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Europa

Causos, Romênia

Um sonho por 50 Bani

29 de outubro de 2015

Ontem fez exatamente um ano que a Dé levou uma TREMENDA rasteira profissional. Não foi uma surpresa, mas ainda assim não foi um momento lá muito fácil. Antes que vocês fujam daqui, vou explicar o contexto desse momento – de mochila nas costas.

Sabe aquela hora em que você PRECISA viajar, pois o trabalho te consumiu de tal forma que uma pausa é tão necessária quanto respirar? Essa era ela, antes das nossas férias: clima ruim em casa, cansaço mental, emputecimento agudo… toda aquela coisa que todos nós sabemos muito bem como funciona. Preparamos as mochilas e fomos descansar (bem) longe daqui.

Os dias se passaram, e quando os trinta dias estavam terminando o pensamento de voltar a viver naquele inferno começou a tomar conta da cabeça da pequena. Em nosso penúltimo dia de Romênia estávamos visitando o Castelo de Peleș (que foi motivo do nosso segundo texto no Faniquito), quando pouco antes da saída passamos por uma daquelas fontes repletas de moedas, que a gente vive encontrando em diversos cantos do mundo. Um lugar lindo daqueles, seria possivelmente “nossa última fonte em muito tempo”… oras, por que não fazer uma fezinha? Chamei a Dé:

– Vem cá.
– O que foi.
– Pega a moedinha, e faz um pedido.
– Qual pedido?
– Aquele.

Era igualzinha :)

Era igualzinha 🙂

Era óbvio qual seria o pedido.

Viramos as costas, ela jogou a moedinha. Eram só 50 bani (coisa de 50 centavos de Real), mas acho que a vontade era tamanha de se livrar daquele encosto de emprego que o pedido foi feito recheado de esperança. “Vai dar certo, vai por mim“, eu lembro de dizer antes de dar um abraço nela. Passamos bem o resto do dia, e voltamos pro Brasil com aquele sentimento de missão cumprida depois de uma viagem gostosa como a que havíamos feito.

Obviamente o humor dela foi pro espaço já na primeira semana de volta ao emprego. Coisa de pouco menos de um mês, nessa mesma data, a Dé rodou. Dia seguinte ela já estava tocando a vida novamente, e três dias depois arranjou um novo lugar pra trabalhar: mais distante de casa, mas com gente interessada, profissional e sem fulando puxando tapete de geral. É lá que ela está até hoje, feliz da vida e levinha da Silva.

Faz um ano que aquela fonte nos fez o favor de levar a sério nosso pedido. Toda viagem tem por função natural trazer pras nossas vidas dias melhores. Essa em especial trouxe mais que isso, e um ano depois a gente continua muito grato por, em algum momento, termos apostado numa grande virada em nossas vidas em uma moedinha dourada que valia quase nada.

Valeu, e muito.

Hungria, Ir e vir

Caminhando contra o vento

26 de outubro de 2015

A dica de hoje é pra você, que assim como nós está sem grana e adora viajar.

O dia estava apenas começando quando nós já estávamos em Erzsébet tér – uma praça muito bonitinha no centro de Budapeste. Pouco depois duas guias chegaram, com suas plaquinhas vermelhas nas mãos: uma falando em espanhol, outra em inglês. Nos juntamos à segunda, e aos poucos outras pessoas foram chegando e formando um grupo, que não excedia 20 pessoas.

No horário marcado para o início do tour, fomos devidamente apresentados e introduzidos à história da cidade. Numa abordagem rápida e divertida, aprendemos em húngaro (o segundo idioma mais difícil do mundo, segundo a Ursula, tradução de Orsi, e que se pronuncia Órchi) a comunicação básica para socializar com os locais, além do nome da cidade: BUDAPESH – desse jeito mesmo, com aquele S carioca carregado. Nossos planos eram fazer os dois tours no mesmo dia: pela manhã, visitando os principais pontos de Pest e o castelo de buda e seus arredores; à tarde, fazendo o tour comunista, que mostrava as memórias de guerra e terminava no Parlamento.

