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julho 2015

Croácia

Zagreb? Pra quê?

6 de julho de 2015

Quando fomos embora de Zagreb, rumo à Turquia, o taxista que nos levou ao aeroporto resolveu puxar assunto num inglês simpaticíssimo. Naqueles minutos que se seguiram, soubemos que a capital croata tinha fama de cidade-dormitório para os turistas que visitam o país  – e éramos prova viva disso, já que usamos Zagreb como “parada” para nossa viagem pela Croácia, e não como destino.

Chegamos ao país por lá, e não passamos sequer um dia na cidade. Almoçamos no meio da tarde, demos uma volta, descansamos e seguimos viagem – por Zadar, Dubrovnik, Split, voltando para Zagreb dez dias depois, quando pudemos de fato explorar um pouco das redondezas. A capital croata é uma cidade bonita, com uma praça central bastante movimentada, de onde partem ruas que se ramificam num centro gastronômico logo acima, numa área comercial bastante desenvolvida à direita, em sua principal catedral seguindo adiante ainda pela direita, e numa outra área visivelmente mais turística à esquerda, com mesas espalhadas e televisores nas alamedas. E além desses lugares, existe também uma área mais alta da cidade, acessível por uma longa escada logo no início do tal centro gastronômico. Essa escada fica à esquerda, e os mais desavisados podem passar por ela sem notar. Este texto vai tratar de todas as outras áreas, fora essa da escada – que será nosso tema ainda essa semana, num segundo texto 🙂

Um dia pra descobrir Zagreb. Simbora pra praça central!

Um dia pra descobrir Zagreb. Simbora pra praça central!

Demos sorte de encontrar a tal praça central num dia de evento – uma espécie de quermesse, patrocinada pela Câmara de Economia Croata (só descobrimos isso depois, graças ao Google Tradutor). Várias barraquinhas com artesanato, souvernires e muita comida local – tudo a um preço muito acessível, que se diga. Mas estava implícito o desafio de descobrir o que era cada coisa e quanto custava, pois quase todos os comerciantes não falavam inglês – e quando falavam, somente arranhavam. Mas mesmo assim experimentamos alguns queijos, docinhos e chocolates croatas numa boa.

Um pouco de inglês, um pouco de mímica, e a gente se entende.

Um pouco de inglês, um pouco de mímica, e a gente se entende.

Num toldo que servia de palco, alguns artistas se apresentavam: um grupo de cantoras de música típica, uma bandinha de churrascaria, e um grupo de cheerleaders (?) que dançava e jogava bastão ao som de uma adaptação bizarra do Rap das Armas (sim, aquele do Tropa de Elite). Foram momentos, pra dizer de uma forma singela, edificantes.

Parapapapapapa papapapá... Parapapapapapa papapapá!

Parapapapapapa papapapá… Parapapapapapa papapapá!

Vale ainda a história da pipoca, que a Dé pediu no carrinho de uma tia perto dali.

– How much for the popcorn?
– Sôri noenglish.
– How much?
– Tentém.
– What…?
– Tentém (com as duas mãos, abrindo e fechando duas vezes).

Sim, tentém. Ten-ten. Vintão.

O tal centro gastronômico é composto de trocentos restaurantes, bares e afins, e é bastante frequentado em todos os períodos do dia. Por lá comemos num restaurante italiano (que fica superlotado à noite, e é gigante), bebemos num trailer de sucos naturais, almoçamos num lugar chamado Pivnica Mali Medo (http://tinyurl.com/og3etwb – cuja tradução é “Pub Ursinho”) por duas vezes, e jantamos numa hamburgueria excelente chamada Rocket Burger (http://tinyurl.com/p6kpbbv). Existem lugares mais chiques, outros que possivelmente reúnem a máfia (quando no trailer de sucos, pedi pra usar o banheiro de um bar, e era um daqueles que a gente detesta encontrar pelo caminho – numa casa escura, com um cara mal-encarado esparramado numa cadeira, assistindo TV ao lado de um caça-níqueis). Mas dá pra se divertir numa boa alameda adentro.

Um feijão (sim, feijão), linguiças e cogumelos, e uma caneca de cerveja pra energizar o almoço...

Um feijão (sim, feijão), linguiças e cogumelos, e uma caneca de cerveja pra energizar o almoço…

...um hamburgão e uma cerveja artesanal pra darem um calor à noite.

…um hamburgão e uma cerveja artesanal pra darem um calor à noite.

Caso precise ir ao banheiro, pergunte pras pessoas certas :)

Caso precise ir ao banheiro, pergunte pras pessoas certas 🙂

A área comercial, seguindo à direita da praça principal, possui alguns fast-foods, bancos e aquelas lojas de sempre, que existem em qualquer centro de qualquer cidade. A primeira impressão é de um passeio desinteressante, caso você não chegue ao final dele. Porém, alguns passos adiante está o prêmio a quem apostar em Zagreb: a catedral da cidade (Zagrebačka katedrala). É um troço absurdo de gigante, e um dos pontos mais visitados da cidade. Uma das suas torres ainda está em processo de reconstrução/restauração, e tanto esse processo como seu relógio original têm suas histórias explicadas num painel do lado esquerdo da entrada principal.

Uma catedral linda e gigante. Fotos internas são proibidas (soubemos disso da pior forma)...

Uma catedral linda e gigante. Fotos internas são proibidas (soubemos disso da pior forma)…

…e logo ao lado, um pouco de antes/depois.

Todo esse passeio, bem como a área turística, de bares e shoppings do lado oposto pode ser feita à pé numa boa, e em um único dia. Algumas quadras abaixo estão a estação de trem e a rodoviária da cidade, e entre essas quadras alguns parques bem bonitos deixam o passeio ainda mais agradável.

Zagreb pode não ser de fato um lugar que as pessoas sonhem conhecer, por esta ou aquela determinada atração. Mas menosprezá-la é um passo pra trás… afinal de contas, nem toda cidade precisa ser diferenciada. Algumas, que parecem bem comuns, podem ganhar um espaço tão ou mais importante em nossas memórias por nos proporcionarem apenas e somente dias bacanas.

Perrengues

Perrengues de viagem: quem nunca?

2 de julho de 2015

Por Daniela Beneti


Oi gente, voltei! Hoje vou falar um pouco de perrengues de viagem. Porque a gente sempre fala de roteiros maravilhosos, paisagens incríveis e fotos sensacionais. Mas e os imprevistos? Numa viagem de verdade não sai tudo perfeito, isso é coisa de turista, não de viajante.

Eu, particularmente, acho que os perrengues são o tempero da história, a prova que você viveu o lugar. Como no meu primeiro mochilão, com a minha amiga Camila. Quando decidimos fazer essa viagem, procuramos uma agência que oferecia um “pacote mochilão”: eles fechavam a hospedagem econômica, as passagens de trem e/ ou avião e você se virava por lá. Um ótimo negócio, certo?.

É, só que não #sqn. A pessoa que fez nossas reservas devia estar com aquela vontade Primeiro, porque tínhamos um traslado programado para o dia da nossa chegada na Europa e descobrimos o quê ? Que o traslado havia comparecido no dia anterior, quando nem havíamos saído do Brasil. A sorte foi chegarmos por Lisboa, o que deixou bem mais fácil descobrir como chegar no hostel de transporte público mesmo. Uma lição pra vida de “do it yourself”. Acredite, você consegue se virar e não vai se perder só por circular com transporte público de outro país.

Pegue seu pastelzinho e relaxe. Os perrengues apenas começaram.

Pegue seu pastelzinho e relaxe. Os perrengues apenas começaram.

Mas calma, que está apenas começando. Depois de 3 dias em Lisboa, íamos para Salamanca, na Espanha. Ao chegar na segunda cidade, depois de 6 horas de trem, descobrimos que a nossa reserva do hotel estava errada, era só pro dia seguinte. Isso à meia-noite de um sábado. Não tem problema, arrumaremos outro lugar pra dormir, certo?

A recepcionista riu na nossa cara. Salamanca é uma cidade universitária, o que significa que ela BOMBA de festas e baladas no final de semana. Não tinha um único quarto disponível na cidade. Acredite, nós procuramos.

