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Argentina

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A casa de Maradona

23 de julho de 2015

Ir a Buenos Aires e não conhecer a Bombonera é deixar uma lacuna na sua viagem. Bom, pelo menos é o que dizem todos os que visitam o estádio, arrastando até mesmo os desinteressados por futebol até o bairro da Boca. Mais ou menos como ir ao Rio e não visitar o Cristo, o mitológico estádio do Boca Juniors é parada obrigatória para qualquer turista que visita a cidade portenha. E nós fomos conferir essa história.

Existe um certo “terrorismo” quanto a La Boca. Não são poucos os que demonizam o bairro (onde também está localizado o Caminito), recomendando “cuidado ao andar pelas ruas”, entre outros conselhos que deixam os visitantes de pé atrás. Opinião pessoal: um absoluto exagero. É um bairro antigo e boêmio, bastante diferente da área central da cidade – mas numa comparação binária, seria como colocar lado a lado as regiões do Jardins e da Moóca em São Paulo. Cuidado a gente tem que ter em qualquer lugar, e não é por estar degradado que um lugar é necessariamente ruim. Então, encare sim o passeio.

Uma paredão em azul e amarelo. Bem-vindos à Bombonera.

Uma paredão em azul e amarelo. Bem-vindos à Bombonera.

O estádio é sim imponente pra cacete. Do lado de fora, um paredão de concreto azul e amarelo, com grandes colunas verticais, deixando claro que estamos entrando num lugar que em nada se assemelha às “arenas” modernas de hoje em dia. Na pequena sala de entrada do museu, você compra os ingressos pro tipo de visita (só o museu, museu e gramado com visita guiada, etc.), e aguarda a chamada numa acanhada lojinha.

A entradinha do museu, e o anúncio que a coisa ali é sobre paixão mesmo.

A entradinha do museu, e o anúncio que a coisa ali é sobre paixão mesmo.

O museu é muito bacana. Estátuas dos jogadores mais famosos do time (Maradona, Palermo, Riquelme), a relação completa dos jogadores que vestiram a camisa do Clube, uma pequena maquete do bairro em outros tempos, e uma memoriabília sensacional, com taças, flâmulas, camisas e todo tipo de objeto que ajude a contar a história do Boca. Da mesma forma que tudo no estádio, é menor do que você imagina – ainda mais se tiver as mesmas referências que eu quanto a esse tipo de museu: o do Corinthians e o Museu do Futebol no estádio do Pacaembú são absurdamente gigantes perto do museu do Boca.

Uma miniatura do bairro, nos tempos de fundação do estádio.

Uma miniatura do bairro, nos tempos de fundação do estádio.

Um cara que perde três pênaltis num mesmo jogo merece mesmo uma estátua.

Um cara que perde três pênaltis num mesmo jogo merece mesmo uma estátua.

A camisa de caminhão do Navarro Montoya. [Clubismo] Em outros tempos, outro goleiro ridículo aderiu à mesma moda no Brasil [/Clubismo].

A camisa de caminhão do Navarro Montoya. [Clubismo] Em outros tempos, outro goleiro ridículo aderiu à mesma moda no Brasil [/Clubismo].

Schiavi, esse parceirásso :)

Schiavi, esse parceirásso 🙂

Mas a graça da Bombonera são os vestiários e o gramado.

Graça pra quem visita, obviamente. O vestiário dos visitantes é apertado e deve ser um inferno se preparar ali. Fora que a arquibancada mais hardcore dos caras fica justamente em cima dele, propositalmente. A fama de caldeirão da Bombonera não é à toa. É tudo meio velho e podre, como tudo no bairro, e é justamente isso que carrega ainda mais a mística do lugar. “Ah, mas isso fica longe do que eu vejo na Champions League”, dirá o representante da geração Playstation. Sim amiguinho, é bem diferente. Por isso mesmo a Libertadores é divertida: porque é aqui, e não na Europa.

Quanto ao gramado e às arquibancadas: aquilo tudo que ouvimos e vemos é exatamente daquela maneira: assentos colados, corredores apertados e uma verdadeira parede de arquibancada que impressiona de verdade. Nossa guia era extremamente animada (e a maioria dos visitantes, brasileira), e contou detalhadamente os principais fatos da história do estádio. Mostrou também onde fica o camarote vitalício do Maradona, e nos levou à “geral” da Bombonera (aquela que fica em cima do vestiário visitante), onde organizou uma baguncinha básica com a galera. Um passeio bem do divertido, e mais divertido ainda por termos feito o dito seis meses após o título da Libertadores do Corinthians – justamente em cima dos caras.

É alta a bagaça, meus amigos. Dá um calafrio.

É alta a bagaça, meus amigos. Dá um calafrio.

Pertinho do gramado, e de frente pros camarotes.

Pertinho do gramado, e de frente pros camarotes.

Hora de ver mais de perto por onde o Romarinho passou.

Hora de ver mais de perto por onde o Romarinho passou.

Na saída, a hora da saudade.

Na saída, a hora da saudade.

Conclusão: a Bombonera vale sim a visita – muito mais por seu caráter histórico, e por ser um estádio sobrevivente à modernização que engole o futebol nos dias de hoje. É um ponto turístico pra quem não acompanha o esporte, mas uma obrigação pra quem ama o certame.

Apêndice gordinha: saindo de lá, caminhe por algumas ruas e vá almoçar no Obrero – que é igualmente precário e tradicional. Um bifão de chorizo não fará mal depois de duas horinhas de tour por terras amarelo-celestes. E tente encontrar a flâmula do seu time de coração na parede forrada dos caras 🙂

Um restaurante tradicional, num reduto de torcida, com uma parede de verdade.

Um restaurante tradicional, num reduto de torcida, com uma parede de verdade.

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Pro almoço, mais uma tradição – por que não?

P.S.: Achei que faltava um vídeo mostrando a Bombonera funcionando. Então fechamos o texto com o melhor momento já vivido por esse estádio:

Argentina, Gastronomia

Isabel

25 de maio de 2015

Pegando o gancho do texto anterior, escrito pela Dani semana passada, a dica de hoje é sobre um lugarzinho meio inesperado em El Calafate… mas uma coisa de cada vez, então vamos lá:

El Calafate é uma cidadezinha deliciosa localizada na Patagônia Argentina. Pra efeitos de comparação (e levando-se em consideração que sou brasileiro/paulista), é razoavelmente semelhante a Campos do Jordão, porém sem montanhas e menos colonial. Em uma rua principal estão todo os principais pontos comerciais da cidade: restaurantes, lojas, agências de turismo e até mesmo uma feirinha são passeáveis e conhecíveis à pé; numa rua paralela acima está a estação rodoviária, e seguindo adiante está a área residencial da cidade; tomando-se a rua principal como referência novamente, mas olhando pra trás, em três ou quatro ruas paralelas estão distribuídos os hotéis e albergues da cidade, além de alguns serviços essenciais – lojinhas de conveniência, lavanderias e bazares.

De El Calafate falaremos mais em outras oportunidades. Hoje, o assunto é o Hostel El Calafate… bem, mais ou menos. O assunto mesmo está dentro do Hostel El Calafate – mais especificamente, o quê e quem.

Com poucos dias – às vezes, somente um – disponíveis em determinadas cidades, dificilmente o restaurante do hotel é uma opção considerada na hora de decidir onde comer. E aí entra em cena outro personagem dessa história, chamado Leandro, e proprietário do Isabel Cocina al Disco* (http://isabelcocinaaldisco.com/) – um enorme e bonito salão localizado ao lado da recepção do albergue**.

Leandro é o cara à esquerda, no pique.

Leandro é o cara à esquerda, no pique.

Estávamos de saída para conhecer a cidade (chegamos no começo da tarde), quando fomos abordados pelo rapaz pouco antes da saída. Confesso que não me lembro direito do papo, mas foi engraçado – sim, o Leandro era o argentino com maior fluência em Português que havíamos conhecido até então. E com meia dúzia de piadas infames e aquele jeito Ciro Bottini infalível, ficamos meio confusos até ele nos convencer a jantar por lá mesmo.

Resumindo a história: ficamos 5 dias em El Calafate. Jantamos por lá 3 vezes.

Claro que ficamos. Olha o tamanho dessa panela...!

Claro que ficamos. Olha o tamanho dessa panela…!

Porque não basta a comida ser MUITO boa (e escrever em letras maiúsculas é uma pequena tentativa de quantificar o cuidado com o sabor da coisa toda), o ambiente e o atendimento são um capítulo à parte. Falando da comida: além de alguns pratos comuns (leia-se bife de chorizo e adjacências), a especialidade da casa é a cocina al disco de arado – um panelão de diversos ingredientes, com jeito de comida rústica, mas de um sabor que é um verdadeiro soco na cara de tão gostoso.

Dá pra sentir o cheirinho dessa delícia?

Dá pra sentir o cheirinho dessa delícia?

E pra fechar, que tal um sorvetinho de calafate?

E pra fechar, que tal um sorvetinho de calafate?

Quanto ao atendimento, a simpatia do Leandro e da sua equipe são coisa que vão muito além da simples venda – saímos de lá já morrendo de saudade, e felizmente mantemos contato desde então – e que melhor recomendação existe do que conhecer um lugar, e sair de lá com uma amizade a tiracolo?

Três refeições depois: alegria incontida, e amizade saudosa!

Três refeições depois: alegria incontida, e amizade saudosa!

Portanto amiguinhos, esse texto (que porpositalmente está indo ao ar pouco antes do almoço) é um incentivo a mais para que, quando de sua viagem ao país hermano – mais especificamente à parte lá de baixo, onde existem pinguins, geleiras e noites ensolaradas – considerem El Calafate. Cheguem com fome, e conheçam o Isabel. Mais que isso: conheçam o Leandro.

Capaz que saiam de lá de barriga cheia, e torcedores do Racing*** 🙂


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

**Albergue por chamar Hostel El Calafate – mas com área de hotel do lado oposto ao restaurante. Adotamos a convenção porque ficamos no albergue mesmo.

*** Nem Boca nem River – o cara é doente pelo Racing – mesmo (mas ainda assim um gente boa).

Argentina

Chocolate com gelo

12 de maio de 2015

É de conhecimento público um dos conselhos mais conhecidos – e oferecidos – a quem viaja: “pegue dicas com os locais”. Não é uma regra, mas é uma verdade – sem esquecer que existe nó cego e pilantra em qualquer lugar do mundo. Não era o caso da Deborah, com agá.

Não, não estou falando da minha esposa. Deborah é o nome de uma das donas de uma doceria que fica na principal rua do centro de Ushuaia, chamada Isla de Chocolate* (http://tinyurl.com/deborah-com-h), onde além de fazermos amizade, experimentamos alguns doces e ótimas bebidas quentes durante nossa estadia na cidade. Deborah acabava puxando papo sempre que aparecíamos por lá, e em determinado dia – um dos últimos – nos recomendou conhecer o Glaciar Martial: “Não tem muito apelo com os turistas, e acaba sendo uma atração muito mais local no fim das contas”, ela nos disse. E topamos a empreitada.

Dois bons motivos pra bater um papo com a Deborah.

Dois bons motivos pra bater um papo com a Deborah.

A distância do centro (dir) até o Glaciar Martial (esq).

A distância do centro (dir) até o Glaciar Martial (esq).

Do centro de Ushuaia pegamos um remis (uma espécie de táxi muito comum na Argentina, onde você define previamente trajeto e valores, fazendo o trajeto sem taxímetro ligado), que nos levou até a parte alta da cidade. Durante essa subida, é possível ver (e caso você tenha dinheiro, acessar e se hospedar em) alguns dos mais luxuosos hotéis da cidade. A estrada termina justamente na entrada do parque, de onde seguimos à pé. Ou melhor… de aerosilla.

Se um visual desses não te comove, nada mais será capaz.

Se um visual desses não te comove, nada mais será capaz.

Sim, aerosilla. A entrada do parque é gratuita, mas dali em diante a subida é feita por teleféricos (ou aerosillas), cujo valor na época – 2013 – era de 65 pesos (li em outro site que o valor subiu para 80, mas ainda assim não é nenhuma fortuna). Sim, pode-se subir à pé também, e de graça, porém são necessárias outras duas coisas: disposição, e que o parque não esteja debaixo de neve, pois durante as estações frias ele se transforma em estação de esqui. Conselho: tire o escorpião do bolso e aproveite o passeio, que é lindo.

O passeio de teleférico termina num mirante, cuja vista dispensa descrições.

Isso chama-se "recompensa".

Isso chama-se “recompensa”.

Dali em diante, mais uma breve caminhada. A subida é bastante tranquila, atravessando o riozinho atrávés de uma pequena ponte, e caminhando por entre as árvores. Não há uma imagem que não seja minimamente espetacular, e desde aquele momento o passeio já se justificava.

A única coisa feia nessa foto: eu.

A única coisa feia nessa foto: eu.

Era verão, e pelo caminho encontramos enormes placas de gelo, que me permitiram a experiência mais próxima de brincar na neve que havia tido até então – e só por isso já se tornava imediatamente inesquecível. Pode parecer besteira, mas realizar essas coisas traz pra gente uma felicidade pura – e não fui só eu quem deixou essa sensação explícita…

Bobos e felizes. Muito bobos, e muito felizes.

Bobos e felizes. Muito bobos, e muito felizes.

Após dez minutos à pé, seria possível prosseguir, subindo as montanhas. São vários os grupos de turistas, inclusive famílias que arriscam a subida pelo terreno pedregoso. É uma subida bem arriscada, pois as pedras são soltas, e o desafio é maiúsculo. Porém, não estávamos preparados – eu, principalmente, e pouco depois de iniciarmos a subida acabamos nos instalando ali mesmo para descansar e apreciar aquela paisagem espetacular.

Sem subir, você já tem tudo isso a seus pés.

Sem subir, você já tem tudo isso a seus pés.

“Descansar de quê?”, você pode perguntar. Bem, além do nosso até então nenhum preparo físico e total inexperiência nesse tipo de passeio, havia um obstáculo natural sempre presente em Ushuaia: o vento patagônco. E se ainda assim parecer exagero, caso o vídeo anterior ainda não tenha te convencido, o que vem a seguir deixa isso bem claro (para traduzir o contexto: a Dé está rachando o bico, pois minha mochila tinha acabado de rolar montanha abaixo POR CAUSA DO VENTO, sendo resgatada por um rapaz que vinha subindo, e resolveu bancar o goleiro. No meio do vídeo, quase que EU sou levado pelo vento):

O Glaciar Martial proporciona um passeio absolutamente espetacular, com paisagens lindas e uma tranquilidade muito difícil de ser encontrada. Como bônus, pouco antes da saída do parque, na volta do teleférico, um café, chocolate quente ou mesmo um conhaque para fechar lindamente o programa antes da descida para o centro da cidade.

A chegada da aerosilla...

A chegada da aerosilla…

...e um afaguinho final :)

…e um afaguinho final 🙂

Caso você tenha ficado com vontade, eu entendo. E acima de tudo, recomendo.


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina

Conhecendo El Chaltén

16 de fevereiro de 2015

Uma cidade, mas pode chamar de vila. El Chaltén não possui sequer mil habitantes, e é a cidade mais nova da Argentina (nasceu em 1985, delimitando uma fronteira com o Chile por meio de ocupação). Chegamos lá de ônibus, partindo de El Calafate, numa viagem razoavelmente rápida de 220 km pela RP 23 – existem passeios de um dia, com saída e chegada em Calafate, feitos da mesma maneira.

Ainda no ônibus, o Fitz Roy é o cartão de visitas.

Ainda no ônibus, o Fitz Roy é o cartão de visitas.

E de fato, conhecer a cidade não é tarefa difícil ou demorada. A estrada desemboca em sua rua principal (Miguel Martín de Güemes), que divide o vilarejo em duas partes: do lado direito (cuja rua principal é a San Martín), os restaurantes, alguns hotéis e albergues, lojas e bares; do lado esquerdo (cuja rua principal é a José Antonio Rojo), residências em sua grande maioria, com algumas exceções para hospedarias de menor porte e alguns restaurantes. Ambos os lados acessados a partir de uma bifurcação daquela mesma rua principal, chamada Lago del Desierto. É essa a geografia da cidade, que de tão simples pode ser desbravada num passeio à pé em menos de uma hora – se o vento patagônico te deixar.

A chegada pela Miguel Martín de Güemes.

A chegada pela Miguel Martín de Güemes.

O guia de ruas, nada complexo.

O guia de ruas, nada complexo.

A San Martín. Nosso albergue ficava no final.

A San Martín. Nosso albergue ficava no final.

El Chaltén ainda é notoriamente um vilarejo, cujo ritmo de construção está em vias de torná-lo uma cidade de fato. Porém, seu maior atrativo não encontra-se dentro desse perímetro descrito anteriormente. É de Chaltén o ponto de partida para alguns dos lugares mais espetaculares da Patagônia Argentina: o Cerro Fitz Roy, o Cerro Torre, a Laguna de Los Tres, o Glaciar Viedma, além de ser um dos acessos ao gigantesco Parque Nacional Los Glaciares. Todos esses lugares são motivos mais que suficientes para visitá-la, e no fim das contas a cidade em si fica em segundo plano, em meio a outras tantas boas atrações.

