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América do Sul

Argentina, Estive lá

Você precisa conhecer o El Ateneo?

10 de março de 2016

Um dos pontos turísticos mais famosos de Buenos Aires, a livraria El Ateneo faz jus à fama. Porém, esqueça suas filiais. Estamos falando daquele prédio lindo e famoso, localizado na Avenida Santa Fé: o El Ateneo Grand Splendid.

Inaugurado como teatro em 1919, o prédio funcionou como casa de tango, estação de rádio e cinema antes de se tornar a livraria que é hoje. Obviamente seu acervo é notável – pela quantidade e qualidade, sendo comparável a qualquer megalivraria no mundo. Nela você encontra livros, discos, dvd’s e blu-rays a preços quase sempre justos. Mas não é essa variedade que a destaca das demais – porque sim, a gente sabe que pela internet você é capaz de comprar qualquer coisa sem sair de casa. Não sair de casa vai contra tudo o que o Faniquito propõe, por isso mesmo viemos aqui indicar um destino 🙂

A visão do primeiro andar é acachapante.

A visão do primeiro andar é acachapante.

Com quase um século de existência, o prédio exala história. Aos que nunca visitaram Buenos Aires, dou meu depoimento pessoal: a ideia que eu tinha na cabeça antes de conhecer a cidade, naquilo que se presta a identificar sua História e tradições, é facilmente reconhecido tanto no exterior quanto no interior da El Ateneo. Poucos são os lugares cuja arquitetura é tão destacada e preservada (nesse caso, restaurada) quanto na livraria. Os camarotes e bancadas laterais possuem diversas poltronas, e não se permitir alguns minutos de leitura e/ou contemplação num ambiente tão especial beira ao sacrilégio. Os acessos aos andares superiores é feito de escada – o que novamente respeita a arquitetura original, enquanto o acesso ao piso inferior é feito por escadas rolantes. Mas o prédio é acessível, e existe um elevador para esse propósito. Esqueça a pressa em casa.

A visão lateral dos dois andares da casa...

A visão lateral dos dois andares da casa…

...e o detalhe dos camarotes, onde sentar um pouquinho vira quase uma necessidade.

…e o detalhe dos camarotes, onde sentar um pouquinho vira quase uma necessidade.

Falando em detalhes: os cuidados e afrescos são de babar.

Falando em detalhes: os cuidados e afrescos são de babar.

A beleza da casa inclusive facilita o consumo – uma péssima notícia pra você que tem uma ratoeira no bolso. Afinal, existe lugar mais legal pra se levar um souvenir do que uma loja linda dessas? Não quer ler em espanhol? Não tá acostumado aos maravilhoso hábito da leitura? Nem eu, que acabei trazendo pra casa um livrão do Quino, um do Langer e um almanaque do Boca Juniors. A Dé trouxe alguns ótimos livros de fotografia de artistas locais. Tem pra todo mundo, e suas desculpas correm o risco de não funcionarem. Portanto, além do espaço reservado aos alfajores, guarde outro para uns livros na sua mala.

Muito melhor que qualquer chaveiro.

Muito melhor que qualquer chaveiro.

O espaço antes reservado ao palco do teatro é hoje destinado a um café. Assim como os cafés de livrarias do Brasil, esse é caro de fazer sangrar os olhos. Experimente por conta e risco, mas gastronomicamente não é mais especial do que nenhuma outra loja próxima (e muito mais barata). Vale pela experiência de tomar um café na livraria, mas não muda a vida de ninguém.

Aqueles 5 minutinhos em que você pára pra dar uma lida, aproveita a beleza do lugar e não esquece nunca mais.

Aqueles 5 minutinhos em que você pára pra dar uma lida, aproveita a beleza do lugar e não esquece nunca mais.

Destaque para a pintura do teto, de autoria do ítalo-argentino Nazareno Orlandi...

Destaque para a pintura do teto, de autoria do ítalo-argentino Nazareno Orlandi…

Sua outra metade...

Sua outra metade…

E por fim, o conjunto completo - que é maravilhoso.

E por fim, o conjunto completo – que é maravilhoso.

Portanto, quando estiver conhecendo a capital dos hermanos, não discrimine os pontos turísticos básicos. Certamente a El Ateneo estará entre eles, e além do ar condiconado mais que bem vindo pra combater o calor portenho, é um dos melhores lugares pra fazer uma pausa nas inevitáveis caminhadas. Estar lá dentro garante um dos melhores sabores argentinos.

