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Cunha

Brasil, Faniquito, Perrengues

A primeira vez

10 de agosto de 2015

Acordamos e decidimos abrir o guia, numa página aleatória. Seria aquele nosso destino do dia – dependendo, do final de semana. Minha mãe mandou bater… Cunha. Pronto, temos pra onde ir. Onde fica Cunha? Não faço a menor ideia…! Vamos levar o guia pra padaria e descobrir enquanto a gente toma café? Vamos.

E assim nasceu nossa primeira viagem (já resumida em um parágrafo aqui mesmo, certa vez).

Café tomado, uma mochilinha com troca de roupa. Pegamos o carro e a estrada. Cunha é uma cidadezinha paulista (bem conhecida, diga-se – a gente é que nunca tinha ouvido falar mesmo), localizada quase na divisa com o Rio de Janeiro. Pelo caminho fomos descobrindo que é também a capital nacional do Fusca, entre outras curiosidades que nosso guia nos proporcionava. Mas não estamos aqui pra falar de Cunha – por mais que devêssemos. A história vale um texto porque nos propusemos a meter as caras num lugar novo de uma hora pra outra, e assim fizemos.

Das melhores sensações.

Das melhores sensações.

Apesar da carta de motorista desde os 21, seria minha primeira estrada na vida (uma vez que comprei meu carro só 2008 – ano em que reaprendi na marra a dirigir). Seguimos do final da manhã até a metade da tarde um caminho gostoso, com calma e uma certa ansiedade de quem está “fazendo acontecer” pela primeira vez na vida. Assim que chegamos, encostamos o carro num canto e fomos aproveitar o sossego do lugar. Tudo novo, tudo acontecendo pela primera vez – a gente inclusive, como casal novo e com a massa fresca, de quem ainda não sabia se teria futuro. Um passeio pelo centrinho, algumas fotos do fim de tarde, era hora de procurar algum lugar para passar a noite.

Um pouco de sossego, um novo amigo...

Um pouco de sossego, um novo amigo…

...um fim de tarde e uma boa história pra contar.

…um fim de tarde e uma boa história pra contar.

Rodamos a cidade inteira, literalmente (parece exagero, mas a cidade inteira é rodável, acreditem). Nenhuma vaga, em lugar algum. Recomendaram que fôssemos pra Parati. Longe demais pra risco semelhante, acabamos indo pra Guaratinguetá – igualmente sem vagas. Eis que num acaso bizarro, perguntamos no meio da estrada pra um motoqueiro se ele sabia de algum lugar, e ele nos sugeriu um motelzinho em Lorena. Agradecemos, mas não sabíamos sequer como chegar.

Eu levo vocês lá – ele disse. E a gente seguiu o motoqueiro. Até O MOTEL – que era um pulgueiro, mas tinha vaga, um chuveiro e uma cama. Nos bastava.

Com tudo absolutamente do avesso ao que havíamos imaginado, resolvemos seguir para Ubatuba no dia seguinte. Tentaria salvar aquela primeira viagenzinha indo até Itamambuca, mas chegando no entroncamento para as praias, o caminho estava totalmente entupido de gente. Nos conformamos em ficar por ali mesmo, numa praia mais central (e cuja qual obviamente não lembro o nome), que seria nosso destino para o almoço.

Que foi sensacional, e disso me lembro bem.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

Algumas dessas conchinhas hoje estão aqui em casa.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

E nosso almoço não foi nada ruim, pra algo que nem namoro era ainda.

Paulistas que somos, botar o pé na areia já valeria pelo final de semana. Mas naquele momento a Dé sugeriu irmos atrás de um lugar chamado “cachoeira do macaco”, que ela havia lido (no guia ou numa placa, também não lembro). Procuramos incessantemente, até sermos guiados por um frentista, e darmos de cara com uma caixa d’água da Sabesp. Mais algumas voltas, e terminamos num lugarzinho mais gostoso, que compensou aquela volta toda.

A água que queríamos não estava numa caixa...

A água que queríamos não estava numa caixa…

E a soma de tudo deu... nisso :)

E a soma de tudo deu… nisso 🙂

Deu tudo errado, e nada saiu como planejado. Não importa. A primeira vez é inesquecível (pro bem ou pro mal, sabemos todos disso), e dali em diante começaríamos a ganhar experiência nessa coisa de viajar.

