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Cuba

Enfim, Cuba!

10 de dezembro de 2015

Por Yara Mansur


Cuba habitou meu imaginário desde a adolescência.

A trilha sonora de fundo para as imagens do paraíso caribenho era composta por longas discussões dos caras mais velhos e bacanas do colégio sobre o embargo americano, veio a era Gorbachev, sua perestroika e a glasnost e então, sobraram poucos paises socialistas no mundo. E dos remanescentes, Cuba era o único na banda ocidental do planeta, portanto, o mais acessível para nós, brasileiros.

No Oscar de 2000, lá vem o Wim Wenders com seu incrível documentáro, Buena Vista Social Club, para colocar mais lenha nesta fogueira e reacender a curiosidade sobre a ilha.

Depois de algumas tentativas adiadas pela nada amistosa passagem de furacões e ciclones que anualmente assolam a região, em 2010, eu finalmente desembarquei em Havana.

Logo no início da pesquisa de como viajar, o que fazer, onde se hospedar e encontrar poucas informações ou recomendações para uma viagem “solo”, as dificuldades apareceram. Começou com a questão do visto que, na época, hoje não mais, exigia uma carta convite ou o pagamento de uma pequena fortuna pela sua permissão para ir à Cuba.

Deu para perceber, logo de cara, que não seria uma viagem barata, apenas uma companhia aérea que voava para Cuba, tudo tinha que passar pela agência oficial do governo cubano e por aí foi …. até que passei por cima do meu orgulho de viajante “solo” e optei por um pacote de viagem.

O roteiro proposto chegava em Havana, mas ia direto para Varadero, onde fiquei 2 dias. Depois, 4 dias em Cayo Largo, ao sul de Cuba e por fim, mais 3 dias em Havana.

Varadero é uma balneário clássico, com os resorts “all-inclusive”, na sua maioria construídos na década de 50 e mantidos com sua arquitetura original. Não é uma cena essencialmente cubana, é uma cena caribenha. Mas como foi a minha primeira parada, o queixo ficou caído com aquele mar de cor indescritível. Não me lembro onde me hospedei, mas sinceramente, eram todos bem parecidos, portanto, não há como errar.

Varadero, apresentando Cuba...

Varadero, apresentando Cuba…

...e um pouco de suas cores.

…e um pouco de suas cores.

Na verdade, Varadero foi uma espécie de preparação para Cayo Largo, onde realmente a imagem do paraíso se materializou. Na época, Cayo Largo começava a receber investimentos estrangeiros, em formato de parceria com o governo cubano. Neste modelo, os hotéis e restaurantes só poderiam utilizar mão-de-obra local, materiais locais, ingredientes locais nos seus empreendimentos, divisas também não poderiam ser remetidas para fora de Cuba. Espanhóis e italianos tinham topado a empreitada e construído a pousada que fiquei. O nível de serviço era no quase baiano, com a mesma simpatia e gentileza, portanto, nada que pudesse nos afetar ou diminuir o prazer de estar neste lugar.

Pra não deixar dúvidas...

Pra não deixar dúvidas…

...agora sim, a cena cubana tão desejada era concreta.

…agora sim, a cena cubana tão desejada era concreta.

Em Havana, os bairros turísticos são Vedado, Habana Centro e Habana Vieja. Fiquei em Vedado, no famoso Hotel Nacional. Em Cuba, como em todos os lugares, os hotéis são classificados por estrelas, mas um 5 estrelas cubano não é exatamente um 5 estrelas não cubano. Portanto, opte por uma hospedagem acima do que você normalmente utilizaria para garantir o conforto esperado.

Em Habana Centro e Habana Vieja, ficam a maioria dos hotéis, restaurantes ou paladares como são chamados por lá, merece destaque o La Guarida e a sorveteria Coppelia, a fila é enorme e você logo entederá o por quê. Nestes bairros estão também os locais de interesse dos viajantes, o imponente Capitólio Nacional, a Plaza de La Catedral, a Plaza de la Revolución e toda história que você puder ouvir reverenciando Fidel, mas principalmente, Che Guevara, mais ídolo do que o primeiro.

O Capitólio Nacional.

O Capitólio Nacional.

E a Plaza de la Revolución.

E a Plaza de la Revolución.