 

Venezuela

Uma saga chamada Roraima (4/6)

18 de fevereiro de 2016

É nosso centésimo texto! Uma alegria do tamanho do Roraima 🙂

E é também a quarta parte do nosso relato sobre o Monte Roraima. Não por acaso, o dia em que pudemos conhecê-lo lá de cima, e que além da experiência em si, significou muito mais do que isso na nossa vida. Então, sem mais delongas, à história:

Acordamos na esperança de alguma melhora em nossa situação, mas assim que abrimos a barraca o tempo úmido entregava que pouco ou quase nada havia mudado: as calças continuavam molhadas, assim como nossas botas. E com botas molhadas, como conseguir passear pelo Roraima? O terreno é totalmente irregular, composto de pedras que em certos lugares podem sim machucar seu pé. Havaianas eram impensáveis (e proibidas pelo nosso guia). Tomamos nosso café da manhã com um sentimento de derrota que poucas vezes experimentamos na vida. Nossa viagem parecia ter terminado antes da melhor parte.

Foi aí, sabe-se lá como, que veio uma ideia.

Nosso almoço do dia anterior foi um lanchinho mequetrefe, entregue pela equipe do guia NUM SAQUINHO PLÁSTICO. Bem, tínhamos meias secas. As calças eram de tecido leve, e secariam rapidamente no corpo. Se calçássemos as botas com esse saquinho nos pés, e com a meia sequinha, tínhamos uma chance de sobrevida lá em cima. Rapidamente o pessoal do grupo (que compadecia completamente do nosso desânimo) ssiu caçando os saquinhos do dia anterior. Nos trocamos, testamos, e tivemos nosso primeiro momento de alegria e esperança no topo do Roraima. Situação até então impensável, um milagre aconteceu – e voltamos ao jogo 🙂

De volta ao jogo, tínhamos um longo caminho.

De volta ao jogo, tínhamos um longo caminho.

O que se seguiu dali em diante foi um longo e tranquilo passeio durante toda a manhã. Começamos fazendo o caminho inverso ao que havíamos desesperadamente feito no final da tarde anterior, quando o temporal nos pegou e fez o que fez. Em fila, seguíamos o guia entre as depressões e desníveis das pedras no caminho. De fato, diferenciar poças d’água e rocha era uma tarefa difícil até durante o dia, pois as rochas são quase pretas, enquanto as pequenas piscinas mantém aspecto semelhante, e enfiar o pé na lama é questão de sorte (ou azar, como foi o nosso caso). Pelo caminho destacava-se também toda uma flora totalmente desconhecida, com plantas coloridas cuja principal característica era a capacidade absurda de absorção de água – dado o ecossistema único do tepui.

Um verdadeiro vale de ikebanas.

Um verdadeiro vale de ikebanas.

Mais adiante, uma área um pouco mais aberta reservava um verdadeiro tapete branco, contrastando com a rocha negra da superfície. O Vale dos Cristais é de fato tão bonito quando o nome sugere, e era necessário um cuidado especial para não prejudicar as estruturas do local. O sol dava as caras pela primeira vez.

De todos os tamanhos, os cristais que dão nome ao vale...

De todos os tamanhos, os cristais que dão nome ao vale…

...servem como um inacreditável tapete branco.

…servem como um inacreditável tapete branco.

O dia começava bem, e nossa esperança havia voltado :)

O dia começava bem, e nossa esperança havia voltado 🙂

Entre subidas e descidas, fomos conhecendo alguns vales, lagoas, depressões e formações rochosas que nos deixavam de boca aberta. Os cenários que o Roraima proporciona não são comparáveis a nada que conhecíamos até então. Foram várias as situações em que nos sentíamos pisando na Lua, sem nenhum exagero. Alguns locais levavam nomes engraçados, pelas silhuetas formadas: um sombrero, o rosto do Fidel, e outras coisas cujas imagens falam por si…

O sombrero, que veio parar na minha cabeça...

O sombrero, que veio parar na minha cabeça…

...o rosto do Fidel...

…o rosto do Fidel…

...e bem... o Ricky quis provar alguma coisa pra gente.

…e bem… o Ricky quis provar alguma coisa pra gente.

Com algumas paradinhas estratégicas, nossas roupas já estavam secas. A solução para os pés tinha funcionado, apesar de um certo calor que sentíamos por causa do saquinho entre as meias e as botas – mas dada a situação geral, estávamos num lucro monumental. O tempo havia aberto, e o frio da manhã dava lugar ao sol e um céu azul. Lembrando que estávamos sem banho já há um dia e meio, compensávamos nosso cheiro com a alegria da sobrevida no tepui – e pra falar bem a verdade, não éramos os únicos a estar naquele tipo de situação: essa higiene à qual estamos tão acostumados aqui na civilização dá lugar a um certo instinto de sobrevivência em acampamentos desse tipo. Queríamos um banho, mas queríamos ainda mais era vencer o Roraima.

As formações eram - pra dizer o mínimo - inacreditáveis.

As formações eram – pra dizer o mínimo – inacreditáveis.

Uma pausa pra descanso ao lado de uma das lagoas.

Uma pausa pra descanso ao lado de uma das lagoas.

E entre subidas e descidas, seguíamos adiante.