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Orsi, sua bicicleta, e uma paradinha pra algumas histórias húngaras.

Mais do que falar desses lugares – e falaremos, num momento futuro, nosso texto de hoje é pra reafirmar a eficácia desse tipo de programa. Antes da viagem, fomos aconselhados a fazer todos os walking tours possíveis – e foi um ótimo conselho. Você encontra indicações e opções diversas nos folhetos espalhados pela cidade, em albergues e hotéis, além de poder se juntar a qualquer momento aos grupos que estiverem passando pelas ruas (desde que eles sejam gratuitos, óbvio). Ter um panorama geral da cidade onde você está coloca diversas coisas em perspectiva, e seu aprendizado tem grandes chances de ser muito maior. Se você quiser saber um pouco mais sobre o trabalho dos guias, fizemos um texto sobre isso há um tempinho atrás.

Num primeiro momento, nossos planos foram literalmente por água abaixo ao final do primeiro tour, quando voltamos a Pest para almoçar. Durante o almoço, um pé d’água minou nossas expectativas de chegar ao encontro no horário. Porém, aos dispostos a tudo, saibam que o tour saiu do mesmo jeito, de guarda-chuva e enfrentando um temporal. Pra quem tem poucos dias na cidade, um alento se você tiver coragem. Acabamos fazendo o passeio comunista no segundo dia, pois os tours saíam todos os dias do mesmo local. É só se programar – e nesse caso, torcer pra não chover.

Além das principais atrações e a história de cada uma delas, esse tipo de tour nos permitiu conhecer um pouco da visão de quem vive por lá. As duas guias do Free Budapest Tours* deram depoimentos pessoais sobre a situação econômica e política do país, bem como a herança comunista e as dificuldades da Hungria no atual momento. São coisas que a gente não vai encontrar num folheto, no Trip Advisor ou mesmo no Google (e se encontrar, possivelmente será em húngaro). E poucas coisas numa viagem são tão recompensantes quanto aumentar os limites daquela caixinha de ideias que temos de um lugar desconhecido. Dependendo do tour, essa caixinha explode e a cabeça absorve mais que esponja nova. Uma delícia.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Nosso grupo, sendo apresentado à estátua de Ronald Reagan durante o passeio comunista.

Então, se estiver a fim de conhecer um lugar e estiver sem grana, os Free Walking Tours são um prato cheio. Existem diversos grupos que oferecem esse tipo de serviço, então não se acanhe em perguntar sobre os guias, o trajeto e como tudo funciona. Normalmente é de bom tom dar um troco ao guia ao final do passeio, mas nada é obrigatório (o que não significa que você não possa pelo menos garantir um cafezinho pro sujeito). Passeios desse tipo existem em todos os lugares do mundo – inclusive em São Paulo. Um programa mais que recomendado pra quem não se contenta com aquele eterno mais do mesmo.

A nossa historinha húngara, logo mais 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina, Áustria, Brasil, Estive lá

A vez das pessoas

27 de agosto de 2015

Experimentamos durante o último final de semana a sensação de, pela (nossa) primeira vez, circular à pé no asfalto da maior avenida da maior cidade da América do Sul. Não é qualquer coisa restringir o acesso da Avenida Paulista a pedestres e ciclistas, e é uma das várias atitudes que nosso atual prefeito vem tomando para humanizar um pouco mais a metrópole virulenta que vivemos. As atitudes de Fernando Haddad têm sido polêmicas, muito mais pela cultura de ódio permeada atualmente na população brasileira, do que pelas ações em si.