Tirando foto na praça central de Salamanca pra esquecer que a gente não tinha onde dormir.

Tirando foto na praça central de Salamanca pra esquecer que a gente não tinha onde dormir.

Claro que pensamos: já que não tem jeito, vamos pra balada. Mas estávamos a cara da derrota depois de uma viagem longa, sem lugar pra se trocar. Voltamos pro hotel e ficamos na recepção, o que resultou em 5 vídeos hilários de madrugada, a Camila quase voando no pescoço da recepcionista de manhã e muita música de elevador na recepção.

Depois disso, passamos por mais duas cidades na Espanha, nos dirigimos para a França, onde visitamos Paris e Nice, na Corte d’Azur. Na França, para nossa surpresa, foi quase tudo perfeito. As pessoas, ao contrário do que nos disseram, eram super simpáticas e solícitas. A comida não era absurdamente cara e os lugares maravilhosos. Até que decidimos conhecer a Torre Eiffel. Vou resumir pra vocês: a melhor coisa da Torre é ficar fora dela.

Não me levem a mal: a vista é maravilhosa, a experiência é única. Mas julho é um calor desgraçado e, por ser o auge do verão e das férias por lá, incrivelmente cheio. Foram 5 horas de fila pra chegar no topo, espremidas por gente de todo lado. E nem pense em bancar o esperto e comprar pra ir de escada e tentar pegar o elevador no segundo andar. Eu vi muita gente quase morrendo de cansaço, já que o primeiro andar equivale a uns 4 ou cinco lances de escadas e o elevador é vigiado o tempo todo por um segurança. Deixe isso de lado, fique na grama em volta da Torre e faça um piquenique. Tem show por lá, carruagens com turistas, tudo de graça e sem stress.

Dica: nós amamos Paris e a Torre Eiffel, mas a melhor coisa é vê-la de fora. Ficamos 5 horas na fila pra subir. Compre sua baguete e faça um piquenique embaixo dela que é bem mais legal.

Dica: nós amamos Paris e a Torre Eiffel, mas a melhor coisa é vê-la de fora. Ficamos 5 horas na fila pra subir. Compre sua baguete e faça um piquenique embaixo dela que é bem mais legal.

Depois de Paris, conhecemos Nice e seus arredores (Eze, Mônaco, MonteCarlo) estávamos loucas para ir para a praia já que, em Barcelona, pegamos uma frente fria e a água gelada. Bem, nos orientaram para pegar o trem e ir para VilleFranche-sur-Mer, a praia favorita dos moradores. Sabe porque eles preferem essa do que a de Nice? As pedras. As praias de lá não tem areia e a praia de Nice é linda, mas puro pedregulho. Em VilleFranche elas eram pequenas, mas difíceis de caminhar no sol.

Não que isso tenha estragado o passeio, foi apenas um perrengue menor e engraçado. Porque a nossa capacidade de improvisação seria testada mesmo saindo de lá para a próxima cidade, Veneza.

Devíamos ter desconfiado quando a moça nos avisou, ainda no Brasil, que não havia trem direto. Segundo ela, teríamos que descer em Gênova e comprar a passagem para continuar. Fizemos exatamente como ela disse: saímos de Nice com o trem e descemos em Gênova para comprar os bilhetes para Veneza.

Tudo lindo, tudo maravilhoso na Côte d’Azur. Até que descobrimos que a praia era de “pedrinhas”. Nada de areia, pedra quente.

Tudo lindo, tudo maravilhoso na Côte d’Azur. Até que descobrimos que a praia era de “pedrinhas”. Nada de areia, pedra quente.

Como já passara metade da viagem, nossos mochilões tinham crescido consideravelmente, ainda mais quando minha amiga descobriu que, mesmo em Euros, o xBox era mais barato lá. Ela resolveu comprar o maior kit que encontrou na FNAC e, claro, precisou de uma mala só pro infeliz. Logo, tínhamos 2 mochilões de 90 litros e uma mala com um xBox.