Mas Chaltén tem seu charme. A começar justamente por esse aspecto de “em construção”. Há somente um posto de gasolina (onde o motorista enche o próprio tanque – ou galão de reserva, soubemos que sim, existe gente carregando gasolina dentro do próprio carro), e a comunicação com os moradores por vezes acontece em papéis fixados na porta da rodoviária – exatamente como no elevador do seu prédio. A cidade é ladeada pelo Río de las Vueltas, que tem uma cor azul-esverdeada extremamente bonita. O aspecto da água é turvo de tão gelado, pois o rio é proveniente do degelo dos glaciares. Dá pra chegar bem pertinho, mas mergulhar, nem pensar… O som é quente, o vento gelado. Uma jaqueta corta-vento é tão importante quanto um par de Havaianas, então leve ambos.

O posto de gasolina - que sim, funciona.

O posto de gasolina – que sim, funciona.

O informativo local funciona na base do sulfite e durex.

O informativo local funciona na base do sulfite e durex.

O verde e geladíssimo Río de Las Vueltas.

O verde e geladíssimo Río de Las Vueltas.

Pelo caminho encontra-se uma pequena capela (Toni Egger Gnadenkapelle – Toni Egger foi um alpinista austríaco, e o primeiro a morrer tentando superar o Cerro Torre – também dá nome a um de seus picos), que serve de memorial aos que não regressaram do Fitz Roy ou do Torre. Ilustram a paisagem a tradicional igrejinha, uma pequena escola que fica ao lado de um parquinho, entre outras imagens comuns a vilarejos. Durante a tarde o movimento das ruas é quase nulo, mas sempre existem pequenos grupos bebendo ou comendo na entrada de hospedarias e alguns restaurantes. Os rostos tornam-se familiares muito rapidamente (estando hospedado em Chaltén, certamente você verá as mesmas pessoas por diversas vezes). Além disso, a cidade é repleta de cães – sem dono, mas extremamente amáveis – que estavam por lá desde a época da briga pela fronteira, e hoje habitam a região.

A capela - um memorial aos que ficaram nas montanhas.

A capela – um memorial aos que ficaram nas montanhas.

Todo vilarejo que se preze tem sua igrejinha.

Todo vilarejo que se preze tem sua igrejinha.

O cair da tarde traz todo o tom bucólico que a cidade carrega.

O cair da tarde traz todo o tom bucólico que a cidade carrega.

Um dos simpáticos, lindos e pidões cachorros que estão espalhados por Chaltén.

Um dos simpáticos, lindos e pidões cachorros que estão espalhados por Chaltén.

Nas lojinhas a gente encontra alguns badulaques pra levar de lembrança, mas nada muito fora do comum – postais, mapas, artesanatos e camisetas temáticas são o que mais se vê – existe uma loja bem grande logo na entrada da cidade, onde os turistas fazem a festa. Porém, o forte da cidade são os esportes de aventura, e a gente acaba encontrando também algumas lojas de suporte a alpinistas, montanhistas, ciclistas e adeptos de camping. O tema é recorrente, e isso é explícito até nos lugares mais inusitados. Roupas, suprimentos e equipamentos estão lá, tanto para iniciantes como para esportistas profissionais. Algumas agências dão suporte aos passeios pela região, e dicas importantes para a prática das modalidades. Nessas agências a gente também encontra o mapa da cidade – que torna-se absolutamente denecessário depois de umas duas voltas por lá.

Uma lojinha com a cara do fim do mundo.

Uma lojinha com a cara do fim do mundo.

Algumas capricham na propaganda.

Algumas capricham na propaganda.

Mas a cidade é dos montanhistas - até na hora de jogar o lixo fora.

Mas a cidade é dos montanhistas – até na hora de jogar o lixo fora.

Obviamente come-se muito bem por lá* – fator recorrente em toda a Patagônia. O Parrilla Como Vaca (http://tinyurl.com/le4k42l) é um baita lugar pra uma carne bem-feita e gostosa; se quiser algo um pouco mais sofisticado, o La Tapera (http://tinyurl.com/l9fp4xc) atende muito bem às expectativas – mas chegue cedo, pois o lugar lota e é pequeno; para um bom custo-benefício, a Patagonicus (http://tinyurl.com/l66x6ql) pode funcionar para uma pizza no meio do dia, ou mesmo um lanche. Existem outras opções, e entre elas a gente destaca justamente a que mais usou: o restaurante de nosso albergue. O Hostel Rancho Grande (http://tinyurl.com/psxvetn) possui poucos, generosos e ótimos pratos, além de um menu de café da manhã pra alpinista nenhum botar defeito. Um conforto de verdade pra qualquer aventura. Obviamente há alguns cafés, sorveterias e outros lugares minúsculos, que merecem uma vasculhada com carinho.

Cortes explicados, comida vistosa, uma pizza ocasional, ou um PF honestíssimo: passar fome não será um problema.

Cortes explicados, comida vistosa, uma pizza ocasional, ou um PF honestíssimo: passar fome não será um problema.

Enfim, El Chaltén é um ótimo lugar, seja pra se preparar, seja descansar depois de uma incursão às belezas da região. Um lugar para desligar a cabeça, e curtir um pouco do sossego que a Patagônia Argentina oferece. E o cenário – pois a minúscula cidade possui uma visão privilegiada para os Cerros Torre e Fitz Roy – é para poucos. No caso de Chaltén, menos de mil. Dado que escalá-los e superá-los é uma missão somente para alguns sobre-humanos, nos resta observar. E já vale muito.

Cerros Torre e Fitz Roy: apenas para profissionais.

Cerros Torre e Fitz Roy: apenas para profissionais.

Aproveitem, enquanto a cidade ainda é uma criança, e desse tamanho.


*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina, Brasil, Paraguai

A maior queda-d’água
em volume do mundo

19 de janeiro de 2015

Por Vanessa Marques


Sim, é isso mesmo. A maior cachoeira em volume de água do mundo fica aqui pertinho da gente. Foz do Iguaçu, o segundo destino brasileiro mais procurado pelos gringos, é bastante subestimada pelos próprios brasileiros. Conheço muitas pessoas que já visitaram mais de uma dezena de países, mas nunca se animaram em ver as majestosas cataratas de perto. Que pena! Se eu tivesse que listar as três coisas mais bonitas que já vi neste mundão-de-meu-deus, certamente as cataratas estariam entre elas. Foz do Iguaçu é absolutamente imperdível. Acredite em mim.

Primeira coisa: quando falamos “Foz do Iguaçu”, não vamos nos prender à cidade em si. Foz é uma cidade de fronteira, consideravelmente grande e sem uma identidade bem definida. Dentre as grandes cidades do Brasil, certamente não é uma das mais interessantes. Mas vamos considerar uma visita a Foz como uma viagem à tríplice fronteira, que envolve também Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina). As três cidades ficam a poucos minutos de distância entre si.

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A primeira dúvida de quem viaja a Foz costuma ser relativa a hospedagem: Foz ou Puerto Iguazú? Bem, depende dos seus objetivos de viagem. Se seu foco for comprar bugigangas no Paraguai, sugiro ficar em Foz, pela proximidade. Se você quiser conhecer as cataratas e aproveitar bons restaurantes de comida argentina a uma curta caminhada de distância, Puerto Iguazú sem dúvida é a sua escolha.

Se optar por Foz, uma dica econômica de hospedagem no centro é o Hotel Pietro Ângelo*, com diárias em torno de R$ 200 para duas pessoas. A localização é boa e o hotel foi reformado recentemente: http://goo.gl/wSL8NI. Bem perto dele, uma ótima opção para o jantar é o Vó Bertila Pizza & Pasta, um gostoso restaurante italiano bem aconchegante.

Para quem quiser ficar na pequena cidade argentina, um hotel que indico por sua excelente localização é o Yretá Apart Hotel, com diárias em torno de R$ 220 (http://goo.gl/q7sdRU). A rodoviária da cidade fica bem próxima a ele, o que permite fácil acesso às linhas de ônibus que ligam Iguazú às cataratas brasileiras, argentinas, Ciudad del Este, centro de Foz e etc, tudo por um preço bem camarada. Os restaurantes também ficam muito próximos e alguns são excelentes. Algumas dicas para quem aprecia os bons cortes argentinos: Aqva, La Rueda 1975 e El Quincho del Tio Querido, todos no centrinho (minúsculo) da cidade. Para quem procura um barzinho para a happy hour, o Puerto Bambu Resto Bar, na esquina mais bacana da cidade, é a melhor escolha. E se você procura alta gastronomia contemporânea com referências francesas e italianas, faça uma visita ao De La Fonte. É uma boa chance de conhecer um restaurante deste tipo sem pagar os preços extorsivos cobrados aqui no Brasil.