Bom, é importante saber que todo cubano se autointitula “guia turístico”. Você pode simplesmente passear com um bom contador de histórias ou visitar os locais com um guia de fato, se resolver contratar o guia na rua. A decisão é sua, pode ser uma boa, por que boas histórias nunca são demais, mas se quiser evitar, opte por um serviço contratado no hotel.

Andar pelas ruas de Havana é sentir-se na década de 50, na sua arquitetura preservada, prédios em estilo barroco e neoclássico, nos carros antigos, no ritmo das pessoas na rua. 50 total!

Alguns detalhes da arquitetura e cores cubanas...

Alguns detalhes da arquitetura e cores cubanas…

...e seus carros antigos característicos.

…e seus carros antigos característicos.

Os táxis são lindos, perfeitamente conservados e mais enfeitados do que carro alegórico em pleno carnaval, vale todo tipo de adereço: tapetes, bonecos, espelhos, luzes e o que mais tiver à mão. Eles também não ligam o taxímetro, combine o preço antes e pechinche, sempre. Tem também o “côco-táxi”, uma moto adaptada para levar 2 pessoas, em geral turistas, que quebra um galho.

O simpático côco-táxi.

O simpático côco-táxi.

Dólar por lá é coisa do capeta, leve euros e troque-os por pesos cubanos, faça isso no hotel ou no aeroporto, em casas de câmbio oficiais, nunca na rua. Esqueça também o cartão de crédito. A lei da demanda e oferta funciona num país socialista tanto quanto num país capitalista e tudo é muito caro por causa da escassez de oferta.

Cubanos e não-cubanos quando estão em Cuba fumam em todos os lugares, inclusive os famosos e onipresentes habanos, prepare-se para muita fumaça, até no elevador.

A terra dos habanos, que sempre te acompanham em qualquer lugar.

A terra dos habanos, que sempre te acompanham em qualquer lugar.

Ítens de higiene são controlados. Por exemplo, não é sempre que você encontrará papel higiênico nos banheiros, mesmo em locais como museus, onde tudo estará muito limpo e bem mantido, papel será coisa rara.

Na linha dos ítens controlados, internet e telefone são coisas praticamente impossíveis. Para os cubanos e não-cubanos o acesso custará muito, muito, mas muito caro mesmo, além de bloqueios a sites e aplicativos que ainda reinam por lá.

O povo cubano é de fazer festa para tudo. Juntou 4 numa mesa, vão começar a cantarolar alguma coisa (geralmente boa), alguém vai improvisar uns instrumentos e em alguns minutos estarão dançando. Ah, e você beberá o melhor rum da sua vida, pode ser até na Bodeguita del Medio, onde desfrutaram seus mojitos, Nat King Cole e Ernest Hemingway.

Se “Paris é uma festa”, Cuba também é. Desfrute!


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Camboja, Tailândia, Vietnã

As viagens nas viagens

5 de fevereiro de 2015

Por Yara Mansur


Há viagens que a gente acha que sempre quis fazer.

Há viagens que arrebatam a gente e quando a gente vê, já foi, está lá.

Há viagens que a gente só vai entender realmente algum tempo depois e quando está contando para alguém o que aconteceu e o pior (ou melhor), a cada vez que conta, a gente tem um “insight” novo, percebe outra coisa.

A minha última viagem, foi como uma daquelas bonecas russas, daquelas que quando você abre, encontra outra dentro, menor, mas mais delicada, com mais detalhes, com outras cores. Pois é, para mim, o sudeste asiático foi uma viagem dentro de outra viagem dentro de outra viagem.

Claro que era uma viagem desejada desde sempre, desde que me considero um ser viajante era um dos destinos top 5 de qualquer lista que eu tenha preparado nesta vida.

Pois bem, junte este desejo, com o fato de que uma amiga querida decidiu “Viver a vida sob as ondas” , foi passar uma temporada na Tailândia para se tornar instrutora de mergulho e pronto, oportunidade de ouro, boa companhia, agendas acertadas e lá fomos nós.

Vencido aquele momento difícil do planejamento da viagem: abrir mão dos lugares que você não poderá conhecer desta vez e terá que deixar para a próxima. Seguir de cidade para cidade, num ritmo de gincana, apenas para dizer que você esteve lá pode até ser considerado opção para algumas pessoas. Para mim, definitivamente não. Eu preciso me demorar no lugar. Andar e me perder além dos “tem que ver” que blogs e revistas de viagem insistem em divulgar. É bom provar novos sabores, entrar no museu ou na galeria sem pressa, conseguir ingresso para um show, para uma ópera ou uma peça, mas principalmente, ter a chance de voltar, se quiser, naquele lugar, café ou praça que te encantou. Não sei você, mas eu preciso disto.