Isso significa que, ao descer, uma de nós tinha que ficar imóvel com a mala e a outra procurar as passagens, porque andar na estação com aquilo era inviável. Quem ficou? Exato, eu. Não deu 5 minutos para minha amiga voltar furiosa: “Sabe porque ela não conseguiu comprar o bilhete? PORQUE ESSE TREM NÃO EXISTE!”. É amigos, o trem em que estávamos IA DIRETO de Nice para Veneza e nós descemos do último trem do dia.

Fumegando de ódio, Camila saiu pela estação à procura de uma forma para chegarmos até Veneza e me deixou novamente com as malas. Foi aí que, de repente, escuto uma gritaria e todo mundo saiu correndo do hall da estação. Menos eu, que não conseguia me mexer com todas aquelas malas.

Agora, imaginem a cena: você, paralisado no meio de uma estação e eis que passa um homem, correndo e xingando em italiano, PERSEGUIDO por dois pit bulls enormes e um outro homem, gritando palavrões em italiano e “Cannes Periculoso”. Logo vem a polícia correndo no sentido contrário. Confusão, briga. Os caras são presos e os cachorros vão junto.

Depois de uns 20 minutos, minha amiga volta sorrindo triunfante, ao lado de um funcionário da estação e pergunta: “ué, por quê você está tão pálida?”. Minha resposta foi apenas “não importa o que você resolveu,eu topo qualquer coisa desde que eu NÃO DURMA AQUI”.

Bem, ela havia descoberto um jeito de chegar em Veneza, se entendendo de alguma forma com o funcionário que só falava italiano. Sim, havia uma forma. Mas seria preciso trocar de trem 4 vezes durante a noite, para chegar à Veneza às 6 da manhã. O que significava não dormir. De novo.

Viajamos com trens noturnos por cidadezinhas minúsculas. Não havia nenhum aviso sobre qual estação era aquela: tínhamos que correr pra porta para tentar descobrir onde estávamos e trocar de trem. Claro, os trens estavam vazios a não ser por uns poucos indivíduos suspeitos. E quando eu digo suspeitos, quero dizer ter que inventar nomes pra fugir de conversas estranhas e dar desculpas mil para não irritar ninguém e não ser seguidas. Isso e ficar às 3h30 numa estação com a placa enferrujada, sem viva alma, rezando para o trem passar. Até promessa eu fiz, acredite (imprimi mil santinhos quando voltei).

Mas o trem passou. E quando achamos que íamos dormir no último, numa cabine só nossa, três mulheres entram e começam animadamente a tagarelar com a gente. Eram professoras do Cazaquistão (juro por tudo que é mais sagrado), que estavam fugindo de um congresso sei-lá-onde no interior da Itália para passar o dia em Veneza. A grande aventura da vida delas, mas eu mal conseguia manter os olhos abertos. Quando elas descobriram que éramos brasileiras, festa: “we love Isaura”. Sim, a Escrava Isaura, a novela original, passou no Cazaquistão e era sucesso. Vai entender.

Foto bonita né? É que você não sabe o que passamos pra chegar aqui. E é claro, nos perdemos dentro de Veneza também, mas quem não se perde lá?

Foto bonita né? É que você não sabe o que passamos pra chegar aqui. E é claro, nos perdemos dentro de Veneza também, mas quem não se perde lá?

Chegamos exaustas em Veneza. Entramos no hotel às 7 da manhã, mas vocês sabem, check-in é só depois do meio-dia, com sorte. A maneira com que o recepcionista nos olhou entregava que estávamos péssimas. Ele então indicou uma sala em reforma, onde poderíamos deixar as malas.

Esse santo homem ficou com dó e foi nos chamar às 10h, pois conseguira adiantar um quarto. Nos encontrou dormindo no chão, abraçadas com a bagagem.

Esse nem foi nosso pior perrengue. Um dia conto da história de um feriado em Camboriú e como um cubo de frango quase virou um soco no meu baço. Mas essa fica pra outra hora.

Me arrependo? Claro que não. Aprendi muito e hoje me viro muito melhor em qualquer viagem. Perrengues são aprendizado valioso para se virar e também para forçar você a interagir com o mundo, com as pessoas do local e com qualidades suas que você desconhecia. E você, tem algum perrengue de viagem para contar? Compartilhe com o Faniquito!


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