Os táxis na região são um tanto caros. Se optar por fazer os passeios utilizando este meio de transporte, negocie com o mesmo taxista um pacote para todos os dias por um preço fechado, chorando um bom desconto. Como disse no parágrafo anterior, a partir de Puerto Iguazú é tranquilo fazer os passeios de ônibus por preços baixos. Em Foz o transporte público é mais complexo e disperso. Outra opção é alugar um carro no aeroporto de Foz. Verifique apenas se a CNH brasileira é válida na Argentina, e NEM SONHE em entrar com o carro alugado no Paraguai, por motivos óbvios.

 

ATRAÇÕES

Ah, elas merecem um capítulo separado.


Parque das CataratasLado argentino

Separe o primeiro dia (de sol) para conhecer o parque argentino. Se todas as atrações estiverem abertas, vai levar um dia inteiro. Tome um café reforçado antes de sair. Chegando ao parque, entre pela trilha “Sendero Verde”, que é curtinha – desta forma você evita o trenzinho lotado na primeira estação. A trilha termina em um lugar onde existe uma lanchonete, banheiros e entrada para outras trilhas (chamados de “circuitos”). Sugiro começar pelo Circuito Inferior, que é o mais cansativo. Faça o Circuito Inferior inteiro, tome o barquinho para a Ilha de San Martin e suba o monte para ter uma vista inesquecível das cataratas. Esse percurso todo, ida e volta, deve tomar as três primeiras horas no parque (fazendo com calma). Voltando, faça um lanche e siga para o Circuito Superior. Esse é rápido e beeeem mais leve, sem cansaço. Aí tome o trenzinho rumo à estação Garganta Del Diablo e faça este último circuito, que é basicamente 1 km pra ir e outro pra voltar, mas totalmente plano, sobre o rio, bem calminho. No final, você ficará frente a frente com uma das vistas mais impressionantes deste planeta… Prepare-se!

O Parque das Cataratas do lado argentino...

O Parque das Cataratas do lado argentino e sua aura de “Ilha da Fantasia”

Parque das CataratasLado brasileiro

O parque brasileiro não requer um dia inteiro, já que é bem menor que o argentino, mas se você quiser fazer as coisas com calma, talvez seja melhor não marcar mais nada para este dia. O “nosso” lado das cataratas tem uma super infraestrutura que agrada até aos gringos mais exigentes. Para começar, entre no ônibus e desça na estação Macuco Safari, um passeio de bote bem radical que sobe o rio ao estilo “taca-le pau” e termina embaixo de uma queda d´água muito forte. Se possível, leve uma muda de roupa e toalha, MESMO QUE ESTEJA USANDO CAPA DE CHUVA. O passeio molha de verdade. Mas vale muito a pena! É demais!

O Macuco do lado brasileiro custa 170 reais (janeiro/2015). No lado argentino o passeio custa menos, mas dizem que não é tão seguro. Há alguns anos aconteceu um acidente grave quando um bote virou.

Quando terminar o Macuco, tome o ônibus novamente e desça na estação “Trilha das Cataratas”. As vistas dessa trilha são deslumbrantes: você vai ver todas as quedas argentinas a partir do melhor dos camarotes. No final dela também existem vistas incríveis: é lá que as pessoas clicam a foto clássica do arco-íris:

...e do lado brasileiro. Com arco-íris e tudo.

Duplo arco-íris, verdadeira ostentação da natureza, porque beleza pouca é bobagem.

Outras atrações da região: Ciudad del Este (mesmo para quem não é muambeiro, vale pelo interesse “antropológico”, por assim dizer), Usina de Itaipu, Parque das Aves, Free Shop de Puerto Iguazú (uma opção para quem quer fazer compras sem enfrentar o perrengue paraguaio), Templo Budista de Foz e Tríplice Fronteira. Mas tenha em mente uma coisa: as cataratas são as estrelas absolutas da região. Se for preciso, abra mão de qualquer outra atração para visitá-las tanto na Argentina quanto no Brasil. Depois volte aqui para me contar como foi. Boa viagem! 🙂


Se você quiser participar das publicações do Faniquito com suas histórias, curiosidades e dicas de viagem (e não importa o destino), é só entrar em contato com a gente por esse link. Todo o material deve ser autoral, e será creditado em nosso site.