A utilização de espaços públicos é coisa a qual não estamos acostumados, ainda mais quando ela acontece de graça e com fácil acesso. O paulista orgulha-se em ter o Ibirapuera como parque, mas sabe o quão difícil é seu acesso, e a quantidade de pessoas que o frequenta (principalmente nos finais de semana) afugenta os que procuram um pouco de paz e tranquilidade, ou mesmo outras alternativas de espaço – com comércio, restaurantes, espetáculos ou qualquer outro tipo de lazer. São Paulo é estigmatizada por carimbar com filas e/ou preços proibitivos suas principais atrações (temos o ótimo Sinta-se Paulistano satirizando essa imagem mais do que merecida que a cidade tem). E isso mina o ânimo de quem busca um pouco de sossego, ou ainda quem não tem dinheiro pra prestigiar tais atrações, afinal de contas, já temos filas, stress e preços altos suficientes durante a semana. Prorrogar essas dores cotidianas para nossos dias de folga é coisa a ser considerada. Sempre.

Longe de São Paulo vivemos dois momentos muito marcantes da chamada “vida ao ar livre” antes de presenciarmos o acontecimento do último domingo, e vamos contá-los rapidamente por aqui:

Começando por nossos vizinhos, e sua notória simpatia por espaços públicos. Tivemos a melhor das impressões em nossa primeira viagem ao notar que não era somente nos grandes parques (como o Rosedal, na foto) que os argentinos se esparramavam, com suas cuias de mate, livros, radinho, bola e toalha. Grandes ou pequenas, em Buenos Aires ou Ushuaia, eles têm por hábito curtir as praças, calçadões e ruas com sua família e amigos. Esses espaços se fundem com a cidade num convívio dos mais harmoniosos possíveis. De fácil acesso e espalhados pela cidade, perto ou longe do metrô, dia ou noite, de bicicleta ou à pé, as praças e parques argentinos estão sempre cheios de gente, todos os dias da semana.

Parques, praças e muita, muita gente.

Parques, praças e muita, muita gente.

Atravessamos o oceano e chegamos até Viena (que foi tema de nosso texto anterior) – uma cidade notoriamente cara, todos sabemos ou fazemos ideia. Mas com algumas características que valem MUITO destaque: a começar pela semelhança com as cidades argentinas no que se diz respeito aos parques e praças. Gente de todas as idades se espalha pelos gramados e alamedas da cidade, dia e noite.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Se espalhar no gramado: aprovamos.

Mas o que mais nos tocou foi um acontecimento em particular: acabamos não assistindo a nenhuma ópera na cidade, e isso poderia ser uma lacuna em nossa viagem. Mas ao passarmos em frente ao Wiener Staatsoper (a Ópera de Viena), um imenso telão na sua lateral transmitia ao vivo e com um som muito bacana o espetáculo que acontecia lá dentro – e cujos preços são condizentes a uma ópera. Em Viena. Na Ópera de Viena. Uma multidão de pessoas assistia ao espetáculo sentada na calçada, no chão ou em cadeirinhas e banquinhos trazidos de casa, comendo uma pizza e tomando um vinho. Diversão, música e cultura –  de graça. Fizemos o mesmo, e ficamos por alguns minutos ali, curtindo não só a ópera, mas as pessoas. Era dia de semana – se não me engano, uma quinta-feira. Um momento que a gente certamente não esquecerá.

Ópera na rua. Quem diria?

Ópera na rua. Quem diria?

Voltemos à Paulista, que experimentamos ao lado de um casal de amigos cariocas no último domingo. Diversos comerciantes sabiamente abriram suas lojas. Outras tantas pessoas levaram seus carrinhos (de comida, de bugigangas, de serviços) pra calçada, e juntaram-se às tradicionais feirinhas do MASP e do Trianon. Vimos grupos de teatro, bandas tocando, gente fotografando, fazendo piquenique, lendo livro na calçada. Pais e filhos à pé ou de bicicleta, num clima tão bom que nos sentimos… turistas. Existe sensação melhor que essa?

