Gastronomia, Perú

Uma tarde no museu

22 de janeiro de 2015

Confesso que não sou o cara que viaja pra conhecer museus (exceto alguns muito específicos – famosos ou não – cujos temas ou abordagens são quase obrigatórios). Porém, em Lima tivemos a oportunidade de conhecer um lugar que agrada tanto aos aficcionados quanto a pessoas como eu, que só querem um passeio interessante – seja ele onde for.

O Museo Larco é um museu particular, cuja coleção compreende peças importantes da história do Perú datadas de até 4000 anos atrás. Obviamente, para quem é natural de um país com pouco mais de 500 anos de história pós-colonização, é um tsunami de informações sobre o que de fato acontecia com nosso continente. Dá até uma invejinha tanto conhecimento sobre as raízes de um povo – coisa que a gente infelizmente nem arranha.

O museu é bem ajeitadinho e não deve nada pros grandes e clássicos...

O museu é bem ajeitadinho e não deve nada pros grandes e clássicos…

...fora que o Perú é especialista em surpreender seus visitantes.

…fora que o Perú é um país especialista em surpreender seus visitantes.

Fizemos o passeio acompanhados de um guia (coisa que a gente também nunca havia feito até então, e que recomendamos a quem se interessar). Apesar de perder em privacidade e autonomia, você ganha demais em contexto – parece uma coisa óbvia, mas pra gente não era, e por isso a explicação. A coleção de cerâmicas, máscaras e artefatos encontrados durante escavações em diversas cidades do Perú são de cair o queixo. E o museu é extremamente bem montado (iluminação, áreas e fluxo), o que torna o passeio ainda mais bacana. Das informações que recebemos, uma vertente que vale ressaltar é um outro lado da visão sobre os incas – algo bem diferente do que se conta/diz em Cusco, por exemplo. E isso é o máximo, pra explodir a cabeça mesmo, e fazer a gente ficar sedento pra conhecer que raio de continente é esse em que a gente vive – principalmente essa parte de baixo.

Uma imagem da exposição em detalhes.

Uma imagem da exposição em detalhes.

Porém, ainda não citei os diferenciais, e eles existem. Três deles, pra ser mais específico:

O primeiro é o acervo que não está exposto do museu propriamente dito, mas sim num depósito anexo. Uma vez que a ideia do museu nasceu de uma coleção herdada (por Rafael Larco Hoyle, filho de Rafael Larco Herrera – o colecionador original – sendo que Larco Hoyle foi aconselhado por seu tio – Victor Larco Herrera, que fundou o primeiro museu de Lima – a construir um museu para abrigá-la), a cada nova leva de artefatos descobertos durante escavações posteriores, era necessário também um novo espaço para guardar tanta coisa. São diversos corredores, com dezenas de peças tão ou mais bonitas do que as expostas na área principal: vasos, máscaras, utensílios, cabaças, potinhos e potões sensacionais. Beira ao inacreditável a quantidade e a beleza de tudo.

A parte "não-exposta" é simplesmente absurda.

A parte “não-exposta” é simplesmente absurda.

Não são poucas as peças, as prateleiras e os corredores.

Não são poucas as peças, as prateleiras e os corredores.

Pois é... a gente fica com cara de pateta.

Pois é… a gente fica com cara de pateta.

O segundo é a coleção erótica (nada mais justo, uma vez que estamos no Perú, e piadas sempre cabem). Simpaticamente é a hora em que nosso guia apresentou o espaço, fez alguma piadinha marota e disse que nos esperaria na saída dali. O que se seguiu foi uma ode à criatividade dos nativos peruanos – porque o bicho pega nas imagens nada inocentes que compõem a coleção.

Se você achava que eram os orientais os  mais simpáticos à sacanagem...

Se você achava que eram os orientais os mais simpáticos à sacanagem…

...acredito que sua opinião mude a partir de agora.

…acredito que sua opinião mude a partir de agora.

Por último, o terceiro motivo: após tanta risada com uma exposição nada convencional, estávamos com fome. E o restaurante do museu é uma parada necessária a toda e qualquer pessoa que pretenda iniciar uma incursão na culinária local – hoje, das mais bem conceituadas do mundo. Sem frescuras, mas com todo o requinte possível: que comida boa do cão. Além de tudo ser lindo e cuidadoso, o sabor é um troço que eu só sou capaz de descrever com caras e barulhos de tão delicioso. Papo de gordinho? Não. Mesmo. E esse trocinho redondo da primeira foto abaixo continua sendo a coisa mais gostosa que comi na vida.

Não dá pra explicar, meus amigos. Mas posso dizer que é tão bom quanto bonito.

Não dá pra explicar, meus amigos. Mas posso dizer que é tão bom quanto bonito.

Vale ainda ressaltar o jardim que entorna o museu – uma beleza colorida, mas que a gente acabou não dando muita importância na ocasião, por estarmos muito cansados nesse dia (hora dessas eu conto a história da viagem inteira, justificando esse fato). O complexo ainda possui várias outras atividades educacionais, recreativas… enfim, é uma casa linda, que em nada se parece com aqueles museus que davam sono nas aulas de História.

Cores e mais cores nos jardins do museu.

Cores e mais cores nos jardins do museu.

Vá, pra fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da capital peruana. Tenha curiosidade nos olhos, alimente bem seus ouvidos, e dispa-se de pudores. Ah sim! Se puder, vá com fome 😉

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