E entre subidas e descidas, seguíamos adiante.

Seguimos vale adentro, descendo algumas encostas e caminhando entre as depressões. As dores no meu joelho haviam aumentado, mas como eu disse, tínhamos objetivos maiores e claros nesse dia. Eis que chegamos enfim à área de borda do tepui. Um tempo maior de contemplação era necessário. Estávamos caminhando acima das nuvens, num território maravilhoso, e com uma vista privilegiada do nosso vizinho, o Kukenán. Hora da ficha cair e comemorar: havíamos enfim conquistado o Roraima, e Carl Fredricksen não estava mais sozinho.

Chegamos!

Chegamos!

E sim, é tudo de verdade.

E sim, é tudo de verdade.

A primeira imagem, só com as nuvens...

A primeira imagem, só com as nuvens…

...e a segunda, com a gente entre elas :)

…e a segunda, com a gente entre elas 🙂

Perto dali, um conjunto de pedras chamado carinhosamente de “La Ventana” desafiava os mais corajosos a uma olhada pelo vão central daquela estrutura: uma janela para baixo, com rajadas de vento absurdas e violentas. Para se aproximar, por questão de segurança só estando agachado ou deitado. Nenhum dos dois se arriscou… em compensação, a Dé insistiu em olhar pra baixo, e resolveu fazer isso do jeito dela.

La Ventana, meus amigos. Um vão para o nada, basicamente. Não encaramos.

La Ventana, meus amigos. Um vão para o nada, basicamente. Não encaramos.

Mas como eu casei com uma pateta, ganhei esse momento de presente...

Mas como eu casei com uma pateta, ganhei esse momento de presente…

...momento esse que a Mercedes deixou ainda mais evidente.

…momento esse que a Mercedes deixou ainda mais evidente.

O tempo variava rapidamente. Chuva e sol revezavam, enquanto seguíamos para a última parte do passeio da manhã (já era começo de tarde), que consistia em visitar as piscinas naturais que se formavam entre as rochas. Piscinas? Banho, certo? Errado… pois nós (e outros oito do grupo) esquecemos toalhas e sabão de côco nas barracas. Quem não esqueceu foi o grupo de neozelandezes, que se divertiu enquanto a gente se lamentava pela falta de ideia – e por nosso cheirinho nada agradável. Os caras definitivamente sabiam o que estavam fazendo.

As belíssimas e convidativas piscinas naturais...

As belíssimas e convidativas piscinas naturais…

...que só os neozelandeses usaram :(

…que só os neozelandeses usaram 🙁

Depois do banho deles, voltamos ao “hotel”. Almoçamos por lá com calma e tranquilidade. O Ricky – nosso guia – alertou que um dos carregadores acompanharia quem quisesse em um passeio durante a tarde na rocha que ficava logo em frente ao hotel, enquanto ele ficaria descansando. Resolvi fazer o mesmo – pelo bem do meu joelho, e por saber que o dia seguinte seria o mais difícil dessa nossa epopeia. Eu precisava me recuperar um pouco, ou o quinto dia seria ainda mais dramático. A Dé seguiu com o grupo para a pedra, enquanto eu fiquei conversando com o Ricky e com o canadense, que também ficou por lá. Foi algo divertido e bem inesperado: tive que desdobrar meu inglês macarrônico na conversa com ambos, e aos poucos fui me sentindo mais à vontade com essa nova necessidade. Tomamos um chá – estava esfriando bastante – e assim que o grupo voltou, jantamos enquanto a luz natural ia embora.

Nosso hotel, visto da pedra que ficava logo em frente.

Nosso hotel, visto da pedra que ficava logo em frente.

A Dé também saiu na foto, numa outra versão, enquanto eu estava me recuperando lá embaixo :)

A Dé também saiu na foto, numa outra versão, enquanto eu estava me recuperando lá embaixo 🙂

Um dia que começou com ares de tragédia terminou assim...

Um dia que começou com ares de tragédia terminou assim…

...e nós, logicamente, agradecemos aos céus por isso :)

…e nós, logicamente, agradecemos aos céus por isso 🙂

Nossos pés sobreviveram. O plano deu certo, e o calor dos pés acabou secando internamente as botas. Claro que a pele dos pés sofreu com isso, e nós que já estávamos razoavelmente machucados ganhamos novas feridas. A Dé sofria com bolhas e mais bolhas, enquanto minha preocupação maior ainda era o raio do joelho, que havia sido forçado o dia todo entre subidas e descidas. Mas a sensação de vitória superava tudo isso. Havíamos caminhado, conhecido e vivido o Roraima lá de cima, e sem dúvida era o melhor dos quatro dias até então.

Fomos dormir mais do que satisfeitos, e rezando para que o dia seguinte fosse bom. Mas nada havia nos preparado para o que estava por vir.