Bom, o roteiro ficou com Vietnã, Camboja e Tailândia. Laos, Mianmar e Índia, na próxima. Três países muito diferentes entre si, surpreendentes, cada um a seu modo.

No Vietnã, os destinos foram Hanói , Halong Bay e Ho Chi Minh, que até 1975 atendia por Saigon.

Primeira parada então, após longas horas de vôo, foi em Hanói. De lá, mais duas horinhas numa van e pronto, no porto. Escolher a operadora do cruzeiro que vai te levar águas tranquilas da baia de Halong é tarefa fácil. A oferta é grande, tem para todos os gostos e bolsos. O roteiro e passeios que você fará são basicamente os mesmos. Além de encartar-se com as milhares e milhares de ilhotas que formam a baia, tem uma descida do barco para visitar uma caverna, onde você será apresentado para as lendas mágicas que povoam o imaginário do povo vietnamita. Eu acabei escolhendo a Emeraude (http://www.emeraude-cruises.com) e recomendo. Boas acomodações, que ficaram melhores ainda por que eu ganhei um “free upgrade” para cabine luxo, uma grata surpresa. Excelente comida, tripulação atenciosa, enfim, tudo certo por um preço justo. Junte-se a isto um grupo de viajantes bem diversificado, trocando opiniões sobre suas câmeras fotográficas, a eterna discussão Nikon x Canon e concluindo que se pudemos nos fundir numa pessoa só, teríamos visitado quase que o planeta todo, faltando basicamente a Antártida.

Só faltou mesmo foi sol para tingir esta paisagem cinza. Alguns dias depois, um amigo sortudo esteve lá e como podem ver pela diferença das fotos, com sol é bem melhor. Bom, isto é praticamente uma regra para a vida, mas os dias cinzentos também tem sua beleza peculiar.

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Das histórias de dragões e deuses diretamente para um ritmo acelerado na capital, Ho Chi Minh. Uma incrível concentração de “scooters” por m² imaginável e duas regras básicas para sobreviver. Uma regra para o motorista: se você for bater, desvie. A outra regra é para o pedestre: faça contato visual com o motorista e atravesse a rua, caminhe num ritmo constante e siga diretamente para o ponto desejado. Só não vale entrar na frente do ônibus ou caminhão, os demais vão desviar. Semáforo? Não, não tem. Apenas continue andando. Ninguém vai lhe machucar ou buzinar para você. Primeira lição, confiança. Confiei.

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Em Saigon, muita memória da guerra, da luta para a unificação do norte e sul, com o povo mostrando muito orgulho desta página da história. Aproveitamos para ver o teatro de marionetes na água. É executado com música e instrumentos típicos, ao vivo. Um espetáculo composto de várias histórias curtas, divertidas, comédia de erros. Um exemplo do senso de humor vietnamita.

De Saigon para Phnom Penh, paisagem rural, cruzando a fronteira para o Camboja.

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Fizemos este trecho de ônibus, tranquilo, confortável e numa velocidade máxima de 60 Km/h, não que a estrada não fosse boa, esta era mesmo a velocidade permitida para o trajeto.

Na capital Phnom Phenh, o lugar em que a gentileza impera. Observe os locais, sorrindo e cumprimentando quem cruza o seu caminho. Faça isto e você terá um dia harmônico. Eu fiz. Deu certo.

Nossa sequência de visitas aos tempos começava, de fato, aqui. Deste dia em diante, templos todos os dias. Os “wat”. Dos suntuosos, ligados ao Palácio Real até aquele que fica na esquina, em madeira. Templos para todos os gostos e monges vestindo a cor laranja.

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De lá para Angkor, em Siem Reap, o maior complexo religioso do planeta, um conjunto de templos de diferentes épocas que tem por finalidade deixar você de queixo caído tal é a beleza do lugar. Segunda lição, a grandiosidade da gentileza e da generosidade. Exercitei a gentileza e o respeito.

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Angkor era uma das coisas mais esperadas desta viagem. Há passes para visitar o complexo por 1 dia ou por 3 dias, há uma opção de ver o nascer do sol por lá e várias combinações possíveis de roteiros e formas de percorrer o lugar, de carro ou bicicleta.