Em São Paulo, o Minhocão já tem o trânsito de veículos restrito há tempos durante os finais de semana. Algumas avenidas da cidade (principalmente as atendidas por metrô e trem) como a Paulista, a Faria Lima e a Sumaré são sim ótimas opções para o passeio livre em dias de descanso. Temos as Viradas Culturais, onde a cidade toda vira um imenso palco dia e noite (e cuja qualidade e organização vêm melhorando com o passar do tempo). Com a possibilidade de utilização desses espaços, podemos sair de casa. Conhecer pessoas, reencontrar amigos. Nos divertir sem gastar tubos. Fazer nosso piquenique. Desafogar o Ibirapuera e outros parques. Termos uma vida mais saudável, sem enterrar nossas finanças numa academia. Enfim, aproveitar uma cidade que se orgulha tanto do tamanho que tem, mas que tem se mostrado dia-a-dia uma metrópole de gente egoísta e intolerante.

Talvez nos falte educação, ou estejamos saturados. Mas nenhuma justificativa explica o fato nos afastarmos cada vez mais daquilo que o ser humano tem de mais precioso – a possibilidade de conviver em harmonia com pessoas de diferentes origens, características e gostos. Ninguém que está feliz julga alguém que também está sorrindo – seja pelo motivo que for, é um fato. E nos propiciar alguns momentos de felicidade em lugares que estamos acostumados a correr e xingar é uma iniciativa que nós apoiamos e prestigiamos irrestritamente.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Se pudéssemos resumir esse texto em uma imagem, seria esta.

Áustria, Gastronomia

Porquinho dourado

25 de agosto de 2015

Gastávamos a sola em Viena. A cidade convida a bons e longos passeios, e o metrô é de uma abrangência absurda. Ainda não havíamos chegado na metade da nossa viagem, e na Áustria experimentávamos várias novidades: o primeiro país que utilizava o Euro até então – havíamos passado por Romênia (Leu), Polônia (Złoty) e República Tcheca (Koruna), nosso primeiro país a não fazer parte do bloco do Leste, e também um de nossos destinos mais aguardados, uma vez que reza a lenda que Viena é uma das cidades mais bonitas do mundo – e do mundo que conhecemos até o momento, essa lenda faz bastante sentido.

Era um dia de sol, com céu aberto e azul na capital austríaca, e havíamos passado toda a manhã e o começo da tarde visitando o Schönbrunn Palace (mais comumente conhecido como o Palácio da Sissi, do qual falaremos futuramente por aqui). Um passeio que, quando feito de forma tranquila e sem correria, leva mais de quatro horas sem o menor exagero: não somente dentro do palácio, mas principalmente por seu jardim, que é gigantesco e repleto de outras atrações. Depois de acumular uma boa quilometragem dentro daquela área enorme, uma coisa ficou muito clara pra gente: estávamos azuis – de fome. Logicamente haviam algumas opções lá dentro, mas tínhamos outros planos para nossos Euros.

Só pra dar uma ideia do quanto andamos pela manhã, e quantificar nossa fome visigoda. Contamos mais sobre esse lugar num futuro próximo, e com o devido carinho!

Só pra dar uma ideia do quanto andamos pela manhã, e quantificar nossa fome visigoda. Contamos mais sobre esse lugar num futuro próximo, e com o devido carinho!

Dos nossos desejos culinários daquele canto do mundo, já havíamos encarado o kebab, o eisbein, a salsicha, o apfelstrudel e trocentas cervejas. Era hora de encarar o wiener schnitzel – a milanesa de porco, bem fininha, e que vem acompanhada de um limãozinho em cima faz parte de 9 de cada 10 cardápios que havíamos pedido até então por aqueles lados (compequenas variações de acompanhamentos). Por ser um prato típico da região, nada mais justo do que caçar uma referência na cidade. E lá fomos nós, gastar mais uma solinha de sapato.

Já de volta à região central da cidade, andamos um pouquinho até encontrar uma viela que passa desapercebida a qualquer pessoa de passo mais apressado. Notamos as paredes verdes, e a plaquinha que estávamos à procura: Figlmüller | Seit 1905. Nossa fome era inversamente proporcional ao tamanho do restaurante – um, de seus dois endereços. Olhando pela janela, diversos velhinhos e pessoas razoavelmente bem vestidas (estávamos em Viena, e se a gente já tem esse jeitinho mulambo de se vestir aqui mesmo no Brasil, o que dizer de nossos modelitos de viagem, ainda mais depois de passar uma manhã inteira caminhando?).

A entrada da vielinha (ao fundo, à direita da foto)...

A entrada da vielinha (ao fundo, à direita da foto)…

...e num ângulo invertido, as mesmas paredes verdes da foto anterior (mas agora, numa foto nossa).

…e num ângulo invertido, as mesmas paredes verdes da foto anterior (mas agora, numa foto nossa).

Com certa reticência – que era menor que nosso desejo de experimentar o schnitzel – nos arriscamos com o garçom, que nos levou a uma das poucas mesas disponíveis no restaurante. O espaço apertado no fundo da casa ao menos era exclusivo – outras mesas, mesmo que de quatro pessoas, eram divididas por pessoas que nem sempre faziam parte do mesmo grupo – e isso aparentemente não incomodava ninguém.

A destreza dos garçons – inclusive anotando os pedidos – passava aquela impressão de se estar num lugar em que todo mundo sabe o que faz – e faz bem. Senhores “com cara de austríaco” passavam de lá pra cá, se desviando nos pequenos espaços para circulação naquela casinha. Quando chamamos, obviamente tanto eu como a Dé pedimos o tão famoso schnitzel. Na hora das bebidas, uma curiosidade: nada de refrigerante no cardápio. Eu me arrisquei com um troço que, se não me engano, era uma tônica/água/coisa com limão – que era horrorosa, enquanto a Dé pediu um suco de uva. Mas danem-se as bebidas.

Quando a propaganda faz jus à experiência, e se basta em uma imagem.

Quando a propaganda faz jus à experiência, e se basta em uma imagem.

O prato é um exagero. Ou melhor, vamos refazer essa frase: o prato é menor que o schnitzel. Você pede um acompanhamento (na foto, temos uma porçãozinha de batata), e traça uma estratégia pra conseguir comer o discão de carne. A milanesa sequinha e o limão entregam toda a expectativa que você tem quando experimenta um prato tradicional de um restaurante tradicional. Não é por falta de méritos que a casa existe há 110 anos, pois a milanesa é realmente uma experiência pra se levar nas melhores lembranças. Olhando em volta, é quase uma unanimidade, sendo poucas as pessoas que se arriscam em outro prato – mais ou menos aquela situação da pessoa que vai numa churrascaria pra comer salada.

Nossa visita ao Figlmüller não rendeu fotos ou vídeos caprichados, infelizmente – estávamos preocupados demais com o sabor do porquinho, e nossos registros foram de fato deficientes. Pra compensar essa falha, resolvi publicar um vídeo que encontrei nesse oásis chamado Youtube, que mostra a cozinha e o preparo do schnitzel no Figlmüller. Pra quem entende alemão, aceito a tradução das informações. Aos leigos (como eu), vale o registro da preparação da milanesa da foto a partir dos 4:30 (o vídeo é bom inteiro, então assistam sem pular). E caso aceitem o desafio, façam isso com fome. É espetacular.

*Nossa publicação de hoje tem motivos culinários por celebrar a marca superior a MIL SEGUIDORES, obtida ontem à noite com um incentivo mais que especial do Receitando Gastronomia, que vem nos dando uma força daquelas há alguns meses. Nossa forma de agradecimento põe na mesa comida e passaporte – essa combinação mais que perfeita, e que de apetite inesgotável 🙂

Causos, Comunicação, Fofuras

Três dicas bacanas, e duas pitadas de coisas boas

27 de julho de 2015

Estávamos planejando nossa viagem dentro da própria viagem – sempre com uma cidade/país de antecedência pelo menos, já com as informações básicas na mão. É um hábito que temos (e um dos pilares desse site, que se diga, pois prezamos pela aventura – desde que ela tenha pelo menos um dedinho de controle e perspectiva). E em nosso mochilão pelo Leste Europeu, após uma semana e 4 países visitados (Romênia, Polônia, República Tcheca e Eslováquia), tínhamos até então uma viagem relativamente tranquila. Nossa quinta parada era a Hungria, e por lá estávamos enquanto este causo se desenrolava.

Causo sim, porque não sabíamos ainda de que maneira chegaríamos ao nosso próximo destino: Zagreb. Estávamos em Budapeste, e em nossas pesquisas (mais) um ônibus parecia ser a forma de locomoção mais adequada até a próxima cidade. Assim que chegamos à capital húngara – mais especificamente no dia seguinte, uma vez que chegamos debaixo de chuva, e com chuva passamos nosso primeiro dia por lá – começamos a pesquisar de que maneira faríamos tal trajeto. Existiam algumas possibilidades, mas como tudo o que pesquisávamos, eram informações novas e de caráter absolutamente desconhecido. E chegamos aqui ao nosso primeiro ponto:

1) Tenha (e não tenha) medo de pessoas

A gente e o Anton - nosso amigo e protagonista das próximas linhas desse texto.

A gente e o Anton – nosso amigo e protagonista das próximas linhas desse texto.

Aprendemos muito cedo (e em outra viagem) que nem todo demônio é vermelho, nem todo anjo tem asas. “É viajando que a gente conhece as pessoas“, profetizou uma pessoa certa vez, e essa é uma verdade irrefutável. Tem gente que se descontrola durante esse período, e exagera – pro bem ou pro mal – em determinadas situações. Portanto, não confie cegamente nos relatos alheios: suas impressões, seu conforto e suas expectativas têm relação direta com a sua personalidade e sua proposta de viagem.

Sendo assim, sempre que pesquisamos “coisas que dependeriam de gente”, procuramos nos informar se aquela REALMENTE era uma boa ideia com os locais. E no caso dessa viagem Budapeste/Zagreb, não foi diferente. Porém, a forma como isso ocorreu que foi engraçada, e nos dá margem à segunda dica:

2) Preste atenção aos sinais

Oras, estávamos num albergue localizado a algumas quadras do centro de Budapeste – mas o casarão, por alum motivo bizarro, era quase que completamente “decorado” com pôsteres, lembranças e coisinhas croatas. “Esse tiozinho não promove a própria cidade? Mas que cacete…” foi meu primeiro pensamento. E resolvemos matar a curiosidade sobre aquele fato perguntando ao gordinho bigodudo de voz fina.

– Eu nasci em Zagreb, mas vim morar em Budapeste.

Decoração náutica, pôsteres de Split, Dubrovnik e Plitvice. Nada de Budapeste... por que?

Decoração náutica, pôsteres de Split, Dubrovnik e Plitvice. Nada de Budapeste… por que?

Explicado, meus amigos. E instantaneamente o senhorzinho (chamado Anton) se tornou nossa fonte mais confiável de informações sobre nossos próximos destinos. Com isso, deixamos o protocolar bom dia/boa noite de lado, e passamos a puxar assunto com o sujeito. O que leva à terceira e última dica desse texto:

3) Amizades acontecem

Assim que chegamos, caía um mundo de chuva. Ficamos ilhados no albergue. Era começo de noite, nossos estômagos estavam nas costas. Resolvemos perguntar ao Anton se seria possível nos emprestar um guarda-chuva para irmos até algum restaurante próximo. Ele nos emprestou duas capas. E capas BACANAS, não aqueles sacos plásticos com capuz. “Pra gente ir tranquilo e voltar quando quiser”, sorrindo. Ganhou de cara nossa simpatia – e alguns bons votos de confiança.

Se não fossem as capas do Anton, não teríamos tido nossa primeira (e acachapante) impressão do prédio mais bonito que já vimos na vida: o Parlamento de Budapeste.