Brasil, Em duas rodas

Bicicleta na estrada: de Mogi a Guararema

11 de fevereiro de 2016

Era sábado à tarde quando a Gica nos ligou, convidando para um passeio de bicicleta “de verdade”. Nossos já estabelecidos 12 quilômetros aos finais de semana aqui na vizinhança dariam lugar a corajosos 52, em terrenos nunca antes desbravados. Nossas bicicletas ainda estavam virgens de quase tudo, limpinhas da Silva e totalmente delicadas.

– Jinhu, você sabe que eu adoro me f**der.

Com essa singela frase que a Dé me convidou ao desafio. Eu, de maneira muito parceira e temerosa, aceitei.

No dia seguinte, saímos de casa por volta das 9h30. Percorremos os 6 primeiros quilômetros da ciclovia da Avenida Eliseu de Almeida. Um trecho de duas ou três quadras estava interditado para o desfile de Carnaval que aconteceria à noite, então seguimos cuidadosamente pela rua e calçadas até retomar a ciclovia, em direção ao metrô Butantã. Chegando lá, nova estreia, descendo as escadas com as meninas debaixo do braço, e agradecendo aos céus por termos comprado quadros de alumínio – que sim, são mais caros, mas que valem cada centavo investido na hora do levantamento de peso.

Seguimos do Butantã à República, onde encontramos Gica e André – os responsáveis pelo passeio (e por nossas bicicletas, como já contamos em outro texto). Mudamos da linha amarela para a vermelha, e seguimos a travessia pela cidade, indo de metrô até o Brás, e de trem dali em diante – do Brás até Guaianazes, fazendo nova baldeação e seguindo até Estudantes, em Mogi das Cruzes.

Suas definições de "atravessar a cidade" foram atualizadas.

Suas definições de “atravessar a cidade” foram atualizadas.

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô...

O primeiro passeio de bicicleta começou no metrô…

...e seguiu de trem.

…e seguiu de trem.

Lá, encontramos o Alex e a Su, que completaram o nosso grupo. Estávamos prontos pra seguir – enfim, de bicicleta. Capacetes e luvas seriam usados pela primeira vez. Estávamos ansiosos. Filtro solar distribuído e um breve lanchinho, começamos nossa pedalada.

Hora de pedalar pra valer :)

Hora de pedalar pra valer 🙂

Um primeiro trecho ainda pela cidade, e algumas mudanças já se fizeram necessárias: nossos bancos estavam baixos demais, e as pernas (ou melhor, as coxas) acusaram isso na primeira tentativa de acompanhar o grupo. Ajustamos, e agora confortáveis, seguimos viagem. O trecho urbano deu lugar a uma estradinha com quase nenhum movimento. Encarávamos nossos primeiros trechos de descida, e principalmente de subida. Com a ajuda da Gica e do André, fomos descobrindo aos poucos qual a relação de marchas usar em qual trecho, e nesse passo-a-passo fomos adquirindo a confiança que até então não tínhamos. Não havia pressa, e isso ajudou muito para que o casal de novatos não desse vexame ou fizesse feio.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

O primeiro trecho urbano, em fila até a chegada na estrada.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Já na estrada vazia, o registro do grupo completo.

Do asfalto ao paralelepípedo, os primeiros trechos em subida que de fato utilizamos o que havíamos aprendido. Mesmo com pouca inclinação, aquele obstáculo – que até o início do dia era intransponível – ficou pra trás. A sensação de vitória é deliciosa, e íamos encontrando nosso ritmo. Pouco depois chegávamos à Estação de Sabaúna, onde demos um tempinho pra reabastecer numa barraquinha de caldo de cana. O calor maltratava, mas o vento na cara, o bom humor da galera e nossas garrafas d’água compensavam. O cansaço, surpreendentemente, era bem menor do que esperávamos. Seguimos adiante.

Na Estação de Sabaúna...

Na Estação de Sabaúna…

...uma pausa pro "caldicana".

…uma pausa pro “caldicana”.

Pouco depois, entrávamos num extenso trecho de terra. Pra minha alegria, a Dé – que não tinha experiência alguma nesse tipo de terreno – passeou tranquilamente junto ao grupo. Tanto ela como eu ainda tínhamos alguma dificuldade com a nova posição de nossos bancos, a ponto de perdermos o equilíbrio em algumas paradas pelo caminho. Cada pessoa do grupo tinha seu ritmo, mas todos fizemos questão de estar sempre juntos – fosse avisando sobre algum carro que se aproximava, dividindo água, ou falando besteira. O passeio era ótimo, e já valia mesmo sem termos chegado ao destino.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Aquela hora em que você não reconhece mais São Paulo.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pelo caminho, paisagens incríveis e pausas providenciais.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Pouco antes da chegada, hora de sujar de vez nossas meninas.

Mas chegamos.

A Vila Estação Luis Carlos é uma área recém-restaurada pela prefeitura de Guararema, e que esteve abandonada até 2010. Hoje, além de abrigar restaurantes, bares, comércio e algumas poucas residências, a vila serve de ponto para o Passeio Turístico Estação Guararema – Estação Luís Carlos, que é realizado com a locomotiva Maria-Fumaça 353. A primeira impressão que tivemos ao chegar foi de que aquele lugar era cenográfico, tal a intensidade das cores da pequena vila – que foi entregue restaurada há apenas 4 anos – e sua cara de coisa nova, mesmo com detalhes arquitetônicos tão tradicionais. Uma rua reta, uma praça, um calçadão onde estavam estacionados trocentos carros, e pouco adiante, a locomotiva. Mesmo minúscula, ficamos surpresos com o charme e a beleza do lugar, do qual até então sequer havíamos ouvido falar.

Descemos das bicicletas, e chegamos...

Descemos das bicicletas, e chegamos…

...à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica...

…à Estação Luis Carlos, que parecia cenográfica…

...com suas casinhas coloridas...

…com suas casinhas coloridas…

...e essa combinação inacreditável de "igrejinha azul mais Brasília amarela".

…e essa combinação inacreditável de “igrejinha azul mais Brasília amarela”.

Um final de tarde colorido :)

Um final de tarde colorido 🙂

Cansados e felizes, nos instalamos em um dos bares para aproveitar um pouco da vila. Eu e a Dé estávamos realizados – não havia um mês que tínhamos feito nosso primeiro passeio com nossas próprias bicicletas, e conseguimos superar 20 quilômetros de um trecho nada semelhante à habitual ciclovia. Passava das 17h quando pedimos alguns petiscos e bebidas. Ficamos de bobeira por lá por mais ou menos hora e pouco, ouvindo um grupo animado de violeiros e observando aquele inesperado vai-e-vem num lugar tão pequeno. Reabastecemos nossas garrafas, tiramos várias fotos, tomamos coragem e começamos o caminho de volta.

Já familiarizados com o terreno, a insegurança foi dando lugar ao cansaço. O sol aos poucos ia sumindo, e temíamos pela pedalada à noite, o que acabou acontecendo principalmente pela minha queda de rendimento. Mesmo com pouca luz, a volta foi bastante segura (pelas lanternas das bicicletas, que foram utilizadas também pela primeira vez), e por não demorarmos a chegar no trecho urbano. A chegada à Estação de Estudantes, em Mogi, foi totalmente redentora pra gente.

Um pouco mais de terra na hora de voltar...

Um pouco mais de terra na hora de voltar…

...algumas descidas redentoras...

…algumas descidas redentoras…

...e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

…e quando o fôlego acabava, era hora de empurrar.

Não imaginávamos que algum dia faríamos parte de um grupo disposto a fazer um passeio desse tipo. Não nos imaginávamos capazes de saltar de 12 para 52 quilômetros nesse tipo de teste físico. Mas deu certo. Deu tudo muito certo. E mesmo com a (inevitável) posterior dor na bunda, do cansaço no dia seguinte, foi muito gostoso. Uma experiência totalmente diferente de um passeio de carro, trem ou ônibus. O contato com a natureza, um grupo de gente do bem, um trajeto bonito e esse lado lúdico que a bicicleta traz formam um conjunto que periga viciar.

Agora é fato: temos mesmo um novo faniquito adquirido 🙂

Brasil

São Paulo: um longo caminho

2 de fevereiro de 2016

Durante o penúltimo final de semana de janeiro aconteceram os festejos de aniversário de São Paulo. Uma daquelas oportunidades em que aproveitar a cidade é quase uma obrigação, tamanho o número de eventos gratuitos, diversos e simultâneos que se espalham por aqui. A gente escolheu uma das atrações – um passeio de trólebus pelo centro velho – e resolveu encarar um feriado de sol escaldante pra passear por aqui.

Aos fatos:

Pegamos um ônibus perto de casa, que nos deixou na Estação República do Metrô. Nesse dia, o bilhete único valia 8 horas, e isso já era um baita incentivo pra, mais uma vez, deixar o carro em casa (porém, o bilhete da Dé deu pau e cobrou ambas viagens, de ida e volta). Alguns passos adiante, e duas tendas para o evento orientavam os turistas, e organizavam um walking tour pela região. Seguimos até o Pateo do Collegio, que era o ponto de partida do trólebus: saía em intervalos de 3 a 4 minutos, com todos os passageiros sentados, num tour gratuito e guiado. Porém, a fila de espera para o ônibus era dantesca, e abandonamos imediatamente a ideia do tour.

