Ir a Buenos Aires e não conhecer a Bombonera é deixar uma lacuna na sua viagem. Bom, pelo menos é o que dizem todos os que visitam o estádio, arrastando até mesmo os desinteressados por futebol até o bairro da Boca. Mais ou menos como ir ao Rio e não visitar o Cristo, o mitológico estádio do Boca Juniors é parada obrigatória para qualquer turista que visita a cidade portenha. E nós fomos conferir essa história.
Existe um certo “terrorismo” quanto a La Boca. Não são poucos os que demonizam o bairro (onde também está localizado o Caminito), recomendando “cuidado ao andar pelas ruas”, entre outros conselhos que deixam os visitantes de pé atrás. Opinião pessoal: um absoluto exagero. É um bairro antigo e boêmio, bastante diferente da área central da cidade – mas numa comparação binária, seria como colocar lado a lado as regiões do Jardins e da Moóca em São Paulo. Cuidado a gente tem que ter em qualquer lugar, e não é por estar degradado que um lugar é necessariamente ruim. Então, encare sim o passeio.
O estádio é sim imponente pra cacete. Do lado de fora, um paredão de concreto azul e amarelo, com grandes colunas verticais, deixando claro que estamos entrando num lugar que em nada se assemelha às “arenas” modernas de hoje em dia. Na pequena sala de entrada do museu, você compra os ingressos pro tipo de visita (só o museu, museu e gramado com visita guiada, etc.), e aguarda a chamada numa acanhada lojinha.
O museu é muito bacana. Estátuas dos jogadores mais famosos do time (Maradona, Palermo, Riquelme), a relação completa dos jogadores que vestiram a camisa do Clube, uma pequena maquete do bairro em outros tempos, e uma memoriabília sensacional, com taças, flâmulas, camisas e todo tipo de objeto que ajude a contar a história do Boca. Da mesma forma que tudo no estádio, é menor do que você imagina – ainda mais se tiver as mesmas referências que eu quanto a esse tipo de museu: o do Corinthians e o Museu do Futebol no estádio do Pacaembú são absurdamente gigantes perto do museu do Boca.
Mas a graça da Bombonera são os vestiários e o gramado.
Graça pra quem visita, obviamente. O vestiário dos visitantes é apertado e deve ser um inferno se preparar ali. Fora que a arquibancada mais hardcore dos caras fica justamente em cima dele, propositalmente. A fama de caldeirão da Bombonera não é à toa. É tudo meio velho e podre, como tudo no bairro, e é justamente isso que carrega ainda mais a mística do lugar. “Ah, mas isso fica longe do que eu vejo na Champions League”, dirá o representante da geração Playstation. Sim amiguinho, é bem diferente. Por isso mesmo a Libertadores é divertida: porque é aqui, e não na Europa.
Quanto ao gramado e às arquibancadas: aquilo tudo que ouvimos e vemos é exatamente daquela maneira: assentos colados, corredores apertados e uma verdadeira parede de arquibancada que impressiona de verdade. Nossa guia era extremamente animada (e a maioria dos visitantes, brasileira), e contou detalhadamente os principais fatos da história do estádio. Mostrou também onde fica o camarote vitalício do Maradona, e nos levou à “geral” da Bombonera (aquela que fica em cima do vestiário visitante), onde organizou uma baguncinha básica com a galera. Um passeio bem do divertido, e mais divertido ainda por termos feito o dito seis meses após o título da Libertadores do Corinthians – justamente em cima dos caras.
Conclusão: a Bombonera vale sim a visita – muito mais por seu caráter histórico, e por ser um estádio sobrevivente à modernização que engole o futebol nos dias de hoje. É um ponto turístico pra quem não acompanha o esporte, mas uma obrigação pra quem ama o certame.
Apêndice gordinha: saindo de lá, caminhe por algumas ruas e vá almoçar no Obrero – que é igualmente precário e tradicional. Um bifão de chorizo não fará mal depois de duas horinhas de tour por terras amarelo-celestes. E tente encontrar a flâmula do seu time de coração na parede forrada dos caras 🙂
P.S.: Achei que faltava um vídeo mostrando a Bombonera funcionando. Então fechamos o texto com o melhor momento já vivido por esse estádio: