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Divemaster

Faniquito, Tailândia

Como escolher
uma operadora de mergulho

15 de outubro de 2015

Por Ângela Goldstein


Conversando com o Masili outro dia, disse que gostaria de enviar um texto meu pro Faniquito e fiquei felicíssima quando minha proposta foi aceita, pra logo em seguida quebrar a cabeça pensando sobre o que eu poderia escrever. Para quem ainda não me conhece – muito prazer, meu nome é Ângela – eu também escrevo um blog de viagens, o Naonde?, e queria apresentar aqui alguma coisa diferente do que eu faço lá. Mas acabei metendo minha colher num angú que eu já conheço muito bem e vou falar sobre mergulho mesmo.

Entre agosto de 2014 e março de 2015 eu trabalhei como divemaster em uma operadora numa ilha no sul da Tailândia, Koh Phi Phi – aquela mesma do tsunami, e essa experiência me tornou muito mais crítica na hora de escolher com quem eu vou mergulhar no futuro. Ter conhecido o outro lado da moeda me chamou a atenção para diversos aspectos que teriam passado em brancas nuvens anteriormente e são eles que eu quero dividir com vocês. Vamos lá?

O que importa, afinal?

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Se você já quer sair de casa com a reserva do mergulho feita para não correr o risco de não ter vaga no barco, procure o máximo de informações pela internet que você puder.

Tripadvisor tá aí pra ser usado e abusado, leia resenhas, procure fotos, veja o site da operadora, saiba há quanto tempo está em funcionamento, veja se ela representa alguma marca de equipamento – em geral, quando as operadoras representam alguma marca, o equipamento que eles têm disponível para locação será dessa marca. Enfim, faça uma busca tão detalhada quanto você faria no perfil do Facebook da nova namorada do seu ex.

Se você prefere ir até o escritório da operadora, o que é melhor ainda, faça todas essas perguntas a quem te atender. Peça para ver fotos do barco, para ver o equipamento, quantas pessoas já estão confirmadas para a saída que você quer fazer etc..

O barco

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Um dos maiores diferenciais da operadora onde eu trabalhei em Phi Phi era o barco, o maior e mais confortável da ilha. Eu sempre mostrava fotos dele para os clientes e vi vários narizes torcidos seguidos do seguinte comentário: “Mas eu nem ligo pro barco…

O chão emborrachado – que só a gente tinha – fazia toda diferença do mundo na hora em que você já estava todo equipado e o mar jogando de um lado para o outro. Um chão bem liso, quando molhado, escorrega mais do que baba de quiabo.

Um banheiro com mais espaço também ajuda pacas na hora de se trocar. Parecem características meio banais e desprezíveis, mas fazem muita diferença quando somadas.

O equipamento

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Uma vez uma cliente que estava se inscrevendo para fazer o curso básico me pediu pra ver o nosso equipamento antes de se decidir. O fim do mês estava chegando, eu precisava da comissão daquela venda, queria acabar com aquilo o mais rápido possível e fiquei pensando: “Mas essa pessoa não tem nem o curso básico, a troco de quê vai querer ver o equipamento que a gente fornece? Tenha santa paciência!

Coloquei o meu melhor sorriso na cara e levei a moça até a sala onde tudo ficava guardado, ela deu uma olhada rápida e fechamos o negócio.

Depois fiquei pensando comigo mesma que, no lugar dela, eu também gostaria de saber o que eu usaria para fazer os mergulhos e em que estado estaria. Ela pode não fazer a menor idéia da função de um colete, mas um colete rasgado ou esfiapado causará uma má impressão, sempre.

Não custa nada pedir para ver o equipamento, isso é parte do trabalho de quem está te atendendo – e se a pessoa ficar de má vontade quando você pedir, problema dela.

Quem vai te levar

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Acho que de todas as dicas desse texto, esta é a mais importante. Se você tiver a oportunidade de conversar com quem vai te levar, não se furte de fazer as perguntas que julgar mais estapafúrdias. De verdade. Mergulho é uma atividade segura? Sim, muito, mas contanto que você siga todos os critérios e, principalmente, que você se sinta perfeitamente confortável com quem está te levando.

Lembro da primeira vez que eu mergulhei, estava ainda um pouco apreensiva antes de me decidir e perguntei pro moço que estava me atendendo: “Se eu ficar com medo… o instrutor segura na minha mão?

Só dei o dinheiro depois de ouvir uma resposta afirmativa.

Você só vai se sentir à vontade se não tiver dúvidas, e você só não vai ter mais dúvidas depois de fazer todas as perguntas que quiser.

Pergunte há quanto tempo o seu instrutor ou divemaster trabalha com mergulho, quais são os melhores pontos, que tipo de animais e corais podem ser vistos naquela região, quanto tempo dura cada mergulho, qual a profundidade máxima, quantas pessoas vão com um mesmo instrutor, como é o briefing antes do mergulho.

Logo depois que voltei para o Brasil fiz uma saída com um instrutor péssimo. Éramos três mergulhadores que seriam guiados pelo mesmo instrutor, eu e um casal de São Paulo que havia tirado a certificação há bem pouco tempo. Quando eu entrei no barco o instrutor pediu para ver minha certificação (sempre um bom sinal!) e ficou todo pimpão ao descobrir que eu sou divemaster, o maior defeito de muito instrutor de mergulho é achar que divemaster é sinônimo de escravo. Não é. Arrumei meu equipamento e fui tomar um solzinho básico no deck, só esperando a hora que ele nos chamaria para dar o briefing do mergulho e cairmos na água. Um tempo depois ele me chamou e disse pra colocar o equipamento e pular.

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Mas qual a profundidade máxima? Quanto tempo ficaríamos mergulhando? O que a gente iria ver? O que faríamos caso o grupo se separasse embaixo d’água? Com que frequência ele consultaria o nosso consumo de ar? Como a gente mostraria isso pra ele?

Todas essas foram perguntas que vieram à minha cabeça, mas às quais eu não dei tanta importância por causa da minha experiência anterior. Eu conheço o meu consumo de ar, eu sei o que fazer caso me perdesse do grupo, eu sei o limite de profundidade que eu posso chegar. Mas e o casal?

Logo que eu pulei na água ele pediu aos meu companheiros que fizessem o mesmo e segurássemos numa corda que estava presa entre o barco e uma pedra. Lembram de todas as perguntas que eu fiz dois parágrafos acima? Pois é, a moça que iria conosco me fez e o folgado do instrutor ainda teve a cara de pau de me pedir para verificar se ela estava com o lastro certo. Eu sei fazer isso? Claro. Eu deveria fazer isso? Não, era o trabalho do bonito e não meu.

Por isso é sempre bom conversar com quem vai te levar e esclarecer todas as suas dúvidas! Mergulho bom é mergulho com segurança!


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