Se não fossem as capas do Anton, não teríamos tido nossa primeira (e acachapante) impressão do prédio mais bonito que já vimos na vida: o Parlamento de Budapeste.

Porém, a maior surpresa aconteceu alguns dias depois, num papo sobre como chegar à Croácia de ônibus. Fomos perguntar ao Anton quais as linhas mais confiáveis, quanto custava, e antes mesmo de engatarmos a segunda pergunta ele nos veio com essa:

– Se vocês esperarem mais dois dias, eu vou pra lá de carro. Vocês podem vir comigo de carona, se quiserem.
– Uou! E quanto sai, Anton?
– Não sai nada, é carona. Vocês vão comigo e eu deixo vocês na rodoviária.
– <3

Dé, esperando a carona pra Croácia, com aquela cara de "a gente se deu bem nessa" - e se deu bem mesmo, meus amigos :)

Dé, esperando a carona pra Croácia, com aquela cara de “a gente se deu bem nessa” – e se deu bem mesmo, meus amigos 🙂

E numa viagem em que toda grana poupada é uma bênção, a economia pode estar num papo bacana com alguém ainda mais bacana. Antes que perguntem: claro que não dá pra confiar em todo mundo, muito menos tomar isso tudo como regra. Mas são possibilidades, que existem pra valer. No mundo existem dois tipos de pessoas: as boas e as ruins. E elas estão por aí, espalhadas pelo mundo. Se a gente tiver um mínimo de inteligência e sagacidade (sempre quis usar essa palavra num texto) e ficar atento aos lugares e pessoas que passam pela gente, a chance de termos boas surpresas é enorme.

Vale pra viagem, mas vale pra vida também 🙂

Croácia

Zagreb? Pra quê?

6 de julho de 2015

Quando fomos embora de Zagreb, rumo à Turquia, o taxista que nos levou ao aeroporto resolveu puxar assunto num inglês simpaticíssimo. Naqueles minutos que se seguiram, soubemos que a capital croata tinha fama de cidade-dormitório para os turistas que visitam o país  – e éramos prova viva disso, já que usamos Zagreb como “parada” para nossa viagem pela Croácia, e não como destino.

Chegamos ao país por lá, e não passamos sequer um dia na cidade. Almoçamos no meio da tarde, demos uma volta, descansamos e seguimos viagem – por Zadar, Dubrovnik, Split, voltando para Zagreb dez dias depois, quando pudemos de fato explorar um pouco das redondezas. A capital croata é uma cidade bonita, com uma praça central bastante movimentada, de onde partem ruas que se ramificam num centro gastronômico logo acima, numa área comercial bastante desenvolvida à direita, em sua principal catedral seguindo adiante ainda pela direita, e numa outra área visivelmente mais turística à esquerda, com mesas espalhadas e televisores nas alamedas. E além desses lugares, existe também uma área mais alta da cidade, acessível por uma longa escada logo no início do tal centro gastronômico. Essa escada fica à esquerda, e os mais desavisados podem passar por ela sem notar. Este texto vai tratar de todas as outras áreas, fora essa da escada – que será nosso tema ainda essa semana, num segundo texto 🙂

Um dia pra descobrir Zagreb. Simbora pra praça central!

Um dia pra descobrir Zagreb. Simbora pra praça central!

Demos sorte de encontrar a tal praça central num dia de evento – uma espécie de quermesse, patrocinada pela Câmara de Economia Croata (só descobrimos isso depois, graças ao Google Tradutor). Várias barraquinhas com artesanato, souvernires e muita comida local – tudo a um preço muito acessível, que se diga. Mas estava implícito o desafio de descobrir o que era cada coisa e quanto custava, pois quase todos os comerciantes não falavam inglês – e quando falavam, somente arranhavam. Mas mesmo assim experimentamos alguns queijos, docinhos e chocolates croatas numa boa.