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.

Argentina

Sombra e água fresca

5 de janeiro de 2015

Sabe esse calor que não cessa? Buenos Aires.

Um dos lugares mais desgraçadamente quentes que a gente já visitou, a capital argentina é igualmente apaixonante (ou seja, dá-lhe paixão, porque o calor é pesadíssimo no verão). Não é por acaso que os caras têm um sol na bandeira, eu posso assegurar isso pra vocês. Quando estivemos por lá, um dos bairros mais famosos da cidade ganhou nosso coração por outro predicado importantíssimo para essa época do ano: a sombra.

E esse bairro é a Recoleta. Que assim como reza a lenda, é de fato um dos bairros mais charmosos e bonitos da cidade – não por acaso, também um dos mais ricos. Com seus prédios colados um ao outro, e várias árvores pelas calçadas, é em suas ruas que a gente encontra um bom descanso pro sol incessante do verão hermano. A Recoleta é conhecida por seu cemitério (onde estão Evita e Sarmiento – os dois políticos mais importantes da história argentina), restaurantes chiques com mesas na rua, alguns parques, e vários casarões que intercalam a paisagem de prédios e lojas pelas ruas. A entrada do cemitério é gratuita, porém na entrada vende-se um mapinha para o turista apressado encontrar rapidamente as sepulturas famosas (são várias). Se você não estiver com pressa e quiser contemplar a arquitetura dos túmulos ou encontrar os defuntinhos famosos, é só passear com calma que você encontra – o da Evita é até dificil de se fotografar, tal o povaréu que sempre se acumula em frente ao dito.

A bela entrada do cemitério da Recoleta...

A bela entrada do cemitério da Recoleta…

...que apesar da fama, continua sendo um cemitério.

…que apesar de bonito, continua sendo um cemitério.

Uma dica bacana aos passeadores de plantão é visitar a Basílica de Nossa Senhora de Pilar – uma igreja toda branquinha que fica logo ao lado do cemitério. Normalmente não muito povoada (o roteiro padrão de visitas ao bairro dificilmente inclui a igreja), o passeio por suas escadas e salas serve como um deleite aos olhos – as imagens que adornam a basílica são muito expressivas, delicadas e realmente bonitas – e também como um pertinente refresco após uma caminhada pelo bairro, ou uma visita ao cemitério.

A Basílica fica logo ao lado do cemitério.

A Basílica fica logo ao lado do cemitério.

Um detalhe de uma das lindas imagens que adornam a igreja.

As imagens são realmente lindas, até pra quem não é de igreja (como eu).

Por sorte dos menos abastados, também existem botecos mais populares espalhados pelo bairro: é só dar uma vasculhada carinhosa e não ter medo de analisar o cardápio antes de fazer (ou não) seu pedido – sim amiguinho, não é feio ir embora se o lugar que você escolheu for maior que a capacidade do seu bolso. Lição pra vida, e pra qualquer viagem: tenha em mente que uma cerveja tem que custar o preço de… uma cerveja.

A parede de prédios fornece uma bela sombra...

A parede de prédios do bairro fornece uma bela sombra.

Pra fechar esse primeiro textinho caliente sobre nossos hermanos: água. Sim, a vida não é feita somente de Quilmes e Freddo… uma hora a gente só quer tomar uma água. Vende-se água gelada em qualquer canto por Buenos Aires, mas nem toda água desce gostoso. Tentando explicar de uma forma bem grosseira, algumas marcas de água tornam-se meio “oleosas” assim que vão perdendo o gelo. Se você não tomar rapidinho, fica um negócio meio ruim se refrescar desse jeito. Das que experimentamos, a marca que mais se aproxima da água ideal é a Eco De Los Andes (e fique esperto: a sem gás é a verdinha, porque nem todo país é que nem o Brasil, onde o padrão é sem gás) – é uma água da Nestlé*, de preço pra lá de acessível.

Diretamente da nossa caixinha de bugigangas, o rótulo com a faixinha verde.

Diretamente da nossa caixinha de bugigangas, o rótulo com a faixinha verde.

Agora você já sabe onde e como enfrentar o calorão argentino 🙂

*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.