima do vestiário visitante), onde organizou uma baguncinha básica com a galera. Um passeio bem do divertido, e mais divertido ainda por termos feito o dito seis meses após o título da Libertadores do Corinthians – justamente em cima dos caras.

É alta a bagaça, meus amigos. Dá um calafrio.

É alta a bagaça, meus amigos. Dá um calafrio.

Pertinho do gramado, e de frente pros camarotes.

Pertinho do gramado, e de frente pros camarotes.

Hora de ver mais de perto por onde o Romarinho passou.

Hora de ver mais de perto por onde o Romarinho passou.

Na saída, a hora da saudade.

Na saída, a hora da saudade.

Conclusão: a Bombonera vale sim a visita – muito mais por seu caráter histórico, e por ser um estádio sobrevivente à modernização que engole o futebol nos dias de hoje. É um ponto turístico pra quem não acompanha o esporte, mas uma obrigação pra quem ama o certame.

Apêndice gordinha: saindo de lá, caminhe por algumas ruas e vá almoçar no Obrero – que é igualmente precário e tradicional. Um bifão de chorizo não fará mal depois de duas horinhas de tour por terras amarelo-celestes. E tente encontrar a flâmula do seu time de coração na parede forrada dos caras 🙂

Um restaurante tradicional, num reduto de torcida, com uma parede de verdade.

Um restaurante tradicional, num reduto de torcida, com uma parede de verdade.

bombonera13

Pro almoço, mais uma tradição – por que não?

P.S.: Achei que faltava um vídeo mostrando a Bombonera funcionando. Então fechamos o texto com o melhor momento já vivido por esse estádio:

Argentina

Sombra e água fresca

5 de janeiro de 2015

Sabe esse calor que não cessa? Buenos Aires.

Um dos lugares mais desgraçadamente quentes que a gente já visitou, a capital argentina é igualmente apaixonante (ou seja, dá-lhe paixão, porque o calor é pesadíssimo no verão). Não é por acaso que os caras têm um sol na bandeira, eu posso assegurar isso pra vocês. Quando estivemos por lá, um dos bairros mais famosos da cidade ganhou nosso coração por outro predicado importantíssimo para essa época do ano: a sombra.

E esse bairro é a Recoleta. Que assim como reza a lenda, é de fato um dos bairros mais charmosos e bonitos da cidade – não por acaso, também um dos mais ricos. Com seus prédios colados um ao outro, e várias árvores pelas calçadas, é em suas ruas que a gente encontra um bom descanso pro sol incessante do verão hermano. A Recoleta é conhecida por seu cemitério (onde estão Evita e Sarmiento – os dois políticos mais importantes da história argentina), restaurantes chiques com mesas na rua, alguns parques, e vários casarões que intercalam a paisagem de prédios e lojas pelas ruas. A entrada do cemitério é gratuita, porém na entrada vende-se um mapinha para o turista apressado encontrar rapidamente as sepulturas famosas (são várias). Se você não estiver com pressa e quiser contemplar a arquitetura dos túmulos ou encontrar os defuntinhos famosos, é só passear com calma que você encontra – o da Evita é até dificil de se fotografar, tal o povaréu que sempre se acumula em frente ao dito.

A bela entrada do cemitério da Recoleta...

A bela entrada do cemitério da Recoleta…

...que apesar da fama, continua sendo um cemitério.

…que apesar de bonito, continua sendo um cemitério.

Uma dica bacana aos passeadores de plantão é visitar a Basílica de Nossa Senhora de Pilar – uma igreja toda branquinha que fica logo ao lado do cemitério. Normalmente não muito povoada (o roteiro padrão de visitas ao bairro dificilmente inclui a igreja), o passeio por suas escadas e salas serve como um deleite aos olhos – as imagens que adornam a basílica são muito expressivas, delicadas e realmente bonitas – e também como um pertinente refresco após uma caminhada pelo bairro, ou uma visita ao cemitério.

A Basílica fica logo ao lado do cemitério.

A Basílica fica logo ao lado do cemitério.

Um detalhe de uma das lindas imagens que adornam a igreja.

As imagens são realmente lindas, até pra quem não é de igreja (como eu).

Por sorte dos menos abastados, também existem botecos mais populares espalhados pelo bairro: é só dar uma vasculhada carinhosa e não ter medo de analisar o cardápio antes de fazer (ou não) seu pedido – sim amiguinho, não é feio ir embora se o lugar que você escolheu for maior que a capacidade do seu bolso. Lição pra vida, e pra qualquer viagem: tenha em mente que uma cerveja tem que custar o preço de… uma cerveja.

A parede de prédios fornece uma bela sombra...

A parede de prédios do bairro fornece uma bela sombra.

Pra fechar esse primeiro textinho caliente sobre nossos hermanos: água. Sim, a vida não é feita somente de Quilmes e Freddo… uma hora a gente só quer tomar uma água. Vende-se água gelada em qualquer canto por Buenos Aires, mas nem toda água desce gostoso. Tentando explicar de uma forma bem grosseira, algumas marcas de água tornam-se meio “oleosas” assim que vão perdendo o gelo. Se você não tomar rapidinho, fica um negócio meio ruim se refrescar desse jeito. Das que experimentamos, a marca que mais se aproxima da água ideal é a Eco De Los Andes (e fique esperto: a sem gás é a verdinha, porque nem todo país é que nem o Brasil, onde o padrão é sem gás) – é uma água da Nestlé*, de preço pra lá de acessível.

Diretamente da nossa caixinha de bugigangas, o rótulo com a faixinha verde.

Diretamente da nossa caixinha de bugigangas, o rótulo com a faixinha verde.

Agora você já sabe onde e como enfrentar o calorão argentino 🙂

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.