Sugestão:

Por que não distribuir os pontos de saída de um passeio circular por 3 ou 4 pontos do trajeto? As filas ficariam diluídas, não desanimariam quem chega, e possivelmente teriam maior adesão…

Mudança de planos imediata, voltamos à Prefeitura para pegar o próximo walking tour, que sairia às 11h30. No horário marcado, nossa guia reuniu o pequeno grupo (que não somava mais de 10 pessoas), iniciando ali mesmo as explicações. Uma coisa que a gente notou foi um certo descuido com alguns detalhes (como por exemplo, o microfone, que mesmo em grupos pequenos precisa estar ligado o tempo todo – no caso desse passeio, durou pouco menos de 15 minutos). Seriam mais ou menos duas horas e meia de caminhada. Partimos.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM - Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

No prédio da Prefeitura, a sigla MMM – Matarazzo, Mussolini e Marcelo Piacentini, esse último o arquiteto fascista que projetou os edifícios do império da família Matarazzo na cidade.

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo...

Um dos marcos da resistência dos alunos de direito da Faculdade do Largo São Francisco às atitudes do governo…

...bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima - depois de descer a história é outra e todos nós sabemos...).

…bem como o parlamento que está localizado logo à frente do prédio, e que assegura até hoje o direito à livre manifestação popular (enquanto o manifestante estiver ali em cima – depois de descer a história é outra e todos nós sabemos…).

Prefeitura, Secretaria de Segurança, Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Catedral da Sé, Praça João Mendes, Tribunal de Justiça, Solar da Marquesa de Santos, Pateo do Collegio, Centro Cultural Banco do Brasil, Rua do Comércio, uma subida no Edifício Martinelli, Anhangabaú e Theatro Municipal. Um belo roteiro, que vamos resumir em observações positivas e negativas.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

O Solar da Marquesa de Santos, e um pedaço da fila (que dobrava o quarteirão) de espera do trólebus.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

Um intervalo providencial no Centro Cultural Banco do Brasil, e um teaser da exposição do Mondrian que está acontecendo por lá.

O "primeiro caixa eletrônico" da cidade ainda existe.

O “primeiro caixa eletrônico” da cidade ainda existe.

As coisas bacanas:

Começando pelo óbvio, é de fato um tour muito bonito e recheado de história. Alguns dos edifícios são belíssimos, e os detalhes de outros tantos são exaltados pela guia durante o trajeto, que teve como ponto alto (sem trocadilhos) a visita ao topo do Martinelli. Eu nunca tinha subido lá, e dá pra chamar sim de obrigação – tanto para quem mora como para quem visita a cidade. Mesmo em duas horas e meia, é um passeio bastante tranquilo, que pode ser feito em qualquer dia da semana, de tão simples.

A fachada do Martinelli continua impressionante...

A fachada do Martinelli continua impressionante…

...mas a visão lá de cima é ainda mais.

…mas a visão lá de cima é ainda mais.

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível...

Lá de cima, além da sua arquitetura incrível…

...é possível observar também o cimento original e importado para sua construção - que sim, é rosa.

…é possível observar também o cimento original e importado para sua construção – que sim, é rosa.

As coisas não tão bacanas:

Em relação ao tour, falta preparo e uma certa estrutura ao sistema de passeio guiado. Não foram poucas as explicações imprecisas, e uma certa confusão com as informações – pra algo desse contexto, não dá pra ser “mais ou menos”. Além disso, alguns lugares como a Catedral da Sé e o Pateo do Collegio mereciam algo melhor do que apresentações de fachada – uma entrada rápida ou uma explicação mais detalhada impressionariam muito mais aos que não conhecem esse roteiro.

Quanto à cidade, é uma pena que tenhamos que evitar a Praça da Sé “devido ao perigo” da região. Apesar de algumas ações que já acontecem, há muito a ser feito quanto à política social e de inclusão na cidade. Por diversas vezes o grupo “foi desviado”, para evitar contato com as pessoas que vivem nas ruas da cidade. Há também a degradação arquitetônica, e um descaso gigante com o patrimônio histórico e cultural do qual esses prédios fazem parte.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

Um pedacinho bonito do Anhangabaú.

A conclusão do nosso passeio:

São Paulo é incrível e por muitas vezes inacreditável, mas precisa desenvolver bastante seu lado turístico, pois mesmo com essas iniciativas, aquilo que temos é incompatível com o tamanho e complexiade da cidade. Existem possibilidades infinitas e óbvias, que podem ser implementadas muito rapidamente a custo muito baixo, mas o que a gente vê por aí ainda é muito pouco. Os programas gratuitos – como os que foram oferecidos durante o aniversário da cidade – são louváveis, mas dá pra ir além. MUITO além. Da mesma forma, o turismo interno que a gente (não) faz é esclarecedor em trocentos aspectos: da nossa total falta de conhecimento da própria história, à situação real das pessoas – pro bem ou pro mal.

O dia foi delicioso (e cansativo pelo calor), e devemos repetir a dose ano que vem. Quem sabe, sentados dentro do trólebus, ou num walking tour diferente. Mesmo com um longo caminho pela frente, a semente foi plantada, e comemoramos o aniversário da cidade da forma que ela merece. Que venham outras festas, ainda melhores.