Os tempos mais visitados são:

Angkor Wat, inicialmente hindu e depois transformado num templo budista, durante todo o tempo de construção, mais , o país mudou de religião e o tempo também.

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Bayon, com os rostos gigantes é uma das coisas mais impressionantes.

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Ta Phrom, onde você de quebra pode se sentir a própria Lara Croft. Em ruinas, o que resta do tempo se integrara às raízes das árvores e à vegetação. Um espetáculo.

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Altamente recomendada é uma vista ao Museu Angkor, antes da visita aos templos. Vai lhe ajudar a entender muita coisa e a se comportar adequadamente também.

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O instinto de sobrevivência disse para escolher o carro, mas eu sempre imaginei fazer esta visita de bicicleta, então, de bicicleta lá fomos nós, com a equipe nota mil da Grasshopper http://grasshopperadventures.com/. Bem, fui de bicicleta, mas voltei de tuk-tuk. Prepare-se, e bem, se quiser fazer este roteiro como no imaginário desta viajante, pois o sol e o calor castigam. Exaustão. Mas D´us salve o tuk-tuk e tudo deu certo.

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Altamente recomendada também é fazer uma massagem ao final do percurso. Aliás, altamente recomendado é não perder nenhuma, reforço, nenhuma oportunidade de fazer uma massagem nesta região do planeta. É vida. Bom, então, depois de mais uma massagem, voamos para Bangkok, a capital que tenta ser cosmopolita, mas que me encantou mesmo pelo que guarda do passado. Hospedagem no bairro chinês de Bangkok, em meio à confusão de luminosos da rua e do cheiro das especiarias e temperos da comida. Shanghai Maison, http://www.shanghaimansion.com, para aquele momento da viagem em que você também quer vivenciar o hotel, um pequeno luxo numa viagem espartana.

Roteiro de templos só se intensificaria nos próximos dias. Em Bangkok, visitamos o Marble Temple, Wat Arun, Grand Palace e dentro deste o Wat Pho e o Buda reclinado.

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Antes de seguir para Chiang Mai, lugar que deveríamos estar no dia 7 de novembro para o mais do que esperado Festival das Lanternas, visita à Ayutthaya, que foi a capital do Sião, pouco mais de uma hora de trem de Bangkok para desembarcar no passado. Um lugar sensacional, onde os elementos dos templos de Bangkok estão presentes e lhe são apresentados na versão simples, rural. O Buda reclinado, em Ayutthaya, ainda mais bonito do que o de Bangkok.

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De lá, para as montanhas, no norte, em Chiang Mai, o Festival das Lanternas, o momento das oferendas e da confraternização. De hábitos, referências e espiritualidade tão diferentes, nós, os diferentes fomos simplesmente acolhidos como iguais. Templos e cerimônias reservadas para os monges, nesta época, se abrem para quem quiser participar. Aprender a acolher, simplesmente desconsiderando as diferenças. Por que no fundo, no fundo, qual a diferença mesmo? Acolhimento sem questionamento. Isto, simplesmente, não tem preço.

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E por fim, Koh Phi Phi, uma ilha no sul da Tailândia, destino final da viagem e lar, doce lar, para a amiga instrutora de mergulho. Por que esta menina foi tão longe? Basta mergulhar e entenderá. Das inúmeras escolas e agências de mergulho da ilha, escolhi o The Adventure Club – Phi Phi, http://diving-in-thailand.net/, obviamente a escola da amiga instrutora de mergulho. Depois de um vídeo de introdução, um teste escrito, conhecimentos básicos aprendidos, lá vamos nós para o barco, para 2 mergulhos do tipo DSD, aquele em que você vai grudado com o “divemaster”.

No primeiro mergulho, seus conhecimentos teóricos são colocados à prova. Passou, mergulhou. Passei, mergulhei.

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Para realmente entender as coisas é necessário aprofundar-se, na superfície, todo argumento é raso. Mergulhei. Alguns lugares fazem mais sentido sob as ondas, e nisto, esta querida amiga, que sempre quer ter razão, estava coberta dela, mais uma vez.

Roteiro encerrado. A viagem dentro da viagem, não.


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*Nossos textos não são patrocinados. A gente indica aquilo que a gente gosta/aprova, porque isso também ajuda na viagem alheia. Simples assim.