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Lençóis

Brasil

Chapado na chapada

26 de fevereiro de 2015

Por Flavio Pucci


Calma leitor, quem me conhece sabe que não sou adepto de coisas ilegais. Não fumo, não injeto, não cheiro…só bebo, e viajo. Viajo pra caralho. Numa dessas viagens, eu e minha (hoje) esposa pegamos 30 dias de férias e fomos de carro de São Paulo à Recife. Que viagem.

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Tudo isso de Uninho – chupa Land Rover.

Poderia escrever aqui sobre a viagem toda, mas com certeza deixaria escapar detalhes importantes. Um texto é pouco. Prefiro então focar num bom capitulo dessa longa viagem, a Chapada Diamantina.

Chegando em Lençóis, não dávamos muito para a cidade, nem para o que nos aguardava por entre aquelas montanhas. Já na pousada, conhecemos o Alcino, um cara de papo manso e várias histórias sobre a cidade. Além de pousada, o lugar tem um atelier nos fundos com vários souvenirs legais para levar de recordação. Nada de brindes escritos “lembrança da Bahia” ou coisas do tipo. Compramos uns copinhos de cachaça feitos a mão, uma graça.

Todas as manhãs, o Alcino serve o melhor – não sei que nome dar pra isso, mas eles chamam de – café da manhã do mundo. Tem de tudo, é tudo fresco e tudo feito na hora. Se você perguntar sobre algum ingrediente, é capaz de ouvir toda a história da família do Alcino com pontos em comum com a história de Lençóis. Sentar para tomar um café da manhã ali, é sem dúvida uma viagem. E é tão “turístico” isso que você pode fazer mesmo sem estar hospedado na pousada.

Café da manhã na Estalagem e Atelier Alcino (foto da internet)

Café da manhã na Estalagem e Atelier Alcino (foto da internet)

Durante toda a viagem, eu e a Carla chegávamos nas cidades com aquele pé atrás de todo brasileiro. Desconfiando um pouco aqui, não acreditando um pouco acolá. Lençóis deu um tapa gigantesco na nossa cara. Ainda bem. Que cidade hospitaleira, que cidade foda. Puta merda.

Num restaurante argentino chamado El Jamiro*, conhecemos uma garçonete, a Ale, que foi nossa guia (até espiritual) e disse tudo o que tinha de melhor por ali. “não deixem de fazer o Vale do Pati”. Ela foi tão simpática que repetimos de restaurante no outro dia só para encontrá-la e ouvir mais um pouco da cidade. Ela tinha planos de abrir um café, o Café de Todos os Santos, espero que já esteja funcionando… e bombando. Lembro que naquela noite fomos dormir pensando em largar tudo e abrir qualquer coisa em Lençóis.

Carla em frente o El Jamiro, mal sabendo o que estava por vir...

Carla em frente o El Jamiro, mal sabendo o que estava por vir…

Vamos à Chapada, mais especificamente ao Vale do Pati. Os outros passeios são bons mas são um tanto quanto comerciais. Ficam próximos da cidade e não te dá aquela sensação de “faço parte dessa porra chamada natureza”. A maior verdade que encontrei revendo as fotos e até pensando sobre esse lugar é que: não existe texto nem foto que descreva essa porra. Posso te mostrar mil fotos, escrever mil textos e falar feito um idiota. Nada se compara a caminhar entre os vales, passar pelas montanhas e chegar num mirante, puta merda. Falta ar… e quando chegamos lá, tudo o que queremos é ficar ali, sentado, contemplando. Você fica, como diria Rubem Alves, estupidificado.

Nóis no mirante

Nóis no mirante

Ficamos 4 dias caminhando (uma média de uns 20km por dia), tomando água de rio, banho de cachoeira e conhecendo pessoas. No meio dessas andanças, conhecemos o Seu Nô, um senhor que nunca ouviu falar do Neymar. “E Messi, quem é? Conheço o Pelé, pode ser?” O Vale do Pati é um lugar ímpar. Lá, a casa que tem geladeira, não tem fogão e a casa que tem fogão, não tem geladeira. Mas todas têm muita história pra contar.

Casa do Seu Nô, onde ficamos hospedados duas noites.

Casa do Seu Nô, onde ficamos hospedados duas noites.

Esse passeio de 4 dias você pode fazer sozinho ou com um guia. Escolhemos a segunda opção por questões de “faltamos todas as aulas de geografia e não sabemos ler mapa nem bussola”. Ainda bem porque o nosso guia não poderia ser melhor, o Diógenes. Um figura, torcedor do Vitória, simples de tudo e que gostava de “meditar”. Vivia nos convidando para “meditar”. Fomos descobrir mais tarde que “meditar” era o mesmo que “fumar um”. Disse a ele que não curtia muito essas paradas e que, estando ali na Chapada, não precisava usar nada para se sentir chapado. #tudumpish.

Eu e o Diógenes, nosso guia.

Eu e o Diógenes, nosso guia.

Não acredito em destino mas (momento cliché do texto), esse tipo de viagem parece que vem com parte do roteiro pré determinado e uma pequena nota de rodapé: você só vai encontrar gente foda pelo caminho. E vai querer voltar, certeza. Seu puto.

A lembrança que temos da Chapada é que:
1) cansa pra caralho.
2) vale a pena pra caralho.


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*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.