Tudo isso pra dizer e insistir: bote o pé na estrada. Sim, a situação econômica está terrível pra todo mundo. Mas assim mesmo, com um mínimo (às vezes, um tanque de gasolina, dinheiro pro pedágio e uns sanduíches na sacola térmica) a gente aumenta nosso mundo pessoal. Pode dar tudo errado: você pode dormir num pulgueiro, levar multa, pegar estrada no breu, dar de cara com uma linda e frondosa caixa d’água. Ainda assim será uma história a ser contada lá na frente. E toda história, quando bem contada, é muito boa. Saber rir da própria desgraça, mais ainda. Então, meta as caras. E não poupe seu dedo de fazer o trabalho do cérebro quando o assunto for escolher um destino, quando este insistir em te podar desses momentos.

Faniquito, Fofuras

Quando o importante não é o destino

30 de março de 2015

Nossa primeira viagem não foi exatamente uma viagem. Ainda namorando, fomos tomar café da manhã num sábado qualquer. Estávamos com um guia (acho, realmente não lembro bem), e enquanto dividíamos um suco de laranja, resolvemos sortear um lugar naquelas páginas: sairíamos da padaria, pegaríamos o carro, uma troca de roupa e iríamos para… Cunha. Eu nunca tinha pego estrada na vida, mal sabia onde ficava Cunha, o que tinha por lá, se tinha algo pra fazer. Não importava: eu iria com a Dé.

Foi uma baita de uma viagem – apesar da multa por excesso de velocidade, da busca incessante por um lugar pra dormir (e o resultado dessa busca), da ida à cachoeira do macaco. A estrada por um bem comum: alguém que a gente quer por perto. A cara de bobos felizes está ali em cima, ilustrando o texto de hoje.

Pois bem. Fizemos um bate-volta nesse final de semana até Joinville.

Aniversário de família – mais especificamente, da minha mãe. Uma festa-surpresa. Mas esse texto não é para contar como foi, e sim sobre a ação em si: viajar por uma pessoa, não por um lugar. Ação que eu e a Dé conhecemos muito bem, pois ambos já namoramos pessoas distantes o suficiente pra não chamarmos nossas visitas de “coisa corriqueira” – 500 quilômetros de distância não são exatamente “um pulo ali na esquina”.

A gente tava cansado e gripado em Joinville, mas nem parece.

A gente tava cansado e gripado em Joinville, mas nem parece.

Porém certas circunstâncias pedem por esse esforço. A saudade é mais intensa, e toda ocasião torna-se especial. Se uma viagem de dez, quinze, trinta dias já passa rápido, o que dizer de um final de semana? Um feriado? Aeroporto, estrada, pedágios, check-ins, esperas… não é mole, pois a dor de cabeça do ir e vir que você passa em qualquer viagem mais longa (mas que acaba diluída em dias de sossego e diversão) compete com o pouco tempo que a gente tem com quem encontra do outro lado. E fica a pergunta: vale a pena esse esforço?

– Vale.

Às vezes a distância é bem curtinha. Mas o fator surpresa fica.

Às vezes a distância é bem curtinha. Mas o fator surpresa fica.

Fora nossos namoros, temos algumas poucas ocorrências desse tipo de situação. Algumas pessoas que vêm REALMENTE de longe (outro país, outros estados), algumas de cidades próximas daqui de São Paulo, além de nossas próprias idas, como a desse final de semana. Lembro exatamente de todas as reações: de quem recebe, e de quem é recebido. Sempre um baque gostoso, de “cacete, o que você tá fazendo aqui?”. Os abraços são mais longos, os sorrisos mais largos. Uma surpresa boa nunca machuca – apesar de sempre parecer letal, pois quem é surpreendido tem sinais de tremedeira, descontrole emocional e falta de chão em trocentos porcento dos encontros.

Quando 3 cariocas invadiram São Paulo...

Quando 3 cariocas invadiram São Paulo…

...pra que alguns meses depois, dois paulistas invadissem o Rio.

…pra que alguns meses depois, dois paulistas invadissem o Rio.

Esse breve, cansado, atrasado e sincero textinho de hoje é um incentivo ao turismo emocional. Sim, esse que não tem preferência por destino, mas por pessoas. Ele pode ser simples (como visitar aquela pessoa que mora a dez minutos da sua casa) ou bem mais complicado, com horas dentro de um carro. ônibus ou avião. Pode precisar de balsa. De reserva. De algum dinheiro a mais. Ser recebido ou receber alguém que é capaz de encarar distâncias, alguns obstáculos, e esse monstro medonho chamado preguiça é uma sensação que abrilhanta qualquer vida. Afinal de contas, a gente só é feliz perto de quem ama. E quando estar perto equivale à distância de um abraço, tudo vale a pena.