Um pouco de inglês, um pouco de mímica, e a gente se entende.

Um pouco de inglês, um pouco de mímica, e a gente se entende.

Num toldo que servia de palco, alguns artistas se apresentavam: um grupo de cantoras de música típica, uma bandinha de churrascaria, e um grupo de cheerleaders (?) que dançava e jogava bastão ao som de uma adaptação bizarra do Rap das Armas (sim, aquele do Tropa de Elite). Foram momentos, pra dizer de uma forma singela, edificantes.

Parapapapapapa papapapá... Parapapapapapa papapapá!

Parapapapapapa papapapá… Parapapapapapa papapapá!

Vale ainda a história da pipoca, que a Dé pediu no carrinho de uma tia perto dali.

– How much for the popcorn?
– Sôri noenglish.
– How much?
– Tentém.
– What…?
– Tentém (com as duas mãos, abrindo e fechando duas vezes).

Sim, tentém. Ten-ten. Vintão.

O tal centro gastronômico é composto de trocentos restaurantes, bares e afins, e é bastante frequentado em todos os períodos do dia. Por lá comemos num restaurante italiano (que fica superlotado à noite, e é gigante), bebemos num trailer de sucos naturais, almoçamos num lugar chamado Pivnica Mali Medo (http://tinyurl.com/og3etwb – cuja tradução é “Pub Ursinho”) por duas vezes, e jantamos numa hamburgueria excelente chamada Rocket Burger (http://tinyurl.com/p6kpbbv). Existem lugares mais chiques, outros que possivelmente reúnem a máfia (quando no trailer de sucos, pedi pra usar o banheiro de um bar, e era um daqueles que a gente detesta encontrar pelo caminho – numa casa escura, com um cara mal-encarado esparramado numa cadeira, assistindo TV ao lado de um caça-níqueis). Mas dá pra se divertir numa boa alameda adentro.

Um feijão (sim, feijão), linguiças e cogumelos, e uma caneca de cerveja pra energizar o almoço...

Um feijão (sim, feijão), linguiças e cogumelos, e uma caneca de cerveja pra energizar o almoço…

...um hamburgão e uma cerveja artesanal pra darem um calor à noite.

…um hamburgão e uma cerveja artesanal pra darem um calor à noite.

Caso precise ir ao banheiro, pergunte pras pessoas certas :)

Caso precise ir ao banheiro, pergunte pras pessoas certas 🙂

A área comercial, seguindo à direita da praça principal, possui alguns fast-foods, bancos e aquelas lojas de sempre, que existem em qualquer centro de qualquer cidade. A primeira impressão é de um passeio desinteressante, caso você não chegue ao final dele. Porém, alguns passos adiante está o prêmio a quem apostar em Zagreb: a catedral da cidade (Zagrebačka katedrala). É um troço absurdo de gigante, e um dos pontos mais visitados da cidade. Uma das suas torres ainda está em processo de reconstrução/restauração, e tanto esse processo como seu relógio original têm suas histórias explicadas num painel do lado esquerdo da entrada principal.

Uma catedral linda e gigante. Fotos internas são proibidas (soubemos disso da pior forma)...

Uma catedral linda e gigante. Fotos internas são proibidas (soubemos disso da pior forma)…

…e logo ao lado, um pouco de antes/depois.

Todo esse passeio, bem como a área turística, de bares e shoppings do lado oposto pode ser feita à pé numa boa, e em um único dia. Algumas quadras abaixo estão a estação de trem e a rodoviária da cidade, e entre essas quadras alguns parques bem bonitos deixam o passeio ainda mais agradável.

Zagreb pode não ser de fato um lugar que as pessoas sonhem conhecer, por esta ou aquela determinada atração. Mas menosprezá-la é um passo pra trás… afinal de contas, nem toda cidade precisa ser diferenciada. Algumas, que parecem bem comuns, podem ganhar um espaço tão ou mais importante em nossas memórias por nos proporcionarem apenas e somente dias bacanas.