Brasil

Das nuvens

26 de janeiro de 2016

Por Carol Andrade


“Marquei seu salto pra 10:30 com o Lu”

O whatsapp me entregava essa mensagem da Alice quando eu já estava na Casa do Alemão com Débora tomando café, a caminho de Resende. Tinha acordado com medo: eita caramba, é hoje que eu vou saltar de paraquedas.

Nunca tive essa vontade antes, a ideia de pular de um avião no ar e apreciar o caminho vertical para o chão não me apetecia – até que, quando fui a Penedo na semana retrasada, essa ideia surgiu em forma de desejo, desejo-quase-necessidade.

Estava precisando sentir algo que me sacodisse de uma forma diferente de todas as minhas referências e nada melhor do que conversar com o Sombra, amigo querido e marido de Alice, uma das primeiras amigas da minha vida. Com anos de estrada e forte reconhecimento no paraquedismo, esse cara que já dobrou paraquedas do príncipe de Dubai por alguns anos, precisou ouvir todos os tipos de pergunta: as pessoas se mijam? Pode ter crise de pânico lá em cima? Tem algo que eu precise fazer para que a coisa dê certo? Eu que abro o paraquedas? Ele vai abrir?

Pasmem, mas ele respondeu a todas essas perguntas, ao longo de uma semana, entre um cigarro e um café, entre uma cerveja e um bolo de cenoura na enchente. Alice e Angela (mãe da Alice, professora querida e ex-colega de trabalho – vejam como essa família é um poço de referências de carinho na minha vida) empolgadíssimas com meus planos, davam força para que eu não desistisse.

Eu esperei o sábado e o sol, mas o segundo resolveu que daria lugar a nuvens carregadas e chuva contínua. Voltei para o Rio frustrada, mas na promessa de voltar, assim que o astro rei permitisse que eu passeasse no céu.

Enfim, essa semana, lá estava ele, nos devolvendo um pouco do calor infernal e dando dias mais bonitos.

“Alice, como está o tempo aí?”

“Está lindo.”

Eu entendi que era a hora.

Débora topou o passeio, vai que também decidia saltar…

Sete da manhã, pontualíssima, minha amiga há tantos anos passou para me buscar e fomos rumo a algo que eu não fazia ideia do que esperar. Ao longo do caminho ela me tranquilizou: eu não era obrigada a saltar, se chegasse lá e desse medo. Eu pensei que isso não poderia acontecer. E ainda bem que não aconteceu.

Após uma leve perdida na cidade, chegamos ao Aeroporto de Resende, Hangar 4. Alice era so sorriso. Débora registrava meus passos importantes com sua câmera. Eu estava na sétima decolagem. Macacão azul, por favor. Rosa não. Assina o termo. Débora, vou ler essa porra não, vou só preencher e assinar, fotografa pra eu ler depois em casa. Instruções do Luciano, simulando a saída do avião e a postura da queda. No carrinho do galpão e no skate, tudo parecia tranquilo. Prende o macaquinho no macacão. Vai ficar apertado, mas se incomodar avisa. Você segura aqui, abre o braço quando eu avisar. Cuidado com a cabeça, ao embarcar no avião. Vamos lá?

De repente eu estava num campo, concentrada com alguns caras de macacão, exceto um, de bermuda e camiseta que parecia bem tranquilo. O responsável pela filmagem externa me avisou: no ar, pode ser que eu segure a sua mão. Deixe apenas estendida, mas não segure a minha, ok? Ok. O instrutor disse que tudo o que eu precisava fazer era sorrir, ação que parecia impossível quando o avião chegou. Todos subiram, eu fui por último (mal sabia eu que essa ordem significava ser eu a primeira a saltar).

E aí começou.

O avião começa a andar com a porta aberta e de repente ele sobe e tudo vai diminuindo de tamanho do lado de fora, enquanto do lado de dentro, a sensação é de que há algo que não caberá mais em mim. “Não tem mais volta!”, brincou o instrutor. Mal sabia ele que essa irreversibilidade existia desde a semana que passei em Penedo.

Em poucos segundos, eu estava presa ao instrutor pela estrutura do macaquinho e em menos segundos ainda, o avião fez a reta do salto. Um alarme tocou e o avião diminuiu a velocidade. Chegou a hora, me pareceu. Abriram a porta do avião. Eu só conseguia dizer “Caralho”. Eu ia cair no google maps visualização satélite, aqueles pequenos quadrados que são o chão, aquele barulho ensurdecedor do avião, do céu, da minha cabeça, o frio na barriga, o instrutor me posicionando na porta do avião, os outros paraquedistas sorrindo, se despedindo, dando boa sorte, eu sentei com os pés para fora do avião e caralho eu to com os pés pra fora do avião, a janela que eu tanto gosto de olhar nas viagens não era mais uma janela; era o lugar onde eu estava com o corpo, eu ia cair ali, no céu, na cidade de Resende e tudo isso deve ter durado um segundo ou menos e de repente eu estava caindo e um medo absurdo apareceu e sumiu, pois magicamente eu entendi que não tinha dado merda. Tudo estava sob controle. E eu abri os olhos.

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Não sei dizer o que eu senti exatamente, eu olhava em volta e só conseguia chorar, a emoção era física e tudo o que eu queria era olhar o máximo possível, olhar para cima, olhar para baixo, registrar todas as sensações de se estar no céu. O paraquedas abriu e a coisa só ficou mais suave. Era voar de avião sem avião, era olhar tudo muito pequeno lá embaixo, sentir o corpo navegar sem chão. Não conseguia gritar urru, nem dizer o quão incrível aquilo estava sendo. Era tudo inacreditável. Não tinha angústia, não tinha tristeza, não tinha medo, não tinha fracasso, não tinha dúvidas. Todos os meus canais de perceber o mundo foram tomados por aquele momento de estar ali, depois de ter saído de um avião no ar. Pensei que meditar deve ser isso, estar consciente de uma presença grande, uma plenitude de aqui-agora, de infinito.

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Chegar no chão foi divertidíssimo – segui as instruções do Luciano e tudo acabou com um tobogã na grama com o paraquedas caindo atrás da gente. A primeira pessoa que eu vi foi Alice, feliz demais correndo em minha direção de braços abertos. Que inacreditável.

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Ao longo do dia eu fiquei tomada por um estado zen de espírito, uma tranquilidade, um sorriso calmo. Na cabeça, somente aquela imagem google maps visualização satélite, aqueles quadradinhos que tomavam forma de casas, de cidade, de pessoas jogando futebol, aquele gelado no corpo de saltar de um avião a 4 km do chão, aquele choro descarreguento, aquela emoção da ilusão de voar. Aquele carinho das amigas que estavam ali comigo, do Sombra que não estava lá, mas garantiu que estará na próxima – a próxima que eu espero acontecer o quanto antes.

Que bem maravilhoso que toda essa conjuntura me permitiu.

Voemos.


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Argentina, Causos

Chillhouse/Chill out

21 de janeiro de 2016

É um texto rápido esse, pra data não passar em branco. Rápido como nossa passagem no Chillhouse – que serve de gancho pra contar um causo.

Há 3 anos (e um dia) a gente desembarcava na Argentina pela segunda vez, naquela que seria nossa viagem pela Patagônia. Uma viagem planejada durante um mês, em caráter de improviso (e com uma boa dose de mau humor no início, uma vez que nosso destino planejado era pra cima, e não pra baixo do continente). Porém, antes de chegarmos à região patagônica, passaríamos um dia em Buenos Aires.

Por ser uma pausa rápida, topamos um albergue com quarto compartilhado. Fizemos a reserva no Chillhouse, que vinha muito bem recomendado em nossas pesquisas. Porém, assim que chegamos, fomos surpreendidos com uma reserva equivocada, que nos colocou em quartos coletivos SEPARADOS. Não sei mensurar o grau do meu emputecimento, já imaginando que uma “viagem de improviso” que começava daquele jeito podia desandar pra coisa muito pior. Em situação bizarra, nos separamos, e eu dividi o quarto com mais uma menina e três caras (sendo que um deles, OBVIAMENTE, roncava mais que uma motoserra. Amaldiçoava cada segundo naquele lugar até a manhã seguinte, quando pegamos nossas coisas e seguimos viagem.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Os malditos beliches da primeira noite em Buenos Aires.

Mesmo com esse início tétrico, a viagem foi incrível.

Voltaríamos pro Chillhouse ao final da viagem, e eu imaginava uma nova sessão de terror caso fizessem uma nova cagada com nossas reservas. Porém, a Dé havia se precavido, e pela primeira vez teríamos em um albergue um quarto exclusivo, em nossas (até então) quatro viagens acumuladas. Contra toda a desconfiança acumulada, recebemos uma suíte necessária e providencial após dias extremamente cansativos: ventilador, televisão, e um banheiro no quarto que tinha até banheira. Foi a analogia perfeita com o início e fim do planejamento daquela viagem: começou nas trevas, terminou no céu.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

Contra a assombração no início da viagem, um quarto perfeito.

É bom saber que a noite de 20 de janeiro de 2013 não deu o tom de uma viagem tão urgentemente planejada. Bom saber que a gente às vezes se engana nas primeiras impressões sobre determinadas coisas ou lugares. E bom saber que depois de três anos, dá pra gente comemorar uma data que hoje é tão importante na nossa vida, mesmo que naquela noite tenha sido vivida em camas separadas, e com companhias bizarras.

Afinal, ronco bom é aquele que a gente CONCORDA em dividir 😉